Dor Fracasso
Creio que estou passando pelas fases do luto após o término, imaginei que haveria sofrimento, mas não tamanho. Entretanto, eu devo seguir em frente seja por mim ou por ela, espero conseguir atravessar esse deserto.
Superar você é morrer um pouco em vida a cada dia, devagar, como quem se afoga e ninguém estende a mão.
É gritar no vazio, rasgar a garganta, mas só ouvir o próprio eco sufocado.
É acordar todos os dias com o peso de uma ausência que esmaga o meu peito, queima a minha alma e arranca qualquer vontade de continuar.
E é cruel saber que, por mais que doa, ninguém pode dividir essa dor comigo — ela é só minha, íntima, insuportável.
Todo dia um pouquinho
Um dia de cada vez
Não se pode responsabilizar ninguém
É preciso assumir
Assumir a culpa
Assumir o erro
Assumir a tristeza
O coração estará pra sempre em pedaços,
Pra sempre esperando uma reparação,
Até o fim porque
Pra sempre, desde sempre.
As lágrimas
Quanto tempo faz desde a última vez? Nem me lembro mais. Antes era tão mais fácil, tão mais comum. Quando caía no chão e ralava o joelho, ou ao levar uma bronca da mãe, quando brigava com o irmão, ou quando perdia algo valioso.
Elas vinham como um dia chuvoso, lavando a alma e logo depois o céu ficava azul novamente.
Mas já fazia um tempo que elas não caíam. Até que hoje choveu bastante, como nunca antes, mas o céu não ficou azul. Elas não lavaram a alma.
Elas apenas caíram...
Mas agora eu uso a tua ausência como um casaco: grande demais, pesado demais e cheio de coisa tua.
Ainda me aquece.
Mas só machuca.
O Passado
O passado pode até não existir mais,
mas ele nos fez ser quem somos
ele nos fez ser mais fortes
ele nos trouxe fraqueza
ele nos deixou suas feridas
e nos trancou numa fortaleza
ele nos ensinou a vida
e a resistir contra a correnteza
O passado pode até não existir mais,
mas ele nos fez ser quem somos
o passado não existe mais
ele não nos fará ser quem seremos
pois é o agora quem na verdade decide
qual caminho por onde pisaremos
podemos mudar o que o passado nos tornou
e talvez o que ele não nos mostrou..
é o que viveremos
Antigamente, muitas coisas aconteciam e ninguém ficava sabendo. Hoje, vivemos em uma sociedade hiperconectada digitalmente, onde é raro alguém de fato conhecer o outro — mas há uma ilusão gigantesca de que ver posts, stories e feeds é o mesmo que saber quem a pessoa é.
Com isso, recebemos laudos genéricos sobre tudo, formamos opiniões com base em fake news e, dia após dia, perdemos a oportunidade de viver uma vida real — uma vida onde tudo está sujeito a mudanças, dores e amadurecimento.
A dor faz parte do crescimento. É nela que, muitas vezes, as pessoas descobrem do que são feitas, e onde realmente podem aprender a amar.
Enfim, meus sentimentos.
Tu chegava como quem acende as luzes da sala e pergunta se eu quero ficar.
Mas a cada resposta minha, desligava uma lâmpada.
E eu, tateando no escuro, comecei a achar bonito tropeçar em você.
Pior: comecei a achar que amar era isso.
Tentar caber em alguém que já está cheio de si.
Pontos de contato
Através do reflexo do retrovisor a imagem se afastava lentamente de uma mesa com morangos em cima, você com seu vestido florido e o sol se pondo acompanhado pela beleza do mar,
foi doloroso sentir a distância se aproximando, mas foi necessário seguir com as mãos suando,
o mar me acompanhou por um longo período nesta viagem até em um dado momento imperceptível, ele desaparecer,
do ponto "A" ao ponto "B" o que chamou mais atenção foi o ponto "D" de distância, de dor, de dimensão,
quando pertencemos um ao outro o medo vira pó e os vínculos viram imãs, ponderados pelo "D" de destino e respeitando as duas auras que fogem as leis da física cabendo em um corpo só, freei bruscamente o carro no meio da estrada dos perdidos e comecei a retorna em direção ao que é difícil e por vezes incompreendido, porém é o néctar que me mantém vivo.
