Contexto da Poesia Tecendo a Manha

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Alma corroída 1986

Meu amor por você se foi
O vento levou o sentimento
Simultâneo árduo momento
Não há nada mais que pensamento

Coração formado de pedra
Deixei você e despertei a fera
Por mais que eu busque a bela
Saia agora da minha mente

Sua falsa serpente
Esta corroendo minha alma
Está me envenenando com calma

Morrendo estou por dentro
Me matar é um jogo lento
Só que a você é satisfatório

Inserida por RaphaelDouglas

DO PARAPEITO VITAL

Não sou aquilo que vês...
A couraça que percebes
é o excesso de fragilidade,
que move ou tortura.
Dentro da concha cerrada,
a porta em ferrolhos,
permito frestas que me alimentam.
E o alimento caminha filtrado
no suporte do meu parapeito.
Nele contemplo
o complexo do ser
em solidão e unidade.
Contemplo a comunhão
da beleza e ironia,
da grandeza e mediocridade,
dos rumos e destinos vãos,
do irreversível óbvio pó
e o tão divinal inevitável está
em simplesmente ser.
Em entendimento e devolução
converto o que vejo
em palavras que registro.
Em minha suposta apatia,
passam as coisas, os homens,
os fatos, e deixam cargas e marcas
e a sensação, de ser tudo
simples e infinito.
Não há nada que me exclua
ou me distancie da engrenagem.
Sou partícula num todo
de massa, cinza, éter.
Mesmo deste parapeito inescrutável
(dirás?) e vital feito placenta,
habito um universo em que sou parte
e magicamente sou todo.

Inserida por vaniaclares

IDENTIDADE


Sensação de outono.
Em que folhas soltas
ao vento se perdem leves,
em total desapego.
É quando me percebo
mais amiúde, transmutada.
Sempre em profusa doação,
me acompanho: adubo da terra,
úmido limbo, absorvido
pelas pedras, sal e lama.
Entregue às estações,
desprendida, aceito o ciclo
da regeneração.
Tudo sentindo, fundo.
E ao sentir, espalho palavras,
assim como as folhas ao vento.
Renovo-me.
Assim sou parte.

Inserida por vaniaclares

LABAREDAS


De João Batista do Lago


Minha poética ‒ chama eterna que arde! ‒
Movimento são de vívidas labaredas
Inquietas procuram todas as consciências
Seja nos casebres ou salões das nobrezas


É flecha mortífera que fere a destreza
Miserável luz de toda dominação
Capaz da subjugação sobre qualquer néscio
Incapaz de perceber sua escravidão


É bala de ouro matando a servidão
Do fiel encantado pelo vil discurso
Hóstia de fel ofertada como pão


Alimento de toda opressão miserável
Que mascara de toda vida o amargor
Encarcerando o ser na história de dor

Inserida por joao_batista_do_lago

O SAL DA MINHA VOZ

Não reconheceram
Minhas palavras como ouro
Ou trigo,
Mas escutem o que digo:
Amanhã se levantará
Um grito
Que tropeçando se arrastou
Por toda a vida
Dentro de mim.
Mesmo o silêncio
Das pedras
Vai murmurar
Escandalosas ideias
Que escondi.
Peço ao mar
Que com o seu sal
E alento
Empreste à voz das sereias
Os poemas
Feitos à minha Deusa.
As camas todas
Rabiscadas por mim
Com o sangue e o gozo
Da minha vida.
Não cicatrize nunca
A ferida.
Meu sangue escorrerá
Sempre pelo mundo
Nas revoluções camponesas.
Na prece
Nos quartinhos de bordéis.
Nos gabinetes
O açoite do meu grito
Vai prosperar.
O sal da minha voz
Tirará lágrimas
De olhos cálidos
E fará brotar o amor
No meio da guerra.
O sal da minha voz
Vai temperar a paz
Entre as Coreias
Esquecidas.

