Coleção pessoal de Licocarneiro

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E o sol nasceu de novo,
em tantos outros lugares.
Iluminou tantas paisagens,
tantos sorrisos, tantos olhares.
E toda essa luz, toda essa energia do bem,
a fez sorrir também.
E o sol coitado, ficou assustado
por ver algo tão radiante,
algo que mais do que ele brilhasse,
de um modo como nunca se viu.
E, mesmo sem entender ao certo,
deixou o orgulho de lado
e se rendeu conformado.
Que talvez não seria só dele essa função,
de os rostos tirar da escuridão.
E por seu sorriso deixou-se apaixonar.
E, no fim das contas,
por ela também sentiu-se iluminado,
e como um bobo, sorriu despreocupado.

Sabe o que é mais gostoso do que um abraço? Esse simples pesar do meu corpo contra o teu. Sem carícias, sem afagos, só meu corpo pesando sobre o teu, enquanto esvazio de uma forma sutil e quase desapercebida o ar dos teus pulmões, inúteis por sinal, quando o que respiras sou eu, não oxigênio. Só meu corpo pesando contra o teu e deixando a gravidade unir o que já não sabe mais ficar separado.

"Tens um olhar lindo enquanto dança, não pude deixar de notar. Teus olhos funcionavam como meu eixo. Por mais que tudo girasse, se desencontrasse e se perdesse, meus olhos não queriam perder os teus. Não podiam. Não deviam. "

Quem me via assim molhado não via nosso segredo, via apenas um sujeito molhado sem capa nem guarda-chuva, só uma garrafa de conhaque barato apertada contra o peito.

Era ainda capaz de exibir na pele torturada as marcas dos cigarros acesos, principalmente nos seios e nas coxas, numa espécie de sedução pelo avesso, pelo ideológico, não pelo estético, mas isso só na intimidade mais absoluta, quando estivesse descartada qualquer possibilidade de ser enquadrada em algum tipo de exibicionismo.

Precisava sentir teu cheiro, me cobrir com os véus que teu aroma desenhava no ar. E você sabe, uma boa bebida se degusta com todos os sentidos, com todos os costumes e (su)posições. Enquanto te sugava, teus olhos, sempre com olheiras, revezavam entre minha boca, minha roupa e meus discos do Frankie vallie. Nunca me enganara sobre eles. Dizia serem antiquados de mais ou cheios de mofo de mais, mas tua sobrancelha esquerda me dizia o contrário, conversávamos sempre. Com teus pés também, sempre inquietos, sempre atrasados. Teus pés a parte mais apaixonada do teu corpo. Enquanto me batia, me jogava as tralhas na cabeça e me jurava eternidades escondidas atrás de um sol e uma lua, ou de um sopro em teus seios, teus pés permaneciam sem dignidade alguma enroscados aos meus, como quem diz : tá cedo, vai não...
Tão distantes da razão. Tão distantes da emoção. São só corpo. Mas a mente, mente. E mente antes de ser mente, é corpo. Voltemos a bebida antes que esfrie.
A minha xícara, como já havia me habituado, sempre tão pouco cheia, tilintava no pires e vezemquando subia até a boca pra voltar do mesmo jeito. Sem beber nada. Nem cheirar. Nem soprar. Só ouvir, aquele tilintar de olhos fechados sentindo a xícara febril esquentar meus dedos. E quando esquentava trocava de mão. E escutava o tilintar. E escutava seu pulmão controlando a respiração. Escutava tuas pálpebras abrindo e fechando, teus cabelos, aqueles da franja e os de trás da nuca suspirando com o toque da minha pele ouriçando tudo por onde passava. E levava então xícara a boca pra te deixar entrar, e descer, confortar e despertar todo o resto. E sentira que todo aquele amargo intrigante, que me lançava à realidade, já não estava mais lá. Em lugar algum. Nem no fim pensei, contrariando Newton, mas não. E eu te cuspi pra fora, pra longe, pro vento. Com toda aquela doçura remoendo em minha língua, toda aquela falta de você. Ela ainda persistia em te caçar em minha boca, ainda anseiava por você no meio daquele conto-de-fim-de-ano-qualquer. Quando notei que você continuara como sempre foi: Penetrante, quente. E nem poderia ser diferente. E continuava sim, me despertando. Todo esse açúcar era a minha boca, enjoativa. Causava náuseas. Mas você não, continuava amarga, encorpada, gostosa, e principalmente: Sem açúcar. Perfeita. E eu com a cara mais lavada do mundo te pedi:
- Me serve mais uma xícara de você, por favor?

