Coisas que Ficam para Tras
Carta para dizer que eu ainda te amo.
Eu sei que você detesta quando eu escrevo e foi por isso que decidi me despedir de você. Por saber que você não vai ler. Eu não saberia dizer isso olhando para dentro de você. Sou covarde, sabe?
Só queria te dizer que você me ofereceu coisas maravilhosas, me ensinou coisas para vida, me fez sentir viva e me fez viver um grande amor. Ainda não descobri como você chegou, nem como apareceu na minha casa. Tenho certeza que não te liguei. Também não consigo entender como consegui te fazer permanecer, meu jeito desarrumado não facilita muito meus romances. Você era a estante e eu era aquela montanha de livros empilhados, saca? Mas você ficou e parecia querer continuar, onde até eu teria desistido de tentar arrumar a bagunça.
Eu me apaixonei em cada mensagem, me encantei com tua criatividade. Passados quase três anos, esse encanto apenas aumenta. A distância me leva para longe, mas o meu bem-querer me trazia de volta. Eu sei que sou clichê, como você mesmo diz que todas as garotas são. O equívoco é esse: todas as mulheres apaixonadas são garotas clichês vistas em filmes adolescentes. Mas um dia você vai entender que amor “abobalha” as pessoas.
Eu dei meia volta algumas vezes, mas nunca te deixei de verdade. Nesse meio tempo, houve rosas, raivas, beijos, mágoas e abraços de urso. Você se tornou meu porto-nada-seguro, mas ensinou que Merthiolate nas feridas não precisa ser mais doloroso. Foi você quem cantou para mim no telefone quando meu mundo e o de todo mundo que me rodeava tava desabando. Eu tinha que ser forte, mas não era. Você cantou para mim e de repente, a paz invadiu o meu coração. De repente se encheu de paz, como se um vento de um tufão arrancasse meus pés do chão. Depois de muitos dias doente e tendo que parar no soro, foi você quem me mandou uma mensagem dizendo que anjos não adoecem, mas descansam suas asas para poder voar novamente e abençoar as pessoas.
Naquele baile, você me tirou para dançar. Aquelas luzes, os papéis caindo e você comigo. Não poderia ter sido mais perfeito. Seus braços na minha cintura e os meus no teu pescoço, como num laço ou enforcamento desastrado, e eu não conseguia pensar em nada. Nada mesmo. Eu tava ali vivendo, dançando, olhando para dentro de você e não pensava. Acho que meu modo automático me mantém afastada da solidão e me traz para perto. Acredito que você não tenha reparado na música que tocava na hora, mas a mulher que cantava, dizia que há mil anos ela vinha amando aquele rapaz e o amaria pelos próximos mil. Abraçada a ti, eu só respirei fundo e me deixei levar.
Queria que você soubesse que estando juntos ou não, você será sempre meu amor. Vou sentir inveja de qualquer mulher que cruzar a minha visão periférica com você e fingir que queria o sapato dela, mas meus olhos, meus cachos, meus lábios e a palpitação não mentem. E prometo seguir teus conselhos. Eu vou conquistar o mundo, pode deixar. Vou descobrir lugares, mundos e outros universos para imaginar onde a gente poderia ter se amado por mil anos a mais.
Tô aqui rezando pra não ser o que tô pensando porque eu não suportaria ter que deixar você ir, ter que deixar você parado numa rua pouco movimentada, debaixo de uma chuva qualquer no verão, sem abrigo ou piedade, só pra eu explicar pra mim mesmo que amores serão sempre amáveis, mas você passou e agora resta o fim.
"Então você me diz qualquer bobagem e eu não entendo de novo... Mas rio. Rio porque rir sempre foi a melhor forma de contornar a minha vontade de chorar. Aí eu engulo, mando garganta abaixo a ânsia de enroscar meus braços no seu pescoço e pedir: por favor, eu. Por favor, me escolhe."
