Como a Vida Imita o Xadrez de Gary Kasparov

Como é agradável o homem, quando é homem.

O amor, tal como existe na sociedade, não passa da troca de duas fantasias e do contato de duas epidermes.

O amor-próprio dos homens é quase tão inflamável como a imaginação.

Como é insuficiente o coração humano! Um longo amor acaba por cansar.

O amor dá-se mal nas casas ameaçadas de pobreza. É como os ratos que pressentem as ruínas dos pardieiros em que moram, e retiram-se.

Como o amor, como a morte, a verdade precisa dos véus da mentira.

Preferiria ter sangue nas mãos a ter água como Pôncio Pilatos.

Incerteza, oh, que deleite / Vós e eu nos vamos / Como se vão os caranguejos, / para trás, para trás.

O que não tem mais vontade nem mais gosto do que a vontade e o gosto alheios, pode ser tido como verdadeiro escravo.

Na maior parte das vezes, uma ideia nova não passa duma banalidade, velha como o mundo, de cuja realidade nos apercebemos subitamente.

Como não falaria eu com dificuldade? Tenho coisas novas a dizer.

Só depois de praticadas, é que as faltas nos ensinam como podiam facilmente ter sido evitadas.

Ao sol da manhã,
Imóvel como se dormisse,
A coruja no fio.

Os loucos progrediram como tudo neste mundo. Agora reflectem e falam como os outros homens. Para distinguir um louco de um espírito são tem de se consultar um especialista.

A amizade, como o dilúvio universal, é um fenômeno do qual todo o mundo fala, mas que ninguém ainda viu com os seus próprios olhos.

Existem pessoas que não pensam naquilo que deviam fazer, mas no que já fizeram; como se a Razão tivesse olhos atrás e pudesse ver apenas o que ficou para trás.

A pátria é como a mãe, de quem o filho não pode falar como se tratasse de outra mulher.

Ela passava por inteligente. Mas o que fazer da inteligência, como servir-se dela?

As línguas, como as religiões, vivem de heresias.

A honra é como os fósforos: serve apenas uma vez.