Coleção pessoal de nildinha_freitas_1
Eu confesso.
Durante muito tempo na minha vida, eu disse sim quando queria dizer não. Disse sim para manter pessoas por perto. Disse sim para não ser deixada para trás.
Hoje, quando é não, é não. Quando é sim, é sim.
Durante muito tempo, eu vesti máscaras para agradar todo mundo. Hoje, eu respeito todo mundo — mas agrado a mim mesma.
Aprender isso foi difícil. O mundo cobra da gente uma atuação constante. Cobra que sejamos sempre agradáveis, adaptáveis, sorridentes. Mas, de umas duas décadas pra cá, eu não sou mais a mesma.
E eu tenho dito sempre, com firmeza: agora sou eu em primeiro lugar.
Não estou reafirmando isso porque preciso provar algo. Não é sobre ser diferente, ou melhor. Até porque eu nunca fui uma pessoa má.
Eu sempre acreditei nas coisas certas, honestas, direitas — sem precisar ser chamada de cidadã de bem. Porque ninguém é.
Eu sigo escrevendo essa história todos os dias. E, agora, quem segura a caneta sou eu.
Nildinha Freitas
Mais uma vez
O ego, às vezes, é direcional. Ele motiva você e a mim a conquistar o que sonhamos.
E eu estava pensando aqui: acho que consegui tudo o que sonhei para a minha vida. Eu já alcancei.
Alguém pode até dizer: “Mas você não tem do jeito que o outro tem.” É que eu não sonhei igual a esse outro.
Com o passar do tempo, fui evoluindo um pouco mais. Comecei a entender que, depois de uma quase-morte, a vida é muito mais do que coisas.
Sim, eu ainda gosto de coisas. Gosto de carros. Gosto de uma casa confortável. Gosto de motos de alta cilindrada — daquelas que meus pés alcançam o chão.
Gosto de perfumes bons. Gosto de roupas legais. De tênis da moda. Gosto de um monte de coisas.
Mas, sim, cheguei no lugar que sonhei. E preciso acreditar — ou talvez colocar dentro de mim — que posso sonhar mais.
Estou feliz assim, e só me falta uma coisa. Mas ela está por vir. Está quase chegando.
Então, não tenho mais sonhos urgentes. Não carrego mais tanta missão.
O resto é só: viva, viva, viva.
Porque viver é isso.
Será que o meu ego está morrendo, ou estou indo junto com ele? Ou será que nasci de novo, mais uma vez, mais uma vez, mais uma vez?
Nildinha Freitas
Mulher de muitas moradas
Às vezes eu tenho a sensação de que existem várias partes de mim dentro de mim mesma.
Quase ninguém conhece, mas eu conheço.
Eu moro dentro de mim!
Dentro de mim tem aquela que gosta do silêncio, que prefere quando não há barulho algum.
Tem aquela que gosta da solidão, mas também aquela que ama a multidão!
Tem aquela que gosta de ver gente, de sentar na calçada e ter aquela conversa boa, simples, que aquece a alma.
Dentro de mim mora aquela que escreve, aquela que lê.
Tem aquela que cala, mas também aquela que fala!
Existem tantas partes dentro de mim.
Tem aquela que quer reviver o passado, mas que, por algum motivo, apagou da memória.
E dentro de mim existe aquela que segura firme a caneta da própria história!
Nildinha Freitas
Tudo o que eu já atravessei
Eu já atravessei mares – mares altos e mares baixos. Já atravessei tornados, tempestades, dias difíceis e dias que pareciam não ter fim. Já atravessei dores intermináveis, já atravessei vazios existenciais, já atravessei o sim e o não, já atravessei a solidão.
Mas também já atravessei sorrisos, alegrias, dias de sol, pores do sol, o sol em tantos lugares diferentes. Eu já atravessei o sorriso de uma criança me dizendo que me ama sem precisar de palavras. Já atravessei o abraço da minha avó, o abraço da minha mãe, o olhar do meu pai dizendo “fica, não vai”.
Eu já atravessei tanta coisa boa que o que foi ruim é apenas uma parte da história.
Nildinha Freitas
O que de mim ficou
Dentro das muitas que de mim já fui, dos amores que já vivi, das pessoas que deixei ir e daquelas de quem parti.
Dentro de todas as coisas que sou, das que deixei de ser, das que ainda pretendo, porque quero muito viver.
Dentro de tudo, de tudo o que até aqui produzi ,de tudo o que deixei para trás, que desmoronei, demoli.
Tornei-me a melhor versão daquilo que construí.
Eu sei que não sou perfeita, tenho erros incontáveis, mas posso dizer com certeza que procurei ser a melhor.
Até aqui, tenho feito da vida alegria, esquecido o que dói, amado o que vale a pena, seguindo feito reticências no final de um poema...
Nildinha Freitas