Contos de Drummond o Girassol e o Jardineiro

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Sabe por que o barco flutua e a pedra, não? Porque a pedra só olha para baixo. A escuridão da água é imensa e irresistível. O barco também percebe a escuridão, que tenta a todo momento dominá-lo e afundá-lo. Contudo, o barco tem um segredo. Ao contrário da pedra, seu olhar é pro alto, não pra baixo, fixo na luz que o guia, que promete maravilhas que a escuridão desconhece.

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Bom, dado o momento da noite densa e complexa... que enleia mais uma vez as marionetes do mundo no camarim do teatro, as cortinas do palco da vida fecham-se na alegria de esperar novos espectadores ao amanhecer... sairei agora de cena sem despedir-me... pois logo..logo... eis que o espetáculo volta a acontecer!

Inserida por palcodasflores

Existe e sempre existiu este mistério que nos enleia em medos e aflições, que nos fazem ávidos e famintos de curiosidade... que incita nossa inteligência e insulta nossa capacidade de compreender, que nos faz pequenos grãos de areia... é este mesmo mistério que nos detêm diante de sua grandeza de saber um dia exatamente o que fomos e o que somos...

Inserida por palcodasflores

Para aqueles que adoram viver de passado, principalmente sendo o inquisidor da língua portuguesa eu digo:"respeite a língua padrão em seus documentos, em sua história... mas não repreenda a língua...ela é um rio... que quando impedido de cursar seu leito, faz morrer tudo que está a sua volta.... o mundo não para de girar, por que a língua teria que parar de se transformar???" Pense nisso... nada é tão pobre como o julgamento... nada é tão "démodé" quanto ao conservadorismo... aceite... tudo muda... não sofra... pois não será por você que o rio deixará de seguir o seu destino...

Inserida por palcodasflores

Parece irônico dizer para não olhar para o passado... sendo que é lá no passado que eu estou arrumando forças para torna-lo imortal... é complicado não lembrar do conjunto de memórias que te fazem bem e ao mesmo tempo mal... mas deste tirar o melhor para fazer reviver no presente o que foi no passado algo tão vivo... como é irônico dizer que não penso no conjunto da sua trajetória de vida... a cada linha que eu escrevo sofregamente a tua história... a tua alegria...a tua persistência... a tua luta... o amor, meus caros, é latente... sei que ainda não cheguei ao ponto... não sei escrever sem o afetivo... não sou de fato uma teórica, como desejaria ser... não sei escrever sem a empolgação... sem paixão... sem entrega... mas prometo tentar ser imparcial... ser profissional... e devolver a vocês paranaenses... uma pequena, mas significativa identidade cultural... assim espero e assim será!

Inserida por palcodasflores

Viver é como produzir um texto... muitas vírgulas... muitos tempos verbais...flashbacks e flashforwards intensos e entrelaçados... um discurso por vezes muito convincente... e uma gramática nem sempre impecável... algumas exclamações... muitas interrogações... mas que infelizmente, e quase sempre, acabará em um ponto final.

Inserida por palcodasflores

Tudo que é material é passageiro se desfaz com as intemperes do tempo... o alicerce mais forte é construído na alma... no caráter... se você passar a vida alicerçando sua alma... por mais q a tempestade leve seu bem material...sempre haverá forças para recomeçar! A sua verdeira fortaleza está no seu interior!Coragem: é o que a vida te exige!

Inserida por palcodasflores

Somos anjos e serpentes, cada hora aflora um, pois no turbilhão do inconsciente, sob a luz da inquietude, o complexo se traduz... em fagulhas, chama viva, em estrela que seduz. Sendo assim ele é o outro e o outro ele é. É um ser que vive só em sociedade... a verdade não lhe cabe e nem lhe diz, pois a verdade não existe e se existe não condiz.

Inserida por palcodasflores

Nós, seres humanos, não somos superiores. A natureza, como nós definimos, não está a nosso serviço! Pois somos natureza, ou seja, somos uma pequena engrenagem que move o mundo. Uma pequena peça de um quebra-cabeça incrível! Portanto as plantas, as árvores e os animais não nos pertencem, são na verdade nossos irmãos. São vidas distintas que merecem todo nosso respeito, amor e atenção.

Inserida por palcodasflores

O importante não é ser AMADO, mas saber AMAR! Ser amado pode vir a ser um reflexo do amor que você propaga⁠, mas não o é obrigatório, pois sentimento não se cobra, ou você sente ou não sente. Ser amado vem da capacidade do outro de amar, você não controla. Por isso, o mais importante é desenvolver a sua máxima capacidade de AMAR, pois é isto que o tornará alguém mais feliz e completo.

Inserida por palcodasflores

⁠É preciso ampliar a visão, principalmente das universidades que não são lugares de militância, mas de conhecimento e reflexão... temos obrigação de mostrar todos os lados da história para que o aluno por si próprio decida seu caminho. E não doutrina-los por uma causa irrelevante que os tiram o direito de pensar livremente e os transformam em fantoches de governos abusivos que enganam e escravizam.