Então me deixa ser claro e te explicar uma coisa: corações partidos são reparados com o tempo, com o acaso, com técnicas que a gente nem sabe se funcionam, mas tenta. Acho que na verdade eles se curam da tentativa. Ou nunca curam, a gente que consegue mentir bem pra gente e acredita. Cê mente bem? Mente pra si, mas não tenta mentir pra mim porque eu quero ajudar. As coisas aí dentro tão meio dilaceradas, tua bússola não funciona mais, não dá mais pra apontar pro norte. Então vai pro sul. Vai sentir algo gelado, frio, que peça abrigo e não dê. Sente um pouco do escuro, chora, vai, chorar faz bem e lava o rosto, deixa tuas marcas nas olheiras e põe pra fora. Eu acho que a gente não cura, a gente drena. Drena a tristeza e drena todo o resto até perceber que secou e pronto. Depois de secar, você volta aqui e me diz que não arde, mesmo que esteja ralado. Me diz que montou a bússola no sul e que aquilo lá virou um norte. Isso acontece muito, essa coisa da gente se reinventar, se realinhar, se descobrir do avesso. E faz bem porque a gente explora o tato no escuro. A gente explora os sentidos e põe o instinto pra funcionar mais do que o pobre coração.
Dia desses você volta e redescobre esperança no meio da dor. E me conta que era impossível ter visto antes porque a gente não enxerga bem quando é escuro. Me diz que não sabe pra onde ir, mas que agora a sensação é diferente: você quer ir. Talvez queira ir pra um lugar que não parecia claro, exato, bacana ou coisa e tal. Mas as suas coordenadas mudaram, tua tatuagem é outra, teus modos descobriram um novo jeito depois de drenar a angústia de um coração partido no passado.
Me liga quando o sorriso não tiver cabendo no rosto e você quiser compartilhar com alguém o riso e os lábios. Liga pra dizer que tá meio tarde e você não tem onde ficar e pergunta se pode cair lá em casa. Sempre tem espaço pra você mesmo que não haja espaço pra nós dois no mesmo lugar. Sempre tem um pouco de mim deixando você chegar pra me provar que a vida é maravilhosa, como você diz. Me liga, mesmo que seja pra me acordar. Eu juro que não fico bravo com a tua voz – e não fico mesmo. Me liga pra ficar em silêncio e cair em prantos soluçantes… É que o teu choro é mais gostoso que a chuva caindo lá fora e eu prefiro te ouvir falando dele a passar a noite sozinho.
Me liga mesmo que não for pra me pedir abrigo. Ou pra brigar comigo por não ter aparecido no seu aniversário. Eu costumo mandar os presentes por correio porque não ia aguentar ver aquele agradecimento sinceramente amigável brotando do seu rosto. Liga e eu te apresento um amigo. Alguém muito melhor que eu enquanto eu morro por dentro de ciúmes de você. Enquanto eu fico parado, numa mesa de bar, ouvindo os seus mundos colidirem. O meu mundo se destroça e você nem sabe disso. Nem sabe que toda a minha angústia é por conta dessa confusão toda que você provoca em mim. E eu continuo te apresentando a homens melhores, romances menores e sou sempre o último a ficar aqui por você. Dentro do carro. Sozinho. Ouvindo alguma balada numa estação de rádio que poderia ser a nossa se você não preferisse pronomes pessoais de terceira pessoa. Me liga pra eu me autossabotar mais um pouco e jogar você pra mais alguém que não seja eu. Porque eu gosto de ser triste – ou porque eu tenho um medo gigante de perder você ao admitir que sem você a casa é fria.