Espuma de Aço
Passei fome —
como quem mastiga a ausência com os próprios dentes.
Passei frio —
como se o mundo tivesse esquecido meu nome.
Tive medo de dormir,
como se o sono fosse um portal sem volta.
Temi ser incendiado por mãos anônimas,
esfaqueado por sombras sem rosto,
baleado por silêncios armados.
Achei que a qualquer instante
me enjaulariam por crimes que só a miséria conhece.
Achei que o azar me atravessaria como um carro sem freios.
Achei que acordaria num hospital,
com tubos dizendo o que restou de mim.
Tive pensamentos que se transformaram em presságios.
E presságios que bateram à porta como visitas indesejadas.
Coisas que temi… e que vivi.
Nunca imaginei sentir esses medos.
Nunca imaginei que seria a morada deles.
Mas eu os enfrentei —
não com bravura,
mas com a entrega de quem não vê saída.
Fechei os olhos,
não para fugir,
mas para pular.
Como quem salta de um avião sem paraquedas,
mergulhei no invisível,
me entregando a Deus com a fé de um desesperado.
Os dias passaram como segundos —
e os segundos, como preces sufocadas.
Quando enfim toquei o solo,
não havia pedra, nem asfalto,
mas um vazio que me acolheu.
Como se o próprio abismo
tivesse mãos.
Não foi ele que me segurou.
Foi a ausência do medo.
Foi o sangramento interno de um coração que desistiu de resistir
e se dissolveu —
espuma de aço.
Espuma: porque já não pulsa.
Aço: porque já não quebra.
Sem emoção,
mas também sem dor.
Sem esperança,
mas longe do pavor.
Nem vivo, nem morto —
apenas desperto.
“A infância que vive em mim”
Há quem diga que crescer é endurecer.
Que ser homem é calar o choro, esconder o afeto, vestir a couraça da indiferença e marchar rumo a uma vida prática, mecânica, “funcional”.
Há quem diga que o adulto de verdade não corre com crianças, não ri alto, não se importa demais, nem se curva ao sentimento.
Mas eu digo:
Que espécie de adulto é esse, que matou dentro de si a melhor parte da vida?
Que espécie de maturidade é essa, que exige sepultar a alegria sóbria, a leveza consciente, o riso genuíno?
Eu cresci.
Mas não endureci.
Não porque minha vida foi leve —
mas justamente porque ela foi pesada demais.
Fui ferido cedo, por mãos que deveriam me proteger.
Fui machucado por palavras que deveriam me ensinar.
A vida me mostrou seu lado mais cruel ainda na infância —
mas em vez de repetir o ciclo,
eu decidi quebrá-lo.
Não com raiva,
mas com carinho.
Não com revolta,
mas com escolhas firmes.
Hoje eu cuido.
Cuido da casa, do corpo, da mente.
Faço minhas obrigações, limpo o chão e a alma.
E quando tudo está em ordem,
eu calço os tênis e vou correr com o vento.
No campo, entre crianças que ainda não sabem o que é dor profunda,
eu brinco, eu sorrio, eu permito que a luz entre.
Não sou um crianção.
Sou um adulto que carrega dentro de si uma criança viva, curada, acolhida.
Sou o reflexo do que eu gostaria que tivessem feito por mim.
Sou o abraço que eu não recebi, o riso que me negaram,
a presença que me faltou.
Brincar com uma criança, ouvir suas gargalhadas, ver seus olhos brilhando com algo tão simples quanto uma bolinha de plástico —
isso não é perda de tempo.
Isso é reconciliação com a vida.
É lembrar que ainda vale a pena viver.
A sociedade não entende.
Rotula. Julga. Distorce.
