Coleção pessoal de mahmag

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Toda modificação é um milagre a contemplar, mas um milagre que está ocorrendo a cada instante. Confúcio disse: "Saber que sabemos o que não sabemos e que não sabemos o que não sabemos, eis o verdadeiro saber."

A terra ensina-nos mais acerca de nós próprios do que todos os livros. Porque ela nos resiste.

"todos estamos sozinhos na vida e por mais que alguém fique conosco por um, cinco ou cinquenta anos, em vários momentos só podemos contar conosco. A partir desta consciência de que por mais que amemos outro ser essa pessoa jamais preencherá todos os nossos vazios, passamos a aceitar a presença de seres humanos reais e não criaturas bizarramente idealizadas, príncipes e princesas encantadas que só existem em contos de fadas e jamais são perfeitas. "

Olhai a beleza singular
das flores caídas pelo pátio.
Vê que vista primorosa?
Seus galhos, outrora secos,
de súbito fizeram-se flor.
Sucintos golpes de cor
num quadro antes um tanto cinza.
Que encanto!

Na alvorada, quando o sol,
ainda um bocado reservado,
reflete seus raios inaugurais sobre elas:
pétalas rosa-amarelas,
o piso branco da entrada parece se acender.
E que alegria também é ao anoitecer!

Ao subir a rua, na calada destas noites de inverno,
vendo dali de baixo o ipê,
olho o céu e fito a lua em companhia
quase esqueço do vento frio cortando o rosto.
Efeito anestésico da natureza?
Não sei! - respondo a mim mesma -
mas quanta harmonia!

Sento-me no banco sob ela
quase não vejo mais cinza concreto
e, quando a ela conto algo secreto,
sem delongas inicia-se um diálogo:
Desprende-se uma flor do galho
vem de certo no meu ombro.
Tamanha sublimidade!
Como passar desapercebido?
Vê agora a poesia amigo?

A natureza responde!
O universo também.

[NO MEIO DO CAMINHO]

Cheguei. Chegaste. Vinhas fatigada
E triste, e triste e fatigado eu vinha.
Tinhas a alma de sonhos povoada,
E a alma de sonhos povoada eu tinha...

E paramos de súbito na estrada
Da vida: longos anos, presa à minha
A tua mão, a vista deslumbrada
Tive da luz que teu olhar continha.

Hoje, segues de novo... Na partida
Nem o pranto os teus olhos umedece,
Nem te comove a dor da despedida.

E eu, solitário, volto a face, e tremo,
Vendo o teu vulto que desaparece
Na extrema curva do caminho extremo.

A saudade é o que faz as coisas pararem no tempo.

Quero apenas cinco coisas...
Primeiro é o amor sem fim
A segunda é ver o outono
A terceira é o grave inverno
Em quarto lugar o verão
A quinta coisa são teus olhos
Não quero dormir sem teus olhos.
Não quero ser... sem que me olhes.
Abro mão da primavera para que continues me olhando.

Os poemas são pássaros que chegam
não se sabe de onde e pousam
no livro que lês.
Quando fechas o livro, eles alçam vôo
como de um alçapão.
Eles não têm pouso
nem porto;
alimentam-se um instante em cada
par de mãos e partem.
E olhas, então, essas tuas mãos vazias,
no maravilhado espanto de saberes
que o alimento deles já estava em ti...

Motivo

Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta.

Irmão das coisas fugidias,
não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.

Se desmorono ou se edifico,
se permaneço ou me desfaço,
— não sei, não sei. Não sei se fico
ou passo.

Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno a asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
— mais nada.

Eu nunca sei quando as estórias acabam. Por isso sempre fico preso entre uma e outra, ou entre nenhuma e nenhuma outra; entre um recomeço sem fim e um fim sem término.

Talvez por ser mais espectador ou coadjuvante, do que protagonista da minha vida, tenha essa enfermidade de não dar conta de quando baixa o pano.

As luzes apagam, o público sai, os colegas limpam a maquiagem e eu continuo lá: com a fala na cabeça, o texto decorado, aguardando a deixa.

A deixa que nunca vem.

Sempre tive medo das coisas e das pessoas. Um pavor e uma falta de fé. Talvez por isso eu tenha criado minha própria companhia teatral, onde sou diretor; contra-regra; atores e público.

Enceno só para mim uma tragicomédia.

A realidade me faz tão mal e me deixa tão fraco que fico, no fundo do palco, muitas vezes, a sussurrar o texto a mim mesmo.

Às vezes não ouço.

Quase sempre não ouço, porque sussurro baixo e minha voz é trêmula...

O público não entende a peça, logo, não aplaude. Eu, furioso, demito a todos: ao autor; ao diretor; aos atores...

