Contexto da Poesia Tecendo a Manha
EXALTAÇÃO AO CERRADO (soneto)
Retorcido, bem se sabe. Mas encantador
nos seus planaltos, berço extraordinário
desabrocham ipês, pequis no seu cenário
de um chão cascalhado e forrado de flor
E neste imenso entrançado, e tão vário
a vida luta com garra, resistência e ardor
tal como gladiador, ou um guará solitário
o cerrado é aos olhos ato transformador
Nada o impede que seja do belo apogeu
se o belo no encanto o encanto acendeu
e fascina, do dessemelhante embaixador
Deus o pôs, de um nobre a um plebeu
riscando o horizonte com a luz e breu
em uma quimera de paixão e de amor!
© Luciano Spagnol
Poeta do cerrado
2017, junho
Cerrado goiano
SILÊNCIO DAS MADRUGADAS (soneto)
Ainda muita expressão não me avieste
As achatei nas lástimas e tão guardadas
Ações que pelo vento foram dispersadas
E na imensidão do cerrado se fez agreste
Tenho em mim sílabas em vão esperadas
Se devaneio é porque o sonho me veste
E frases trêmulas vão pelo espaço celeste
Enredando o destino com outras paradas
Foi quando o fado me fez centro oeste
Na busca das tão molestadas bofetadas
Das chagas, que a dor ornou com cipreste
Assim, eu, ainda tenho palavras caladas
Nas angústias do coração... tão cafajeste!
Que insistem no silêncio das madrugadas
© Luciano Spagnol
Poeta do cerrado
2017, junho
Cerrado goiano
HOJE EU CHOREI (soneto)
Hoje eu chorei porque tive vontade
Se foi saudade, aflição, eu não sei
Apenas chorei, e o peito desabafei
Chorei quem sabe duma felicidade
Se separou, se a vida amargou, ei
Apenas chorei. Choro de verdade
Não o sufoquei n'alma, liberdade
Num grito com lágrima, então dei
E neste pranto sem ter valeidade
Choro... Chorei... e sempre darei
Pois eu não sou no todo, metade
E se chorei, não é porque afazei
Um choro de qualquer fatuidade
Onde eu chorando, hoje chorei!
© Luciano Spagnol
Poeta do cerrado
2017, julho
Cerrado goiano p
O QUE
O que fiz ao silêncio para silenciar assim
me deixar silenciado no vácuo da solidão
tocar sem que eu possa ouvir o teu clarim
ruidar, abafando a presença no coração...
O que fiz eu a solidão pra tê-la no silêncio
quando lá fora até o vento se calou, enfim,
onde está a vida, que aqui respira pênsil
e emudece o cerrado num tom carmim...
O que é este silêncio, que se cala tênsil?
É "o que", em uma indagação sem fim...
© Luciano Spagnol
Poeta do cerrado
2017, julho
Cerrado goiano
CANTIGA
Ah, se fico ou se passo, se vou no compasso
da vida, devorante no tempo, amiga e inimiga
porém, se o que intriga é todo este embaraço
de gente a gente que na maldade prossiga...
Dá um cansaço, fadiga, de ver e ouvir,
angustia, e faz da existência rapariga...
Então, me resta neste murmúrio, sorrir!
Ser, resistir e ter o amor em doce cantiga.
© Luciano Spagnol
Poeta do cerrado
2017, julho
Cerrado goiano
À Nossa Senhora D'Abadia da Água Suja
Ave Maria, Senhora D'Abadia da Água Suja
Mãe eterna, essência, flor, afeto acolhedor
Maria de Nazaré, e que na nossa fé, maruja
Louvor, aumentando a confiança no Criador
Tu que és a Imaculada Conceição
Que não nos deixa sozinhos, és amor
Tua paz reina no nosso coração!
Ave Maria, mãe de Jesus
Mulher acolhedora, eterna devoção
Ser seu servo é o que nos conduz
Na verdade de seu filho, nosso irmão
A quem louvamos nos pés da Santa Cruz
Em oração de misericórdia e gratulação...
Ó Maria concebida sem pecado, volveis a nós a tua luz!
A tua proteção!
VIRGEM MARIA SENHORA do BEM
nosso guia. Te aclamamos... AMÉM.
