Do nada
Diga o que você quiser, faça o que você quiser. Não diga nada, se achar melhor. Minta, não será pecado. Mas se contar tudo, não se esqueça de dizer que eu sou feliz aqui. Longe de tudo, perto do meu canto.
Você me pergunta se já li “As horas” e me manda um trecho do livro. Não acho o trecho nada demais. A última vez que nos falamos faltavam dois dias para o Natal. Hoje é sexta-feira da paixão. Você sempre lembra de mim dois dias antes de datas religiosas. Sua loucura é burocrática.
Você quer me contar que sente angústia e não sabe amar. Você sempre quer me contar que sente angústia e não sabe amar como se isso fizesse de você mais misterioso e complicado e “escolhido pelo capeta” do que os outros mortais. Ninguém sabe amar, todo mundo tenta amar porque é preciso pra não se matar, todo mundo ama entre essa de não saber e tentar e não se matar. Ter um estômago enjoado é o que nos diferencia de bonobos. Buhuhu pra você. Mimimi pra você.
Lembro de quando eu não sabia dirigir carro automático mas te vi dormindo tão bonito e quis tirar o seu carro da rua perigosa e colocar na minha vaga. Eu demorei trinta minutos pra conseguir fazer isso. Eu voltei pro quarto e você me olhou com dó e disse que não conseguia ficar e foi embora. Eu também não consigo ficar. Eu também não consigo pensar que estou estacionada na vaga de uma pessoa.
Eu só quis tanto que você ficasse porque é mais fácil querer quando a pessoa já é mais um vulto de desculpas se esvaindo do que uma carne entregue e densa numa cama. Você foi embora esse dia e nunca mais voltou. A gente dançou Bluebird abraçadinho no show, a gente voltou com as janelas do carro bem abertas porque estava calor e o calor tinha cara de uma felicidade que corava e aquecia o sangue. Eu te abracei tomando cuidado pra não te sufocar quando você teve uma crise de ansiedade. Eu estava tendo uma crise de ansiedade mas a enxerguei melhor em você.
Eu amava você. E suas janelas emperradas e seus bonequinhos no banheiro e a voz mansa e doce de mal elemento e o cinismo genial me afastando de você enquanto eu queria amarrar meu cabelo no seu pé e seguir do seu lado mesmo sendo desconfortável. E de como seus olhos ficam assustadoramente psicóticos quando você bebe. Você foi embora nessa noite e nunca mais voltou.
Sua camiseta colorida eu dei pro meu porteiro. Sua meia puída eu joguei fora. Seu chinelo sujo com o nome dos noivos de um casamento em Angra eu guardei um tempo, pra lembrar que seus pés eram pequenos e gordinhos. Depois dei pro faxineiro do prédio. Nesse dia do chinelo eu chorei. Chorei muito. Era sua última coisa comigo e ela foi pro meu faxineiro e isso me pareceu tão injusto e triste e sujo de se fazer.
Você já faz um ano e cinco meses. Ficamos juntos três semanas e dois dias há um ano e cinco meses. Um milhão de pessoas de um milhão de galáxias ficaram três semanas e dois dias comigo. Mas você eu já desisti de esquecer. Pra sempre eu vou sentir um elevador de gelo seco em todos os meus andares quando você aparece de alguma maneira. Quando tem foto sua, quando tem recado seu, quando tem você atravessando a avenida.
Esse texto nem ficou bom, porque agora amo outra pessoa e então eu nem consigo te dizer nada incrivelmente bonito. Mas queria vomitar a última micrograma de sal viciante no fundo de um saquinho de salgadinhos que fazem mal mas que, na pressa, às vezes usamos como refeição.
Lembro de você, antes de atender o entregador de pizza no interfone, me dizendo que não aguentava mais fazer o personagem “homem perfeito pra mim”.
Eu nunca te preferi por causa dos seus trechos de livros, músicas, mãos dadas, dedicações corporais, gostos para poesias, diálogos inteligentes e comidas entregues em casa. Eu nunca te preferi por causa das suas histórias de aventuras ou do seu sucesso enquanto jovem talentoso e gato com carrão a apartamento no metro quadrado mais caro de São Paulo.
Eu nunca te preferi como uma menina que te prefere porque você é um personagem muito trabalhado para ser preferível. Tudo isso era só uma boa música e uma boa fotografia e uma boa direção e um bom roteiro. Mas eu amava o negativo preto e branco e de ponta-cabeça. A fagulha de ideia da sua existência. O seu nariz aristocrático e a sua boca corada mesmo quando você empalidecia no começo da noite.
Eu amava você dormindo, de barriga pra baixo, os cachos espalhados no meu nariz, o suor na nuca secando ao longo da noite, sua barriga enchendo de ar de forma errada porque você respira mal. Eu amava você chamando seu bruxismo de vampirismo e depois dizendo que eu te deixava nervoso. Eu amava o medo que você tinha de eu te amar em tão pouco tempo e do sentimento ser grande o suficiente para eu perceber, colorir e decorar suas minuciosidades desimportantes.
