Coleção pessoal de eggon

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Não acreditaria,
no grande erro cometido.
Antes das mil noites de agonia,
foram mil dias de euforia.
O som cintilante da luz viajante
a liberdade do infinito andante
o nada do ser numa pedra quebrada
davam luz à alma mais amada
a eternidade desumanizada.
Perambulou fixamente
procurou perdidamente
sonho meu estar tão sozinho
ninho da paz dum passarinho
Praia vazia, na pedra batia
a água dum tempo de mitos trazidos
Tão simples tão calmo, enlouquecido
o homem cedido ao fim do destino
O mar de carnes e sangue exaurido
ao ser trouxe a mágoa do infinito perdido

Aguas salgadas correm em meu sangue de Portugal
chibatadas descem a meus olhos sangrentos do grande continente
cocais em minha testa seguem a Terra dos sabios antigos

Eu sou carne e osso de um povo só
Eu sou vida nova de uma mistura maior
Minha vida, meu passado, minha honra
meus deuses que pisaram nessa terra tão clamada
Nessa terra que no chão viu derrubada
sangue do homem do proprio homem
gotas de vinho disfarçada

cores revisitadas
marinheiro escravocrata
meu deus me traga bom trato
meus deuses parecem brigados
Aqui eramos Senhores do mato
Agora somos catequizados

A terra agora é funda
funda demais nos inunda
pés num ar negro flutua
Quem pisa no chão de meus deuses
Olha ao peito batente 3 vezes
quem cultiva semente
semente do tempo já verde.

sol
dia escuro
branca maçã
capús do turco

nevoa do raio, alma
quão ofegante, estrela
espedaçado no chão, gelo
disparado, bombeia, abraço

verde musgo
asfalto
caramujo
poeira... esfumaçado

fujo
fico
fico
fujo
chão sujo
em toda parte
fora da arte
a alma aparte

água corrente
vento valente
na pedra parte
es...carniçado no fogo ardente

homem de fé
senhor sem pé
vive na água
dorme com mágoa

anda e desanda
agua e desagua
ama e desama
aponta a arma

Maldição


Se por vinte anos, nesta furna escura,
Deixei dormir a minha maldição,
_ Hoje, velha e cansada da amargura,
Minha alma se abrirá como um vulcão.
E, em torrentes de cólera e loucura,
Sobre a tua cabeça ferverão
Vinte anos de silêncio e de tortura,
Vinte anos de agonia e solidão...

Maldita sejas pelo ideal perdido!
Pelo mal que fizeste sem querer!
Pelo amor que morreu sem ter nascido!

Pelas horas vividas sem prazer!
Pela tristeza do que eu tenho sido!
Pelo esplendor do que eu deixei de ser!...

A flor e a náusea

Uma flor nasceu na rua!
Passem de longe, bondes, ônibus, rio de aço do tráfego.
Uma flor ainda desbotada
ilude a polícia, rompe o asfalto.
Façam completo silêncio, paralisem os negócios,
garanto que uma flor nasceu.
É feia. Mas é flor. Furou o asfalto, o tédio, o nojo e o ódio.

Elis

Eu venho lhe falar meu grande amor
das coisas que me vi na mente
posso lhe contar como vivi
e tudo que aconteceu
comigo
viver é melhor que sonhar
e o passado quebrou-se no vidro
Amanhã o dia se põe
E somos nada mais comigo
Espalha o veneno espalha,
parasita da mente
Sempre que olho teu rosto
caminho em vã aventura
Me diga palavras tão minhas
espanta memórias vazias
Perdido na sala escura
vagando em mundo egoísta
Eu sei que você me existe
e que tu me fez isso comigo
Andando encontro teu corpo
despido da voz do teu mundo
cabelos de sangue me tomam
carinho em teu rosto sozinho
Se você tivesse ido embora
minha voz encontrar-se perdida
vagando nas entranhas dos órgãos
procurando um fim de ternura.

O fluxo do homem
fez dele a margem
Seu pensamento
é a inundação ao corpo
Água a vida
Cansa oh mundo que alcança
o velho do corvo branco
Amanhã faz novo ano
Faz nova praia

Eu queria a morte,
num berço de palha receber
construído às minhas mãos
moldado pelo tempo
instaurado ao acaso
cultivado nesse chão.

Por que é que falamos da morte?
como o fim de toda beleza,
como o resto do homem nu
a testar a natureza
Esse homem que come cru,
o prato da finiteza.

Como se a vida tivesse fim,
como o caos instaura a ordem.
Pois, dos Gregos aos Troianos,
Judeus aos Muçulmanos,
Russos, americanos,
nenhum ser chegou olhar
muito menos a dizer
que sua vida assim chegara,
ao fim do próprio ser.

Difícil fotografar o silêncio.
Entretanto tentei. Eu conto:
Madrugada, a minha aldeia estava morta. Não se via ou ouvia um barulho, ninguém passava entre as casas. Eu estava saindo de uma festa,.
Eram quase quatro da manhã. Ia o silêncio pela rua carregando um bêbado. Preparei minha máquina.
O silêncio era um carregador?
Estava carregando o bêbado.
Fotografei esse carregador.
Tive outras visões naquela madrugada. Preparei minha máquina de novo. Tinha um perfume de jasmim no beiral do sobrado. Fotografei o perfume. Vi uma lesma pregada na existência mais do que na pedra.
Fotografei a existência dela.
Vi ainda um azul-perdão no olho de um mendigo. Fotografei o perdão. Olhei uma paisagem velha a desabar sobre uma casa. Fotografei o sobre.
Foi difícil fotografar o sobre. Por fim eu enxerguei a nuvem de calça.
Representou pra mim que ela andava na aldeia de braços com maiakoviski – seu criador. Fotografei a nuvem de calça e o poeta. Ninguém outro poeta no mundo faria uma roupa
Mais justa para cobrir sua noiva.
A foto saiu legal.

