Mathias Aires

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Tudo quanto vejo é com olhos desenganados. Talvez por isso vejo as coisas como são e não como se mostram. Porque o desengano tem virtude e força para arrancar da formosura o véu cadente e mentiroso de que o teatro da vida se compõe.

As ciências humanas que aprendemos comumente são aquelas que importava pouco que soubéssemos, devíamos aprender-nos a nós, isto é, a conhecer-nos; de que serve o saber, ou o pretender saber, como o mundo se governa, ao mesmo tempo que ignoramos o como nos devemos governar? Para tudo fomos sábios só para nós somos ignorantes.

O engano vestido de eloquência e arte atrai e a verdade mal polida nunca persuade. Fazemos vaidade de errar com sutileza e temos pejo de acertar rusticamente.

Quem deseja vingar-se ainda ama, e quem se mostra ofendido ainda quer.

Poucas vezes se expõe a honra por amor da vida e quase sempre se sacrifica a vida por amor da honra.

As regras não governam aos homens, estes é que governam as regras.

Às vezes a origem do bem produz o mal, no mesmo lugar em que nasce a vida se cria a morte; as coisas que são contrárias no fim, às vezes são as mesmas no princípio.

É mais fácil sustentar uma opinião má do que escolher uma boa.

O valor não é igual em toda parte; porque a vaidade não é em toda parte a mesma.

Contra o nosso parecer nunca achamos dúvida bastante, contra o dos outros sim. A vaidade é engenhosa em glorificar tudo que vem de nós, e em reprovar tudo que vem dos outros.

A nobreza foi a maior máquina que a vaidade dos homens inventou.

São raros os que nas letras buscam a ciência; o que buscam é utilidade e aplauso.

Os sábios da terra não são os mais próprios para o governo dela.

Não há maior injúria que o desprezo; e é porque o desprezo todo se dirige e ofende a vaidade.

A vaidade das letras é maior que a vaidade das armas.

A falta de religião e de bons costumes faz cair o homem no estado total de perversidade.

É raro o mal de que não venha a nascer algum bem, nem bem que não porduza algum mal.

Que são os homens mais do que aparências de teatro? Tudo neles é representação que a vaidade guia.

A vaidade é cheia de artifício e se ocupa em tirar de nossa vida e da nossa compreensão o verdadeiro ser das coisas.

É próprio da vaidade o dar valor a muitas coisas que o não têm, e quase tudo que a vaidade estima é vão.

O amor não se pode definir; e talvez esta seja a sua melhor definição.

Conhecemos as coisas não pelo que elas são em si, mas pela deferença que entres elas há.

A razão mais fácil costuma ser às vezes a mais certa.

Ama-se por vaidade, e também por vaidade não se ama.

O estimarem-se as coisas que não têm valor é o mesmo que fazê-las estimáveis.