© Luciano Spagnol
Poeta do cerrado
2017, julho
GRATIDÃO
É preciso agradecer o tempo
Que no fragor foi-se o sossego
E do silêncio achou-se alento
No barulho fez-se o desapego
Que se fez poesia
Que se fez essência
Flores nas dores, harmonia
Em Deus, na fé evidência
É preciso a gratidão
Da vida, do ser, Divina providência
Pois tudo é amor, é união...
E na diversidade o vário em cadência.
© Luciano Spagnol
Poeta do cerrado
Agosto de 2017
Cerrado goiano
DESAFIO (soneto)
O meu fadário é devanear solitário
Ter o cerrado a desfolhar no olhar
Sonhar acordado e no mesmo luar
Ficando no tempo, noutro cenário
Onde a solidão nunca sabe esperar
Eu só tenho a saudade num sacrário
Anexo ao coração num pulsar diário
E lágrimas em um soluço sem parar
Oh, uivo árido, trove tal um canário
Os meus versos, e a ela vai revelar
Cada vazio aqui falante e tão vário
Por favor, acaso, pare de me tragar
Faça-me nos beijos dela um erário
E novamente no teu amor eu amar
© Luciano Spagnol
Poeta do cerrado
Agosto de 2017
Cerrado goiano
SOLIDÃO EM VERSOS
Os versos que não pude criar
E que não redigem o tal verso
Na saudade é verso perverso
De um tal silêncio a me fincar
E nesta vaga do verso, o olhar
Perdido, e na quimera imerso
Áspero, de um vário universo
Que faz meu verso, um vagar
Suspiros em versos, reverso
Ao poeta do cerrado a poetar
Pois, o amor na alma, é terso
E de todos, o verso a me julgar
O infortúnio, me foi inconverso
Deixando a prosa sem seu par
© Luciano Spagnol
Poeta do cerrado
Agosto de 2017
Cerrado goiano
BEM VINDO!
SETEMBRO...
...é sentir a beleza e a leveza de uma pétala.
SETEMBRO
É setembro, mês de transmudação
Nuvens metamorfoseiam em chuva
Chuva em flores que colorem o chão
O cerrado recamado de peúva (ipê)
É o mês de setembro, a primavera
Em coro, a passarada o que se vê
Beijando o beija flor... a flor da era
A natureza tão diversa em comitê
E o céu se rubra, e o sertão flama
Qual uma árida canção encantada
Disputam o botão na virgem rama
Floreando às margens da estrada
Briza casta de pureza despojada
Aflam quimeras rumo a novembro
No rodopio dum condão de fada
O renascer de mais um setembro...
© Luciano Spagnol
Poeta do cerrado
Agosto de 2017
Cerrado goiano
QUEM SOMOS
Quem somos? Poeira
Despidos
Singelos hora primeira
No equilíbrio divididos
No querer o poder
Revestidos
De variedade no viver
Da semelhança providos
Porém,
No ir além, a nós permitidos
O mal e o bem
Façam as escolhas!
© Luciano Spagnol
Poeta do cerrado
Setembro, 2017
Cerrado goiano
A SOMBRA DUM PEQUIZEIRO
Fugi da sequidão
do mormaço, do calor grosseiro
busquei, na beira do ricão
a sombra de um pequizeiro
O fumo no céu embaçado
ar poeirado, era paragem
e na imensidão do cerrado
o horizonte, uma miragem...
© Luciano Spagnol
Poeta do cerrado
Setembro, 2017
Cerrado goiano
VOZ DO SILÊNCIO
O silêncio brada vazios inconfessos
Num linguajar da emoção em espera
Desatados da tribulação tão megera
Tecendo sensos selvosos e travessos
No silêncio escoa solidão em esfera
Soprando suspiros turvos e espessos
Dos enganos emudecidos e avessos
Do tormento, ásperos, tal uma tapera
É no silêncio que se traga a memória
Desfolhados das sílabas da estória
Do tempo, despertando os momentos
Tal o vento, o silêncio é uma oratória
Que verborreia o pensar em trajetória
Nos lábios lânguidos, frios e sedentos
© Luciano Spagnol
Poeta do cerrado
Setembro de 2017
Cerrado goiano
AGORA
o cerrado tornou-se anuário
um conflito de cada vez
um desvario diário
e no calendário, vário, era o mês
foi então que o tempo eu vi
num número, na saudade
uma dor, que na dor eu senti
cada sabor, amor, tudo banalidade
pois, o hoje é aqui...
