Coleção pessoal de edsonricardopaiva

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As Ilusões que a vida traz pra gente.

⁠Ilusões
Há um tempo assim
Em que a criança a tudo alcança
Finge pra si mesma ser outra pessoa
Meu Deus, que coisa boa era o fugir contente
O brincar inocente
Consciente que era aquilo tudo só imaginação
Esperava o dia
Em que era tudo de verdade e pra valer
Realidade ilusória
Existe um tempo assim também
Amanhã há de ser um novo e lindo dia
Fingir ser a mesma pessoa
Iludido no pensar incoerente
de que é o tempo ilimitado
Meu Deus, que coisa incrível
Eu me pensava indestrutível
O tempo passa e traz
Ilusões pertinentes
Era a razão de prosseguir
De confiar em mim somente
De tentar alcançar, com sorte, ao menos o suficiente
Pois o tempo é premente e amanhã é só mais outro dia
Meu Deus, que coisa triste
Pensar que as ilusões se foram
Era mais outra ilusão
Sentir-se impotente
Diante das desilusões que a vida traz
Pior era a outra parte
Aquela, de se deixar ficar, simulando a paz ausênte
Ilusões perdidas
Há também um tempo assim
Há quem pense ter vencido a vida
O tempo o alcança e a vida vence
Meu Deus, que coisa à toa era pensar
Compreender que o tempo da ilusão
De fingir ser quem não era
Depois de uma vida de espera
Se revela o tempo da felicidade verdadeira
Consciênte, feliz, altaneira
E, jamais uma ilusão
Foi o único tempo dessa vida
Que a gente fingiu ser quem não era
Sendo apenas quem era
Fingir não era opção
Eis toda ilusão
Os outros fingiram tão bem
Que pareceu ser verdade
Era tudo, a vida e tudo mais
O tempo todo
Bem mais frágil
Que a Ilusão primeira.

Edson Ricardo Paiva.

⁠Um Lugar Chamado Nunca Mais.

Nenhum de nós jamais
Conseguiu reter pra si
Sequer a própria presença
Olhe a sua imagem refletida
Nas águas desse rio da vida
Enquanto ele evapora
E que carrega a tudo que hoje tanto preza
Ninguém jamais teve palavra que resuma
Nem desenho que descreva
O que se esconde atrás do nevoeiro
Nada, além de brumas
Até que a veja de frente
Até que seja tarde pra saber
Um dia essa melancolia leve
Vem, bem de repente
Leva embora noites de tristeza
Tardes de alegria
Pra um lugar chamado nunca mais
Por mais que se pretenda
Tudo é feito pra viver
No dia que amanhece, alegre ou triste
Não existe tempo que se prenda
O mundo é feito de algo igual ao ar que se respira
Você sempre poderá voltar e perceber
E lugar nenhum jamais terá guardado
Um pôr de sol sagrado, um dia do passado
Tudo reinicia novo e novamente
E você nunca o poderá trazer de volta
A gente é que deixou passar
Tornar-se, então, deserto e mudo
E, dessa vez, distante
Começou a deixar de ser o que era
No momento em que você deixou que fosse
Pois, na verdade, de outra forma não podia ser
Um dia terá sido sempre a última vez
Só que dessa vez
Você não terá sequer percebido
O ruído dos seus passos
Abraços perdidos
Olhos, cujos teus olhares nunca mais verão
Olhares, que de tão indiferentes
A gente não guardou nos braços, nem no coração
Passos se afastavam lentamente
Até que, então, silenciassem
Num fluxo constante, instante após instante
Lembranças de um passado que desbota
Algumas alguém lembra
Tudo mais é coisa tão desimportante
Que ninguém sequer nem nota
Nem pensa em tomar nota
Tudo é a própria imagem refletida
Nas águas do incessante rio da vida
Coisa que não se represa
Ela evapora e chora e chora
Como o ar, que se respira e se renova.

Edson Ricardo Paiva.

⁠Simplesmente.