Me liga pra eu escrever alguma coisa. Num papel de pão mesmo. Ou num post-it da tua geladeira. Eu passo de manhã e levo geleia de morango e leite desnatado. Eu já tenho a chave que menos me importa mesmo. Liga e diz que vai embora. E que não vê a hora de se despedir. Me liga, mas não vem com beijo na testa. Não me interessa. Eu só queria você aqui. Vem um dia desses e diz que quer uma revolução na tua vida. E olha direito – porque eu acho que os seus óculos ficam sempre embaçados quando você tá comigo, e só isso explica o porquê de você não me ver. Podia ser eu e você nunca vai saber disso. Pra ti eu sou o porto seguro em cada estação. Até quando eu for embora. Sem nem dizer a hora. Sem nem dizer o porto e sem nem dizer que eu vou me afogar depois de algumas centenas de metros rasos longe de você. Me liga e pede – de verdade – pra cuidar de você. Com pressa. Sem essa de que você tem muito a perder se tirar os pés do chão comigo.
Me liga e me diz que eu sou o amor da tua vida. Que tu acordou hoje e percebeu que esse tempo todo sou eu ali do lado, mendigando amor e um pouco de atenção. Liga e diz que encontrou as fitas, os vídeos, os livros e tudo mais que eu te dei porque me lembravam você. Liga e diz que não tem mais briga, nem lamento, nem história nenhuma com eles que eu tenha que ouvir. Me liga pra dizer que passa aqui de manhã cedo e que vai me acordar com um beijo pra me espantar da solidão.
"Portos seguros, geralmente, não têm a mesma graça que uma boa tempestade."
"Sem nada que justifique essa manha de sempre ligar e jogar pesado para te fazer voltar aqui – e concluir no minuto seguinte que a gente não dá certo junto pela milésima vez."
"Gente que vai parar num canto e chorar até desabar pra acordar melhor no dia seguinte. Gente fraca (mesmo) que aprendeu a ser forte por causa do amor..."
"E do nada eu percebo que você já não me incomoda tanto assim, que eu consigo acordar e passar por você sem ter um aperto, sem me sentir perdido, sem ter nó na garganta e uma crise de alergia pra disfarçar as mãos suando e o efeito da sua presença. Do nada passa e é tão estranho quando passa."
"Eu bebi pra ver se o mundo rodopiava na minha frente e me deixava de frente pra alguma versão de você que me quisesse."
Eu nunca te vi, te cheirei e te ouvi. Mas já te desenhei, colei o teu retrato junto ao meu e aprendi a amar esses sorrisos que vêm na minha imaginação. É dessas histórias que nunca aconteceram e que a gente sabe de cor. De coração. - Daniel Bovolento
“Você resolveu ir embora de vez e se despedir da minha covardia. Justo!!! Também não gosto de gente indecisa que diz que ama e faz completamente o contrário... Não nasci pra ser segunda opção de ninguém... Olha pra mim!!! Você não tem culpa de não conseguir ver onde está o meu lugar."
Ele é todo esguio e escorregadio, me escapa pelas mãos e para na soleira da porta antes de me dar boa noite. Ele é uma agonia des-per-ce-bi-da que sobe, sobe mais um pouco, sobe até eu mandar parar e fica cutucando a garganta com marcas de mão no pescoço e no cabelo. Ele tinha tudo pra sufocar e não sufoca, me toca, me inspira e respira pra me botar no mundo de novo. - Daniel Bovolento .
"E diz pra mim onde eu encontro a tal borracha branca, onde eu arranco a folha, onde eu tomo o remédio certo pra apagar você como você fez comigo."
"E do nada eu percebo que você já não me incomoda tanto assim, que eu consigo acordar e passar por você sem ter um aperto, sem me sentir perdido, sem ter nó na garganta e uma crise de alergia pra disfarçar as mãos suando e o efeito da sua presença. Do nada passa e é tão estranho quando passa."
"Sem nada que justifique essa manha de sempre ligar e jogar pesado para te fazer voltar aqui – e concluir no minuto seguinte que a gente não dá certo junto pela milésima vez."
"Eu gosto do jeito que você tenta tirar a minha atenção quando paro tudo pra te olhar. Você precisa entender que te olho pra te decorar e te aprender, você precisa saber que te fotografo com meus olhos e isso não se nega a ninguém. Gosto do teu meio sorriso. Ele tem um ar de mistério, de algo que não estaria ao alcance do meu entendimento."
