Coisas Novas
Temos que considerar que a mídia não projeta uma imagem sobre a sociedade tirada do nada. Todo o estereótipo criado pela mídia é retirado do real para transformar-se em simulacro da realidade.
Uma das grandes influências exercidas pelas novas tecnologias de comunicação é a de fazer com que as pessoas votem ou escolham algo muito mais pelo emocional do que pelo racional.
Muitos dos grandes líderes políticos foram fabricados pelos meios e suas imagens foram vendidas através da mídia ou assessoradas por ela.
Na Internet também não enxergamos os cidadãos reais, os seres humanos de verdade que estão atrás da máscara eletrônica.
Com o uso das novas tecnologias, o debate político não faz parte exclusivamente da vida pública, mas da privada.
O que há de novo, além do fato do homem projetar em si mesmo
a vontade de se comunicar com seu semelhante, desse sentimento do álter,
da busca do outro como elemento de complementação de si mesmo, de
compartilhar com o outro a sua forma de ser e estar no mundo? De falar de si
mesmo ao outro, usando gestos, palavras, códigos e até, quase de forma metafórica visual, de transpirar no computador?
O fato da revolução dos meios de comunicação vir precipitando no planeta uma sintonia entre países, só imaginada antes em obras de
literatura de ficção científica, não esclarece ou mostra que as prioridades
políticas do século XX são de ficção científica também, nem que a modificação na relação tempo-informação muda a relação desenvolvimento sociedade.
Apesar de algumas vezes gastarmos nosso tempo com uma série de descobertas e invenções que nem sempre resultam em inovações
positivas para o mundo, em outras ocasiões estas mesmas descobertas são reveladas a partir de fases negativas da humanidade, caracterizadas por guerras, chacinas, e outras barbaridades, provenientes da natureza humana.
Nos países de Terceiro Mundo se vê que cantores sertanejos e jogadores de futebol vão se tornando classes emergentes, enquanto professores estão cada dia mais pobres. Ilude-se o pai que acha que, comprando um computador para seu filho, está garantindo a ele um futuro melhor. As coisas não são tão simples assim, e esta é uma das tantas questões do porque a política é fundamental.
Quando o país esteve mergulhado em um período de massacre social
como o da ditadura, podemos indagar porque se correu coletivamente para
processos de catarse. Acredito ser este um fenômeno relacionado à Internet de
hoje. A Internet é a catarse do momento, como o futebol foi na década de 70, e como o LSD foi na década de 60, bem como a ideologia do paz e amor.
Se pensarmos nos fenômenos da bossa-nova, do movimento hippie, da jovem-guarda, tudo poderia ser visto como desabafos coletivos. Até os movimentos darks e punks na década de 80 na Inglaterra nos ajudam a diagnosticar que, quanto mais a sociedade se encontra reprimida, mais ela parte para os processos de catarse.
Foi no auge do tacherismo que os darks e punks nasceram. As
pessoas fogem da realidade porque a realidade não dá segurança e conforto
às pessoas. Nem sempre elas são manipuladas ou alienadas; muitas vezes guardam seus problemas na memória, como se fosse uma gaveta trancada onde os mesmos se armazenam. Elas podem autoalienarem - se ou estarem
predispostas a serem alienadas, segundo a vontade dos meios de
comunicação, do sistema ou do governo.
Mesmo conhecendo inconscientemente o que é real e o que não é, preferem a irrealidade, por ser mais cômoda e menos traumatizante para elas.
Seria desejável que estudos futuros analisassem algumas semelhanças entre os jogos lotéricos e a Internet, porque o próprio processo dos sorteios seria alienante, e o próprio ato de jogar seria uma catarse, com as pessoas apostando porque precisam sonhar com uma realidade que elas não
podem alcançar.
O que é importante ressaltar é que todas as evoluções precisam de mão-de-obra qualificada, especializada, não sendo possível que se tenha desenvolvimento tecnológico por livre ação da invenção tecnológica, só através da técnica. Mas, é preciso preparação cultural para atender à demanda mercadológica
É como se as novas tecnologias de comunicação criassem o pecado de ter menos sacrifício quando se trabalha. Como se as novas tecnologias entendessem de alma humana, despertando no homem o
sentimento de que o trabalho, cada vez menos, se identifica com o ofício de
“bater ponto” e, cada vez mais adquire o aspecto dionisíaco dos personagens
de livros, do cinema e da tevê.
O homem, com o advento das novas tecnologias, passou a ser uma espécie de agente dependente de sua própria evolução, e as novas tecnologias dos meios de comunicação fazem o papel de verbalizar o contexto de poder, enquanto exercem o poder sobre a própria criação do poder materializado pelo ser humano.
A avaliação é de que o poder político está mudando de polaridade com a influência das novas tecnologias de comunicação, e os espaços públicos reais estão cada vez mais transformando-se em lugares sites virtuais. A dúvida, agora, é: como será possível que este mesmo poder
político seja materializado nos meios eletrônicos com a mesma intensidade e
com a força da representação política popular do modo tradicional?
O espaço público se minimiza com as novas tecnologias, mas o poder político se amplia pela necessidade da globalização. A exposição do olhar na tela do computador ou da tevê é um reflexo político, em que se
reservam valores intrínsecos da forma de enxergar a realidade ao redor de
cada um, e interpretá-la de forma coletiva. A imagem política é cosmopolita, o
que muda é a forma de se dirigir o olhar como um ato político, que se torna
local.
O desnudar e o transparecer do espaço público por meio da mídia moderna se condensa na atitude de “voyeurizar” um futuro e torná-lo pressuposto da realidade. É através desse desnudar-se que as novas
tecnologias causam nas mídias de todo planeta ocorre a perda da auto defesado receptor em relação ao conteúdo nato da mensagem, e o torna um consumidor de idéias adotadas e não das progênitas.