Tava aqui, pensando
Se será que vale a pena
Esquecer o caminho
A jornada
Alegria adiada...odiada
Alegria por nada
Que eu sentia, sem sê-la
Tava eu aqui, me lembrando
A criança serena que eu era
Sem medo do desconhecido
E o que eu mais queria
Era só poder me aproximar do céu
Nem pedia que tivesse estrelas
Se ele acaso não tivesse
Se, por certo, fosse o céu
Me bastava olhar de perto
Nem que fosse só por breve instante
Mas o tempo tem seu prazo
Mesmo sendo o chão deserto
É preciso sempre um novo passo
Passo a vez, sigo adiante
Tanta dor danada que te dói na vida
Que acontece quando a gente
Já não pode fazer nada
A pressa obsessiva te atravessa
Quando a gente para e olha
Folha em branco era um barco à deriva
Assim se faz os caminhos
Tantas vezes
Passar a vez e seguir
Numa condução qualquer, que te sacode
A caminho de alguma ilusão
Que tem cara de alegria
De balão que explode em coloridos
Mas, se a gente não puder vivê-las
Não terá sequer vivido
Não, não vale jamais a pena se esquecer
De nenhum caminho percorrido
Alguns, simplesmente para não trilhá-los nunca mais
Outros, por saber que te podem levar
Novamente à presença
Da criança sincera e serena
Que sabia como segurar estrelas
Em seu par de mãos pequenas
Que podia estar perto do céu
Porque o céu era ela
Num tempo de pura alegria
Até hoje ela jura
Que o era
Por jamais ter pretendido sê-la
Simplesmente era a vida
Acordava e a vivia.

Edson Ricardo Paiva.

⁠Alma Nua.

Cuida bem da vida
Antes, saiba o que ela é
Essa coisa doida
Pois a gente não recorda nunca
Quando ela começa
Pois a gente raramente sabe
Como ela termina
Normalmente é na rotina
Armadilha bem posicionada
Entre excessos e exceções
Portanto, cuida bem dos passos
Não há e nunca haverão palavras
Que não poderão ser ditas
Cuida bem da fé
Há um instante certo pra dizê-las
Nunca antes da hora
Nem depois que ela passou
O momento de calar-se
Chega a ser mais importante até
Deixa estar
Saiba, que em algum lugar
Há sempre alguém te observando
Não importa sua cara no espelho
Seu brinquedo novo ou velho
Nem seu ímpeto ou seu medo
Cuidado com teu ser recôndito
Pouco importa
A distância que te separa
de onde diz querer chegar
Saiba, que existe alguém
Observando teu coração agora
E sabe onde você queria estar
Não é o que faz ou que sabe ou o que tem
Nem pra onde teu dedo aponta
O importante não é o que o mundo vê
Nunca foi a opinião de ninguém
Conta muito mais quem você é.

Edson Ricardo Paiva.

⁠Canção do Moto Clube Óleo nas veias.

Sexta-feira cheia
Lua negra
Lente de faról
Acende o céu de areia
Coração roncando lento
Apressa o vento quente
tudo é só momento
Luz de estrela nessa rotação
é chão de céu no asfalto
No fim é sempre assim
É noite e meia
E Deus no alto
Eu numa moto
Boto óleo nas veias
Sempre em frente
Noite adentro
Rotor pulsando lento
Não existe pressa e nem tristeza
e nem subida e nem planalto
Eu sou do asfalto o vento
No fim é sempre assim
É noite e meia
E Deus no alto
Eu numa moto
Boto óleo nas veias.

Edson Ricardo Paiva

⁠Luz, poética leveza.

