Dizer Adeus com Vontade de Ficar

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São as minhas confissões, e, se nelas nada digo é que nada tenho que dizer.

Falta eu aprender a não desculpar certas pessoas, mas primeiro, falta eu aprender a dizer não.

Pois estou pra dizer que até a tristeza pode tornar um dia especial, só que não ficaremos sabendo disso na hora, e sim lá adiante, naquele lugar chamado futuro, onde tudo se justifica. É muita condescendência com o cotidiano, eu sei, mas não deixar o dia de hoje partir inutilmente é o único meio de a gente aguardar com entusiasmo o dia de amanhã.

Resisti à tentação de dizer que não, subiria também, não podia passar mais uma noite longa dela. Tentação de abraçá-la, esquecer tudo que havia passado, subir também. Mas alguma coisa me dizia que o meu lugar era embaixo, que eu era apenas uma testemunha, um espectador, o lado passivo do seu mistério.

Não se pode dizer, só se pode adular o líder.

(trecho de entrevista: As críticas não o incomodam?)

Deixa eu acreditar que amanhã quando eu acordar, você vai dizer que sentiu minha falta.

O sono é perfeito quando não sonhamos. Poderíamos dizer que, a cada noite, ele nos desperta da vida.

Preciso falar, e mais do que falar, preciso dizer. Mas as palavras não dizem tudo, não dizem nada.

Aprendi a nunca dizer nunca. É que as palavras nos apunhalam pelas costas e pela frente.

Não sei dizer se são pessoas de mente pequena ou se seriam pessoas de mente aberta. É... mente aberta, mas tão aberta, que algum momento deixaram cair o cérebro no chão e até hoje não se deram conta.

Todo mundo sabe como falar, e ninguém sabe o que dizer.

Em duas ocasiões não sabemos o que dizer: no início e no fim de um amor.

E dizer que nunca, nunca dei isto que estou sentindo a ninguém e a nada. Dei a mim mesma?

Clarice Lispector
A descoberta do mundo. Rio de Janeiro: Rocco, 1999.

Nota: Trecho da crônica Primavera ao correr da máquina.

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Adiar o momento em que terei que começar a dizer, sabendo que nada mais me resta a dizer. Estou adiando o meu silêncio.

Clarice Lispector
A paixão segundo G. H. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.

Amo vocês como quem escreve para uma ficção: sem conseguir dizer nem mostrar isso. O que sobra é o áspero do gesto, a secura da palavra. Por trás disso, há muito amor. Amor louco – todas as pessoas são loucas, inclusive nós; amor encabulado – nós, da fronteira com a Argentina, somos especialmente encabulados. Mas amor de verdade. Perdoem o silêncio, o sono, a rispidez, a solidão. Está ficando tarde, e eu tenho medo de ter desaprendido o jeito. É muito difícil ficar adulto.

A ferida
O rabinomoshe de sassoy reuniu os seus dicipulos para dizer que havia finalmente aprendido como devemos amar o próximo.eles pensaram que o rabino tivera uma revelação divina,mas moshe negou.
-Na verdade,aprendi sobre o amor quando escutei a conversa entre um casal.
-A mulher perguntou;você me ama? eo marido respondeu. -Claro;Então a mulher insistiu:
-Você sabe o que me faz sofrer? "NÂO SEI;disse o marido.
-Como pode me amar,senão sabe oque me faz sofrer?foi o comentario da mulher.
depois de narrar isto,moshe concluiu quem ama verdadeiramente pode evitar ferimentos desnecessarios:

Às vezes, as pessoas escrevem as coisas que elas não podem dizer.

Às vezes temos tanto a dizer, a demonstrar, que olhos marejados de lágrimas dizem mais do que páginas e mais páginas de textos.

O que mais gosto de dizer em italiano é uma palavra simples, comum: Attraversiamo.
Quer dizer: “Vamos atravessar.” Os amigos dizem isso uns para os outros sem parar quando estão andando pela calçada e decidem que chegou a hora de passar para o outro lado da rua. Ou seja, é literalmente uma palavra pedestre. Ela não tem nada de mais. Mesmo assim, por algum motivo, causa-me um efeito poderoso.

Mas como me reviver? Se não tenho uma palavra natural a dizer. Terei que fazer a palavra como se fosse criar o que me aconteceu?
Vou criar o que me aconteceu. Só porque viver não é relatável. Viver não é vivível. Terei que criar sobre a vida. E sem mentir. Criar sim, mentir não. Criar não é imaginação, é correr o grande risco de se ter a realidade. Entender é uma criação, meu único modo. Precisarei com esforço traduzir sinais de telégrafo - traduzir o desconhecido para uma língua que desconheço, e sem sequer entender para que valem os sinais. Falarei nessa linguagem sonâmbula que se eu estivesse acordada não seria linguagem.
Até criar a verdade do que me aconteceu. Ah, será mais um grafismo que uma escrita, pois tento mais uma reprodução do que uma expressão. Cada vez preciso menos me exprimir. Também isto perdi? Não, mesmo quando eu fazia esculturas eu já tentava apenas reproduzir, e apenas com as mãos.

Clarice Lispector
A paixão segundo G. H. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.