Coleção pessoal de marcellaprado

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Chego em casa sempre vazia, mas tão murcha que você não é capaz de imaginar, e me jogo embaixo do chuveiro pra abafar meu choro, meu vômito, meu porre. Deixo a água tentar lavar minha alma, fecho os olhos, tampo os ouvidos e adivinha o que vejo na minha mente-perturbada? Essa tua expressão de eterno contente, rindo da minha cara de tola. Choro mais um pouco, sinto frio, raiva, remorso e enfio um pijama qualquer. Lacro as janelas na esperança de perder o ar. Fecho as cortinas na cara do Sol. Entrego-me nos braços de Morfeu e durmo feito um anjo enlouquecido.No outro dia levanto e penso logo que poderia continuar dormindo, com quinhentos quilos na minha cabeça. 250 quilos são de ressaca moral e os outros 250 são meu do meu fígado que rouba água do meu cérebro pra não definhar e morrer de cirrose. Saio da cama zonza, não olho pro espelho - evito minha cara de panda-borrada-pós-balada. Encontro minha mãe no corredor, lá pelas cindo da tarde, que me olha com misericórdia e pergunta: ‘Está bem minha filha? Como foi a noite?’. Eu simplesmente respondo: ‘Hm…Foi legal. To enjoada, só.

Que pensem que sou maluca que aumento dor. Mas se querem saber meus caros, eu nunca perdi perna, mãe, passei fome, rachei a cara. E perdê-lo, foi sem dúvida, umas das maiores dores de já sofri. Foi a rejeição mais dura que passei. Portanto, sem mais julgamentos nem soluções miraculosas pra minha dor. Mas um dia ‘o tempo passa e as coisas mudam’, não é essa a frase amado?

Enquanto ele me acompanhava de longe eu tinha tudo sob-controle. Eu sorria tensa e tranquilamente. Não saí choro, não saí riso. Só escuto o ranger dos dentes em busca de alívio. Agora, ele perdeu o fio da meada. Não sabe mais nada. Não se importa. Me jogou pro céu na espera de Deus me pegar, do capeta de colocar de volta no inferno. Tá tudo virado, sem controle, sem salvação. Eu não levo a vida, ela é que me leva, que me direciona. Que me enfia em uns becos meio sombrios. Não estou achando a saída, não encontro mais solução.

O tempo está passando, o mundo está girando, as horas estão arrastadas, eu continuo cada vez mais angustiada esperando um milagre. Todo o mundo passa, e eu fico – presa e estancada em uma história linda, mas que não é real. Não vai mais voltar. Minha vida está passando, e enquanto eu devia aproveitar minha juventude, perco meu tempo roendo as unhas e ganhando rugas precoces de angústias e tristezas, sem esquecer que estou dando adeus ao meu fígado – que é cada vez mais corroído pelo álcool.

Eu pareço cachorro, que mija no poste pra marcar território. Eu escrevo um texto aqui, outro ali, tento chamar tua atenção, só pra ficar um resquício de lembrança minha – seja ela boa ou ruim. Só pra que você nutra ainda algum sentimento – que é de pena, eu sei, mas prefiro achar que é um daqueles amores-adormecidos-impossíveis e que um dia alguma luz vai entrar na tua cabeça oca e você vai querer voltar pra mim quando perceber o quanto era bom estarmos juntos.

Durante esse tempo, tudo que fiz foi jogar minhas perspectivas no lixo e tentar reciclar o nosso sentimento. O que é impossível. Ele já está podre, deteriorado, mofado. Já é perdido. Creio que não consigo te esquecer porque eu não assumi a postura de separação. Não te apaguei como deveria ter feito e – como quase todas as mulheres – ouvi alguns conselhos errôneos e otimistas de algumas amigas que não sabem o que é perder o amor e insistem em me dizer que um dia você vai voltar pra me resgatar, cuidar e amar como eu mereço - já que sou uma moça inteligente, legal, dá-pro-gasto e toda aquela baboseira pra tentar me motivar enquanto eu encho a cara no bar pra te esquecer, e hora ou outra grito teu nome pra algum amigo.

Se eu ainda procuro compatibilidade entre nós dois e os casais felizes de filme, músicas românticas e personagens de livro é porque eu não agüento mais me sentir por fora. Não suporto mais pensar que o que vivemos foi uma loucura e que eu sou a surtada da história. Sou eu a maluca, a desnaturada que fica te caçando nos buracos, nos furos de reportagem, no rosto dos outros, nas características em comum. Isso é ser psicopata. É ser self serial-killer. É a perseguição do inatingível. É não querer enterrar o morto. É loucura. Comparo a rasgar dinheiro. É tornar-se um cadáver enquanto se ainda está vivo, já que, enquanto me preocupo em resgatar o passado a todo custo eu me esqueço de me tirar do fundo do poço e limpar a sujeira que está impregnada por debaixo no tapete.