Um feixe de luz
Atravessa uma fresta
Fino raio de sol
Descortina fumaça
A poeira de giz
Uma festa bonita, suspensa
Partículas sem vida à vista
Muita coisa eu vi no mundo
Quase nada tanto assim
Poético, profundo
Ou então
Que leve a mente flutuar
Numa bolha de sabão
Fragrâncias, perfumes
Costumes de infância
Perdidos no tempo
Dizem mais
Que lembranças em palavras
Trazem leves alegrias
Coisas quais não vividas
Diferentes da infâmia
Que figuram na lista
Dessas coisas vãs que vi no mundo
Que levaram os leves dias
Penso
Chega a ser engraçado
Essa coisa que ficou perdida
Em algum triste lugar
Simplesmente elas, por serem
Leves e bonitas, coloridas, flutuantes
Tenho mesmo a impressão
Tê-las visto distantes
Mesmo antes de eu ouvir dizer, um dia
De existência das estrelas
Pode ser também que eu não tivesse
A malícia de enxergar-lhes diferenças
Tão feliz facilidade, na beleza de viver
Mas a gente se deixou levar
O mundo carregou toda delícia
E qualquer leveza que na alma havia.

Edson Ricardo Paiva.

Oportunidades.

⁠Aquela poça dágua
Que ficou depois da chuva
Num final de tarde
Ainda arde na tua lembrança
A vontade de criança
Ter pulado nela
e lançado a lama pra todo lado
Aquela voz na tua janela
Um amigo com a bola debaixo do braço
Te chamando pra brincar
Nenhum de nós jamais saberá dizer
Porque foi que você não foi
Ou então, a goiaba amarela
Aquela no galho mais alto
Hoje a gente sabe
Que de fato, lá ela ficou
O tempo não tem atalho
Aquele par de ouvidos
As palavras podiam ser ditas
Até hoje você se lembra
Mas não acredita
Deixa estar!
A própria vida
Tanta gente sonhou
Tanto sonho se quedou pelo caminho
O pássaro no galho
No galho do ninho
O papel estava lá
O lápis também
O mais lindo poema em mente
E assim chegamos no presente
Que aflição que te dá, que te dói!
A página mais bonita
Dá a impressão
Que ela podia ser escrita
Mas não foi
Só a lama da poça
Nossa!
Essa, ficou conhecida
Como um gesto repetido
Mas aquela, do começo da vida
Secou, como todo o resto
Ficou tudo lá.

Edson Ricardo Paiva.

⁠Tem um mundo
Lá no coração da gente
Um mundo sempre igual
Só que diferente
Porque lá também tem céu
Só que nunca é o céu presente
É sempre outro, o tempo
E tudo é melhor, eternamente
Mas só dá pra olhar pra ele
Quando o olhar da gente
Como num barco distante
Olha o mar
Quando uma fogueira acesa
Lá no alto da maior montanha
Uma pipa no céu
Que se torna avião
Contorna o mundo
e volta pra um dia qualquer
Nesse dia é de tarde
E a gente se vê
Lá no galho de uma árvore
Porque lá tem quintal também
Só que sempre é diferente, é melhor
Mesmo assim, distante o chão
Ainda que eu voasse
E, lá nesse céu tivesse
O rosto de tanta gente
Que passou pelas nossas vidas
Gente que nos esquece
Porque sempre haveremos de ser esquecidos
Nesse mundo o esquecimento é diferente
E tudo sempre volta
Em formato de brumas
Como um barco na noite
Que passa lá, distante
E você numa montanha
A montanha no quintal
O quintal lá no galho
O galho no céu
Que se torna avião
Que contorna o mundo
E traz você sempre de volta
E quando volta você deixa lá teu rosto
Pra que sempre sejamos lembrados
Em formato de bruma sem nome
Somos todos crianças brincando no mesmo quintal
Se pudéssemos sair pra brincar
Com certeza a gente iria pra lá
Sempre...ou de vez em quando.

Edson Ricardo Paiva.

⁠Um Texto sobre a Poesia da Relatividade.

Enxergamos despedidas
Tempo e lugares distantes
Borboletas antigas
Buscando uma pétala vaga
Pra descansar as velhas asas
Vagando sobre flores desbotadas
Que recobrem um resto de alegria
Que flutua na memória
Uma pintura
Uma palavra do Mestre
Arte rupestre do acender das luzes
Traz de volta à vida outras luas passadas
A felicidade primordial, rudimentar
A única que foi real
Vem romper com a ruptura
Em formato de palavra dura
E mostra uma flor que não víamos naqueles dias
Provando que o tempo não retrocede
Senão como saudade
Que nem mesmo a sede, uma vez saciada
Há de voltar às nossas vidas
Se despede, se despe de nós
Vai zunir nas asas de uma velha abelha
Fazer morada nas telhas
De uma casa há muito demolida
Tudo está pra sempre lá
Porém velho, desbotado e sem vida
Talvez seja essa a relatividade do tempo
A velha roseira ao meu lado
Sempre trará flores novas
A roseira nova do passado
Não há provas que tenha existido.

