É hoje

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Hoje decidi que estou prestes a assumir meu coração vazio. Não decidi isso movida por uma grande coragem ou por um momento de iluminação. Nada grandioso aconteceu. Apenas sinto que dei um pequeno, quase imperceptível, passo para uma vida mais madura. Eu simplesmente não suporto mais pintar o céu de cor-de-rosa para achar que vale a pena sair da cama.
Não posso mais emprestar mistério ao vazio, vida ao oco, esperança ao defunto, saliva ao seco. Não posso mais emprestar meus desejos para que pessoas se tornem desejáveis. E, finalmente, não posso mais inventar amor só para poder falar dele!

Se você quer testar sua memória, tente se lembrar hoje sobre o que você estava preocupado há um ano atrás.

As palavras... Muitas que hoje desapareceram irão renascer, muitas, agora cheias de prestígio, cairão, se assim o quiser o uso.

Os paradoxos de hoje são os preconceitos de amanhã.

Nos dias de hoje, apenas nos ateus sobrevive a paixão pelo divino. Nenhum outro se salvará.

Hoje, setenta por cento da humanidade ainda morre de fome... e trinta por cento faz dieta.

Nostalgia: a capacidade de recordar os preços de ontem, esquecendo os salários de hoje.

Se a rendição à ignorância e chamá-la de Deus sempre foi prematuro, continua prematuro até hoje.

Hoje, não se sabe falar porque já não se sabe ouvir.

A época mais obscura é hoje.

Aquilo que fizemos ontem continua conosco hoje.
(Do filme Atirem no Pianista)

Todas as coisas que hoje se crêem antiquíssimas já foram novas.

Não acredito ter qualquer imortalidade. O maior mal no mundo, hoje, é a religião cristã.

Dez anos atrás eu rachava uma pedra de gelo ao meio com o jato do mijo. Hoje não empurro nem bola de naftalina.

Miséria deste século; não há muito eram as más acções que tinham de ser justificadas; hoje são as boas.

A vida é prazer ou nada. Gozemos hoje, ninguém conhece o amanhã.

Uma das causas principais do analfabetismo das massas é o fato de que, hoje, quase todo o mundo sabe ler e escrever.

Ele está a jogar cada vez pior, e hoje jogou como se fosse amanhã.

Há homens que hoje crêem pouco ou nada, porque já creram muito e demasiado.

Pois que dedico esta coisa aí ao antigo Schumann e a sua doce Clara que são hoje ossos, ai de nós. Dedico-me à cor rubra muito escarlate como o meu sangue de homem em plena idade e portanto dedico-me a meu sangue. Dedico-me sobretudo aos gnomos, anões, sílfides e ninfas que me habitam a vida. Dedico-me à saudade de minha antiga pobreza, quando tudo era mais sóbrio e digno e eu nunca havia comido lagosta. Dedico-me à tempestade de Beethoven. À vibração das cores neutras de Bach. A Chopin que me amolece os ossos. A Stravinsky que me espantou e com quem voei em fogo. À "Morte e transfiguração", em que Richard Strauss me revela um destino? Sobretudo, dedico-me às vésperas de hoje e a hoje, ao transparente véu de Debussy, a Marlos Nobre, a Prokofiev, a Carl Orf, a Schönberg, aos dodecafônicos, aos gritos rascantes dos eletrônicos – a todos esses que em mim atingiram zonas assustadoramente inesperadas, todos esses profetas do presente e que a mim me vaticinaram a mim mesmo a ponto de eu neste instante explodir em: eu. Esse eu que é vós pois não aguento ser apenas mim, preciso dos outros para me manter de pé, tão tonto que sou, eu enviesado, enfim que é que se há de fazer senão meditar para cair naquele vazio pleno que só se atinge com a meditação. Meditar não precisa de ter resultados: a meditação pode ter como fim apenas ela mesma. Eu medito sem palavras e sobre o nada. O que me atrapalha a vida é escrever.
E – e não esquecer que a estrutura do átomo não é vista mas sabe-se dela. Sei de muita coisa que não vi. E vós também. Não se pode dar uma prova da existência do que é mais verdadeiro, o jeito é acreditar. Acreditar chorando.
Esta história acontece em estado de emergência e de calamidade pública. Trata-se de um livro inacabado porque lhe falta a resposta. Resposta esta que espero que alguém no mundo me dê. Vós? É umas história em tecnicolor para ter algum luxo, por Deus, que eu também preciso. Amém para nós todos.

Clarice Lispector
A hora da estrela. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.

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