Acha que maturidade é viver cansado, seco, amargo.
Mas eu aprendi que viver de verdade é manter a alma limpa, mesmo depois de toda a lama.
E que o amor, quando é consciente, é a forma mais elevada de sabedoria.
Minha mãe talvez nunca entenda.
Talvez ninguém entenda.
Mas tudo bem.
Porque eu entendo.
E essa compreensão me basta.
Ser adulto, pra mim, é ter responsabilidade sem perder a ternura.
É saber quando falar firme e quando calar em respeito.
É saber que a dor do outro importa, mesmo que ninguém veja.
É limpar uma casa e limpar uma alma no mesmo dia.
É correr atrás do vento sem fugir da realidade.
Não vou me tornar morto por dentro só para caber no molde do que dizem ser "adulto".
Não vou me tornar frio porque o mundo se esfriou.
Vou seguir aquecendo corações com o que me restou de luz —
e com o que eu reconstruí com minhas próprias mãos.
E quando alguém me chamar de “bobo”, “infantil” ou “sensível demais”,
eu sorrirei,
porque só um tolo confunde pureza com fraqueza.
Eu sou forte —
porque escolhi amar mesmo depois da dor.
Sou maduro —
porque cuido da vida que existe em mim e ao meu redor.
Sou feliz —
porque reconheci que ser adulto de verdade é nunca abandonar a criança que sobreviveu dentro de você.
Sou a engraçada.
A mimada que ri alto demais,
que fala sem filtro,
que abraça pra não desabar.
A que sonha pelos outros,
e aconselha mesmo quando ninguém escuta.
Mas no final...
quem é que fica?
O que me leva ao cinema
na intenção de não ver o filme?
Ou o ex que diz que ama, Que eu sou a mulher da vida dele mas não tem coragem de falar isso sem visualização única?
Ninguém fica.
Ninguém.
Vêm, arrancam uma pétala,
levam um pedaço,
e vão embora como se nada fosse.
Até quando serei só lembrança?
A amiga de todos,
a última a ser lembrada,
a que sempre ajuda, mas nunca é chamada?
Cansei.
Agora tem espinho no lugar da flor.
Agora, quem vem, sangra.
Agora, quem tenta colher, se fere.
Porque não levo mais flores nos dedos.
Levo cicatriz.
Levo silêncio.
Levo tudo o que me deixaram.
E não...
não leva mais pétala.
Sou o fogo que arde em teu ser
Sou água que mata tua sede
O castigo da tua presunção
As espada caudal sem razão
Sou a torre mais alta de fel
As estrelas lá do cão maior
O alpendre da anunciação
Um papado de um bispo só
Sou o ar que repiras na dor
O calor que ressoa no ar
Uma flor que insiste em florar
E o vento que não quer soprar
Sou reflexo de lua no mar
Infinito e eterno esplendor
Dia quente em puro calor
Um deserto de ilhas sem fim
Sou uma ilha deserta em mim
Uma história feliz sem amor
Um amor infeliz a durar
A tristeza do riso sem fim
A pintura de um riso sem cor
Um inverno trovejando em si
Dialeto latino ou tupí
Sou um peito repleto de amor
Ela estava lá
Inébria, sombria
Frígida como uma mulher em puerpério
Seus cabelos acobertos
Em capuz de feutro negro
Davam o tom em branco e preto
Clima de cemitério
Enquanto eu escrevia
Me sussurrava aos ouvidos
Palavras, estalidos
Inspirações de cortesia
Era sim, a própria morte
Do meu lado a gargalhar
Afagava-me os cabelos
Entre vida e pesadelo
Inspirando meu desabafar
Ali estava ela, ao menos mais uma vez
É que ando morrendo demais
Um poeta morre vez ou outra
E aquele era só mais um dia
Entre escritas e agonia
Entre letras mortas e vazias
O meu óbito de número trinta e três
A vida me ensinou da pior forma que, quando você não se escolhe, escolhe, na verdade, ser descartável na vida dos outros.