Edson Ricardo Paiva.

⁠O Tempo está Correndo.

Daqui onde estou
Eu vou olhando a vida
Rindo pra mim de mim também
Não cabe a ninguém me compreender
Muita coisa, atrás do muro, sob o céu
Só sabemos sobre ele
Depois de muito imaginá-lo
Por detrás de escuro véu
Um dia, a vida te convida a compreender
Que a sorte te vem nas escolhas
Caminhos, verdes folhas
A graça da vida, escondida
Não em tudo que ela traz
A alma é algo limitado
E pode transbordar
Daqui onde estou
Eu vou olhando a vida
Sorrindo pra mim apenas
Porque vejo nas coisas pequenas
Veleidades, orgulho, a vaidade
O tempo que evapora
A graça que a vida nos tira
Quando a hora era de rir
Deixar que caíssem as folhas
Manterem-se as poses
Lustrarem-se as máscaras
Renovarem-se as mentiras
A vida era só brincadeira
Mas não era
Não existe sorte nas escolhas
Só escolhas
A alma é algo que transborda um dia
Pode ser que, de tristeza ou de alegria
Não existe talvez
Uma vez escolhida.
Aqui, de onde estou
Vou sorrindo pra vida
Amanhã pode chover
Há de ser um lindo dia!

Edson Ricardo Paiva.

⁠Vivência.

Hoje eu vejo as coisas
De maneira que eu não via
Nunca fui de muito me atentar
Queira ou não queira
Cada qual tem seu jeito
Nunca fui de ter jeito pra nada
E meu mundo era perfeito assim
Creio que há mais sentido
Em não buscá-los
O tempo sempre traz a direção
E eu jamais sentia pressa
Promessas
Nunca fui de acreditar ou não
Nem duvidar
A verdade vem no vento
Vem depressa e devagar
Nunca fui de escolher
Qual dor eu queria sentir
Não se pode evitá-la, ela vem
Fui deixando a vida decidir por mim
Eu gostava de verdade
Era só de viver
Montar os quebra-cabeças que a vida traz
Desde o início ela trazia
Eu, por não ter aprendido mentir
Não busquei saber se era verdade
Nem jamais pensei que a vida fosse
Fácil e nem difícil: eu vivia.
Gostava de andar na chuva
Olhar o trem de longe, ouvir o sino na igreja
e os passos lá fora, quando era de madrugada
Nunca fui de espera ou de esperar
Pra falar a verdade, eu nunca fui de nada
Sonhava escrever poesia
Arquitetar um jeito de exprimir o que eu sentia
Assim como Deus é o Poeta
Que arquiteta a vida da gente
Numa métrica milimetrada
E que coloca, lá na frente, um tempo
Onde a gente passe a ver as coisas
De maneira que não voltemos jamais
A ser quem já fomos um dia
E nem nunca mudar nada, além de nós
As coisas que vemos ou não
Elas vão permanecer iguais
Antes...após!

Edson Ricardo Paiva.

⁠Confissão.

