Cronicas de Luiz Fernando Verissimo Pneu Furado
O maior desejo? Nunca parar de pensar. E bem mais do que isso, partir do pensamento para a ação, perceber que continua errando e não desistir de tentar, sair da filosofia para a concretude da vida. Por mais que enxerguemos as coisas da forma correta, o pensamento ainda não é o bastante para levar o bem às pessoas, nem tornar o mundo minimamente melhor caso não se converta em atitudes e passos firmes na direção certa.
Eventualmente alguém me procura na expectativa de que eu seja tudo o que escrevo, e então repito a resposta de que estou sempre em busca de ser o que penso e sei que devo, embora nem sempre o consiga. Acalmo meu espírito, no entanto, com a lembrança de que jamais desisto de tentar novamente e a consciência de, a cada nova tentativa, haver dado um passo a mais, por menor que seja, em direção ao objetivo.
Qual a melhor parte de não esperar que os outros façam nada por você? É que os seus dois lados – o que faz e o que recebe – estarão sempre buscando o mínimo que não sacrifique o outro: seu lado servidor só irá fazê-lo até o ponto em que o consiga, e o lado servido sabe que precisa respeitar esse limite para continuar recebendo. Com isso o todo encontra harmonia automática entre o que se quer e o que se pode, mantendo-se imune a frustrações ou sentimentos de culpa e sem cobrar nada além do necessário para sentir-se satisfeito e feliz. Nossas relações conseguiriam o mesmo se exigíssemos dos outros o mesmo que cobramos de nós mesmos.
Nada mais libertador do que ser protagonista da própria série, em vez de coadjuvante de tragicomédias de temporada permanente. Há que se saber a hora de abandonar os palcos mambembes, os enredos trágicos de sorrisos forçados onde personagens congelados encenam dramas que se repetem em moto-contínuo. A vida real só atinge sua plenitude quando descemos do palco.
Um dos maiores enigmas do comportamento humano é entender porque muitos permanecem carentes e inseguros ainda que rodeados por pessoas e mergulhados nas muitas coisas que acumulam sem cessar. A resposta é que vêm desde sempre de uma solidão coletiva e das tantas posses sem significado, permanecendo em busca de cura para o incurável e suprimento que universo algum poderá suprir, já que o vazio se faz por dentro e não por fora.
Se você continua figurando entre os contatos com livre acesso ao que publico saiba que não é por acaso. Eles jamais são escolhidos por critério de quantidade, mas de qualidade: ou integram o grupo dos que possuem um espírito tão libertário e combativo quanto o que trago em mim, ou o tem tomado por uma natureza tão íntegra que lhe permitirá um dia transformar-se em alguém que o possua, ou então compõe o grupo dos que não despertaram e até mesmo nunca o farão, e daí precisa saber que existem muitos opondo incansável resistência ao tipo de idéia que você defende!
O que muitos não conseguem entender é o parâmetro que diferencia o libertário dos que nunca chegarão a sê-lo. Por definição, ele não é uma dessas pessoas que aceitará o mundo como o encontrou, principalmente quando agride princípios e valores norteados pelo bem comum, dos quais deve ser parte indissociável. Assim, enquanto seguir buscando pelo lhe dê alguma vantagem sobre seus iguais, não será um deles, pois que a liberdade nunca será privada, e só se faz legítima quando estendida a todos. E não lhe será exigido abrir mão de sua humanidade para sentir-se “a caminho da iluminação”, podendo conviver com seus múltiplos defeitos desde que entre eles não se inclua o de tentar prejudicar outro ser vivente, nem o espaço ocupado por eles para usá-lo em conformidade com o que seja melhor para ele próprio.
Algumas pessoas já nascem sensíveis, ou conseguem desenvolver sua sensibilidade à medida em que se descobrem apaixonadas pela vida. Outras nunca o serão, ainda que gastem suas vidas tentando projetar essa imagem aos outros, ao confundir sensibilidade com a natureza meramente biológica da inteligência. Estas quase sempre verão nas primeiras apenas figuras “esquisitas”, o que não altera nada em suas essências pois que – como já sabia Giordano Bruno em sua época – a verdade não muda porque se acredita ou não se acredita nela.
Passei décadas de minha vida tentando levar meu melhor a todos à minha volta até constatar que só viam meu lado pior para poder criticá-lo como se aquilo fosse o que eu realmente era. Até que parei de tentar convencê-los do contrário ao descobrir que esse contrário ao que eles queriam sempre havia sido como eu deveria ser.
Passei muito tempo me culpando por não conseguir devolver o gostar de alguém que demonstrava me colocar acima de qualquer outra pessoa, até me perceber preferindo aquelas que estendiam seu amor a todas as outras, pois quando o direcionam apenas a mim não é porque sejam realmente boas, mas por querer exercer egoisticamente o seu direito de preferência.
Surpreende sempre, aos demais e a ti próprio, colocando-te como um camaleão frente à vida! Se fazes de teus dias uma rotina que não se altera, te transformas em pesado compromisso para os que te cercam, e esvazias o sentido do existir para ti mesmo. O encanto só se instala quando te renovas continuamente. A única coisa que não requer mudares é o teu caráter.