BREGUEDO

Inserida por breguedo

Minha Alcatraz

Vê-se liberto da vida que se esvai
Fútil é a mentira que vos emana
Do berço da morte aquele que cai
Agora vives, tu não me enganas

Poesia de fogo fátuo que ressalva
Recesso infernal dilacera-te alma
Linha tênue que ninguém o salva
Do sofrer incabível que não acaba

Vinda ingrata da vida que te foges
A mercer de tribunas impiedosas
No surgir do turíbulo teus algozes

Caridade da esperança formosa
Observa em prantos teu sofrer
Apenas sinuosa, a vontade de morrer.

Inserida por GilbertoLeite

Vendaval

Uma tempestade se aproxima
Com ela um arrepio que lhe alucina
Águas tempestuosas que muito facina
É obra da natureza ou a alma feminina?

Dependente de conceitos sem muito ser
Futil na realidade que não pode entender
Dar-se valor a vida com medo de morrer?
Vive cada segundo esperando padecer..

Não faça com que vás sem te ver partir
A tempestade é forte não tente coibir
Faça dela a defesa mais bonita e deixe ir
Que a tripulação da alma venha emergir

Que suba até a mansidão de seus olhos
Levante a bandeira branca e sossegue
Descansem, e que o amor lhes entregue
Aquilo que os liberta e abre os ferrolhos

Entendam meus caros o que lhes digo
Palavras são amor, e para muitos abrigo
Não compareças se não for meu amigo
Ó tempestade, para onde for, irei contigo.

Inserida por GilbertoLeite

DIAFANEIDADE


De João Batista do Lago


Essa vontade de potência rege a vida
Transmigrando almas para novas essências
Transgredindo toda a inútil moral servida
Nos banquetes de vetustas inconsciências


Essa moral enfatuada por certo é morte
Da sublime nobreza que sempre te reluz
Deseja enganar-te… quer ser litisconsorte
Oferecer-te a alcova que a tudo reduz


Foge de tão loucas e insensatas promessas
Jamais te deixará alcançar toda virtude
Roubará por certo o vigor da juventude


Corolário supremo de toda verdade
Que te premia a carne-vida desde o princípio
Alma pura retornarás se te cuidares

Inserida por joao_batista_do_lago

O Rio

nasce na minha porta
- preenchendo toda aorta -
um rio
de água negra
e fervente
que corre alheio
corta ao meio
e quebra
a paz e jaz
o silêncio
enquanto segue selvagem
o veio pulsante
e febril

transborda a margem
a forte corrente
transpassa a mata
e mata
de repente

deságua em guerra
em um mar calmo
esse rio
- lágrimas da alma -
inundando cada palmo
invadindo a terra
a sala
o peito, a mala
me afogo dia a dia
no rio de minh’alma

Inserida por purapoesia

Novos Conselhos para uma Vida Riquíssima

Espalhe gratidão enquanto houver amizade
E de ninguém deseje a piedade

Hasteie sua felicidade como uma grande bandeira
E diga a verdade de qualquer maneira

Distribua sua gargalhada entre os boçais
E tire para dançar os anormais

Tenha desprendimento pelo material
E leve sua cama para o quintal

Seja amor enquanto todos são razão
E aos sentimentos saiba dar vazão

Mostre o que vai além do espelho
E não se torne um jovem velho

Da arrogância não vista a fantasia
E não fique à sombra de uma relação vazia

Abrace seus sonhos com determinação
E enxergue com os olhos do coração

Seja como a chuva em um chão que agoniza
Faça brotar vida que você se eterniza

Inserida por purapoesia

Isso é o Mundo Inteiro!

nessa lembrança meio dormente
onde deixei meu coração descansar
estranhamente firmou-se a paz
talvez seja algo que o vento trouxe
ou seu cheiro num sonho que não se desfaz

tudo vem tão rápido e tudo passa
simplesmente
suba em uma árvore e fume um paieiro
isso é o mundo inteiro

caminhamos por trilhas
andamos milhas
mas somos ilhas

não se distancie ao toque
peça, grite, soque
mas não se entoque

os maiores ausentes
estão sempre presentes
e compartilham com a gente

a poeira da serra pinta o céu
e o sol veste um vermelho véu
todo entardecer leva algo meu
em um horizonte que sempre foi seu