Hoje eu compreendo
Que errei muito
Errei, por não saber
Se soubesse
Talvez tivesse errado mais
Alguns de meus erros
Foram simplesmente bons
Se imaginasse
Teria errado novamente
Não somente os erros cometidos
Que hoje eu vejo
Como simples erros vãos
foram erros acertados, muito bons
Por não terem ferido a ninguém
Ninguém que não merecesse
Grandes erros
Não os cometi
Nem jamais o faria
Esses acertos também
Me fazem sentir
Muito bem, hoje em dia
Enganei-me aqui e ali
Enquanto isso, eu vivia
Errei algumas pedras
que joguei em passarinhos
Errei sobremaneira, no dia que decidi
Escrever minha primeira poesia
Errei em dividir muita coisa
Com quem eu, mais tarde
Fui ver que não merecia
Errei, por não ter escolhido outro caminho
Errei, por ter feito o que fiz
Em lugar de fazer o que eu queria
Errei ao dizer as palavras que eu disse
num momento em que não pensei no que falava
mas que eu fiz naquele dia
Se tivesse percebido a tempo
A paz que me faz sentir hoje
Errava mais, por Deus que eu errava!

Edson Ricardo Paiva.

⁠Fito.

Não me lembro se chovia ou não
Era só mais um dia
Todo aquele, que anda fora do quadrado
Há de lembrar-se assim
Tinha a escada, lá no fim da rua
Um caminho sem volta
Não me lembro se pisei devagarinho ou não
Era só mais uma estrada torta
e tinha outra ao lado
Dessas, que tem muitas, era sempre assim
Sinuosa como a vida
Todo mundo pensa
Em vencer o tempo um dia
Tempo que povoa nossa fantasia
Momento e momento sem conta
Voa ao vento
Coisa boa é ver o tempo flutuando
Que, voando lento
Atento, te desmonta
Nem dá tempo de pensar
Não pense
Pise bem devagarinho a vida.
Confia no tempo, ele espera
Era ainda de manhã, bem cedo
O caminho era sem volta
Segredo, que a palavra vida abrange
Quando é a gente que flutua
Pra um lugar chamado longe
Mesmo perto
O destino põe deserto intransponível ali no meio
Pois domina a arte, essa desconhecida
De partir e repartir o tempo
O lenço, aceno, a despedida
O incompleto e o pleno
O atalho, o orvalho, o sereno, a madrugada
E, volta e meia... a vida alheia
Grasna, a gralha
Queima a ponte, o ninho, a palha
Torna sem retorno esse caminho
Mente descontente:
O morno, o incipiente que povoa a nossa fantasia
Voa ao vento a vida à toa
Flutua até a lua, beija e volta
Noite e meia, olha de longe
Luz do sol, essa que dourava a pele
Toda vez, agora agoura
Lírico empirismo
Limite do que não se vê
Se havia um fito na existência
Era do espírito
A vivência de saber ser leve
É hora de aprender, se apresse
A beleza da vida, em resumo, era essa
O tempo, em seu vagar garboso de aprumado
Não deu tempo de pensar, não pense
O tempo brumo, impiedoso
No final, te vence.

Edson Ricardo Paiva.

A árvore cresceu
Ontem
Era somente
uma semente
Que brotou
e floresceu
A árvore deu frutos
Galhos e folhas
Cai a chuva
e tudo molha
A árvore
tá linda
e há de crescer
muito mais ainda
A árvore
Alimenta o beija-flor
Alimenta o bem-te-ví
Alimenta o homem
Aumenta de tamanho
a cada ano
E mais insetos
mais pássaros
e mais seres humanos
dela comem
E sob a sombra de seus galhos
Se abrigam do calor
A aranha vem morar
As abelhas vem buscar
Algo doce
Em sua flor
Fazem ninho
Nos seus galhos
Com as folhas
Que dela caem
E assim a árvore espalha
Humildemente, com sua bondade
Um pouco do amor
Daquele que criou
Todos os insetos
e frutos
e pássaros
e flores deste mundo
Mas um dia
Tudo precisa partir
e assim como tudo se vai
A árvore cai
Ficam no chão
Muitas sementes
Outras árvores crescem
Resplandecem
E os seres da criação
Vem beber das suas flores
Novamente.

