Clarice Lispector quando se Ama não
Dois é melhor
Porque um pode olhar
Mas só os dois podem observar
Um pode caminhar
Mas os dois podem desfrutar da caminhada
Um pode falar
Mas os dois podem dialogar
Um pode chorar
Mas apenas dois podem consolar-se
Dois é melhor
Porque um pode se alegrar mas só os dois podem fazer um banquete de alegria
Um pode suportar o fardo
Mas apenas dois tornam o fardo leve
Dois é melhor
Porque um pode brilhar
Mas os dois podem resplandecer
Dois é melhor
Porque um pode tropeçar
Mas estando os dois poderão levantar-se um ao outro
Um pode somente ver o lado escuro de uma situação
Mas os dois podem enxergar o que estava obscuro
Dois é melhor
Havia um mal-estar no vagão. Como se fizesse calor demais. A moça inquieta. Os homens em alerta. Meu Deus, pensou a moça, o que é que eles querem de mim? Não tinha resposta. E ainda por cima era virgem. Por que, mas por que pensara na própria virgindade? (...)
Então os dois homens começaram a falar um com o outro. No começo Cidinha não entendeu palavra. Parecia brincadeira. Falavam depressa demais. E a linguagem pareceu-lhe vagamente familiar. Que língua era aquela?
De repente percebeu: eles falavam com perfeição a língua do "p". (...)
Cidinha fingiu não entender: entender seria perigoso para ela. (...) Queriam dizer que iam currá-la no túnel… O que fazer? (...) Me socorre, Virgem Maria! me socorre! me socorre! (...)
Se resistisse podiam matá-la. Era assim então. (...)
Tirou um cigarro da bolsa para fumar e acalmar-se. Não adiantou. Quando seria o próximo túnel? Tinha que pensar depressa, depressa, depressa.
Então pensou: se eu me fingir de prostituta, eles desistem, não gostam de vagabunda.
Valorize quem te ama pois daqui á alguns anos você vai ficar implorando por aquele amor que você tanto rejeitava.
"Aquele que não ama a si próprio, nunca amará alguém. É que se trata de um ser humano em desacordo consigo mesmo"
Poderia colocar o poema de Clarice aqui. que ninguém é eu e ninguém é você, esta é a solidão.
E dizer que a solidão tomou conta da minha vida, mas ao mesmo tempo eu estaria mentindo para o meu próprio ser.. Pior ainda eu estaria desvalorizando as minhas companhias.
A que ponto eu estou só ?
Solidão é quando não temos ninguém ao nosso lado.
E o que estou sentindo na verdade é a sua ausência!!
Logo após começarem a conversar, Clarice chama Julieta para caminhar no parque da cidade, que Clarice vera ver sua família, Julieta aceita sem notar que naquele dia marcado, era aniversário de seus pais e ela não pode ir ao encontro de sua amada. Clarice sentiu-se enganada, mas entendeu. Logo após esse encontro de desencontro aconteceu a fatídica declaração que mudara suas vidas. Passaram-se alguns dias depois da declaração de Julieta a Clarisse, continuavam conversando e a cada dia encontravam mais coisas em comum. Julieta, uma menina sonhadora e romântica, acreditara encontrar sua "princesa encantada". Clarice,por sua vez, já não acredita em romances, mas se envolve cada dia mais nessa história. Depois de dias de conversa Clarice diz que vai a Soledad e que gostaria de encontrar Julieta, e que dessa vez ela realmente aparecesse no encontro. Clarice era esperta, fizera com que Julieta lhe passasse o endereço de sua casa e então quando fosse a Soledad a buscasse para jantar. Julieta sem pestanejar, o fez, passou seu endereço e coordenadas. Chega então o grande dia, Julieta ansiosa pelo cair da noite para encontrar seu amor, não para o dia inteiro, arruma tudo, deixa udo organizado para a grande noite. Clarice liga para avisar que está a caminho de Soledad, que passará na casa de sua mãe para depois encontrá-la. Julieta se anima e fica ainda mais nervosa.
