Coleção pessoal de Lailin

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SORTE


Seu nome é Anna
Que diabo é uma Anna no mundo?
Anna é um absurdo
É um simples sonho mau
Olhem para ela
É a última na fila do banheiro do H.C
Esta com a cabeça abaixada enquanto as lágrimas escorrem do seu rosto
Uma senhora coloca a mão em seu ombro e pergunta: Está tudo bem?
Diz que sim enquanto anda em círculos procurando uma posição para ficar
Duas horas de espera no frio corredor do hospital que dizem ser uma cidade
Imaginou fazer aquilo dia após dia, ano após ano, ate que foi
Enviada a um outro médico numa rua sem saída
Um prédio de tijolos amarelos
O médico olhando para ela disse: Eu vou te ajudar, vou te encaminhar para um bom médico ele irá te dar o remédio certo. Agora vá ate a assistente social.
Enxugou as lágrimas e seguiu pela faixa amarela
E aquela mulher como uma máquina deu a ela um papel que a fez voltar para a estaca zero
O mesmo lugar em que voltaria a receber um litro de soro com uma dose de morfina
Ficou parada na porta pensando e quando o segurança atendia um paciente ela entrou rapidamente driblando a dor
E olhando nos olhos do médico disse: Você falou que ia me ajudar!
E viu seus olhos azuis frios sem a doçura de outrora
Foi ai que a luz se apagou
E ela não viu coisa alguma
Somente seu corpo afundando em buracos de areias movediças
Então, pensou: Mulher de sorte
Aquilo era muito bom
O calor da areia curava seu corpo
E quando seu corpo subia ela sentia o vento que vinha do nordeste batendo em seu rosto
E era tão agradável que ela podia dizer francamente:
Mulher de sorte.

SOLIDÃO

O sol penetra pela janela da sala
Desejo que ele alcance minha cama
Mas não ele pousa nos livros
Os livros não precisam de sol tanto quanto eu nesse momento.
O frio foi feito para os sadios não para os doentes.
Já falei sobre o desejo de deixar esse estado e ir para outro onde o calor nunca acaba e o sol nunca se põe?
São 8:19, o relógio anda ligeiro, eu não preciso me apresar para mais nada.
Para que olhos? Para não ver mais nada?
Olhos sensíveis, mas sensíveis a quê?
Vocês compreendem, não é, que estamos sós.
Sós e aprisionados numa tela de computador.
Está me censurando? Claro, você tem ao seu lado aquela natureza jovem, saudável, aquela inteligência que desperta, cheia de promessas... É para a sua amizade que eu apelo.
Fale!

Livros

Tem crianças que aprendem a gostar de livros com os pais.
Não lembro uma única vez de ter ouvido minha mãe lendo algo para mim.
Tenho outro tipo de recordação dela em minha infância, mas essa está em branco.
A escola fez isso por mim.
Aprendi a ler em uma linda escola na cidade de Aluminio/SP.
Isso esta pintado em minha mente em todos os seus detalhes como um bonito quadro de Van Gogh.
E eu como se estivesse em pé, olhando a paisagem do campo.
Era um momento único... Quebraram a monotonia da minha existência e tem sido sempre assim, quando minha solidão se torna insuportável... São meus companheiros...
Os anos que transcorreram: Nunca esqueci.
A grande lousa e a professora colocando figuras com as vogais.
Com o tempo outras cartilhas foram surgindo e mudaram as regras.
Para mim foram sempre essas: A de abelha, E de elefante, I de igreja, O de ovo e U de uva”.
Não eram simples adesivos, tomavam formas, criavam vidas.
Sempre amei a escola, não as badernas que elas se transformaram.
Mas o mundo sagrado que elas me levavam.

Confissão

Confesso
Eu matei Hemingway
E não estou satisfeita!

Confidências


Não lembro mais de muita coisa e nem quero
Passo a maior parte do meu tempo ficando velha e esquisita
Lá fora na cidade vivem os homens eternamente jovens e eu digo a mim mesma: “logo que consiga andar virão me buscar”.
Enquanto isso começo desesperadamente a travar relações com outras pessoas
O que eu quero é não ficar só
Por que não acontece alguma coisa?
Por que me deixam aqui sozinha?
Quero ser amada
Quero que alguém responda ao chamado que cresce e se torna cada vez mais claro dentro de mim
Ontem eu tive um desejo de andar na grama, pisar na terra, molhar os pés...
Fiquei por um momento ouvindo a chuva batendo no vidro da janela...
E tive outro desejo
Descer as escadas sem pensar no que iria fazer
Atravessar o corredor escuro e sair ao encontro da chuva... e correr pelas ruas...
Ir ao encontro de alguém tão solitário quanto eu e abraça-lo
E eu iria com ele
Iria sim!
E aos poucos iria me entregando na terra fria e úmida...

Tédio

A janela aberta, dia nublado
Livros caídos no chão
Rosto desanimado
Primavera, o mudar da estação
O café
A filha
O tédio
A encheção
A mesma música
Tocando sem parar
Entender, entender e entender
Começar de novo
Escrever, escrever e escrever
E não poder falar
Um palavrão
Ser amável
Obrigada!
(Lailin)