Os dias passam
voam
gritam por deixar ficar mais um tempo
como crianças que não conhecem da vida
como sábios que demais sabem do mundo

A quietude é trágica

A vida se desvaira nas multidões
O planeta gira em torno do tempo
Os pássaros viajam ao longo do firme vento
As árvores crescem ao tempo sem fim
Os pensamentos se arriscam na natureza selvagem
As montanhas comem o medo do desespero
A vida se consome na chuva que cai, que somente cai

Eu fui à Floresta porque queria viver livre. Eu queria viver profundamente, e sugar a própria essência da vida... expurgar tudo o que não fosse vida; e não, ao morrer, descobrir que não havia vivido.

óh, Preto...
o teu líquido que da arabia fez-se sagrado
E que faz dos Áries da Etiópia mais vívidos
Preto como o povo de vossa origem
És tropical como as Índias da terra nova
Da província francesa até a terra da Árvore Vermelha,
Na terra dos Santos mais diversos,
Que enfim começa na destruição, negra
A cultura desvairada, mas
Derradeira faísca, Amazônia, Deusa grande!
A negritude, como esse fruto de 1727,
preto como o povo:
Convergiria já a vã coincidência?
Cinza Mascavo,
Negro Café
Negro Povo sempre ali,
Negro Carvão vegetal,
Pretos olhos dos Barões.

E quem diria, agora preto óleo?

Mas só no fim se, não, vê cor
és o branco amarelado do globo do Escravo,
sua palma que trabalha também
O branco do açúcar refinado,
que o francês adoçou sem permissão dos donos do Kahwah

É pouquíssimo provável encontrar, pelas matas da sociedade, um elefante perdendo-se nas gargalhadas.

Quando ouvi o astrônomo erudito

Quando ouvi o astrônomo erudito,
Quando as provas, os números foram enfileirados diante de mim,
Quando me foram mostrados os mapas e diagramas a somar, dividir e medir,
Quando, sentado, ouvia o astrônomo muito aplaudido, na sala de conferências,
Senti-me logo inexplicavelmente cansado e enfermo,
Até que me levantei e saí, parecendo sem rumo
No ar úmido e místico da noite, e repetidas vezes
Olhei em perfeito silêncio para as estrelas.

Há um prazer nas florestas desconhecidas;
Um entusiasmo na costa solitária;
Uma sociedade onde ninguém penetra;
Pelo mar profundo e música em seu rugir;
Amo não menos o homem, mas mais a natureza...

Soneto da saudade

Quando sentires a saudade retroar
Fecha os teus olhos e verás o meu sorriso.
E ternamente te direi a sussurrar:
O nosso amor a cada instante está mais vivo!
Quem sabe ainda vibrará em teus ouvidos
Uma voz macia a recitar muitos poemas...
E a te expressar que este amor em nós ungindo
Suportará toda distância sem problemas...
Quiçá, teus lábios sentirão um beijo leve
Como uma pluma a flutuar por sobre a neve,
Como uma gota de orvalho indo ao chão.
Lembrar-te-ás toda ternura que expressamos,
Sempre que juntos, a emoção que partilhamos...
Nem a distância apaga a chama da paixão

THE BURIAL OF THE DEAD

APRIL is the cruellest month, breeding
Lilacs out of the dead land, mixing
Memory and desire, stirring
Dull roots with spring rain.
Winter kept us warm, covering
Earth in forgetful snow, feeding
A little life with dried tubers.
Summer surprised us, coming over the Starnbergersee
With a shower of rain; we stopped in the colonnade,
And went on in sunlight, into the Hofgarten,
And drank coffee, and talked for an hour.
Bin gar keine Russin, stamm’ aus Litauen, echt deutsch.
And when we were children, staying at the archduke’s,
My cousin’s, he took me out on a sled,
And I was frightened. He said, Marie,
Marie, hold on tight. And down we went.
In the mountains, there you feel free.
I read, much of the night, and go south in the winter.

What are the roots that clutch, what branches grow
Out of this stony rubbish? Son of man,
You cannot say, or guess, for you know only
A heap of broken images, where the sun beats,
And the dead tree gives no shelter, the cricket no relief,
And the dry stone no sound of water. Only
There is shadow under this red rock,
(Come in under the shadow of this red rock),
And I will show you something different from either
Your shadow at morning striding behind you
Or your shadow at evening rising to meet you;
I will show you fear in a handful of dust.
Frisch weht der Wind
Der Heimat zu,
Mein Irisch Kind,
Wo weilest du?
“You gave me hyacinths first a year ago;
They called me the hyacinth girl.”
—Yet when we came back, late, from the Hyacinth garden,
Your arms full, and your hair wet, I could not
Speak, and my eyes failed, I was neither
Living nor dead, and I knew nothing,
Looking into the heart of light, the silence.
Öd’ und leer das Meer.

Fragmento do poema "The waste land"

And in the end, it's not the years in your life that count. It's the life in your years.