"Não sei a partir de quando eu comecei a me afastar de você, mas sei que naquela noite que você não me ligou, eu saí por aí e revisitei o mundo. E não senti tanta falta assim de você. Aquilo doeu, sabe? Sabe quando dói porque a brecha vai deixando escorrer o sangue todo até não sobrar mais nada? Eu tava assim."
Que eu possa te fazer sonhar. Que eu possa realizar os teus maiores sonhos e te consolar caso alguma coisa dê errado no meio do caminho. Que eu não saia nunca do seu lado, nem quando você pedir. Que os seus dias de TPM sejam lembrados com risadas e justifiquem aqueles quilos a mais que você ganhar com o brigadeiro. Que você chore bastante. Chore de rir, chore de saudades, chore de alegria.
"Me peguei perdido entre caminhos e escolhi alguns. Escolhi seguir naquilo que eu queria, ou acreditava, ou não sabia se seria o melhor pra mim, mas sempre botei cara, garra e coração na frente e deixei ser puxado. Coisas surgiram, e pessoas também. Coisas se desfizeram, e pessoas me desfizeram também."
"Você colocou suas expectativas nas alturas. Claro que a maioria das mulheres quer encontrar um cara que ganhe bem, more sozinho, tenha uma personalidade incrível e uma ótima relação com a mãe dele. [...] Claro que você pode ter sorte e encontrar um príncipe encantado, mas a estatística real indica que não."
"No dia em que você chegou eu não botei o lixo pra fora. Não varri nada pra baixo do tapete e nem escondi as fotos feias, não fechei o laptop com todas as abas abertas, não sumi com a pilha de louça na cozinha nem com as minhas camisas separadas por cor. A minha parte feia tava confortável com você e tirou a vassoura de trás da porta, foi gentil e nem se incomodou com o que você ia achar da minha bagunça. "
“Não tem como tratar como desconhecido quem um dia já foi alvo das suas cócegas, a tua ligação na madrugada ou o teu pedido de socorro. Não tem como passar uma borracha e seguir em frente por inteiro. Superar é uma coisa, esquecer é outra e apagar é um processo completamente impossível.”
"Pra você gostar de mim, eu dispenso o felizes para sempre, e tento fazer com você, o felizes por agora."
"Você deve se perder na bagunça dela. Ela é totalmente fora de ordem e gosta desse jeito. Vai dizer que você não se sente bem no caos que ela representa? O seu ritmo acelerado arranca caras e bocas de quem quer mais. É que ela brinca com você sem você se dar conta. Não é inocência, rapaz. É determinação mesmo."
"E ela já cansou de heróis, de resgates, dessa coisa toda de menina-mulher que todo mundo conta. Ela quer escrever uma história com você, sem você, por essa noite ou na manhã seguinte. Não importa. Só deixe que ela quebre as regras e o conduza. Ela vai segurar a sua cabeça e agarrar os seus cabelos com força. Deixar que ela seja convencional é uma afronta séria às características dela."
"Ela não fala pra você, mas ela sente. E não sabe que tem culpa das coisas continuarem as mesmas justamente porque não diz e não diz porque tem medo de mudar demais as coisas. Paradoxo indesejado. Não foi o que pediu no menu de entrada. Dá o jeito e limpa o que quase escapa da boca dela com o guardanapo."
"E do nada eu percebo que você já não me incomoda tanto assim, que eu consigo acordar e passar por você sem ter um aperto, sem me sentir perdido, sem ter nó na garganta e uma crise de alergia pra disfarçar as mãos suando e o efeito da sua presença. Do nada passa e é tão estranho quando passa."
“E diz pra mim onde eu encontro a tal borracha branca, onde eu arranco a folha, onde eu tomo o remédio certo pra apagar você como você fez comigo.”
