Coleção pessoal de risomarsilva

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⁠PRETO, SOMBRA E SEMENTE

Irmão, teu apelido é uma cor que carregas como cicatriz e estigma. Teus passos, arrastados no asfalto quente de promessas quebradas, desenham um caminho de fuga. Os entorpecentes são teus únicos abrigos. Esquece essas casas de papelão que o vento leva e reconstrói um novo lar, mesmo que com mãos trêmulas. Erras como quem cai no mesmo buraco e não tenta mudar. Os anos passam, mas tu permaneces parado no mesmo cruzamento, vendendo tempo em troca de minutos de esquecimento. Teus filhos e parentes, esses fantasmas de teu sangue, ainda te esperam na soleira da memória, com olhos que não aprenderam a odiar. Eles são espelhos quebrados onde teu rosto se reflete em fragmentos e ainda assim sorriem (escondendo a dor profunda) quando te veem...

Enganas os outros como enganas a fome, com migalhas de histórias requentadas. Os de sangue próximo já não choram por ti; apenas observam de longe, como se assistissem a um incêndio lento. Não vês que te transformaste em tua própria lápide ambulante? O chão que te acolhe é frio e fedido, mas é o único que não te pede explicações. A chuva te lava e tu a bebes como se fosse redenção, mas nunca tenta saciar tua sede de paz. Irmão, ouves os gritos da tua própria carne? Ela clama por um último gesto de dignidade, por um instante em que não sintas vergonha de existir. A ajuda está lá, à tua frente, mas exige que estendes a mão. E tu, acostumado com tão pouco, esqueceste como se pede socorro...

Eu ainda insisto em acreditar em ti, irmão. Não por ingenuidade, mas porque conheço o brilho que há por trás desses olhos embaçados. Deus, ou seja lá o que nomeamos como esperança, não desistiu de ti. Ele está no pão que comes quando há, no teto que não tens, nos de sangue que clamam por ti. Volta não como herói, mas como sobrevivente. Para de trocar tua vida por êxtases momentâneos. O chão que pisas pode ser o mesmo, mas tu podes ser diferente. Irmão, tu és semente sob o concreto. Não deixes que te definam pela podridão que te cerca. Germina. Todos ainda acreditam em ti. Tenta voltar, percorrer um novo caminho...

⁠ROSA, ESPINHO E RAIZ

Rosa, teu nome é um verso antigo que o tempo não soube decifrar. Teu corpo, um mapa de cansaços dobrados em silêncio. Cada ruga, um caminho que não escolheste. Os dias te escorrem pelos dedos como areia grossa, e ainda assim, seguras o peso do mundo nas costas curvadas. Erraste como quem planta em terra seca, mas regaste com lágrimas o que a vida insistiu em queimar. Nada muda, mãe. Os anos passam e te deixam a mesma dor, só que mais quieta, mais funda, como um copo quebrado colado com saliva...

Os teus filhos - esses estranhos de teu próprio sangue - não veem que o desprezo é uma faca sem cabo: fere as mãos de quem a segura. Eles não sabem, Rosa, que um dia a solidão baterá à porta deles também, e trará o mesmo sabor amargo que tu engoles há décadas. Choras às escondidas, esfregando no avental manchado as lágrimas que ninguém merece ver. O espelho já não te devolve o rosto que um dia foi jardim; agora só mostra os espinhos que cresceram por dentro, enquanto teu sorriso murcha devagar, como flor esquecida no vaso...

Mas oh, mãe ferida, tua raiz ainda segura a terra. Mesmo quando o vento sopra forte e os frutos caem podres aos teus pés. Há uma luz trêmula em ti que nenhum abandono apagou. Talvez porque o amor, quando é de mãe, seja o único fogo que queima sem consumir. Rosa, eu te vejo. Se os outros não olham, eu escrevo teu nome na parede escura desta história. Não serás apenas a que sofreu. Serás a que resiste, mesmo quando o mundo te diz que já não há razão. E no teu peito partido, lateja um verso que ninguém ouviu: Eu era forte, e ninguém perguntou...

⁠⁠O espírito, quando exausto, torna-se um rio sem correnteza. E que água parada pode saciar a sede alheia? É duro estender as mãos aos outros quando a própria alma carrega o peso dos oceanos...

