Eu Desculpo Voce
Você só tem valor para as pessoas quando você é útil para elas. Quando você não é mais útil, você deixa de ser importante. Elas te usam com as suas necessidades e, logo quando não precisam mais, elas esquecem você.
As pessoas não são obrigadas a entender o quão sensível você é. Assim como você não precisa compreender o quão rasas elas são.
Essa mércia nos parece tão sagrada, tão solidária conosco, com o mundo. Você encontrou o caminho do meu sofrimento, contando meus últimos minutos nos seus lábios inclementes que, quando paralisam, aceleram minha agonia.
A lâmpada dimerizada, amarela como a lua abundante, não foi o que cativou você. O meu erro não estava nas taças com o vinho escolhido a dedo. Nem no tapete de algodão losangular que eu despi sua blusa branca. O problema não estava no meu toque suave que percorreu montanhas e vales do seu corpo. Nem no gosto forte que suguei da sua "intensity"... Por horas pensei que o problema era a utopia perfeita que criamos no refúgio frágil das nossas escolhas. Escolhas tão claramente abaláveis… Não, não era a soma das nossas vidas, era particularidade dos nossos casos, dois mundos inteiros se trombando no espaço-tempo mal calculado. Eu avisei! Como eu avisei! Estávamos irremediáveis. Não existe antídoto para a nossa intensidade. Impossível não ser catastrófico. Não éramos corpos (eu avisei), somos almas que se vestem para contactar o mundo dos gélidos. Protocolos e regras não nos protegem. Nossas almas não ignoram o sabor do plano intenso extracorpóreo. Almas que não engolem seco. Um beijo não é seco, um toque não é seco, uma palavra não é seca. Somos aquelas que contam letras, que decoram sua ordem e incorporam seu significado. E isso era demais pra nós. Era como abrir um vinho e só olfatar a rolha. Impossível não te beber inteira. Eu avisei! Não estamos remediadas. Nunca estaremos. Somos como a lua e suas crateras agora, um lugar inóspito (onde socorro não se verbaliza) à mercê de bilhões de anos para nos recriamos como outro planeta. Tampar nossas memórias profundas é tão impossível como reinventar a vida. Eu já sabia que éramos lunáticas, mas a certeza é ácida, corrói-me por inteira. Dois mundos que precisam encontrar órbitas diferentes, burlar a física das atrações dos nossos pesos maciços. Nessa equação a única variável a diminuir nossa força é o quadrado da distância. Uma distância que somente será mensurável no distanciamento e na percepção do seu efeito atenuador (a longo prazo). Até que assim seja, seu mundo influenciará o meu, mesmo às escuras. Siga em paz, pequeno sonho. Não nos cabe mais na mesma galáxia. Mas por aqui, todas as estrelas continuarão inclinadas, clamando sua "intensity", todas elas já sabem seu nome (isso eu não consigo consertar. A física, a química e a nossa natureza não se conserta).
Você fica indignado quando ver alguém desperdiçando comida, e com razão, porque tem muita gente passando fome nesse mundo.
Você fica indignado quando vê alguém desperdiçando dinheiro, e com razão, porque tem muita gente passando necessidade nesse mundo.
Mas você não fica indignado quando você mesmo desperdiça a sua própria vida.
Você só conseguirá se relacionar com outras pessoas na mesma profundidade com a qual você se conecta consigo mesmo.
Quem é raso consigo mesmo está fadado a viver relações igualmente superficiais.
O que mais dói em uma traição, é que aquele que a fez, foi a pessoa em que você tinha uma confiança grande. Se fosse por um inimigo não me surpreenderia.
Pense em tudo o que você tem, como conseguiu? Foi tudo mérito seu? E se você perdesse tudo o que tem, ainda teria motivação para seguir em frente?
Agarre ao que você possuí e não pode perder, o conhecimento, pois se caso algum dia você não tenha mais bens, você possuirá uma força incompreensível para continuar.