E eu? Eu fico aqui. Surtando, conjecturando, amargurando, me matando e remoendo minhas paredes do estômago enquanto me ocupo com a vida dos outros, com a vida daquele que um dia foi parcialmente meu, mas que agora voa, está longe. Nem quem mais saber de mim. Triste? Muito.

Ela se apaixona cada dia mais pelo sorriso fácil dele. Ele gosta das covinhas no rosto moreno jambo dela. Ela está conquistando o meu mundo inteiro, o meu amado. Ele já me deixou faz tanto tempo, e agora deve se atirar nos braços dela, apertar as bochechas amarelas, e alisar o cabelo escuro que tão diferente e oposto do meu castanho-enferrujado.

Você me perturba o pensamento como uma mosca que perturba o sono zunindo nos ouvido durante as noites de verão. Tua imagem parece uma praga colada no fundo dos meus olhos - Me tira o sono, a paz e a tranqüilidade. Sinto os músculos tensos, a boca amarga, os dedos frios e coração enforcado.

Perdoa-me por buscar o teu beijo em bocas que não são a tua. Perdoa-me por achar que você é a cura pra todos os meus males. Perdoa-me por pensar que o preenchimento pro meu vazio é a tua presença.

Perdoa-me por eu ainda carregar tua foto na carteira.Perdoa-me pelo nó na garganta. Perdoa-me pela gagueira. Perdoa-me pela corda amarrada no pescoço. Perdoa-me pela ausência nas conversas. Perdoa-me por não saber lidar com finais. Perdoa-me pelo sentimento de posse. Perdoa-me por tentar amolecer teu coração ressecado. Perdoa-me por eu ter comprado um escapulário igual ao teu - só pra manter um elo ilusório entre nós. Perdoa-me por não ter seguido teus conselhos de felicidade ilusória. Perdoa-me por ainda manter a antena-ligada e te caçar em todas as multidões – mesmo tendo a certeza de que você não está lá, mas-quem-sabe-talvez-um-milagre-acontece. Perdoa-me pelo meu hábito de relembrar. Perdoa-me por ser irônica contigo vez ou outra. Perdoa-me pela minha mania de sentir saudades da tua voz rouca.

Perdoa-me por achar que comigo-seria-diferente.

Preciso de um conforto que ninguém arranja, ninguém desvenda, ninguém me dá.

Estou precisando de alguém que me mande sentar em uma cadeira macia e pergunte o que acontece enquanto me traz uma xícara quente de chá com uma rodela de limão. Alguém que seque meus cabelos úmidos e cuide de mim. Alguém que me prepare um leite quente nas minhas noites insuportáveis de insônia. Queria poder contar com uma pessoa que me ouvisse, não importa sobre o que eu vá falar, sem me julgar, apenas pra me acalmar e dizer que sim, que há esperança e vai ficar tudo bem. Preciso de alguém que me faça uma surpresa e me diga que posso chorar. Quero que alguém me traga uma rosa branca como símbolo de renovação. Preciso de um santo que compreenda a minha dor, que me diga que é difícil, que o amor tem dessas coisas e me ofereça um lenço bordado e macio, para que chore sem borrar minha maquiagem. Quero alguém quem me penteie os cabelos revoltos no fim do dia e me pergunte o que espero da vida e como anda meu coração apertado. Queria alguém que me pergunte sobre ele – aquele que não deixo de pensar um minuto sequer - sem olhos tortos e vacilantes. Preciso de um conforto que ninguém arranja, ninguém desvenda, ninguém me dá.

Agora vai. Vai se divertir nos braços de alguma garotinha da moda, bem fútil, que deve de chamar do jeito que eu costumava, e agora você adora, alguma idiota que você acabou de conhecer e vai comer hoje à noite. Cuida-te amado.

Que me importa o que você pensa sobre todas essas baboseiras que eu relato? Importa nada. Deixa-me quieta. Você é covarde mesmo, eu sei. Vê se rasga tudo depois de ler, deleta tudinho que vê por aqui. Não deixa rastro. É feio pra tua imagem de inatingível.

Eu te desejo felicidade, mesmo que seja longe de mim (meus lábios se contraem sempre que digo essa frase, porque não acredito nela verdadeiramente) e mesmo que eu tenha que me lembrar de você como sendo o único cara que eu amei de verdade, e os outros vão ser sempre os outros, e você vai ser sempre o especial, o único. Entenda você ou não. Aceite você ou não. Eu só queria que você entendesse um pouco, mas te atingir é impossível. Você está em um patamar de alienação que eu passei faz muito tempo.

Sei que ás vezes te escrevo coisas terríveis, que te desejo o pior, mas não é nada verdade. Nunca foi.

Cedo ou tarde vou ter que te abandonar. Acho que estou mais para o lado do cedo. Sofrer cansa, esgota tudo.