Ciclo Olavo Bilac
O princípio fundamental do marxismo está certíssimo: todos os valores materiais do mundo são produzidos pelo trabalho humano. Só que ele soma a essa premissa uma segunda, de que é possível e obrigatório devolver a cada indivíduo o valor integral daquilo que produziu, e de que deixar de fazer isso é um crime. Ele só não reparou que o pagamento do trabalho não vem automaticamente, mas depende do fator mais ignorado em "Das Kapital": o consumidor. O consumidor só paga por aquilo que compra, não por tudo aquilo que o trabalhador poderia desejar que ele comprasse, e não vejo como poderia ser de outra maneira. A própria vida de Karl Marx comprova isso: ele nunca recebeu o equivalente do trabalho despendido para escrever os seus livros, pelo simples fato de que o autor morreu antes de que eles fizessem sucesso. Karl Marx, como muitos de nós, não foi prejudicado por nenhum capitalista, mas pelo tempo.
Ademais, como poderia o capitalista pagar o valor integral do trabalho, se além deste ele tem de pagar pela matéria-prima, pelas máquinas, pelo imóvel da fábrica, etc. etc. etc.? Ad impossibilia nemo tenetur.
O socialismo não funciona pela simples razão de que nele o Estado é ao mesmo tempo o único produtor e o único consumidor.
Não é preciso pensar mais de um minuto para chegar a quatro conclusões: (1) A exploração da mais-valia existe em todos os modos de produção e não só no capitalista. (2) Sem ela nenhuma atividade econômica é possível em escala social. (3) O socialismo não vai acabar com ela NUNCA. (4) Proletários do mundo todo, fodam-se.
Se eu fosse receber o "justo valor" de tudo o que produzi, não teria conseguido produzir NADA. Isso vale para todos os seres humanos.
Pouco importando qual seja o modo de produção, para um sujeito ganhar alguma coisa é preciso que alguém ganhe MUITO MAIS.
A lei do sacrifício é universal e irrevogável. TUDO no mundo depende de que alguém dê alguma coisa sem receber nada em troca. Karl Marx nunca entendeu isso, embora com "O Capital" ele jamais ganhasse nem o suficiente para tratar das suas hemorróidas.
Jesus ensinou a rezar: 'Perdoa as nossas dívidas ASSIM COMO perdoamos os nossos devedores' e ainda esclareceu: 'Com o mesmo critério com que julgardes sereis julgados'. A conclusão é ÓBVIA: ou você aprende a perdoar, ou quanto mais estrita seja a sua obediência a todas as demais regras daquilo que você entende por 'moral cristã', tanto mais elas servirão para endurecer o critério com que você será julgado e muito provavelmente condenado.
Nossa ÚNICA saída neste vale de lágrimas é perdoar sempre, perdoar tudo, perdoar de todo o coração.
Para ser sincero, só encontrei na vida uns três ou quatro cristãos que compreendessem isso.
Quando alguém diz "Estou com dor de cabeça", ele se refere a uma cabeça e a uma dor que existem fora e independentemente da frase e aliás do sistema linguístico inteiro, no qual não há cabeças nem dores, apenas signos e relações. Dizer que não existe significado transcendental, que tudo só existe no sistema linguístico, é abolir a diferença entre ter uma dor de cabeça e dizer que tem dor de cabeça.
A coisa mais inútil do mundo é discutir se o Islam é uma religião da concórdia universal ou uma religião da violência e da guerra. O próprio Corão está gritando em cada página que ele é inseparavelmente as duas coisas. O predomínio de um lado ou do outro é questão de momento apenas. O problema é que, quando predomina o lado violento, o outro lado não tem argumentos para neutralizá-lo que não possam ser eles próprios neutralizados.
TODA religião que contenha em si um projeto de ordem estatal é inseparavelmente pacífica e guerreira, porque assim o são os Estados, por definição. Só o cristianismo e o budismo não contêm esse projeto, podendo, portanto, amoldar-se a qualquer ordem estatal, impregnando-se temporariamente das suas qualidades e defeitos.
A verdade ou falsidade de uma via religiosa não pode aferir-se pelo seu pacifismo ou belicismo, nem pelos belos argumentos que a sustentam, os quais variam como o tempo, mas sim e somente pela sua capacidade prática de servir de canal à ação real de Deus no mundo. O próprio [propósito] de Deus é fazer milagres, isto é, não estar limitado pelo quadro das determinações espaçotemporais que Ele mesmo impôs à natureza e à história.
A igualdade social e econômica de homens e mulheres só se tornou possível num estado avançadíssimo de desenvolvimento do capitalismo industrial, uma sociedade inabarcavelmente complexa, fruto de milênios de esforços acumulados.
Ela não tem nada de natural. É uma invenção tardia, dificílima de realizar e repleta de conseqüências impremeditadas.
A mais tola ingenuidade é imaginar que tudo o que desejamos é um direito natural.
Eu, por exemplo, desejo e exerço a liberdade de opinião, mas não sou idiota ao ponto de pensar que é um direito natural. É uma sorte incrível, que a maior parte da humanidade jamais desfrutou, e que caiu no nosso colo por efeito de uma evolução histórica que mal chegamos a compreender.
Um sintoma claríssimo de depressão — muitas vezes, creio eu, nascido diretamente de uma sugestão diabólica — é você acreditar, em segredo, que jamais poderá ser amado pela pessoa cujo amor você deseja. Isso o induzirá a procurar alívio em pessoas que, por sua vez, não merecem o seu amor, e acabará levando você ladeira abaixo, no caminho da degradação e do mal.
