Coleção pessoal de robertoauad

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Acordei desesperado, suando em bicas, a boca seca e uma dor terrível assolava todo meu corpo. Tateei desesperadamente o criado mudo e o som deles estatelando no chão. Era apenas um gesto instintivo, já que eles não mais tinham qualquer valor terapêutico, e sim o tinham não duravam mais que minutos, porém, um alívio. Peguei-o principal deles e num gesto já experiente apliquei-o com calma e suavidade. Sabia que em alguns minutos passaria seu efeito, mas era o tempo suficiente para que me levantasse, tomaria água, iria ao banheiro, acenderia um cigarro, coisas banais, mas de suma importância naquele momento. O tempo passava e sabia que estava chegando a hora, todo aquele sofrimento, aquela dor intangível e inimaginável voltaria. Naquele poucos momentos, pude me olhar no espelho e ver que ali estava apenas uma carcaça, o rosto, os cabelos e impressionantemente havia ainda alguns dentes que relutavam em deixar aquele corpo em extinção. A dor voltou e como tsunami arrasava tudo naquele pequeno grão de areia que ia se desfazendo em milhões de outros. A dor era tanta que sufocava o que ainda restava do que chamamos de ser humano. Sentira que era a hora, já não havia o que fazer e tudo se resolveria, mas ainda me restava intacta outra dor, muito mais forte que aquela, que crescia, conforme esvaia o que restava naquele corpo semi destroçado. A dor da alma que de tão impactante, eu iria sabendo que não há mais qualquer tratamento, a não ser vê-la fluir lentamente, por entre as lágrimas que ainda me restavam.

belos são os sons do lamento
triste os grunhidos da alegria
saudosos os dos produzidos pela alma.

Havia naquele olhar um certo pudor
exasperadamente pornográfico.
Era um corpo lascivo a beira do precipício
exalava dali, uma raiva lacinante
entremeados por ódios e rancores.
Foi uma alma tortuosa, acalentada pelo gosto vil da vingança
um ser acorrentado, num mundo só seu.

somos dois lobos ferozes, dentro de uma matilha de solitários.

molhei adocicadamente minha boca
por entre lábios delicados e finos
desenhados meticulosamente de carmim.
havia ali um gosto de chuva, daquelas que molham a terra
&
exalam este agridoce teratológico
disseminando um infinito olfativo das enxurradas libidinosas.
por entre línguas, salivas e caninos, restava um aluvião
... de cheiros, aromas e confusão.
sobrevivo... é uma simples tempestade que lava a alma e deixa seu encanto entre destinos opostos.
recebo todos os venenos deste corpo insólito
desta boca que me abarca e exaspera todos meus poros
inundando minhas veias
acalmando os compassos das artérias.
resta deste eu, apenas um olhar sublimado
sobre todo este seu eterno encanto.
roberto auad

tudo que acaba é um começo
é simplesmente esta coisa louca que se chama destino.

olhei e me dei conta do todo envolto naquele instante
a gaveta estava vazia, um mundo de nadas
cheia de memórias e perdidas lembranças
havia uma certa dubiedade ofuscando os olhos
ali naquele tudo inexato
&
pulsante desespero
corria por todos os poros a morte lenta e derradeira
era só um sentido
era só saudade.

roberto auad

Não seguimos aquela cartilha que “o feio é perder eleições”, pois entendemos exatamente o contrário. O feio é ganhar eleições através da compra de votos, das falsas promessas, das ações políticas inconsistentes que transformam o jogo eleitoral só num jogo e em que a participação popular some após o pleito e o eleitor é tratado como consumidor de um ou outro candidato transformado em mercadoria ao sabor das conveniências do momento.

Custei a ter um lugar
este é um canto
seco, árido, virtual, simples...
silente e que me pertence.

Vou pegar o último trem
mas aqui não tem mais maria fumaça
só na língua, mesmo assim...
é uma língua que querem matar
&
enterrar entre o que restou dos mourões carcomidos
ferros retorcidos
eis ai...
toda nossa dor lusitana.

tudo é tão sólido
que explode entre nuvens e estrelas delirantes
nada é tão próximo
que não se acabe quixotescamente
breve é a história pecaminosa das noites longínquas.

roberto auad

O tempo que dura
pouquíssimo
eterno.
o tempo do parco
um espaço alegórico.
eternidade
do muito, muitíssimo tempo
usar este tão pouco tempo, só um pouco de tempo.
tempo do inimaginável.

Quem dera se as palavras movessem a dor
pudessem ser bem leves e soltas no ar
&
explodissem todas as cores da penumbra cotidiana.

eu sou assim...
sei do tanto que devo ser
serei isto e é só o que tenho
nunca tive e nem nunca terei, tanto aquele sim que desejas
talvez
dentro em breve, brevemente na próxima reencarnação
este assim, deste jeito, sim
serei um certo alguém sim
como as noites urgentes, assim
bem assim da forma inexplorável deste sim ser assim.

letras dissonantes/acordes alfabético/ abecedário do imaginário/sons midiáticos/somos todos mudos.

Naquele exato instante, a única coisa que me restava era o silêncio. Queria compactuar minhas dores, expandindo meu senso crítico, pelas páginas do Talmude, mas o absurdo dialético, estampou sobre o que me restava de sanidade, aqueles sons grotescos de gostos amargos, que habitam minhas ruas, sedentas dos glóbulos arrancados na cidade surtatiana.

O tempo que dura
pouquíssimo
eterno.
o tempo do parco
um espaço alegórico.
eternidade.
tempo do muito, muitíssimo tempo
usar este tão pouco tempo, só um pouco de tempo.
o tempo do inimaginável.

Amanheço na madrugado do sol nascente
um gesto pálido de vida
o céu nublado, negro e mesmo assim
era um dia de vida quase que vivida
há um ipê
fora do tempo, de seu eixo, ainda vivo e florido
é a minha rua
vivo. neste mundo sombrio e rosa, ao sol que nasce
vivenciamos
viver para a vida
além da vida das folhas rosas
viver a vida para a vida
mariar
viver o verbo da vida
vivemos o olhar nublado
viverei, vivendo passariando a vida.

roberto auad

Por vezes e muito poucas vezes, a única razão de viver é a solidão.

É um amor perdido de todas as ruas
escrito nos passeios sujos da vida
esquecido nos paralelepípedos
sugados pelos bueiros da paixão
amargurado, preso nas esquinas da desilusão
amor
um gesto de tresloucados
insanos
perdidos na imensidão do asfalto cotidiano.