⁠Às vezes, os laços mais profundos são aqueles tingidos pela sombra. porque a verdade, mesmo dura, é o único terreno onde o amor pode fincar raízes reais.

⁠Minhas respostas lembram um filósofo desencantado que ainda guarda um resto de esperança — como se a lucidez sobre as amarras do mundo não apagasse completamente a chama da minha própria essência.

'DUAS ALMAS, AGORA DISTANTES...'

Eram duas almas, outrora dançando no mesmo rio,Águas claras, correntes que se entrelaçavam em segredo.Hoje, são dois barcos à deriva, frios,
Marés separadas, rumos perdidos no medo...

O tempo, oleiro astuto, moldou-lhes novas formas,
Transformou beijos em vento, abraços em sombras vãs.O que era jardim virou deserto, secou-se as normas,E as flores que um dia cresceram são agora apenas vãos...

Eles se encontram na cozinha, sob a luz fria do luar,Olhares que se evitam, como estrelas que não se tocam.O silêncio é um muro, as palavras não conseguem passar,E o eco do que foram só no relógio das horas evocam...

Ela, um pássaro de asas quebradas,Ele, um rio que secou sua nascente.Dois corpos que habitam a mesma casa,Mas vivem em mundos diferentes, impotentes...

O amor? Ah, o amor...Virou cinzas de um fogo que não soube durar.Restam só as brasas frias de um antigo ardour,E o vazio de dois corpos que não sabem maisamar...

Duas almas, agora distantes,Como luas que orbitam sóis separados.Cada um carregando seus instantes,Dois estranhos, outrora apaixonados.

E assim seguem,Na dança silenciosa do adeus,Dois corpos, duas histórias,
Duas almas que a vida dispersou,E o vento nao sopra....

⁠⁠QUANDOPENSO EM TI III...

"Quando penso em ti, sinto novos planetas.Com ar puro para respirar. Com plantas para exalar o teu perfume impregnado nas lembranças. Esmago terras sólidas e sonho no dia que virás, correndo num abraço apertado, numa incógnita que, através dos tempos, só eu cogito..."

⁠QUANDO PENSO EM TI II...

"Quando penso em ti, o ser que há em mim peregrina, restando apenas o vazio da tua ausência presente..."

QUANDO PENSO EM TI...

⁠"Quando penso em ti, descubro o quanto a 'falta' estar presente nos meus dias incompletos..."

⁠IMAGEM

As velhas imagens guardadas no escuro sótão, respiram o pó de memórias que nunca morrem. O rosto fixado na percepção já amarelado, revelam histórias escondidas em olhares e pixels desbotados no tempo...

Caminhos e pensamentos estreitos do passado são palavras em ecos longínquos. Corre-se despreocupado nos campos, em tardes douradas que o tempo esqueceu engavetado. A brisa ressoa saudade..

As representações é um portal de lembranças, um reflexo de instantes cristalizados. Os anseios nos rostos familiares, contam sagas de amores que se foram e desafios presentes, hoje, são apenas folclore...

Na velha casa de palha, a mesa é sempre posta para o jantar, onde o aroma de pratos esquecidos ainda pairam. As risadas ao redor, agora sussurros, são a prova de que o passado está presente em formatos absortos...

E assim, diante dos apocalipses que se guardam, rever-se o obsoleto que nunca se apaga. As lembranças, como estrelas no céu noturno, iluminam o presente com sua imitação quase eterna...

Em cada rabisco, uma vida se desenha, traçadas por sonhos, lágrimas e gracejos. O tempo, senhor de todas as coisas, é vencido pela eternidade do instante capturado...

As imagens nunca morrem, subversivas trocando sonhos. E o encontro é sempre afável, numa trilha que não finda. E assim caminha-se, perpetuando imagens criadas...

--- Risomar Sirley da Silva ---

Há um universo inteiro dentro de cada olhar apaixonado, um mundo de sonhos e promessas silenciosas.

⁠O amor verdadeiro é aquele que transcedo o tempo e o espaço, encontrando sempre um caminho de volta para nós.