Confesso que, em décadas de experiência, nunca conheci um único sacerdote, católico ou protestante, que estivesse consciente desse drama e pudesse fazer algo de efetivo para ajudar os fiéis que caíssem vítimas dele.
Existem ainda remanescentes de uma velha direita policialesca, irracionalista, machista, moralista (da vida alheia) até à demência, visceralmente antinordestina, às vezes anti-semita e sempre supremamente cretina. Essa direita tem de ser EXTINTA antes que se possa oferecer qualquer resistência séria à ditadura petista. Não é por uma questão de imagem. É que andar com maluco faz mal à saúde.
O que é exatamente uma investigação científica? Para inaugurar um novo setor de investigação científica, o cientista separa, isola um certo campo de fenômenos, baseado na hipótese de que esses fenômenos são regidos por uma uniformidade interna. Ele observa alguma uniformidade externa, supõe que por trás dela há uma uniformidade interna logicamente expressável sob a forma de uma hipótese científica explicativa ou descritiva, e em seguida se esforça para encontrar essa unidade interna dos fenômenos, de modo que em grande parte a atividade cientifica é tautológica: o que determina o recorte dos fenômenos é a hipótese de que eles obedecem a uma certa uniformidade interna, e o que determina a investigação científica é a busca dessa mesma hipótese unificadora. Isso equivale a dizer que nenhuma ciência investiga propriamente a realidade concreta, mas apenas um recorte hipotético, que em seguida deve ser confirmado mediante a investigação da mesma hipótese. De certo modo, nós podemos dizer que a ciência é um jogo de cartas marcadas. Às vezes o jogo não funciona, mas o ideal é que ele funcione.
A filosofia é justamente a busca de uma capacidade interna que você tem de discernir a verdade dentro da máxima medida humana, e portanto você mesmo vai ter de ser o juiz da coisa. Mas se você quer ser o juiz, você tem de se preparar para isso. Você precisa buscar dentro de si um ponto de seriedade máxima para poder ter a credibilidade máxima.
Eu considero que a filosofia, quando se constitui como profissão universitária na universidade medieval, abre chance para um progresso formidável da técnica filosófica. Mas a profissão tem suas exigências internas. A profissão é um fenômeno sociológico por si mesmo, e a estrutura desse fenômeno sociológico é inteiramente independente da constituição da filosofia enquanto disciplina e forma de vida; não há coincidência entre as duas coisas. Se você observar as várias fórmulas sociais em que se apoiou a prática da filosofia ao longo dos tempos, você verá que é uma coisa bastante variada. A filosofia começa como uma espécie de clube de aficionados, reunidos em torno de Sócrates, Platão e Aristóteles, e as primeiras universidades se constituem exatamente assim.
Nós não podemos esquecer nunca que a primeira filosofia que surge com Sócrates — não com os pré-socráticos, que embora estejam praticando algumas atividades filosóficas não têm ainda uma consciência clara do que seja a filosofia como atividade distintiva — começa como filosofia política, ou seja, começa como meditação e análise crítica não só da sociedade em geral, mas da própria situação social dos seus interlocutores.
Agostinho fala com Deus, não no sentido de dizer alguma novidade para Deus, mas como quem diz: 'Revele a minha vida para mim mesmo. Você sabe mais do que eu, você viu o que eu pensei, você viu o que eu escondi, você viu os meus segredos, você sabe tudo a meu respeito; então eu conto o pedacinho que eu sei e você me mostra a imagem integral.' Esse confronto entre a experiência individual e o observador onisciente é a própria base da filosofia. É exatamente isso que o próprio Sócrates fazia. Ele colocava as questões da vida real, sua e dos seus interlocutores, em face da inteligência divina, e permitia que essa inteligência divina fosse mostrando a ele e aos demais aquilo que eles não tinham percebido no começo, de modo que eles acabam descobrindo que eles não têm como conteúdo cognitivo somente aquilo que está na sua consciência num momento dado, mas que existe todo um depósito infinito de conhecimento ao qual eles têm acesso mediante a pergunta sincera feita de si para si mesmo.
Sócrates procurava um conhecimento que não apenas fosse racionalmente fundamentado — e, portanto, intrinsecamente mais crível do que os outros conhecimentos —, mas que tivesse uma importância existencial efetiva para ele próprio. E esta síntese inseparável da consciência pessoal com o conteúdo do conhecimento é exatamente o que define a filosofia.
Para encontrar uma base firme para o julgamento do conhecimento em geral, nós
temos que encontrar o que o Mário Ferreira dos Santos chamava de 'ponto arquimédico', que é aquele ponto de credibilidade máxima onde uma verdade é tão óbvia e patente que você não pode esquecê-la por um único minuto sequer. Você verá que a busca desse ponto arquimédico é uma constante em toda a história da filosofia, às vezes com o nome de “busca da certeza”, ou com outro nome qualquer. Esse território firme, de onde a totalidade dos conhecimentos que chegam até você pode ser julgada, é fundamental na filosofia, e é exatamente isso o que nós queremos. O ideal seria você alcançar um nível de certeza absoluta sobre determinados pontos, um nível de auto-evidência, mas na maior parte das questões isso não é possível. Não podendo obter a certeza absoluta, nós buscamos então a credibilidade máxima.
Em geral, qualquer discussão filosófica contemporânea está repetindo alternativas que foram formuladas por Sócrates, Platão e Aristóteles. Nós não conseguimos sair de dentro do território delimitado por eles simplesmente porque esse território é a filosofia. Você pode até não gostar disso, jogar tudo fora e fazer outra coisa, como fez Nietzsche. Mas se é outra coisa, é outra coisa — iniciada por você, ou por Nietzsche, sem nada a ver com a filosofia no sentido em que historicamente a palavra faz sentido.
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