Coleção pessoal de MarcioAAC
Mais de um amor numa vida
É muito fácil de ter
A dor de amor é esquecida
Talvez nem chegue a doer
Mesmo se o fim é tristeza
Vazio no coração
No fim só fica a beleza
De uma bonita paixão
E embora o amor destruído
E o tanto que se sofreu
O tempo não foi perdido
A gente é que se perdeu
Não tenho orgulho de berço
nem local de nascimento.
Meu céu é onde converso,
meu chão é onde me sento.
Busco, sim, entendimento
em samba, fuzil ou terço.
Pra mim o tempo não acaba
nem a recusa me ofende.
Palavra puxa palavra...
Um dia, a gente se entende.
Devolve
Mandaste as velhas cartas comovidas,
Que na febre do amor te enviei;
Mandaste o que ficou de duas vidas:
O romance, uma dor que provei...
Mandaste tudo, porém,
Falta o melhor que te dei:
Devolve toda a tranquilidade
Toda a felicidade
Que eu te dei e que perdi
Devolve todos os sonhos loucos
Que eu construí aos poucos
E te ofereci
Devolve, eu peço, por favor
Aquele imenso amor
Que nos teus braços esqueci
Devolve, que eu te devolvo ainda
Esta saudade infinda
Que eu tenho de ti
Fiz o que quis e fiz com paixão. Se a paixão estava errada, paciência.
Não tenho frustrações porque vivi como em um espetáculo.
Não fiquei vendo a vida passar, sempre acompanhei o desfile.
Descobri que minha obsessão por cada coisa em seu lugar, cada assunto em seu tempo, cada palavra em seu estilo, não era o prêmio merecido de uma mente em ordem, mas, pelo contrário, todo um sistema de simulação inventado por mim para ocultar a desordem de minha natureza. Descobri que não sou disciplinado por virtude, e sim como reação contra a minha negligência; que pareço generoso para encobrir minha mesquinhez, que me faço passar por prudente quando na verdade sou desconfiado e sempre penso o pior, que sou conciliador para não sucumbir às minhas cóleras reprimidas, que só sou pontual para que ninguém saiba como pouco me importa o tempo alheio. Descobri, enfim, que o amor não é um estado da alma e sim um signo do Zodíaco.
Prezo insetos mais que aviões.
Prezo a velocidade
das tartarugas
mais que a dos mísseis.
Tenho em mim
esse atraso de nascença.
Eu fui aparelhado
para gostar de passarinhos.
Tenho abundância
de ser feliz por isso.
Meu quintal
É maior do que o mundo.
Que a importância de uma coisa não se mede com fita métrica nem com balanças nem barômetros etc. Que a importância de uma coisa há que ser medida pelo encantamento que a coisa produza em nós.
Por viver muitos anos dentro do mato
Moda ave
O menino pegou um olhar de pássaro -
Contraiu visão fontana.
Por forma que ele enxergava as coisas
Por igual
como os pássaros enxergam.
A maior riqueza do homem
é a sua incompletude.
Nesse ponto sou abastado.
Palavras que me aceitam como sou - eu não aceito.
Não agüento ser apenas um sujeito que abre portas,
que puxa válvulas, que olha o relógio,
que compra pão às 6 horas da tarde,
que vai lá fora, que aponta lápis,
que vê a uva etc. etc.
Perdoai
Mas eu preciso ser Outros.
Eu penso renovar o homem usando borboletas.
Como o perigo de desagradar provém principalmente da dificuldade em avaliar quais as coisas que se notam e quais as que não são notadas, pelo menos por prudência nunca deveria a gente falar de si mesmo, pois esse é um tema em que seguramente a nossa visão e a alheia não coincidem nunca.
Ao mau costume de falar de si mesmo e dos próprios defeitos, cumpre acrescentar, como formando bloco com o mesmo, esse outro hábito de denunciar nos carácteres alheios defeitos análogos aos nossos. E constantemente estamos a falar nos referidos defeitos, como se fora uma espécie de rodeio para falar de nós mesmos, em que se juntam o prazer de confessar e o de absolvermo-nos.
A natureza parece quase incapaz de produzir doenças que não sejam curtas. Mas a medicina encarrega-se da arte de prolongá-las.
A sabedoria não se transmite, é preciso que nós a descubramos fazendo uma caminhada que ninguém pode fazer em nosso lugar e que ninguém nos pode evitar, porque a sabedoria é uma maneira de ver as coisas.
