Coleção pessoal de tadeumemoria
Um centímetro separa a felicidade da felicidade; um olhar separa o amor do ódio, uma bala pode abalar muita gente e aliviar uma nação
DOLCE AMORE MIO
Um dia eu apareço no teu sonho 
E te mostro o tamanho do meu coração, 
Um dia eu te mostro 
Como a minha paixão é densa... 
Pensa numa coisa imensa sobre outra coisa 
E entra e sai... 
E entra e sai e coisa numa coisa intensa 
Compensa qualquer sacrifício 
Esse é o meu ofício, 
É um vício, é ócio, são ossos do ofício...  
Um dia eu apareço e te mostro 
Um dia eu te mostro o mastro da minha paixão, 
Navio a cortar vagas,
A vagar no cio desse teu desejo, 
Um dia eu apareço...
Um dia eu apareço, dolce amore mio...
VOZ DA POESIA
Às vezes o meu olhar sobe o morro
Quando morro de saudade 
E a razão pede socorro...
Eu já fui tão feliz um dia 
Que a raiz que me sustenta, 
E a luz que me ilumina 
Se inclina pra colina
E colore a tarde de salmão, rosa e dourado...
Eu ponho de lado o meu orgulho
Às vezes e sem querer fazer barulho 
Eu canto um samba; 
Algo que batuca no meu peito
Eu não tenho jeito, 
Eu sou escravo desse amor...
E de outros amores que eu não soube, 
Mas li em algum poema 
Ou assisti em algum cinema
Eu sou a voz da poesia
Mas tenho medo do seu cântico,
Eu que já fui feliz um dia
Prefiro ser sozinho do que ser romântico...
eu vou chorar sozinho no meu canto
me valendo do meu santo
olhando os astros, eu canto baixo,
eu sussurro o meu encanto 
enquanto for assim, 
por mais que doa em mim 
vai ser melhor que dor nenhuma...  
eu vou mudar desse lugar,
pra Irajá ou Inhaúma 
vou me esconder desse desejo... 
eu vou blindar meu coração 
com brisa e mar e algum vinho 
eu vou ficar sozinho no meu canto, 
eu mereço esse castigo... 
ainda tenho as lembranças,
ainda tenho tudo que eu pensava que tinha,
eu fico mudo nessa ilusão, 
de dores e angústia eu me fiz
não se atormente, eu cuido bem desta agonia, 
vai ser feliz
eu vou ficar quietinho no meu canto...
Em outra circunstância eu diria que sinto saudades;  outrora a casa vivia repleta de crianças; filhos, netos, sobrinhos... éramos uma família unida e feliz. Foi um tempo de abundância quando o algodão era um sinal de luz, as árvores frutíferas atraiam os pássaros, as flores ornamentavam a casa grande, como promessa de muita felicidade e tudo isso começou na igrejinha de santa Rita de Cássia pequena e acanhada de piso morto. Frei Jerônimo celebrou nosso casamento depois de seis anos de namoro, discussões ríspidas entre nossas famílias que tinham suas rixas e eram contra a nossa união; mas o amor se sobrepôs ao ódio e derrubou a cerca de arame farpado que ia da estrada até as proximidades do rio, o que compreendia nossas propriedades e não deixava de ser um bom pedaço de terra, algumas cabeças de gado, porcos e outras criações, além do algodão e do milho.  A partir de então houve entre nossas famílias uma total harmonia, eu diria que nos tornamos uma, porque os problemas que surgiam eram nossos e resolvíamos em conjunto e nossas alegrias eram compartilhadas; então veio, em homenagem a avó paterna Ana Luzia, nossa primeira filha: Analu.   Juaquim  meu marido queria que ela se chamasse Elenice o meu nome mas eu tinha uma grande admiração por dona Ana, minha sogra, que mesmo nas nossas rixas durante o nosso namoro nos apoiou.    foram anos de uma felicidade completa; vieram  outros filhos e  isso só consolidou o nosso amor. ninguém teve tanto  a certeza de ser amada como eu; mas mesmo nos melhores momentos, as vicissitudes da vida acontecem e ninguém está imune às paixões.
Analu corre ainda entre a varanda, o pomar e as roseiras que adornam a frente branca e azul de nossa casa, nas brincadeiras ingênuas  de sua adolescência com os irmãos, primos e vizinhos, Juaquim cuida dos bichos ou das plantações e provavelmente cantarola uma canção romântica; assim as coisas ficaram na minha lembrança.  Numa parte ou outra, dunas ameaçavam bairros e as chuvas tornavam-se mais escassas.  ouvia-se histórias de famílias que migravam por essas dificuldades; resistimos a todas as adversidades.
Era uma tarde nublada de agosto, Juaquim tinha ido pescar no rio quando o carro entrou pelo nosso portão e chegou bem próximo aos degraus que conduziam a nossa porta; era  Eriberto, o advogado,  que trazia uma pasta; ele cuidava do inventário do sr Benedito, meu sogro, falecido há poucos meses, vitimado por falência múltipla dos orgãos.  Ninguém diagnostica o tempo como causa mortis; meu sogro já contava 99 anos.    "Quem é esse anjo?" Questionou Analu, que já contava 18 anos.  Heriberto era assim, dava sempre essa impressão, e se sorrisse e nos olhasse nos olhos passava-nos a sensação de uma fragilidade  que também nos contagiava.  Eu já conhecera aquele sentimento e vivia numa dúvida cruel, convivendo com aquele remorso, imaginando se Samuel, meu filho mais novo, não seria filho de Eriberto.   desde então Analu parecia mais calada, vez ou outra estava sempre no telefone sussurrando; Samuel certa vez ao chegar da escola mencionou ter visto Analu na pracinha conversando animadamente com Heriberto parecia uma tragédia anunciada, meses depois notava-se a barriga de Analu crescida; Juaquim chegou a ir atrás de Heriberto, mas ficou sabendo que ele era casado e havia se transferido pra outra capital; meses depois nascera Cecília, mas Analu perdera todo o brilho do olhar, juaquim também ficara meio rançoso; certa noite me questionou por que eu não lhe falara sobre a origem de Samuel.  Juaquim era um anjo, de um amor puro e imaculado.    Quantas vezes olhamos o por do sol sobre as dunas que guardavam a nossa história; e dali vimos o brilho de um nascente renascer nos olhos de Analu, que na igrejinha de santa Rita de Cássia, agora com piso de mármore e torres iluminadas, casara-se com um dos filhos de um primo distante de Juaquim.