Então chega a hora, Clarice avisa estar indo buscar Julieta. A primeira troca de olhares foi inesquecível e marcara Julieta e Clarice pelo resto de suas vidas.
HISTÓRIAS DE CLARICE
Mudança Demora !!!
Mudança Demora??
Ué, depende da mudança... pensou Jairo, com seus olhinhos puxados espremidos num rosto largo e rosado, com jeito calmo de quem não tem pressa de ir.
Já Clarice, permanecia olhando, aguardando a resposta, como se o que Jairo falou não fosse suficiente para ser entendido.
Clarice e suas histórias.
Clarice tem um jeito bom de levar a vida, bom as vezes, é o que pensa. Uma mente romantica, sensivel e sonhadora. Com pitadas de lógica e uma inteligência sempre em evolução, curiosa como criança, teimosa como criança, adulta com alma de criança. Mas o rosto, o jeito, a fala, AHH! Clarice sempre diz o que pensa, sempre pensa muito e sempre se mete em enrrascadas, o olhar traduz o que sente, mas o sorriso, seja qual for a situação, está lá, solto iluminando a face. Alguns dizem que é sua marca, seu riso largo e sincero.
Mas Clarice sempre quer novas respostas, por que a todo momento surgem novas perguntas, e assim ela vai, caminhando as vezes contra o vento, as vezes contra corrente, mas sempre a favor de alguem ou simplesmente tentando defender a si própria.
O momento não podia ser mais oportuno para encontrar Jairo. Jairo amigo querido, paciente e inteligente, sempre tinha a resposta certa, mesmo que a pergunta fosse feita da forma errada. Ela já esta com esta dúvida há mais de uma semana. Casa nova, será que mudar demora? Clarice sempre tem pressa, vive tudo intensamente e muitas vezes de forma exagerada. Mas acha que se não for assim, não é viver. Se está triste, está muito triste. Se está feliz, esta absolutamente no céu. Não tirava os olhos grandes e amendoados de Jairo, - demora ou não? - disse novamente.
-Olha, depende do que vai ser mudado, da vontade de quem quer fazê-lo e do quanto isso é importante!
- Mas Jairo, como assim? Só quero saber se mudar demora...
- Mudar o mundo demora - responde Jairo com a mesma calma - por isso o melhor é começar a mudar a sí mesmo, as vezes também demora, mas o efeito tende a ser melhor. Mudar o outro demora muito, geralmente é melhor não fazê-lo se o outro não quiser.melhor só aceitar ou seguir seu caminho. Mudar o visual demora o tempo suficiente para se sentir bem. Mudar de humor não demora nada, é só querer. Mudar de roupa demora proporcionalmente ao número de botões da roupa ou a quantidade de peças, mudar de vontade demora o tempo certo para se perceber o que é melhor, mudar de opinião pode demorar ou não, depende da flexibilidade da sua inteligência e da humildade do seu carater. enfim, o tempo da mudança depende, do que se quer mudar e pronto.
Clarice olhava Jairo com cara de quem não sabe como o assunto chegou ali, mas de alguma forma sabia que seu amigo respondeu o que precisava ouvir, mas não sua pergunta.
Clarice logo concluiu, que sua mudança seria demorada se analisada pelo tempo, pois como sempre, estava ansiosa pela casa nova, mas seria rápida se dependesse de sua força e vontade, pois queria a casa nova mais que tudo naquele momento, e percebeu que mudar é possível...seja o que for que se queira mudar.E Clarice definitivamente estava em um momento de transição. Além de casa, também precisava mudar de humor,de hábitos, de pensamento.
Sem hesitar, olhou para Jairo com cara de quem sabe tudo e disse:
-então Jairo, mudança demora!!!!
-por que você quer mudar o mundo?