Inserida por palcodasflores

A qualquer de nós é dado
ser baiano, bem ou mal,
pois a Bahia é um estado
de espírito, nacional !

Só por milagre eu poria
numa quadrinha somente
a beleza da Bahia
sua terra e sua gente.

Tem tal encanto a Bahia,
tais magias ela tem,
que quem a conhece um dia
fica baiano também.

Bahia de hoje, como ontem,
santeira e crente até o fim:
- do Senhor dos Navegantes
do Senhor do Bonfim.

Bahia dos tabuleiros
das baianas, das babás,
das velhas Sés, dos mosteiros,
dos telhados coloniais.

Bahia de mil petiscos:
caruru e mungunzá,
caju, cachaça, mariscos,
acarajé, vatapá.

Dos quitutes e quindins,
das festas e foguetões,
dos santos e querubins
levados nas procissões.

Bahia sempre gostosa,
mais doce que velho vinho,
que ainda resiste, famosa,
no Largo do Pelourinho.

Bahia de D. João
do Visconde de Cairu:
- moleques de pé no chão
escravos de peito nu.
Do Brasil engatinhando,
subindo pelas ladeiras,
dos sobradões modorrando
sobre a algazarra das feiras.

Das cadeiras de arruar,
das carruagens, dos nobres,
dos ouros em cada altar,
das pratarias, dos cobres.

Bahia da liberdade,
de Castro Alves, seu condor,
onde a palavra saudade
é negra! - tem outra cor!

Bahia da inteligência,
de suas glórias ciosa:
da cultura, da eloqüência,
Bahia de Ruy Barbosa.

Bahia da independência,
contra a opressão e o esbulho,
da revolta da violência,
Bahia do 2 de julho !

Com o leite branco das pretas
tornaste a pátria viril,
e hoje flui das tuas tetas
o "ouro negro" do Brasil.

Bahia, velha Bahia...
Bahia nova também:
patrimônio de poesia
que a pátria guarda tão bem.

Bahia dos meus amores,
de trovadores aos mil,
de violeiros, cantadores:
"romanceiro" do Brasil!

A trova ja nasce feita,
e rima até com poesia
se a Bahia é a Musa eleita,
se a inspiração é a Bahia!



Bahia dos doces ventos
que sopram velas no mar,
dos coqueirais sonolentos
de curvas palmas pelo ar

Qualquer coisa da Bahia
todo brasileiro tem,
se até o Brasil, certo dia,
nasceu baiano também!

"A Bahia é a boa terra",
repito nos versos meus.
e a voz do povo não erra
- sua voz é a voz de Deus!

Ladeiras, praias, coqueiros,
igrejas, lendas, poesia,
- Cais do Mercado: saveiros . . .
- Natal da Pátria: Bahia!

Quando chegares...

Não sei se voltarás
sei que te espero.

Chegues quando chegares,
ainda estarei de pé, mesmo sem dia,
mesmo que seja noite, ainda estarei de pé.

A gente sempre fica acordado
nessa agonia,
à espera de um amor que acabou sendo fé...

Chegues quando chegares,
se houver tempo, colheremos ainda frutos, como ontem,
a sós;
se for tarde demais, nos deitaremos à sombra e
perguntaremos por nós...

Soneto à tua volta

Voltaste, meu amor... enfim voltaste!
Como fez frio aqui sem teu carinho....
A flor de outrora refloresce na haste
que pendia sem vida em meu caminho.

Obrigado... Eu vivia tão sozinho...
Que infinita alegria, e que contraste!
-Volta a antiga embriaguez porque voltaste
e é doce o amor, porque é mais velho o vinho!

Voltaste... E dou-te logo este poema
simples e humilde repetindo um tema
da alma humana esgotada e envelhecida...

Mil poetas outras voltas celebraram,
mas, que importa? – se tantas já voltaram
só tu voltaste para a minha vida...

(Do livro "Eterno Motivo" " - Prêmio Raul de Leoni, da Academia Carioca de Letras - 1943)

A BICICLETA

Me lembro, me lembro
foi depois do jantar, meu avô me chamou,
tinha um riso na cara, um riso de festa:

- Guilherme, vou tapar seus olhos,
venha cá.

Os tios, os primos, os irmãos, na grande mesa redonda
ficaram rindo baixinho, estou ouvindo, estou ouvindo:

- Abre os olhos, Guilherme!

Estava na sala de jantar, junto da porta do corredor,
como uma santa irradiando, num altar,
como uma coroa na cabeça de um rei,
a bicicleta novinha, com lanterna, campainha, lustroso selim de couro,
tudo.

Me lembrei hoje da minha bicicleta
quando chegou a minha geladeira.

Mas faltou qualquer coisa à minha alegria,
talvez a mesa redonda, os tios, os primos rindo baixinho,

– abre os olhos, Guilherme!

Oh! Faltou qualquer coisa à minha alegria!

