Coleção pessoal de psicanalise

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Chamo atenção para o verbo 'importar', que significa portar para dentro, trazer para dentro. Quando eu vivo apenas a 'exportação' - quando só coloco para fora e nada recebo para dentro - crio a possibilidade de me desapegar.

Amar verdadeiramente alguém é acreditar que, ao amá-lo, se alcançará a uma verdade sobre si.

Quando o sujeito chega ao final de análise, depara-se com o ponto de inconsistência do Outro, lá onde o Outro não responde, deixando o sujeito sem recurso, pois sabe que do Outro não virá qualquer salvação. O Outro não responde porque não existe, e o sujeito se vê diante da solidão originária, do desamparo. Nesse ponto de inconsistência do Outro, em que o sentido se perde e o apelo se esgota, o sintoma perde também o seu endereçamento ao Outro e aí se reduz a um toco de real.

Identificar-se com o sinthoma é saber, como diz Caetano Veloso, 'a dor e a delícia de ser o que é'.

Ao adotar o sinthoma, o sujeito não luta mais contra ele, pois o aceita como seu, identifica-se com ele. Não é mais um corpo estranho, um parasita. É o resto do deciframento que ocorreu ao longo da análise e com o qual ele tem que lidar com aquilo que ele é.

O sinthoma do final de análise obedece à ética do bem-dizer própria à psicanálise: é um real bem-dito.

O 'bem-dizer o sintoma' é o efeito de identificar-se com ele, condição necessária para guardar certa distância e saber lidar com ele. O sujeito não mais dá crédito ao sintoma e não acredita que ele possa desvelar alguma verdade última, escondida.

O que é dizer o sintoma? É a função do sintoma, função a se entender como o faria a formulação matemática: f(x). O que é esse x? É o que, do Inconsciente, pode se traduzir por uma letra, na medida que, apenas na letra, a identidade de si a si está isolada de qualquer qualidade. Do Inconsciente todo um, naquilo que ele sustenta o significante em que o Inconsciente consiste, todo um é suscetível de se escrever com uma letra. Sem dúvida, seria preciso convenção. O que não cessa de se escrever no sintoma vem daí.

Nada é para sempre, dizemos, mas há momentos que parecem ficar suspensos, pairando sobre o fluir inexorável do tempo.

A vida começa todos os dias.

O sintoma, é o significante de um significado recalcado da consciência do sujeito. [...] é uma fala em plena atividade, pois inclui o discurso do outro no segredo de seu código.

A necessidade de procurar a verdadeira felicidade é o fundamento da nossa liberdade.

Nenhum psicanalista avança além do que os seus próprios complexos e resistências internas lhe permitem.

Existo onde não penso

O desejo enquanto real não é da ordem da palavra e sim do ato.

É isto que amamos nos outros: o lugar vazio que eles abrem para que ali cresçam as nossas fantasias. Buscamos, no outro, não a sabedoria do conselho, mas o silêncio da escuta; não a solidez do músculo, mas o colo que acolhe… Como seria bom se as outras pessoas fossem vazias como o céu, e não tão cheias de palavras, de ordens, de certezas. Só podemos amar as pessoas que se parecem com o céu, onde podemos fazer voar nossas fantasias como se fossem pipas.

Quando uma porta se fecha outra se abre; mas nós quase sempre olhamos tanto e de maneira tão arrependida para a que se fechou, que não vemos aquelas que foram abertas para nós.

Estou cansado da inteligência.
Pensar faz mal às emoções.
Uma grande reacção aparece.
Chora-se de repente, e todas as tias mortas fazem chá de novo
Na casa antiga da quinta velha.
Pára, meu coração!
Sossega, minha esperança factícia!
Quem me dera nunca ter sido senão o menino que fui…
Meu sono bom porque tinha simplesmente sono e não ideias que esquecer!
Meu horizonte de quintal e praia!
Meu fim antes do princípio!
Estou cansado da inteligência.
Se ao menos com ela se percebesse qualquer coisa!
Mas só percebo um cansaço no fundo, como pairam em taças
Aquelas coisas que o vinho tem e amodorram o vinho.

A vida precisa do vazio:
a lagarta dorme num vazio chamado casulo até se transformar em borboleta.
A música precisa de um vazio chamado silêncio para ser ouvida.
Um poema precisa do vazio da folha de papel em branco para ser escrito.
E as pessoas, para serem belas e amadas, precisam ter um vazio dentro delas.
A maioria acha o contrário; pensa que o bom é ser cheio.
Essas são as pessoas que se acham cheias de verdades e sabedoria e falam sem parar.
São umas chatas quando não são autoritárias.
Bonitas são as pessoas que falam pouco e sabem escutar.
A essas pessoas é fácil amar.
Elas estão cheias de vazio.
E é no vazio da distância que vive a saudade...

O sintoma define o modo como cada um goza do inconsciente, na medida que o inconsciente o determina.