-Não. quero mudar para um mundo novo. E até construi-lo dentro de mim, bota tempo nisso!Mas como eu tenho pressa, mudo primeiro de casa, o que demora o tempo de carregar minha coisas, depois mudo o humor, já que não demora nada e eu quero, em seguida, mudo meus hábitos, o que demora é a adaptação, depois, mudo aqui dentro, na alma, por que só na alma se constrói um mundo novo!
Clarice,
Esta é a quarta carta que inicio para responder a sua. A primeira eu deixei no Brasil, só trouxe a primeira página, que vai junto. A segunda eu rasguei. A terceira eu não acabei, vai junto também. Você por favor não ligue para isso não. Pode ter certeza de que não te esquecemos. Daqui de Nova York não posso te contar nada além do que você calcula. Tenho tido muitas dores de cabeça, Tenho tido muitas oportunidades de ficar calado. Tenho tido muita decepção com os Correios. Tenho tido cansaço, saudade e calma. Tenho escrito muitas cartas para você. Tenho dormido muito pouco. Tenho xingado muito o Getúlio. tenho tido muito medo de morrer. Clarice, estou perdido no meio de tantos particípios passados.
Como vai indo o seu livro? O que é que você faz às três horas da tarde? Quero saber tudo, tudo. Você tem recebido notícias do Brasil? Alguém mais escreveu sobre o seu livro? É verdade que a Suíça é muito branca? Você mora numa casa de dois andares ou de um só? Tem cortina na janela? Ou ainda está num hotel? Qual é o cigarro que você está fumando agora? Clarice Lispector só toma café com leite. Clarice Lispector saiu correndo no vento na chuva, molhou o vestido, perdeu o chapéu. Clarice Lispector sabe rir e chorar ao mesmo tempo, vocês já viram? Clarice Lispector é engraçada! ela parece uma árvore. Todas as vezes que ela atravessa a rua, bate uma ventania, um automóvel vem, passa por cima dela, e ela morre. Me escreva uma carta de sete páginas Clarice. Me escreva.”
- Fernando Sabino.
Eu deixei um pedaço do que eu sinto em cada palavra que eu digitei neste texto.
Clarice Lispector, Freud, e Carlos Drummond com certeza iriam usar uma língua perfeita pra dizer isso, talvez diriam:
"Eu não apenas escrevi — eu me espalhei. Em cada palavra ficou um pedaço de mim: ora silêncio disfarçado de grito, ora desejo que se esconde do próprio olhar, ora pedra transformada em pão. Deixei ali o que não cabia em mim — e ao digitar, fui me desfazendo para poder existir.”
Eu não posso deixar de lembrar do saudoso Fernando Sabino, e Rubem Alves. Se eu dissesse a Freud estou me perdendo nas coisas boas ele provavelmente me faria esta pergunta:
"Mas diga-me… ao se perder nas coisas boas que escreve, de que exatamente você está tentando se encontrar ou se esconder?"
Eu claramente responderia assim se eu fosse como Fernando Sabino:
“Quando me perco no que escrevo, não é tanto para me esconder, mas para me revelar. A gente escreve porque a vida não cabe inteira no silêncio. E, ao tentar me encontrar, descubro que o melhor de mim se revela justamente no pedaço que parecia perdido. Escrever é me perder para me achar de novo — e nesse vai e vem, vou sendo um pouco mais eu.”
E se eu perguntasse a Rubem Alves, porque as pessoas desejam alguém que as escute de maneira calma e tranquila, em silêncio? Se eu perguntasse a ele porque no tempo de nosso amigo Freud as pessoas procuravam terapia para se curarem da repreensão e hoje procuram por causa da dor de não haver quem os escute?
Ele talvez me responderia assim…
“Minha querida, as pessoas sempre tiveram sede de escuta. No meu tempo, buscavam terapia porque carregavam dentro de si a ferida das proibições, das vozes que gritavam ‘não pode!’, ‘não deve!’, ‘cale-se!’. O mundo estava cheio de regras, e o coração ficava aprisionado.