Inserida por purapoesia

Sobre a Distância e Outras Coisas

todos os dias morrem em mim infinitas estações
veladas em um templo transparente e quebradiço
de ausência entre os segundos e todas as horas
há um certo terror pelos cálices que não te calam
e pelos beijos que não te banham os lábios

não acredita em distância o pássaro que voa alto
e nós também voamos alto, só que pra dentro
e igualmente fizemos da leveza libertação
mas deixe o pássaro, o passado e esqueça tudo
ainda longe posso acender a vela do teu coração
e reconhecer teu olhar descalço
a intensidade da voz e o calor da alma
e dizer bem suavemente em teu ouvido
que eu atravessei essa ponte em oração

sim, veio a destempo e passo a passo
hoje, tudo de ontem ficou sem graça
incendiou a casa, me empurrou do penhasco
rasgou as palavras pra falar em silêncio
sem artifício ou prenúncio

agora, percorrem minhas veias espaços sem retas
- me moldei em suas curvas -
sem dilemas e restos
apenas lembranças florescidas em pequenos detalhes
um afago adequado, um assanho ousado
o próprio despudor, tomado de assalto
e o amor, vestido de salto

Inserida por purapoesia

Uma Réstia de Luz

Sou eu nada
Além de um pouco de tudo
Do que você me deixou ser:
Um deserto de horas intermináveis

Somente um pouco de tudo
Do que você me deixou ter:
Sua respiração esquecida e ritmada
No meu peito

De algum tempo
De algum lugar
Eu trouxe uma lasca de tua existência
Comigo
Uma réstia de luz do teu olhar
Um pedaço de tua alma

E agora
Ver-te já não basta
Você se tornou outro sol
E outra lua
E não há amanhecer
Ou entardecer sem a presença tua

Inserida por purapoesia

Nos Teus Olhos

Nos teus olhos não há inverno
ou outono
ou tom
que não tenha prazer
e lágrimas de morrer
por um anseio secreto

Nos teus olhos é sempre primavera
e há sempre uma vela
acesa
com o desejo à mesa
servido antes do café
com toda a fé
ardente
no que não se entende

Nos teus olhos existem caminhos sem volta
há abismos e precipícios
profundos
de dois mundos
que buscam se encontrar
há minha sede de amar
e teu vício de estar

Inserida por purapoesia

Domingo Depois do Amor

Já semeei as pequenas mudas de arco-íris
em nosso céu de nuvens férteis e selvagens

Roubei dos vizinhos as roupas dos varais
pra reservar mais espaço aos passarinhos

Tingi minhas palavras de poeta e sonhador
com os odores de um jardim em flor

Também bordei girassóis nos lençóis
pra clarear nossas noites de insônia

Recordei aventuras e inventei estórias
pra tentar adormecer sua alma cansada

As mãos dadas, os pés selados...
o sopro de duas vidas que jamais será tirado

Fitamos o abismo e continuamos a brincar:
nada apagará a ansiosa paixão no olhar

Inserida por purapoesia

Daqui de Cima

Daqui de cima te vejo com clareza:
ansiedade e desenvoltura.
Você está linda e sorri como uma criança feliz.

Daqui de cima seu olhar parece mais atento,
parece buscar a aventura sem perder o momento,
como os olhos de um predador.

Daqui de cima tudo parece estar em um movimento sincronizado:
tudo se encontra e se despede sem receio ou dor.
Há uma dose de justiça em cada queda
e uma força incansável que faz recomeçar.

Daqui de cima vejo o caminho
e ouço uma doce canção que enternece meu coração.
Daqui de cima até o ataque fatal de um crocodilo é bonito,
assim como é tênue a dor da presa.

