Cartas de Despedida de Clarice Lispector

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Vida e morte foram minhas, e eu fui monstruosa. Minha coragem foi a de um sonâmbulo que simplesmente vai. Durante as horas de perdição tive a coragem de não compor nem organizar. E sobretudo a de não prever. Até então eu não tivera a coragem de me deixar guiar pelo que não conheço e em direção ao que não conheço: minhas previsões condicionavam de antemão o que eu veria. Não eram as antevisões da visão: já tinham o tamanho de meus cuidados. Minhas previsões me fechavam o mundo.

Clarice Lispector
A paixão segundo G. H. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.
Inserida por natxalinha

Eu, corpo neutro de barata, eu com uma vida que finalmente não me escapa pois enfim a vejo fora de mim – eu sou a barata, sou minha perna, sou meus cabelos, sou o trecho de luz mais branca no reboco da parede sou cada pedaço infernal de mim – a vida em mim é tão insistente que se me partirem, como a uma lagartixa, os pedaços continuarão estremecendo e se mexendo. Sou o silêncio gravado numa parede, e a borboleta mais antiga esvoaça e me defronta: a mesma de sempre. De nascer até morrer é o que eu me chamo de humana, e nunca propriamente morrerei.

Clarice Lispector
A paixão segundo G. H. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.
Inserida por natxalinha

O que tem me perturbado intimamente é que as coisas do mundo chegaram para mim a um certo ponto em que eu tenho que saber como encará-las, quero dizer, a situação de guerra, a situação das pessoas, essas tragédias. Sempre encarei com revolta. Mas ao mesmo tempo que sinto necessidade de fazer alguma coisa, sinto que não tenho meios. Você diria que eu tenho, através do meu trabalho. Eu tenho pensado muito nisso e não vejo caminho, quer dizer, um caminho verdadeiro.

Clarice Lispector
Todas as cartas. Rio de Janeiro: Rocco, 2020.

Nota: Trecho de carta para Tania Kaufmann, de 8 de maio de 1946.

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Inserida por Emilize

A cruz deles é esquecer-se de sua própria dor. É nesse esquecer-se que acontece então o fato mais essencialmente humano, aquele que faz de um homem a humanidade: a dor pessoal adquire uma vastidão em que os outros todos cabem e onde se abrigam e são compreendidos; pelo que há de amor na renúncia da dor pessoal, os quase mortos se levantam.

Clarice Lispector
A descoberta do mundo. Rio de Janeiro: Rocco, 1999.

Nota: Trecho da crônica Lembrança de um homem que desistiu.

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Inserida por DAlma

(...) tem toda a iluminação feérica – e ao mesmo tempo que se habitua lenta e muda e majestosa e delicadíssima e fatal – em ser mulher – é modesta demais para sê-lo, é fugaz demais para ser definida. Ela me contou que na rua dirigiu-se a um guarda – e explicou que assim fez porque ele devia saber das coisas e ainda por cima estava armado, o que infunde respeito a ela. Falou assim para o guarda: o senhor pode me informar, por obséquio, quando começa a primavera?

Clarice Lispector
Um sopro de vida. Rio de Janeiro: Rocco, 2015.
Inserida por tham

O amor comeu até os dias ainda não anunciados nas folhinhas. Comeu os minutos de adiantamento de meu relógio, os anos que as linhas de minha mão asseguravam. Comeu o futuro grande atleta, o futuro grande poeta. Comeu as futuras viagens em volta da terra, as futuras estantes em volta da sala.

O amor comeu minha paz e minha guerra. Meu dia e minha noite. Meu inverno e meu verão. Comeu meu silêncio, minha dor de cabeça, meu medo da morte.

POEMA

A minha vida é o mar o abril a rua
O meu interior é uma atenção voltada para fora
O meu viver escuta
A frase que de coisa em coisa silabada
Grava no espaço e no tempo a sua escrita

Não trago Deus em mim mas no mundo o procuro
Sabendo que o real o mostrará

Não tenho explicações
Olho e confronto
E por método é nu meu pensamento

A terra o sol o vento o mar
São a minha biografia e são meu rosto

Por isso não me peçam cartão de identidade
Pois nenhum outro senão o mundo tenho
Não me peçam opiniões nem entrevistas
Não me perguntem datas nem moradas
De tudo quanto vejo me acrescento

E a hora da minha morte aflora lentamente
Cada dia preparada

A arquitetura como construir portas,
de abrir; ou como construir o aberto;
construir, não como ilhar e prender,
nem construir como fechar secretos;
construir portas abertas, em portas;
casas exclusivamente portas e tecto.
O arquiteto: o que abre para o homem
(tudo se sanearia desde casas abertas)
portas por-onde, jamais portas-contra;
por onde, livres: ar luz razão certa.

Até que, tantos livres o amedrontando,
renegou dar a viver no claro e aberto.
Onde vãos de abrir, ele foi amurando
opacos de fechar; onde vidro, concreto;
até fechar o homem: na capela útero, com confortos de matriz, outra vez feto.