edsonricardopaiva

Eu não gosto nem de lembrar
do dia que conheci a vida
Eu fiquei assim, meio na dúvida
Se vida era um lugar
uma pessoa
ou um pensamento pensado à toa
enquanto na sala de espera
Não sei nem se bem vida ela era
Me lembro que ouvia falar
Que era linda
Mas isso dependia
de que forma a gente a olhasse
Acho que foi por isso
Que no dia em que a olhei
Face a face
Percebi que nela havia
uma certa graça
Mas nada que não se desfaça
Com o correr dos dias
Enquanto ela se revela
Hoje eu penso que ela podia
Ser tão bonita
Mas eu sinto que ela se irrita
Quando ouve alguém dizer
Que a vida é bela
Essa vida irritada, agora
Me faz olhar pra ela e sentir
Vontade de dizer
Que por ela não sinto nada
Talvez, quem sabe
Uma ponta de saudade
do tempo que ouvia falar
Mas não a conhecia de verdade
É por isso que agora
Nada me dói saber
Que por mais ameaças
de ir embora, ela faça
A maior parte de mim
Já passou pela porta
E a parte que ficou
A bem da verdade
Nem se importa.

Edson Ricardo Paiva.

Eu não sei escrever
poesia bonita
Como as fazem os poetas
Mas a minha é sincera
Tão fingida
e mais mentirosa
Que as deles
Do jeito que se espera
Quando se lê poesia
Um pouco de versos
Um dedo de prosa
E inverdades
Das quais lanço mão
No formato de poesia
Deixo-as aqui
Pra não usá-las
no meu dia-a-dia
Diferente dessa gente
Que traz na ponta
da língua comprida
E não tem paz na vida
Se não conta.

Edson Ricardo Paiva.

⁠Vida
Minha linda
Apenas vida
À duras penas
Vivida
E linda
Foi a história vivida
Sem grandes lances
Isenta de grandes chances
Muitas vezes ilusão
Sem céu e sem chão
Sem grandes vitórias
As perdas e derrotas
Também foram lindas
Na glória da minha vida
Pois só eu a vivi
E apesar de tudo que perdi
Ela não foi perdida
Foi linda
E ainda tem um pouco mais
de vida pra ser vivida
Vivendo essas coisas
Mudanças de vida
Vida à toa
Boa vida
História de vida
Memórias
Vida que começa
Sem pressa
E não espera
Quando a gente menos vê
Ela acelera
E lá se vão as primaveras
Lindamente sofridas
Neste infindo buraco sem fundo
Que ainda chamamos de mundo
E um dia, lá no fim
Onde finda a linha da vida
Pouca coisa foste, além de linda
Eu sei que serás esquecida
Porém, se assim fosse
Não serias vida
Saibam
Que eu nunca deixei de vivê-la
E, só o fato de tê-la vivido
Nos momentos que parece não valer mais nada
Sim, a vida os tem pra cada um de nós
Mas nunca eles vem sozinhos
Trazem junto uma pequena chama
Pra que a gente aprenda
Que é preciso sempre alimentá-la
E que é ali
Que existe um Deus
Voz suave, que nos fala o tempo todo
Que, apesar de tudo
Humilde, não te impõe nenhuma condição
Nem prova...só chama baixinho
Apenas diz, que nada está perdido
Antes ... se renova
Quando tudo chega ao fim
Ainda assim, pense em quê te faz feliz
E corra atrás, não morra de vida
Viva.

Edson Ricardo Paiva

Sobe
lá no alto
Da melhor lembrança
Que tiver da vida
Mira-te
No mais claro e cristalino espelho
Busca calmamente
E responde a justa verdade
Pra teu coração somente
Enquanto a verdade é ainda oculta
Busca
Como no acalmar da lua
Quando a lua
Encara o mar sereno
Com o seu mais puro e pleno olhar
Se acaso desencontrar
Sobe mais no alto ainda
Relembra como era linda
A esperança
De uma hora poder ir até lá
No alto da melhor lembrança
E encontrar somente
Espelhos claros
Pra teu coração poder se olhar
Num difícil e mero olhar sincero
As flores partem junto à primavera
Impossível é negar-te eternamente
Pois a vida não é como o mundo a vê
O mundo é como a vida o vê
E nenhum dos dois é dono da razão
Diferente é a busca
Então
Se em algum momento
Não consegues mais admirar-te
E se vir somente
Olhos vermelhos de um tristonho olhar
Desça
Retome o caminho
E o refaça
Enquanto existe em ti
Ainda um traço de esperança
De modo a não guardar apenas
A lembrança de jardins distantes
Pequenas flores que sequer colheste
Percebe agora que viveste
Porém
Sem a graça da vida
Constantemente oculta
Dentro de você
Que nenhum caminho te mostrou
Há uma semente seca e morta
Escondida no mirar
O olhar que teu olhar não olha
Uma flor que teu chover não molha
O nome dela é alegria
E que apesar de morta
Morre e morre novamente
Todo dia.

