Coleção pessoal de angela_beatriz_sabbag

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Nesses dias, aquietada à deriva do curso desse rio, contemplativa, vazia das questões impostas pelo cotidiano, fito o céu que murmura azul, vejo o sol como se estivéssemos sendo apresentados, e não consigo calar a única verdade que eu não queria mais ouvir: ainda amo você!

⁠Escrito nas Estrelas
Eles já eram amigos virtuais há um certo tempo mas nunca se aproximaram, a não ser por intermédio de uma disputa de músicas que faziam online. Não moravam na mesma cidade, tampouco no mesmo estado, e havia entre eles um diferença econômica abissal.
Certo é que numa certa noite ele veio falar com ela e perguntou se ela não tinha uma amiga para apresentar para ele, pois ele havia terminado um relacionamento de longa duração. Ela aproveitou o ensejo e fez eco a pergunta dele. Ambos riram, e depois ela percebeu que ele lhe fizera essa pergunta para saber de maneira discreta se ela era comprometida. Isso ela percebeu porque no mesmo instante que ela lhe fizera a mesma pergunta ele começou a fazer-lhe a corte.
Dessa noite em diante nunca deixaram de se falar um dia sequer, e à medida que iam conversando e se revelando mais e mais um para o outro, parece que a admiração recíproca que mantinham só ia aumentando.
Tenho a impressão de que a mulher transforma o sentimento da paixão em amor muito antes do que os homens, tanto é que ele ainda estava no auge da paixão por ela e ela já vivia suspirando pelos cantos de amor.
Como não se encantar por um homem com quase a mesma idade que ela, um ou dois anos mais jovem apenas, que lhe declarava sistematicamente que não suportava menininhas, que gostava até de mulheres que fossem muito mais velhas que ele, como não se apaixonar de imediato por um homem que pensa e age como todos os heróis românticos mais desejados por onze entre dez mulheres. Um homem ocupadíssimo que deixava o motorista esperando-o somente porque preferia falar com ela a apressar-se ao encontro de outros empresários, quando esse encontro, como tantos outros encontros empresariais, com certeza renderia muitos mais milhares de dólares na conta bancária dele.
Sinceridade também é artigo de luxo, e ele a presenteava sempre com tal raridade. Até lhe contava que o estava aguardando em sua sala a ex que queria a todo custo vê-lo. Passado o tempo, vinha ele dizer que se sentia muito mal por não querer mais nada com a ex, era ele o tipo de pessoa que sofre muito por ter que magoar alguém.
Ele era absurdamente rico, status que ela já possuíra num passado remotíssimo. Além de morar num elegante endereço, num lindo imóvel, é óbvio que ele, por ser inclusive empresário do ramo automobilístico tinha vários carrinhos na sua coleção. O moço tinha também seu próprio helicóptero e queria enviar presentes caríssimos para ela todos os dias daqueles trezentos e cinquenta e cinco.
Passaram esse ano todo de convivência marcando e ansiando por um encontro que nunca aconteceu. Ele descobriu que estava doente e ficou muito deprimido. Ela, com muita cautela perguntou que doença o houvera acometido, pois pelo estado de ânimo que ele ficou ela poderia jurar que ele descobrira sofrer de algum tipo de câncer. Ele negou sempre, não que ela tivesse perguntado diretamente, mas pelo que ele ia relatando. Sofreram os dois por um longo período dessa curta história, o que certamente obstou que se vissem face a face. Ele telefonava sempre, eles gostavam muito de ouvirem a voz do outro, e isso, naquele momento era o que de mais próximo eles podiam ter de intimidade.
Tudo que ele displicentemente ia contando a ela sobre sua vida a encantava, a deixava com o aspecto aparvalhado de mulher apaixonada. Ela ficara para morrer de dó quando ele lhe contou que fora buscar uns amigos no aeroporto com seu carro blindado, mas enquanto estava colocando a bagagem dos amigos no porta-malas, todos desguarnecidos de qualquer blindagem, foram rendidos e roubados por três homens armados. Ela falou para ele ver o lado bom: ele estava são e salvo, assim como os amigos os quais ele buscara no aeroporto. Esses romances são maravilhosos, pois mesmo que o encontro não aconteça, a mulher e o homem se sentem mais bonitos, poderosos, importantes, e isso melhora muito o viço da pele e aumenta bastante o brilho do olhar.
Certa feita, tendo ele viajado para uma cidade próxima, dirigindo o novo brinquedinho que acabara de adquirir, foi relatando a ela a viagem em tempo real, e ao chegar ao litoral e sendo quase impossível conseguir sinal de celular, o belo foi caminhando na praia até que conseguiu fazer uma ligação para sua paixão. Ela sentiu-se querida, não diria amada porque não é completamente louca. Mas claro que ela já o estava amando como nunca houvera amado antes. Acho que é completamente louca sim.
Sei que ambos passaram o ano cuidando de suas respectivas saúdes, e por isso foi impossível eles se verem. Mas já estava acertado que ele iria ao seu encontro assim que acabasse de refazer alguns exames, e isso já estava mais próximo do que possam imaginar.
Já ouviram dizer que a vida é caprichosa? Ela pode comprovar que ela é. Certa manhã, ao conectar-se com o mundo por intermédio da rede social, quase caiu para trás da cadeira na qual estava sentada...não, não podia ser! Certamente ainda não havia despertado, com certeza seus olhos estavam a pregar-lhe uma peça, começou a ler uma enormidade de condolências, um monte de amigos incrédulos, bastante elogios ao amado... epa, será que era o que parecia ser? Teve vontade de se beliscar, de enfiar a cabeça debaixo de água gelada, mas por quê mais água gelada? Já não bastava o enorme balde que ela acabara de receber contra todo o seu corpo e contra toda a sua alma?
Ela até que se recuperou surpreendentemente rápido demais, talvez tenha preferido agradecer a oportunidade de ter vivido um ano tão mágico ao invés de blasfemar contra a sorte. Estava escrito exatamente assim nas estrelas, então é assim que tinha que ter sido.