© Luciano Spagnol
Poeta do cerrado
Setembro de 2017
Cerrado goiano
NOITE
Cai a noite no planalto
Vinda de lugar algum
Estrelas lá no alto
O anoitecer no dejejum
De um quarto vazio
Além da janela, a cidade
Brasília, num luzidio
A magia é divindade
Ruas desertas, silêncio vadio
O dia foi embora, majestade
Sentado num canto, já é tardio
Cai a noite na cidade!
© Luciano Spagnol
Poeta do cerrado
Setembro de 2017
Brasília
A PRIMAVERA
Dentre todas, eu novamente
Aqui num novo ciclo a brotar
Sou a reflora, oh minha gente!
A todo canto, acabo de chegar
Cheguei! Vim toda contente
Perfumada, colorida, doce ar
Se aconchegue e se assente
Sou fascinação em todo lugar
De todas a mais bela. Ingente!
Repleta de feitiço a figurar
Que da sedução sou regente
E no amor o remate pra amar
Venham todos, todos venham
Sou a estação para encantar
Sou poesia. E que todos tenham
Magia, eu a primavera a celebrar!
© Luciano Spagnol
Poeta do cerrado
Setembro de 2017
Brasília
DESENCONTRO
Que sorte forasteira é esta
Que caminha sem sentido
Riscando rumo partido
E pouca ventura empresta?
Finge ser o destino, direção
Sussurrando ser boa nova
Se mais parece uma cova
Exílio arquitetado pro coração.
São desencontrados gestos
A nos jogar feridos ao chão,
Criando silêncio na emoção,
Com tais sonhos indigestos,
Que viram amarras pra ilusão,
Solidão nos desejos incertos,
E nos fazem boquiabertos...
Sem ter o amor, ah isto não!
© Luciano Spagnol
Poeta do cerrado
2017, maio
Cerrado goiano
A PORTA
De tábua és construída
ao vento e a poeira corta
marca chegada e partida
viva e morta: sou a porta
Eu abro para quimera
me fecham no temporal
sou tramelada, espera
proteção, da casa ritual
E neste abre e fecha
a escada é o meu chão
lá fora eu vejo pela brecha...
O bem, é a porta do coração.
© Luciano Spagnol
Poeta do cerrado
2017, 27 de maio
Cerrado goiano
PASSARINHO
O passarinho, pelo céu, passa
Entre galhos, voo, mansinho
Desliza toda a sua graça
És livre no seu livre caminho
Na secura do cerrado, reaça
Entre tortos galhos, seu ninho
Num canto de encanto, bocaça
Aveludando a aridez num alinho
Lá, cá, acolá, na frente, na regaça
Em bando, passarinho, sozinho
És leve, garrido, como a cassa
Em galhos macios ou de espinho
Voa deslizante, de braça em braça
No campo, praça, qualquer cantinho
O passarinho, bom prol nos faça!
Ás, lento, alto ou baixinho, passarinho...
© Luciano Spagnol
Poeta do cerrado
28 novembro, 00’25” – 2017
Cerrado goiano
Há vida vivente e tem quem se ausente
Há olhar carente e tem quem não importa
Há afeto latente e tem quem não sente
Existe na loucura de ser gente... Horta
de insanidade
Neste silencioso desdém, cerrada é a porta,
a humanidade
A valia está muito além do poder
Pois até mesmo a razão é vaidade
Surdo são os ruídos mudos dum gemer
Num egoísmo posto no altar
Cambiando o amor pelo ter...
Sem ter amor para cambiar!
© Luciano Spagnol
Poeta do cerrado
Cerrado goiano
- Relacionados
- Poesia de amigas para sempre
- Poesia Felicidade de Fernando Pessoa
- Poemas de amizade verdadeira que falam dessa união de almas
- 27 poemas de bom dia para celebrar uma nova manhã
- Poesias para o Dia dos Pais repletas de amor e carinho
- Poesia de Namorados Apaixonados
- Primavera: poemas e poesias que florescem no coração