Hoje, o que vejo é uma dor diferente. Não é a dor da repressão, mas da solidão. Não é o excesso de vozes, mas a falta delas. As pessoas sofrem porque não há quem as escute em silêncio — silêncio que não julga, não apressa, não dá respostas prontas.
O maior consolo que um ser humano pode dar ao outro não é um conselho, mas a sua presença atenta. Escutar é como oferecer um copo de água a alguém que atravessa o deserto. Quando alguém nos escuta de verdade, nós renascemos.
E talvez seja por isso que tantos procuram terapia hoje: não por doença, mas por fome. Fome de escuta. Fome de existir nos ouvidos e no coração de outro ser humano.”
Antes de morrer, eu gostaria de ter tomado um chá ou café com leite com Clarice Lispector, ter atravessado a rua, e um automóvel ter passado por cima de nós, e nós morremos. Ter adiantado as cartas de Fernando Sabino para evitar a decepção dele com os correios. Ter citado tudo aquilo que hoje eu não tenho coragem deitada num sofá de couro com Freud. Ter gastado horas incansáveis vezes pensando num verso que a pena não quer escrever junto com Carlos Drummond. E ver Rubem Alves citando o porque ainda não pensaram numa avaliação para avaliar a felicidade dos alunos, mas que todos se perguntam como os professores estão… - (Obra: A alegria de ensinar)
Eu não escrevo pra viver, eu vivo da poesia…
Se escrevo é porque tenho histórias pra contar.
Ode a Clarice
Me ensina
a perder-me nas esquinas invisíveis,
atravessar portas que não existem,
explorar mundos
que cabem apenas
no silêncio do meu passo
Escrever é arte,
arte é modernismo,
modernismo é Clarice,
Clarice é introspecção,
introspecção é sentimento,
sentimento é leitura,
é assim em toda Literatura.
Querida Clarice,
Ainda bem que a gente é assim, né? Eu também vejo bosques nas nuvens. Outro dia mesmo, passou um jacaré e um elefante. Vi da minha janela enquanto lia o que você escreveu. Depois eu adormeci coberta com suas palavras e foi tão macio. Adoro fins de semana com janela de olhos abertos, vento fresco trazendo folhinhas de árvores pra dentro do quarto e cheiro de livro velho na cabeceira.
Não posso usar Caio, Clarice, Neruda ou Pessoa para dizer o que estou sentindo, pois o que estou sentindo acabou de nascer.
Para o dicionário, lembrança grata de pessoa ausente ou de alguma coisa; para Clarice, o sentimento mais urgente que existe. Pra mim? Eu nunca senti tanta como nos últimos dias. Nunca encarei a saudade como um ponto negativo, porque além de demonstrar que algo bom tinha acontecido, aprendi que tem jeito pra tudo nessa vida – exceto a morte. O jeito é simples. Tem saudade? É porque valeu à pena, insista. Uma ligação resolve, uma mensagem resolve, um abraço se possível nem se fala... O problema, portanto, não é a saudade em si, mas sim a sensação da perda. O não ter, doi. O não poder, machuca. E ainda tem o tal do orgulho que as vezes não deixa assumir e recuperar o que poderia não ter acabado. A saudade com o tempo também traz esquecimento, graças a nossa poderosa memória seletiva. Não nos esquecemos daquilo que nos faz bem, não nos esquecemos do que ainda temos. Esquecer é questão de querer. Tem que abandonar, sentir-se livre, ocupar a mente e receber o prazer novamente. Na verdade, esquecer tem sido minha melhor forma de prazer nos últimos tempos.
Nada a deClarar
Tudo se esClarece
Michael Clareou a pele
Clarice Clareava os cabelos
Carlos tem olhos Claros
Clara bóia sem luzes na cabeça
A Clarabóia Clareou o vão
Por onde vejo Claramente
Os livros que esClarecem mentes
Gosto de tudo as Claras
A história está a Clarear os fatos
O luar Clareia a noite
E eu na Clareira repouso
até o sol me cegar.
Gilmar Chiapetti