Um erro, uma vida

Eu estou indo embora, não tente me impedir, meu orgulho é tudo que me restou. Você pensou que eu não seria capaz, mas acredite eu estou realmente te deixando. Você pode dizer que estou cometendo um erro, mas acredite logo vai descobrir que quem errou foi você. Você vai se arrepender tanto. De todas as noites que me deixou sozinha, enquanto você se divertia por aí. De todos os telefonemas que disse que faria, e nunca os fez. De todas as brincadeiras, das mentiras, das ilusões, irá se arrepender de tudo isso. Vai sentir minha falta como nunca sentiu de nada antes. Vai tentar me procurar, mas sinto dizer, já vai ser tarde, pois baby você não é nem de longe insubstituível. Quando você pensar em mim, eu já vou estar pensando em outro. Não importa mais tudo que eu disse pra você, pois nem penso mais naquelas coisas, os presentes já estão na lata do lixo, pensar em seus beijos agora me dá nojo, não to mais nem aí pra você, não te quero de volta. Siga sua vida, bem longe de mim, tem sua liberdade de volta, fica com aquela vadia agora. Ela vale tanto quanto você. Você parece estar surpreso, achou mesmo que eu não iria descobrir, mas adivinha só? Eu não sou a idiota que você pensou.
Quando cair na real, nem venha me procurar, não vou ouvir suas desculpas, não vou fechar os olhos para seus deslizes. Eu sei que a culpada não foi eu, por tantas vezes eu chorei, até que cansei, sei que agora quem vai chorar é você. Quando sentir minha falta lembre se de todas às vezes que você me deixou sozinha. Quando precisar muito de um abraço, lembre se de todas às vezes que tudo que eu precisava era do seu abraço, mas você nunca me deu. Quando você cansar na farra e quiser alguém para dividir as coisas, lembre se de todos os planos que nós fizemos e você destruiu.
Quando quiser tudo de volta, deite e durma, sei que vai sonhar comigo, e quem sabe lá nossa história seja diferente.

Manhã para se feliz

Esta é uma manhã para ser feliz
em um lugar, de algum modo,
é uma manhã para ser feliz...

Esta é uma manhã para dois, para dois juntos
abraçados e tontos, num remoinho
não como nós, eu aqui, diante do sol, das árvores,
de tudo envergonhado porque estou sozinho...

Esta é uma manhã que me fala de ti, nas nuvens,
na transparência do ar,
neste azul do céu, imaculado,
na beleza das coisas tocadas de sonho
e imaturidade...

Uma manhã de festa
para ser feliz de verdade!
Esta é uma manhã
para te Ter ao meu lado...

Quando Deus fez uma manhã como esta
estava com certeza apaixonado...

Essa...

Essa, que hoje se entrega aos meus braços escrava
olhos tontos do amor de que aos poucos me farto,
ontem... era a mulher ideal que eu procurava
que enchia a minha insônia a rondar o meu quarto...

Essa, que ao meu olhar parado e indiferente
há pouco se despiu - divinamente nua -,
já me ouviu murmurar em êxtase, fremente:
- Sou teu! ... E já me disse, a delirar: - Sou tua !

Essa, que encheu meus sonhos, meus receios vãos,
num tempo em que eram vãos meus sonhos, meus receios,
já transbordou de vida a ânsia das minhas mãos
com a beleza estonteante e morna dos seus seios !

Essa, que se vestiu... que saiu dos meus braços
e se foi... - para vir, quem sabe? uma outra vez.
- segui-a... e eu era a sombra dos seus próprios passos..
- amei-a... e eu era um louco quando a amei talvez...

Hoje, seu corpo é um livro aberto aos meus sentidos
já não guarda as surpresas de antes para mim...
(Não importa se há livros muita vez relidos
importa... é que afinal, todos eles têm fim...

Essa, a quem julguei Ter tanta afeição sincera
e hoje não enche mais a minha solidão,
simboliza a mulher que sempre a gente espera...
mas que chega, e se vai... como todas vão...

(Do livro - Amo – 1939)

Noturno n.º 1

Pela madrugada o rádio põe em surdina
um fundo musical de filme
em meu desespero.

E a serenidade da noite, impassível,
com sua felicidade de luar e estrelas
me faz mal,
parece afrontar meu desejo impossível
e ainda me torna mais triste, mais sentimental...

Você está em todas as formas do pensamento
E no pensamento que conforma todas as coisas...

Em vão tento fugir com a música, tento evadir-me com a noite,
em vão!

Você é a música, a noite, você é tudo!
É a própria forma e o conteúdo
Da minha solidão...

Noturno

Agora, à noite, fujo às vezes
e aporto em algum bar

Como antigamente.
Marinheiro do amor, de porto em porto,
a vida como um navio, de mar em mar...

Pensei que tinha lançado ancora,
que plantara raízes,
que não partiria mais.

E de repente, desarvoraste meu destino,
e te foste
- volto a ser o antigo marinheiro -
e sozinho, preciso embebedar-me,
agora num navio encalhado,
sem mar...