Você também sabia. Aliás, soube desde quando eu te disse. Lembro que, deu pra ver pela tua cara de espanto, pelo modo como teus olhos me engoliram, apesar do descansar sereno e quase indiferente de tuas sobrancelhas, que não era exatamente o que esperava ouvir. Mas não obstante, sorriu. E como poderia esquecer? Se era como se o teu rosto se dividisse entre dia e noite. Luz e trevas. O olhar mais piedoso e o sorriso mais encorajador do mundo. Foi algo parecido com a sensação de quem pisa em uma escada rolante desligada. Eu era a sua escada naquele momento. Você se desequilibrou pra frente, segurou-se no ar e, mesmo assim, mesmo sendo nítido que a saliva na sua boca havia se tornado árida e teu ar rarefeito, continuou em mim. Andando. Já não posso mais dizer se pra cima ou pra baixo. E hoje, estamos aqui. Enrolados em lençóis que não são nossos, quebrando promessas que nunca existiram e nos perdendo em sonhos que você sabe, nunca serão realidade. É o que eu imagino que esteja fazendo, enquanto eu te olho dormir, sonhando. Á pouco tudo era mais fácil, menos consequente. Nos enrolávamos, nos afundando em nosso suor enquanto sua boca alimentava a minha, e meu cheiro te entorpecia. E era tudo mais fácil, ao que parece. Estou te olhando dormir sem roupa, enquanto me decido se, mais uma vez, simplesmente vou-me e, confirmo o que você sempre soube: Nunca serei seu. Na verdade de ninguém. Mas menos seu porque você, ao contrário de todos, me ama incondicionalmente. De um amor que me deixa de mãos atadas. Que não tenho como retribuir. Se eu cuspisse em tua cara, me olharia nos olhos e diria : "Eu te amo!". Ou se fico, e me conformo que talvez, pra você, somente me deixar ser amado já seja o suficiente.

E de todas as fortunas eu me faria livre se pudesse em teu olhar me sentir preso, e em teus braços encurralado. Fosse por uma só noite, em que tuas pernas se enroscariam as minhas, e as nossas aos meus trapos, fosse somente enquanto se fizesse ouvir um sussurro perdido jogado ao vento. Detalhes, que em nada importariam.

De um amor que não tenho como retribuir. Só me cabe acreditar que, pra ela, me deixar ser amado seja o suficiente.

Ele tinha simultaneamente, o Sorriso mais feliz e o olhar mais triste que eu ja havia visto

É preciso supor que, a natureza, ao conferir partes maiores a uns e menores a outros, quis dar espaço à afeição fraterna para que ela tivesse onde ser praticada, pois uns têm o poder de prestar ajuda, enquanto outros necessitam recebê-la

Os homens só desdenham a liberdade, ao que parece, porque a teriam se a desejassem, como se se recusassem a fazer essa bela aquisição somente porque ela é fácil demais

Eu não lhe pediria tão vivamente pra recuperar a liberdade se lhe custasse alguma coisa. Não existe nada mais caro para o homem do que readquirir o seu direito natural e, por assim dizer, de animal voltar a ser homem. Contudo, não espero dele ousadia tão grande. Nem quero que prefira a segurança duvidosa de viver miseravelmente a uma esperança incerta de viver como lhe agrada

O homem é naturalmente livre e quer sê-lo, mas sua natureza é tal que se amolda facilmente à educação que recebe

Só os covardes e os preguiçosos não sabem suportar o mal nem recuperar o bem. Limitam-se a desejá-lo e a energia de sua pretensão lhes é tirada por sua própria covardia