Amava sem você fazer nada, só respirando pesado, só lutando com seu peito angustiado, só perdido, só tentando ficar mesmo não sabendo como.
''Não há nada de errado em curtir a mansidão de um relacionamento que já não é apaixonante, mas que oferece em troca a benção da intimidade e do silêncio compartilhado, sem ninguém mais precisar se preocupar em mentir ou dizer a verdade. ''
A gente não se beija nem nada, mas quando vai ver pegou na mão um do outro de tanto que se gosta e se cuida e se sabe. Mas evoluímos para esse amor que nem sei explicar. Ele me conta das meninas, eu conto dos caras. Eu acho engraçado quando ele fala “ah, enjoei, ela era meio sem assunto” e olha pra mim com saudade. Ele também ri quando eu digo “ah, ele não entendeu nada” e olho pra ele sabendo que ele também não entende, mas pelo menos não vai embora. Ou vai mas sempre volta. Não temos ciúmes e nem posse porque somos pra sempre. Ainda que ele case, more na Bósnia. Somos pra sempre.
Disse que não deveria deixar nada e nem ninguém controlá-la, só ela mesma. Comentou que por nada neste mundo ela poderia vender a sua liberdade, e a fez aprender uma importantíssima lição: deveria ter um caso de amor consigo mesma, antes de ter um grande amor fora dela.
Ou sou tudo ou sou nada.
Nota: Trecho de pensamento que costuma ser erroneamente atribuído a Tati Bernardi e Clarice Lispector.
...MaisPorque a maldade do mundo inteiro entende que não se brinca com as exceções da vida. E nada de mais acontece.
A maioria das pessoas não diz
o que realmente pensa ou deseja,
e nisto não há, pois, nada de especial.
Ser explícito e verdadeiro em seus pensamentos e intenções
é no que consiste o verdadeiro mistério...
Eu queria que no meu modo de te fixar para mim mesmo nada tivesse recortes e definições: tudo se entremoveria num moto circular.
"Nada me comove que se diga, de um homem que tenho por louco ou néscio, que supera a um homem vulgar em muitos casos e conseguimentos da vida. Os epiléticos são, na crise, fortíssimos; os paranóicos raciocinam como poucos homens normais conseguem discorrer; os delirantes com mania religiosa agregam multidões de crentes como poucos se alguns) demagogos as agregam, e com uma força íntima que estes não logram dar aos seus sequazes. E isto tudo não prova senão que a loucura é loucura. Prefiro a derrota com o conhecimento da beleza das flores, que a vitória no meio dos desertos, cheia da cegueira da alma a sós com a sua nulidade separada." (Livro do desassossego)
O PRESENTE
Nada na vida acontece em vão.
Se um dia ao acordar, você encontrasse, ao lado da sua cama, um lindo pacote embrulhado com fitas coloridas, você o abriria, antes mesmo de lavar o rosto, rasgando o papel, curioso para ver o que havia dentro...
Talvez houvesse ali algo de que você nem gostasse muito... Então você guardaria a caixa, pensando no que fazer com aquele presente aparentemente "inútil" ... Mas no dia seguinte, lá está outra caixa... mais uma vez, você abre correndo, e dessa vez há alguma coisa da qual você gosta muito... Uma lembrança de alguém distante, uma roupa que você viu na vitrine, a chave de um carro novo, um casaco para os dias de frio ou simplesmente um ramo de flores de alguém que se lembrou de você...
E isso acontece todos os dias, mas nós nem percebemos... Todos os dias quando acordamos, lá está, à nossa frente, uma caixa de presentes enviada por Deus, especialmente para nós: um dia inteirinho para usarmos da melhor forma possível! Às vezes ele vem cheio de problemas, coisas que não conseguimos resolver, tristezas, decepções, lágrimas...
Mas outras vezes, ele vem cheio de surpresas boas, alegrias, vitórias e conquistas... O mais importante é que, todos os dias, Deus embrulha para nós, enquanto dormimos, com todo o carinho, nosso presente:
O DIA SEGUINTE!
Ele cerca nosso dia com fitas coloridas, não importa o que esteja por vir... a esse dia quando acordamos, chamamos PRESENTE...
O PRESENTE de Deus pra nós.
Nem sempre Ele nos manda o que esperamos, o que queremos... Mas Ele sempre, sempre e sempre, nos manda o melhor, o de que precisamos, e que é sempre muito mais do que merecemos...
Abra seu PRESENTE todos os dias, primeiro agradecendo a quem o mandou, sem se importar com o que vem dentro do "pacote“. Sem dúvida, Ele não se engana na remessa dos pacotes. Se não veio hoje o PRESENTE que você esperava, espere... Abra o de amanhã com mais carinho, pois a qualquer momento, os sonhos e planos de Deus pra você chegarão, embrulhadinhos pra PRESENTE! DEUS não atende as nossas vontades, e sim nossas necessidades.