--- Risomar Silva---

### A ESTRADA NÃO TRILHADA II ###

Em noites de silêncio, onde as sombras dançam,
Penso nas trilhas que a vida não me fez passar.
Decisões guardadas, sonhos como pássaros engaiolados,
Há uma caixa de Pandora dentro de mim, em silêncio...

Os risos que não ecoaram pelas colinas,
Amores que se desfizeram antes mesmo de florescer,
O tempo perdido, entre incertezas e convicções,
Cada escolha que hesitei, me trouxe até aqui...

Se a vida tivesse outro percurso, outros ventos,
Será que encontraria mais paz, mais serenidade?
Ou seria um espectador de uma outra existência,
Ainda buscando o verdadeiro sentido do ser?

As sombras das vidas não vividas me perseguem,
Ecos de um passado jamais realizado, sussurrando.
Mas no destino que escolhi, encontro pedaços de paz,
Aceito as imperfeições que me moldaram, com gratidão...

A vida, com suas incertezas e suas belezas,
Não pode ser domada, moldada ao nosso querer,
Mas pode ser apreciada em sua essência plena,
Encontrando beleza em cada dia, em cada amanhecer...

A aceitação do agora, com suas alegrias e dores,
Permite que eu viva plenamente meu mundo interior.
O futuro é uma página branca, pronta para ser escrita,
E cabe a mim preenchê-la com experiências e amor...

As vidas não vividas são mistérios guardados,
Mas a vida que escolhi é profunda, verdadeira.
E em cada segundo que passa, encontro razões
Para seguir adiante, buscando o sublime no mundano...
--- Risomar Silva ---

A saudade é a nossa alma dizendo para onde ela quer voltar.

⁠A desconexão entre nós cria uma sensação de calor que só pode ser extinto com um beijo enlouquecido de paixão...

'O QUE NÃO VIVI...'

⁠Há caminhos que eu nunca trilhei, escolhas que nunca fiz e sonhos que ficaram guardados no fundo do meu ser, na caixa de Pandora, não sei! Em momentos de silêncio, penso nas esquinas que nunca dobrei e nas oportunidades que deixei aos ventos, talvez por receio, medo. A vida se apresentou com diversas possibilidades, mas nem todas abracei, hoje sinto...

Horas que se perderam entre dúvidas e certezas, percebo os risos que não compartilhei e os amores que não vivi. Olho para trás e vejo um mosaico de decisões não tomadas, de palavras não ditas. Cada passo hesitado me trouxe até aqui, e me pergunto como seria se tivesse seguido outros segundos...

Se a vida fosse diferente, se o destino mudasse seu curso, será que encontraria mais felicidade? Ou seria apenas um observador em outra realidade, ainda buscando sentido? A reflexão sobre o que poderia ter sido me acompanha, mas não define meus sonhos alcançados...

As vidas que não vivi se apresentam como sombras do passado, ecos do que poderia ter sido, gritados. No entanto, o destino que escolhi, encontro pedaços de paz e momentos vagos. Aceito as imperfeições e as escolhas que fiz, pois foram elas que moldaram meu presente, meu tudo, afagos...

A vida é o que é, com todas as suas incertezas e belezas, não posso mudá-la. Não pode ser moldada ao nosso querer, mas podemos aprender a apreciá-la em sua essência e bondade. A cada dia que passa, encontro mais razões para seguir em frente, mesmo que o caminho nem sempre seja claro, repleto de sublimidade...

A aceitação do presente, com suas alegrias e dores, é o que me permite viver plenamente o meu mundo. O futuro é uma página em branco, e cabe a mim preenchê-la com experiências, instantes, aprendizados fecundos. A vida que não vivi permanece como um mistério, mas a vida que escolhi é o que realmente importa e é realmente profundo...

⁠SEIXO

Quantos se foram e tu ficaste aí intacto. Salvo algumas manchas que ficaram com o tempo. Dilaceraria-se se as correntezas tivessem te tomado. Mas encontra-te aí: obsceno. As tantas chuvas que te aclamaram e os milhares de sois que te transgrediram...