Um país dá início ao seu processo de autodestruição quando troca o sentido de nação pelo de estado, com a massa crítica que brotava de dentro pra fora cedendo lugar ao estabelecido de fora pra dentro. Sabemo-lo quando seu povo abdica de sua visão analítica para integrar hordas de convertidos. O aniquilamento de sua unidade natural extirpa a visão sistêmica que o livra dos extremos, e é quando numa mesma família se vê membros da esquerda radical e da extrema direita se enfrentando sem se dar conta de que cumprem uma agenda onde autorizam seus lideres a fazer qualquer coisa. Nela o conceito de certo ou errado quebra o elo com ações do agente para ser automaticamente encaixado no do “nosso certo” e do “errado deles”.
Duvidar do desconhecido que se mostra improvável é mais do que razoável. Mas duvidar do constatável por meio simples, sendo impedido apenas pelo ceticismo de quem se acredita no domínio do conhecimento, não difere em nada do ignorante absoluto. São apenas duas faces de uma mesma moeda onde uma exibe uma imagem e a outra apenas uma face vazia.
Há pessoas que com um único gesto conseguem fazer toda a beleza de anos se desmanchar ao primeiro contato com elas; e tudo o que se construiu durante uma vida inteira em minutos ser transformado em cinzas; como pessoas que antes conviviam em harmonia se virem cercadas de inimigos; e até o bem mais precioso que se possua sendo tratado como comida de porcos. Não são pessoas que se costuma falar como tendo um “dedo podre”, mas que carregam a podridão na própria alma e se ocupam em espalhá-la por onde quer que passem.
Indução subliminar é algo que, mesmo permanecendo atentos, nem sempre se conseguirá evitar. Mas a tentativa de convencimento explícito é inaceitável pelo fato de subverter o pensamento alheio por meio de convencimento, que não se distingue em nada de manipulação, e ninguém que respeita a si mesmo pode deixar de lhe impor severa resistência por se ver tanto desrespeitado quanto subestimado em sua inteligência.
As coisas úteis e factíveis que nos esforçamos para tornar acessíveis a outrem correspondem à nobre missão de educar. Mas as subjetivas e controversas - como suas crenças, valores e ideologias - nunca o serão. Daí que subverter a ordem alheia pelo seu uso vem sempre impregnado de interesse próprio e não de preocupação com o bem alheio, revelando-se, portanto, indigno e desrespeitoso quando levado a quem quer que seja.
Se a intenção é chegar à idéia perfeita, o meio mais eficaz é submetendo-a ao maior número possível de cabeças, pois que surgirá do confronto de muitas. Mas se o objetivo é comunicar o que se pensa, não há nada mais idiota do que optar pelo compartilhamento coletivo, pois ganhará mil versões que tornarão vis seus pensamentos mais nobres. Nunca a humanidade universalizou o “besteirol” e gerou tantos conflitos como depois de inventar os famigerados “grupos instantâneos”, onde os minutos de fama são usados para jogar tinta de inteligência sobre os pensamentos mais medíocres, de modo a compartilhar asneiras, inflamar egos e despertar rancores.
Como nos disse Hobbes, “o homem é o lobo do homem”. Uma coisa, pois, que a vida ensina e está sempre nos lembrando é que podemos passar toda a existência nos entregando às pessoas de corpo e alma, mas logo na primeira vez em que se sentem contrariadas elas esquecem tudo o que foi feito, e a única coisa que parecem sentir é de não terem ido com a sua cara desde criancinha.
Qualquer tipo de censura é o caminho mais rápido para o autoritarismo ilegítimo e arbitrário, pois que o estado toma para si o direito de substituir a seu bel prazer as escolhas das pessoas, o que transforma seus cidadãos em fantoches subservientes e manipuláveis. Cabe ao estado garantir a ordem e o princípio de licitude, o que não inclui a decisão sobre assuntos de cunho ideológico, filosófico, moral ou de qualquer outra natureza que não se traduza por crime tipificado pelos dispositivos legais. Moralidade é assunto de natureza essencialmente pessoal, e seu controle atenta contra todo e qualquer sentido de Liberdade. Compete ao indivíduo decidir sobre o que quer ou não quer ver, ou a seus filhos, e cada vez que permitimos que o estado o faça em nosso lugar, aceitamos ser convertidos em seres abjetos e servis, que se confessam incapazes de gerenciar sua própria trajetória. Ter as rédeas dela nas mãos chama-se DEMOCRACIA, que tem como maior missão preservar o que você tem de mais sagrado, que é sua LIBERDADE.
Semear Conhecimento é como jogar sementes da janela de um trem: elas são espalhadas ao acaso, mas é a terra que as recebe a responsável por fazê-las germinar, o que só acontece caso estejam prontas para abriga-las em seu seio e fornecer-lhes a água que as transformará em lindas e perfumadas flores.
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