Daqui de cima,
sobre a névoa turva que cobria meus ombros e me cegava,
a vida encontra seu lugar através de pequenos gestos
de amor e caridade,
que ecoam como uma prece que se faz em silêncio.

Daqui de cima eu te vejo e te cuido
e te aguardo serenamente,
para beijar sua alma inquieta sem argumento,
no seu tempo.

Inserida por purapoesia

A Notícia

O telejornal começou com a instigante notícia:

_ A ciência explica o amor!

O jornalista ainda disse com pesar em seu discurso:

_ Para a tristeza dos poetas, cientistas afirmam que o amor nada mais é do que uma cadeia de reações químicas do cérebro...

Podre jornalista. Pobre notícia. Pobres cientistas.

Como poderiam os cientistas decifrar o amor se ainda nem conseguiram explicar a existência dos dragões?

Ora, o que sabem esses cientistas se nunca cavalgaram em um unicórnio ou discutiram sobre os Guadalupes?

Eles nem mesmo puderam descobrir onde moram as fadas e os duendes e nunca escreveram para o Papai Noel. Pobres cientistas!

Aliás, eles nunca se pronunciaram sobre as intervenções salvadoras dos anjos da guarda ou sobre os olhos atentos de São Longuinho.

Por acaso esses sujeitos já viram extraterrestres ou se assustaram com fantasmas? Então como seriam confiáveis?

Podres cientistas que nunca puderam falar com Deus através do amor.

Podres cientistas que amam por reações químicas cerebrais.

Podres cientistas que nunca puderam amar, simplesmente.

Pobres cientistas que se preocupam em explicar o amor.

Afinal, quem disse que o amor pede explicação?

Inserida por purapoesia

O Vinho

O vinho é o maior amigo do amor
E o melhor remédio pra dor

Se faz, se refaz: é transformador
E à vida empresta cor

Respira, transpira...
Transita no silêncio e inspira

O vinho carrega o cheiro da saudade
E a sofisticação da verdade

Como a mulher é paixão e mais nada
O vinho é poesia engarrafada

Inserida por purapoesia

Para que seu Sonho nos Guie

Desejo que sua busca obtenha resposta,
que sua luta possua um propósito
e que seu amor alcance a paz.

Desejo que sua palavra ache a melodia
e que sua fome nunca se sacie,
para que seu sonho nos guie.

Desejo que você tenha amigos
e que a amizade renasça em cada abraço
e seja um acalento para o seu coração.

Desejo que seu dom ecoe e
que não destoe ou se perca na soberba.

Desejo que sua vitória não almeje glória
ou apenas se sobressair por vaidade.

Desejo que sua fé encontre Deus
e que Ele te reconheça
para que a esperança prevaleça.

Inserida por purapoesia

A Minha Alma I

A minha alma tenta se encaixar,
mas não reconhece o seu lugar.
A meu ver, não pretende ficar.

É que ela se fere ao flertar
com a vida
em uma conversa despretensiosa
ou assistindo a bela mulher que passa ansiosa
ou em qualquer despedida.

A minha alma não se acalma!

Minha alma é assim:
ela voa como um abutre
em círculos sobre mim,
olhos atentos espreitando a morte
e desejando a sorte
de ser livre, enfim.

O meu corpo não tem alma,
é minha alma que tem um corpo.
E, não fosse por ele,
estaria por aí, agora calma,
sentada em um galho torto
de uma grande árvore, sob um céu dormente.

Quem sabe?
Talvez tivesse se tornado outra lua
ou aberto uma rua
entre nós, entre todos. Em um segundo
ela teria achado um corpo que lhe cabe,
do tamanho do mundo.

É que minha alma não se acalma,
anseia o combate,
quer se lavar na lama
de Marte.

Minha alma é como um soneto
pulsante.

Intriga como um lugar incerto
e distante.

Instiga como o suave gemido
da amante.

Inserida por purapoesia