Que fizeste com eles? No teu dilema és tão sublime e passar despercebido é raridade tua. És imenso nas tuas junções que se colocam. És vigoroso e reflexo da vitalidade que tanto se deseja. Mas sabe-se [ou fingi-se], temos vida curta. Engana-se que a nossa ruína vem com a morte. Ela está estampada com a vida. Logo ao primeiro choro...

A tua falta de cobiça ou arrependimentos te coloca num patamar que jamais se chegará. O ser humano é tão vil nesse 'limitado tempo' que figurar olhar no pequeno é desperdício. Há certo esquecimento em te agraciar. Quando o fazemos, apenas mesmo em devaneio. Limitado nesse curtíssimo espaço [ora às vezes enorme]...
Sem significados.

ANÁLISE

Este poema reflete sobre a natureza humana e a transitoriedade da vida. O "seixo" simboliza a resistência e a durabilidade, contrastando com a fragilidade e a efemeridade da existência humana. As "manchas" mencionadas representam as marcas que a vida e as experiências deixam, enquanto as "correntezas" simbolizam os desafios e adversidades enfrentados.

O poema também aborda a dualidade da vida, onde momentos de grande vitalidade e força coexistem com a inevitabilidade da morte e da insignificância percebida. A última estrofe destaca a visão crítica do ser humano, que muitas vezes desperdiça o valor das pequenas coisas devido à sua natureza impermanente e às suas limitações.
Esse poema convida a uma reflexão profunda sobre como vivemos nossas vidas, valorizamos nossas experiências e lidamos com a inevitabilidade do fim. É uma obra que toca a alma e nos faz repensar nossas prioridades e atitudes diante da vida.

⁠'TRISTEZA E SAUDADE...'

Habita em mim uma tristeza
Que não se dissipa com o tempo,
Uma sombra que se estende;
Que vem e vai,
Nas horas de silêncio...

Cada riso traz comigo
Um suspiro encoberto,
E a alegria que floresce
Não dura muito tempo,
Logo murcha em desespero...

Nas noites frias, solitárias,
Tudo sussurra em meus sonhos,
Lembrando-me das ausências,
Dos poucos momentos vividos,
Dos amores que se foram...

Olho ao redor tantos rostos,
Mas não encontro abrigo,
Pois a tristeza que mora em mim
É um farol abandonado
É um fardo que carrego sozinho...

Ainda que o sol brilhe alto,
E os dias passem ligeiros,
Essa dor permanece constante,
Rasgando o véu que se tinha
Um companheiro traiçoeiro...

E assim, sigo em frente,
Com a tristeza que me invade,
Caminhando sem destino,
Lembrando do outrora
Perdido em minha saudade...

'VASTO...'⁠

Neste vasto universo desconhecido, cada um carrega um pedaço de história. Vivemos nossas vidas entrelaçadas por fios invisíveis de momentos e memórias que se vão aos poucos, entre risos e lágrimas. A beleza e a tristeza de estarmos aqui reside na fragilidade de nossa existência, na incerteza do amanhã e na certeza de que, de alguma forma, deixaremos uma marca, mesmo que pequena...

No vasto amanhecer, um novo sol, uma nova forma violenta de se conectar com o que ainda é imenso, de entender e de não ser compreendido. Mas, também, a lembrança de que tudo se esvai no finito da alma. A impermanência é nossa companheira silenciosa, nos lembrando que, assim como as estações mudam, tudo e todos mudam brutalmente...

Talvez a verdadeira imensidão de estarmos aqui seja reconhecer a efemeridade da vida e, mesmo assim, encontrar coragem para amar, desamar, perder, encontrar, tentar, falhar e começar tudo novamente. Entre a vastidão e a finitude, somos poeira de estrelas já apagadas, navegando pelos lembretes da existência, buscando significado em cada passo e em cada universo não tocado...

Ah vasto, vasto mundo...

'DESCONHECIDO...'

Amar é uma palavra sem sentido que as pessoas usam para aflorar um estado de espírito contundente. ⁠Tenho paixão, mas que na maioria das vezes, mente, deixa-me inquieto. Repleto de respostas que nunca existiram. Sou assim repleto. Perplexo nas horas vagas. Mas com uma vontade de mudar os rumos. Sabendo que meu mundo, nunca existira...