Coleção pessoal de nataliarosafogo1943
os dias são tão pequenos que podia fechá-los sob os meus dedos apertados, cativos para não me magoarem, apertá-los para perpectuar a vida, e com as minhas mãos, desfraldar um arco -íris brilhante, para que o sol tivesse inveja.
absurda imaginação, é como sorrirmos a sonhar, assim leve e claro, numa noite de outono, quando tudo já fica distante e o tempo corre sem parar... e eu sempre digo... fica não vás!
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o corpo vai morrendo como uma folha que cai...
uma sombra infiel, que conta uma história, dentro de muros fechados.
para quem sofre, dias melhores virão e o passado será passado, a mente é como uma flor a desabrochar, capaz de florir e criar sonhos novos.
As lembranças às vezes são como lascas que golpeiam a retina, outras são a mão que nos acaricia e então, sentimos até pulsar o que nos rodeia.
tudo conta uma verdade a cada dia, e as flores chegaram para nos dizer que apesar dos dias acinzentados, a primavera chegou, com ela, novas cores, novos sons são promessas de que chegaram para ficar...
Vamos aproveitar a beleza que o Outono nos oferece ao olhar, provocando uma nostalgia boa, saudosa, que a sua presença vai fazendo em nossos corações, que seja um beber doce e lento, que acabe com as nossas tristezas e, que não ofusque a nossa felicidade.
a natureza é a minha ilha de luz, onde me protejo do esquecimento e dos sobressaltos da vida, adoro a nostalgia do outono, é com ela que desempoeiro as melhores memórias.
a vida é uma luta que procuramos levar de vencida, com ela já depois de meio, a saudade ganha raízes e cresce trazendo a emoção do caminho andado
no meio de sombras há sempre uma luz de esperança nos nossos sonhos, com a transparência das rosas...
adoro olhar os campos alentejanos, com tão belas e perturbadoras imagens, que nos parecem até irreais, tal é a beleza dos tapetes coloridos, floridos, são testemunhos do silêncio, onde escutamos o alento da terra.
vamos deixando correr o fio da vida, o sonho vai-nos embalando, mas o que fica para trás não se recupera jamais e distância entre o que fomos e o que somos mede-se por silêncios..
sobre o mar sereno dos pensamentos, surge de quando em quando uma nuvem negra que se avoluma e faz bater o coração a um ritmo quase doloroso...
no fundo duma gaveta há sempre uma fotografia amarelecida, nela a ilusão da eternidade, ao olhá-la as lágrimas rolam pelo rosto como um orvalho tranquilo, puro, como se viesse caído do céu.
tempo belo o da primavera, com força as nossas primaveras deram flor e fruto, pena quando a nossa voz já vai tão longe e o nosso olhar se perde no entardecer...
De tanto ver triunfar as nulidades; de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça. De tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar-se da virtude, a rir-se da honra e a ter vergonha de ser honesto.
Ontem da minha janela
errando pelo horizonte, aproximava-se a noite e seus mistérios, e algo já turvo me inundava o pensamento, eram os sonhos que não podiam regressar, longínquos delírios, quando eu soltava todas as amarras.
É na solidão que a desolação tem resposta, depois sentimos abandono, fastio, nostalgia, tantos sentimentos nos assolam, somos como flores efémeras, e no silêncio também é onde escutamos a morte que é tão velha como nós, vamos perdendo o ruma das palavras, fica a memória num labirinto, porém sempre a Poesia se impõe.
mais um fim dum dia, em que a vida é árvore sem flor, o vento assobia silabas azuis, e o corpo vai despindo seu aroma...