O ser humano não consegue viver sem paixão. E a paixão é o estado no qual todos os seus sentimentos e ideias se encontram no mesmo espírito. Tu podes pensar, quase ao contrário, que é o estado em que um sentimento se torna todo-poderoso, um único sentimento que atrai a si todos os outros - um arrebatamento! Não, não querias dizer nada? Seja como for, é assim. Também é assim. Mas a força de uma tal paixão é imparável. Os sentimentos e as ideias só ganham continuidade quando se apoiam uns nos outros, na sua totalidade, têm de se orientar no mesmo sentido e arrastam-se uns aos outros. E o ser humano tenta por todos os meios, pela droga, pela ilusão, pela sugestão, pela crença, pela convicção, por vezes apenas recorrendo ao efeito simplificador da estupidez, criar um estado semelhante àquele. Acredita nas ideias, não por elas às vezes serem verdadeiras, mas porque tem de acreditar em alguma coisa. Porque tem de manter os afectos em ordem. Porque tem de tapar com alguma ilusão o buraco entre as paredes da vida, para não deixar que os seus sentimentos se espalhem ao vento. O caminho certo seria o de, em vez de se entregar a estados ilusórios, procurar pelo menos as condições da autêntica paixão. Mas, feitas as contas, embora o número de decisões que dependem do sentimento seja infinitamente superior ao daquelas que se podem tomar com a pura razão, e todos os acontecimentos decisivos para a humanidade nasçam da imaginação, só as questões da razão se mostram ordenadas de forma suprapessoal; para o resto, nunca se fez nada que mereça o nome de esforço comum ou que sugira sequer a consciência da sua desesperada necessidade.

Quero apenas cinco coisas...
Primeiro é o amor sem fim
A segunda é ver o outono
A terceira é o grave inverno
Em quarto lugar o verão
A quinta coisa são teus olhos
Não quero dormir sem teus olhos.
Não quero ser... sem que me olhes.
Abro mão da primavera para que continues me olhando.



Se não puderes ser um pinheiro, no topo de uma colina,
Sê um arbusto no vale mas sê
O melhor arbusto à margem do regato.
Sê um ramo, se não puderes ser uma árvore.
Se não puderes ser um ramo, sê um pouco de relva
E dá alegria a algum caminho.

Se não puderes ser uma estrada,
Sê apenas uma senda,
Se não puderes ser o Sol, sê uma estrela.
Não é pelo tamanho que terás êxito ou fracasso...
Mas sê o melhor no que quer que sejas.

Homens que se propõem a passar frio, fome, medo e falta de ar, escalando montanhas gigantescas e geladas durante dias, semanas até meses. Muitas vezes perdem amigos durante essas jornadas, alimentam-se mal, perdem peso, perdem tempo. (Tempo não, horas). Tudo isso com o constante pensamento de que tudo pode dar errado a qualquer momento... Aí eu te faço uma pergunta, a troco de quê? É uma ótima pergunta... Para alguns é praticamente impossível entender que, nem sempre, o troféu é o que importa, o prêmio, ou o desejo tão almejado que te faça cair em sua zona de conforto. Para alguns, na maioria das vezes, o que realmente importa é a conquista, ou o modo como foi conquistado. O caminho, o trajeto, o percurso. As dúvidas, os receios, os anseios, e finalmente as certezas. No final, que seja. Aquele frio na barriga que nos alerta sobre o risco, mas que ao mesmo tempo atiça nosso brio, dando pista de como saboroso pode ser escalar mais um objetivo. E se mais uma montanha for escalada? E se no topo houver sol, houver céu azul, houver tudo? E se não houver nada? Só gelo, frio e vazio? Não faz diferença. Existem outras montanhas a serem escaladas. Outros caminhos a serem percorridos, outros aprendizados, novos medos a serem enfrentados, novas conquistas. As escaladas sim nos ensinam. E antes de se acomodar no topo da sua montanha, pare pra pensar que ás vezes o finalmente. Ás vezes o finalengana. Ás vezes ainda não é o final. E ninguém aqui está falando de alpinistas, montanhas ou gelo. Isso é a vida.

"Ás vezes é preciso primeiro se ter a resposta, pra depois elaborar as perguntas."