De vez em quando penso que todo esse tempo não passou, quando contemplo Gustavo, marido de Analu, tirando leite das vacas, colhendo o milho, obsevando a plantação de algodão; ele também cantarola algumas canções que mencionam amor e paixão, de vez em quando caminhamos à beira do rio; de vez em quando são subdivisões de uma eternidade que se divide em partículas para serem bem  guardadas ou esquecidas pelo tempo e o perdão.
Nada era verdade quando a verdade era nada;
Matou o gato, o periquito, o cachorro,
Matou a namorada 
Nada era verdade ainda; 
Matou a galinha, o coelho, matou a vizinha... 
A realidade se media pela quantia 
E tudo se multiplicava por nada; 
Matou o que era verde e o que não era 
que era estático e o que se movia 
Mas a verdade não aparecia 
Matou o concunhado, o vigário a messalina, 
E quando era sábado sem a  contrição,  
Sem chave de  coxas na cintura, 
Sem a loucura daquela língua e aqueles lábios, 
Achava-se sábio... 
Mataria o anão, o filósofo, o prefeito; 
Mas por mais que matasse, não mataria o prazer 
O prazer de matar, talvez matar não fosse solução,
Talvez a solução fosse morrer 
Morreria num sábado ensolarado, numa segunda Chuvosa 
Ou numa quinta;  numa  quinta serena... 
Missa de sétimo dia e novena... 
Um edifício, trigésimo andar... 
Um voo onde sua alma alcançasse mais fácil o céu 
E somente seu corpo se esfacelasse 
No solo duro da realidade
Porque a verdade era nada, nada era verdade...
TRAVESSIA
Do outro lado da rua a vida se acaba... 
É uma travessia rápida, 
Mas antes das flores, das folhas, das chuvas, 
Antes dos verões... 
Sonhamos com todas as belezas, 
Fazemos planos com todas as incertezas; 
Somos tão românticos que os nossos olhares passeiam, 
As confusões permeiam, as paixões incendeiam... 
Então estamos do outro lado da rua 
E não temos mais retorno; 
Só temos os ocasos e as estações 
E a certeza que do mesmo jeito, faríamos tudo de novo
Imagina uma chuva, uma chuva torrencial... voce está com um guarda chuva, procura uma marquise pra se abrigar, mas não tem jeito, respinga em voce...
isso é a política, por bom que voce seja a corrupção respinga...
no brasil tá se transformando num dilúvio
Vou escrever um conto; ando sem inspiração, mas tenho o mar e todos os seus mistérios; toda essa coisa grandiosa e o que inventam; as sereias, os tesouros, as ilhas misteriosas, os mundos perdidos... Vou escrever um conto... eu invento um amor; uma grande paixão... algo digno de Shakespeare; alguém que renunciou a não sei o que e se entregou de corpo e alma e me espera não sei onde... vou falar desse amor, olharemos o arco-íris e a neblina primaveril acinzentando a lagoa e o corcovado. toda a melancolia dos anos dourados que repousa no passado, mas nos incomoda como uma farpa entre a unha e a carne. Vou escrever um conto... eu invento um álien meio ianque, meio soteropolitano, dançando despido na calçada de Copacabana; lembrando o hit do Caetano, ''sem lenço sem documento"; dançando um axé, um xaxado, um samba-rock... qualquer coisa entre a preguiça baiana e a esquisitice americana. Vou escrever um conto sobre amores inesquecíveis, paixões impossíveis; gente que se jogou da ponte, se revolve nas águas e seus espíritos perambulam nas praias em noites de lua cheia... quem pode entender o amor? Vou escrever um conto sobre o que não conto pra ninguém, esse pavor, esse momento delicado, que expande o pânico com o terror de chacinas e ameaça eminente que nos torna refém de milícias e nos tortura com funk de apologia à droga, à prostituição e à violência. Toda essa violência propriamente dita e a violência estarrecedora da corrupção que nos venda à qualquer possibilidade de uma luz no fim desse túnel.
VERDE OU AZUL
Ainda acontece como  se minha alma
afugentasse a calma...
Já adolesci faz tempo, faz tanto tempo 
Que as tardes agora ardem de saudade 
De algo que agora caminha nesse teu caminhar... 
Quero entender toda a magia do verde ou azul 
Que agora abriga a minha alma... 
Sabe o que é ser tão triste, tão triste, 
Profundamente triste de felicidade... 
Ainda acontece caminhar sobre as águas... 
Esta coisa divina me leva 
Como se todas as coisas fossem novas, 
Como se paixão fosse novidade  
Fico na expectativa de que todos os dias sejam sábados 
De que o céu tenha esse azul ou o mar tenha esse verde 
E o que se perde entre o olhar e o sentir vire encanto 
Sonho que todos os dias sejam sábados
E que todos os sábados sejam assim, 
Mágicos, verdes ou azuis eu não sei... 
Ou não tenho certeza mas hoje é sexta feira 
E amanhã já é sábado de novo...