Orgulho. Claro que não deve ser uma qualidade, talvez seja até um pecado. Bem, o orgulho como soberba, como característica que não deixa o indivíduo demonstrar fraqueza e nem a necessidade de cooperação, com certeza é uma característica má. Confesso que possuo esse orgulho, mas sou eu quem sofro com ele. Não deixo transparecer que careço de ajuda, mas se a obtenho pela sensibilidade de quem convive comigo ela é sempre muito bem aceita, e mais, ela forja em meu espírito uma gratidão eterna.
Estou tão sozinha como só me lembro de ter estado numa certa fase da adolescência, e a maior dádiva para mim nesse momento, seria estar cercada de amigos, como estava nesses recentes últimos quatro anos. Estou cercada ainda de pessoas que me querem muito bem, que são carinhosas e presentes, mas infelizmente todas elas e eu atingidas pela doença virtual.
A solitude é algo que me é necessária, mas a solidão? Ah, esta está me matando diuturnamente.

Se não quiser que eu lhe ame, nem passe pelo meu caminho...tenho a mania horrível de amar as pessoas!

Furtaram-me afagos e afetos.

Estou com fome de vida, sede de vida...
Quero a natureza brincando comigo, as estrelas e as luas compartilhando os meus sonhos que sonho acordada, o sol ardendo em mim, a brisa despenteando os meus cabelos.
Quero o cine, o teatro e os shows. Quero as corridas no parque, as danças ao som das músicas que amo, o "vis-à-vis" na mesa de barzinhos e restaurantes. Quero as brincadeiras das crianças e o fazer amor dos adultos...simples assim!

A polidez no trato humano tem suas regras e suas frases feitas. As frases são ao melhor estilo para-choque de caminhão, há uma na medida para cada ocasião.
Atualmente dizer que está com saudade é tão vazio quanto um incerto apareça lá em casa...e cada um anda tão imerso em seu próprio ego que o outro tornou-se transparente. Tanto é que eu não reparo que meu amigo está definhando, sua solidão o está levando ao cadafalso e não ouço seu grito silencioso de socorro. Constato hora dessas que o amigo partiu, foi habitar além das nuvens e me acho no direito de chorar. Não tenho direito ao pranto e nem das palavras para descrever o defunto, pois dele eu não era nada, quando muito, não passava de um conhecido.

Ela vibra, dança, comemora, brinca, ri, sorri...
A pele é boa, não tem vincos. Mas a fisionomia entrega a sua idade, talvez pareça ter um pouco menos, talvez pareça ter um pouco mais, mas o fato é que já deu a largada para a velhice. E assim vai caminhando pela estrada que lhe resta.

Não me leve tão a sério. Não me leve nada a sério. Sou dessas pessoas leves, livres e soltas.

Pessoas ególatras e egocêntricas são de difícil digestão, mas os melindrosos, ah, creio em Deus Pai, são intragáveis.

Mas não é que eu queira apenas chorar. Quero ficar desidratada, tão seca que desague morta.

Assuntos não esgotados, dúvidas não esclarecidas, a palavra que não foi dita, o sentimento que ficou sufocado, todas essas coisas me matam em conta-gotas. Não suporto o vácuo, o abismo e o por quê.
Estou a espera não de um milagre, mas de uma atitude digna de quem um dia foi e me fez sentir muito importante.

Simone, sentada à mesa daquele café remetia imediatamente a quem lhe observasse para a década de 20. A decoração do local, o uniforme dos atendentes, os trajes que a própria Simone vestia, enfim, até a fumaça que subia do cigarro que ela fumava parecia escrever no ar o numeral 20. O importante é que ela se sentia bem naquele cenário, aliás aquele lhe parecia ser o único cenário condizente com a sua pessoa.

Agora já não era mais questão de escolha, tinha que me animar e encontrar a outra eu, a usurpadora da minha alegria, da minha autoestima sempre altíssima, da minha sempre presente disposição para brincar. Distraí, baixei a guarda, e quem nunca pude supor querer apropriar-se de minhas melhores qualidades pegou-as todas para si. Isso tudo apesar de ela e eu sermos uma só, uma pessoa teoricamente indivisível.