Edson Ricardo Paiva.

⁠Eternamente.

Está tudo na balança
O passo do universo
Dança entre o concreto e o aço
Arquiteta espaço entre as estrelas
Exatidão termina
Onde germina a escolha
e recomeça na colheita
É preciso olhar a casa
Alguns instantes, dentro
Antes de abrir as janelas
Toda vela içada
Há de soprar pra todos
O seu vento ou não devido
Sem ruido ou pressa
Aos pássaros, eternamente
O céu nosso de cada dia
Sem nenhuma garantia que é de sol
Não importa quantos cravos há
Sempre haverá mais rosas
Ela nascerá mais linda
Às roupas no varal
Um pouco mais de Sol te resta
E se ajeita, ainda
Pra toda dúvida, uma incerteza
Migalhas no caminho
Nunca vão fazer ninguém voltar
Muda a estação, folhas vivas
Pra morte, o facão
O tempo, o vento e o chão
Uma fase vivida, o momento
Pra qualquer quase vida,
a diária desistência
Igualmente contrária
Resistente, existe
Se houvesse algum pranto escondido
Assim permanecesse
Cada coisa em seu lugar
Quando a palavra
Que apesar
De repetidas vezes repetida
De repente
Ela não for ouvida
Grita mais alto a dor devida
Ao tenor, o contralto
O verso ao avesso
Uma grande verdade apenas
Partida em milhões
de mentiras pequenas
Em cada cor, a parcela de luz que lhe cabe
À escuridão, a vela
À vela, o vento.
A lição que te cabe, aprendida
Não dá pra entender quantas outras
Nunca tomaremos tento
Isso, é só Deus que sabe.

Edson Ricardo Paiva.

⁠Uma tarde de fevereiro.

Agora, é como se eu sentisse
Que agora sei de tudo
e que aprendi
Como se fosse
De novo os doces velhos tempos
Que olhava em volta e me iludia
Alegria de infância
Ver a lua atrás das nuvens
Quando a luz do dia não permite ela brilhar
E era como alguém comum
A andar na rua
E que nunca lutou numa guerra
Mas que sempre se molhou na tempestade
E tinha a chave que abria a porta
Ela não abria
Andou descalça em algum momento
E que valsou sozinha, diante do espelho da vida
E que ficou vermelha, por vergonha de si mesma
Que era por ninguém saber
O tanto que ela sabia
E sabia consertar a cerca
E sabia misturar e misturava as cores
Que, em resumo, era esconder a dor
De andar sem rumo e sozinha
Numa estranha e triste solidão
Que, quem sente, sabe que ela existe
Repleta do saber
Que vem depois de tanto a dia amanhecer
Da lição não aprendida
Quando encontra uma pena de anjo
Depois de tanto ir lá
Sem rumo e em vão
E descobrir
Que lá não tinha nada
E que todas as flores secam
Mas nem sempre o espinho precisa ferir
Houvesse alguém pra te dizer
Se eu puder ajudar, me avisa
E te acompanhasse, sob o mesmo guarda-chuva
Regar junto pela vida afora, as mesmas flores
Cultivá-las é como à lição
De misturar a cor da lua à luz do dia
E ver dissipar-se o vapor que colore
O ar da cidade após a tempestade
Olhar o mundo da altura da lua
Só que, dessa vez
Enxergar a verdade
Sem precisar
Esconder-se... atrás da doce loucura
De dizer que o Sol foi lá no fim do dia.

Edson Ricardo Paiva.