Expulso o público do teatro e ateio fogo a tudo.

E ali dentro fico eu, junto às cortinas e aos holofotes, incandescentes; queimando, queimando, queimando...

Escrevo diante da janela aberta.
Minha caneta é cor das venezianas:
Verde!... E que leves, lindas filigranas
Desenha o sol na página deserta!

Não sei que paisagista doidivanas
Mistura os tons... acerta... desacerta...
Sempre em busca de nova descoberta,
Vai colorindo as horas quotidianas...

Jogos da luz dançando na folhagem!
Do que eu ia escrever até me esqueço...
Para quê pensar? Também sou da paisagem...

Vago, solúvel no ar, fico sonhando...
E me transmuto... iriso-me... estremeço...
Nos leves dedos que me vão pintando!

Nossa vocação toma conta de nós, mesmo quando não a conhecemos; é o futuro que dita a regra do nosso hoje.

De fato, ao espírito livre dizem respeito doravante somente coisas - e quantas coisas! - que não o preocupam mais...

O mundo anda tão barulhento!
Ao pensar em parar pra pensar
não dá tempo, não penso.
Fragmentaram o sentimento
denominaram: bom e ruim.
Mas quem me consultou?
Sou agora obrigada a pelejar,
travar fadigante batalha comigo mesma:
Por que todo mundo tem que ser feliz o tempo todo?
Quem, afinal, é feliz o tempo todo?
Felicidade é coisa efêmera,
dá e passa — penso, agora.
É momento que tira o fôlego
é paixão, entrega, intensidade,
é grito por dentro, mas acaba.
Que coisa nessa vida não acaba?
Ora! Se tudo muda, se a felicidade grita,
hora sim, hora não e lido com isso,
que me causa estranheza ao ouvir o som oposto?
Shh! Ouça com atenção.
Acho que calaram a tristeza!
O Som anda distante e abafado.
Estará atrás daquela pilha de coisas,
aquelas com promessa de desenfadamento?
Até a solidão foi junto!
Foi e disse que já não existe motivo para melancolia,
agora, só ouço o grito estridente da felicidade
"todo o resto é vazio" — assim o disseram.
Já era hora!
A parte fétida do sentimento se foi.
Tomei agora a fórmula que me foi prescrita:
"2 colheres de chá de ignorância de 8 em 8 hs,
30 gotas de obliteração a cada 6 hs."
Mas por que ainda escuto a tristeza sussurrar?
E que barulho é esse que eu ouço agora?
Parece vir daquela pilha de entulhos!
Será ele que me tira o tempo
quando penso parar pra pensar, mas não penso?

A vergonha é um tipo particular de tristeza, você se apequena, você se acanha, você brocha, mas tem uma causa particular. Vergonha é uma tristeza específica, é uma tristeza que tem como causa você mesmo, uma tristeza que tem como causa um atributo flagrado por você em você mesmo. A vergonha, portanto, é uma tristeza que não sai da primeira pessoa: é você que observa você, que vê o que você fez, que não gosta do que vê, que não gosta do que fez, aí você se acanha. Você, causa da própria tristeza. Você, criatura envergonhada. Aí eu te pergunto: o que poderia querer dizer alguém sem vergonha?

O que há de mais essencial em nós é nossa energia vital, tanto é assim que, quando ela acaba, é porque a vida acabou também. Tal como uma estrela, que brilha enquanto tem energia. Você também é assim, uma estrela. Não vira estrela depois que morre, é estrela agora, em vida.

Demore o tempo que for para decidir o que você quer da vida, e depois que decidir não recue ante nenhum pretexto, porque o mundo tentará te dissuadir.

Dá vontade de parar,
parar de vez em quando.
Parar de pensar.
É, parar de pensar.

É tanta coisa pra ser dita que,
em sua infinita complexidade,
dá vontade de não dizer.
Dá preguiça, vontade de esquecer.

Até que ponto a gente aguenta?
Dá vontade de explodir.
Tanta coisa pra ser dita,
pouca gente pra ouvir...

Dá vontade mesmo é de sumir!

- Escolhemos ser quem somos e, de vez em quando, até isso dói.

Me despi das verdades contadas
já não me veem mais sorrindo sorrisos engessados.
Aprendi e continuamente aprendo, por mim.
Sorrio agora um sorriso de quem se descobre
de quem se ama, de quem se reinventa.
Olho no espelho e aceito a imagem,
olho pra dentro e fito as mil maravilhas e os mil infernos de mim mesma
com ares de curiosidade, deslumbre e paixão.
Sei onde caibo, sei onde não quero entrar
sei onde não devo voltar.
Sei que, entre tantas coisas refutáveis,
o auto-conhecimento é o mínimo para seguir.