"As coisas mudam, embora nunca tivessem sido diferentes. É só a nossa percepção que muda de lado. De amantes a semi-conhecidos declarados em guerra."
Ser feliz. E eu sei que parece bobo, mas é válido ressaltar. Na maioria das vezes a sociedade – e as redes sociais – parecem lugares em que todo mundo quer provar que é feliz ou que tem uma vida melhor que a dos outros. Não se sinta obrigado a participar desse jogo. Veja o que você já conquistou e se encante com isso. Encante-se com o que ainda pretende conquistar e entenda o contexto disso na sua vida. Forjar felicidade ou objetivos que não são seus nunca fez ninguém feliz.
Pois hoje emergi calçando salto 15, ombros muito para trás, porte ereto e saia justíssima. Nariz arrebitado. Pisando duro. Pensam que vão acabar comigo? Nunca!
Não desiste de mim. Por trás de tanta indecisão tem alguém que precisa de companhia mesmo fingindo que não. Tem alguém que odeia todo mundo num segundo e chora de saudades de todos no segundo seguinte. E de você principalmente.
O ser transcende a aparência! Assim que você começa a descobrir o ser que há por trás de um rosto muito bonito ou muito feio, de acordo com seus conceitos e preconceitos, as aparências superficiais somem até simplesmente não importarem mais...
POR TRÁS DA VIDRAÇA
Cá entre nós: fui eu quem sonhou que você sonhou comigo? Ou teria sido o contrário?
Sonhei que você sonhava comigo. Mais tarde, talvez eu até ficasse confuso, sem saber ao certo se fui eu mesmo quem sonhou que você sonhava comigo, ou ao contrário, foi quem sabe você quem sonhou que eu sonhava com você. Não sei o que seria mais provável. Você sabe, nessa história de sonhos — falo o óbvio —, nunca há muita lógica nem coerência. Além disso, ainda que um de nós dois ou os dois tivéssemos realmente sonhado que um sonhava com o outro, também é pouco provável que falássemos sobre isso. Ou não? Sei que o que sei é que, sem nenhuma dúvida:
Sonhei que você sonhava comigo. Certo? Não, talvez não esteja nada certo. Também não era isso o que eu queria ou planejava dizer. Pelo menos, não desse jeito embaçado como uma vidraça durante a chuva. Por favor, apanhe aquele pequeno pedaço de feltro que fica sempre ali, ao lado dos discos. Agora limpe devagar a vidraça — quero dizer, o texto. Vá passando esse pedaço de feltro sobre o vidro, até ficar mais claro o que há por trás. Lago, edifício, montanha, outdoor, qualquer coisa. Certamente molhada, porque só quando chove as vidraças embaçam. Será? Não tenho certeza, mas o que quero dizer, disso estou certo, começa assim:
Sonhei que você sonhava comigo. Agora penso que é também provável que — se realmente fui mesmo eu a sonhar que você sonhou comigo; e não o contrário — eu não estivesse sonhando. Nada de sono, cama, olhos fechados. É possível que eu estivesse de olhos abertos no meio da rua, não na cama; durante o dia, não à noite — quando aconteceu isso que chamo de sonho. Embora saiba que — se foi dessa forma assim, digamos, consciente — então não seria correto chamá-la de sonho, essa imagem que aconteceu —, mas de imaginação ou invento até mesmo delírio, quem sabe alucinação. Mas não, não é isso o que quero contar, O que quero contar, sei muito bem e sem nenhuma hesitação, começa assim:
Sonhei que você sonhava comigo. Parece simples, mas me deixa inquieto. Cá entre nós, é um tanto atrevido supor a mim mesmo capaz de atravessar — mentalmente, dormindo ou acordado — todo esse espaço que nos separa e, de alguma forma que não compreendo, penetrar nessa região onde acontecem os seus sonhos para criar alguma situação onde, no fundo da sua mente, eu passasse a ter alguma espécie de existência. Não, não me atrevo. Então fico ainda mais confuso, porque também não sei se tudo isso não teria sido nem sonho, nem imaginação ou delírio, mas outra viagem chamada desejo. Verdade eu queria muito. Estou piorando as coisas, preciso ser mais claro. Começando de novo, quem sabe, começando agora:
Sonhei que você sonhava comigo. Depois que sonhei que você sonhava comigo, continuei sonhando que você acordava desse sonho de sonhar comigo — e era um sonho bonito, aquele —, está entendendo? Você acordava, eu não. Eu continuava sonhando, mas na continuação do meu sonho você tinha deixado de sonhar comigo. Você estava acordado, tentando adequar a imagem minha do sonho que você tinha acabado de sonhar à outra ou à soma de várias outras, que não sei se posso chamar de real, porque não foram sonhadas. Mas, se foi o contrário, então era eu, e não você, quem tentava essa adequação — nessa continuação de sonho em que ou eu ou você ou nós dois sonhamos um com o outro. Nos víamos? Quase consegui, agora. Preciso simplificar ainda mais, para começar de novo aqui:
Sonhei que você sonhava comigo. Depois, fiquei aflito. E quase certo de que isso não tinha acontecido. O que aconteceu, sim, é que foi você quem sonhou que eu sonhava com você. Mas não posso garantir nada. Sei que estou parado aqui, agora, pensando todas essas coisas. Como se estivesse — eu, não você — acordando um pouco assustado do bonito que foi ter tido aquele sonho em que você sonhava comigo. Tão breve. Mas tudo é muito longo, eu sei. Estou ficando cansativo? Cansado, também. Está bem, eu paro. Apanhe outra vez aquele pedaço de feltro: desembace, desembaço. Choveu demais, esfriou. Mas deve haver algum jeito exato de contar essa história que começa e não sei se termina ou continua assim:
Sonhei que você sonhava comigo. Ou foi o contrário? Seja como for, pouco importa: não me desperte, por favor, não te desperto.
Não quero olhar para trás, lá na frente, e descobrir quilômetros de terreno baldio
que eu não soube cultivar. Calhamaços de páginas em branco à espera de uma história que se parecesse comigo. Não quero perceber que, embora desejasse grande, amei pequeno.
A vida é incontornável. A gente perde, leva porrada, é passado pra trás, cai. Dói, ai, dói demais. Mas passa.
Lugar ao Sol
Que bom viver, como é bom sonhar
E o que ficou pra trás passou e eu não me importei
Foi até melhor, tive que pensar em algo novo que
fizesse sentido
Ainda vejo o mundo com os olhos de criança
Que só quer brincar e não tanta "responsa"
Mas a vida cobra sério e realmente não dá pra fugir
Livre pra poder sorrir, sim
Livre pra poder buscar o meu lugar ao sol
Livre pra poder sorrir, sim
Livre pra poder buscar o meu lugar ao sol
Um dia eu espero te reencontrar numa bem melhor
Cada um tem seu caminho, eu sei foi até melhor
Irmãos do mesmo Cristo, eu quero e não desisto
Caro pai, como é bom o ter por quê se orgulhar
A vida pode passar, não estou sozinho
Eu sei se eu tiver fé eu volto até a sonhar
Livre pra poder sorrir, sim
Livre pra poder buscar o meu lugar ao sol
Livre pra poder sorrir, sim
Livre pra poder buscar o meu lugar ao sol
O amor é assim, é a paz de Deus em sua casa
O amor é assim, é a paz de Deus que nunca acaba...
O amor é assim, é a paz de Deus em sua casa
O amor é assim, é a paz de Deus... que nunca acaba
Nossas vidas, nossos sonhos têm o mesmo valor
Nossas vidas, nossos sonhos têm o mesmo valor
Eu vou com você pra onde você for
Eu descobri que é azul a cor da parede da casa de
Deus
E não há mais ninguém como você e eu