Por trás do que lembro,
ouvi de uma terra desertada,
vaziada, não vazia,
mais que seca, calcinada.
De onde tudo fugia,
onde só pedra é que ficava,
pedras e poucos homens
com raízes de pedra, ou de cabra.
Lá o céu perdia as nuvens,
derradeiras de suas aves;
as árvores, a sombra,
que nelas já não pousava.
Tudo o que não fugia,
gaviões, urubus, plantas bravas,
a terra devastada
ainda mais fundo devastava.

Rasas na altura da água
começam a chegar as ilhas.
Muitas a maré cobre
e horas mais tarde ressuscita
(sempre depois que afloram
outra vez à luz do dia
voltam com chão mais duro
do que o que dantes havia).
Rasas na altura da água
vê-se brotar outras ilhas:
ilhas ainda sem nome,
ilhas ainda não de todo paridas.
Ilha Joana Bezerra,
do Leite, do Retiro, do Maruim:
o touro da maré
a estas já não precisa cobrir.

O Engenheiro

A luz, o sol, o ar livre
envolvem o sonho do engenheiro.
O engenheiro sonha coisas claras:
Superfícies, tênis, um copo de água.

O lápis, o esquadro, o papel;
o desenho, o projeto, o número:
o engenheiro pensa o mundo justo,
mundo que nenhum véu encobre.

(Em certas tardes nós subíamos
ao edifício. A cidade diária,
como um jornal que todos liam,
ganhava um pulmão de cimento e vidro).

A água, o vento, a claridade,
de um lado o rio, no alto as nuvens,
situavam na natureza o edifício
crescendo de suas forças simples.

A um rio sempre espera
um mais vasto e ancho mar.
Para a agente que desce
é que nem sempre existe esse mar,
pois eles não encontram
na cidade que imaginavam mar
senão outro deserto
de pântanos perto do mar.
Por entre esta cidade
ainda mais lenta é minha pisada;
retardo enquanto posso
os últimos dias da jornada.
Não há talhas que ver,
muito menos o que tombar:
há apenas esta gente
e minha simpatia calada.

Entre todas as diferentes expressões que podem reproduzir um único dos nossos pensamentos só há uma que seja a boa. Nem sempre a encontramos ao falar ou escrever; entretanto, o fato é que ela existe, que tudo o que não é ela é fraco e não satisfaz a um homem de espírito que deseja fazer-se entender.

Suponho que me entender não é uma questão de inteligência e sim de sentir
De entrar em contato... Ou toca, ou não toca.

E, se me achar esquisita, respeite também.
Até eu fui obrigada a me respeitar

Repito por pura alegria de viver:
a salvação é pelo risco, sem o qual a vida não vale a pena!

Que minha solidão me sirva de companhia
Que eu tenha a coragem de me enfrentar
Que eu saiba ficar com o nada e mesmo assim me sentir como se estivesse plena de tudo.

Liberdade é pouco. O que eu desejo ainda não tem nome

Clarice Lispector

Nota: O primeiro pensamento pertence a uma entrevista dada por Clarice em 1977. O segundo e o terceiro são do livro "A descoberta do mundo". O quarto é uma adaptação de um trecho de "Um sopro de vida". O último pensamento é do livro "Perto do coração selvagem".

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Quero escrever o borrão vermelho de sangue com as gotas e coágulos pingando de dentro para dentro. Quero escrever amarelo-ouro com raios de translucidez. Que não me entendam pouco-se-me-dá. Nada tenho a perder. Jogo tudo na violência que sempre me povoou, o grito áspero e agudo e prolongado, o grito que eu, por falso respeito humano, não dei. Mas aqui vai o meu berro me rasgando as profundas entranhas de onde brota o estertor ambicionado. Quero abarcar o mundo com o terremoto causado pelo grito.
O clímax de minha vida será a morte.
Quero escrever noções sem o uso abusivo da palavra. Só me resta ficar nua: nada tenho mais a perder.

Clarice Lispector
Borelli, Olga. Clarice Lispector: esboço para um possível retrato. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1981.
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Minha despedida

Não é um adeus definitivo...
preciso de tempo
vou sair pelo mundo!
vou viajar, estudar.
vou curar as feridas da alna...
e também do coração...

Vou analisar o mundo, os astros..
Mas levo todos vocês em meu coração
Vou deixar a porta aberta para quem quiser
visitar-me e deixar o seu recado...
Onde quer que eu esteja
sempre que der eu passarei para lhe visitar

Sou errante...viajante do tempo
Eu sou como o vento
Apenas eu passo
Se sentires um leve aroma de jasmim...
Serei eu que estarei chegando
Pra matar minha saudade...
Dos amigos que aqui deixei!

Vou passar na Argentina
Vou dançar um tango de Gardel
Vou levar meu violão
Vou rimar meus versos
Vou ouvir meu coração
Vou apreciar a natureza
Vou observar o colorido das flores
Vou melhorar meu visual
Vou aos anjos agradecer...

Não é um adeus...Apenas uma partida
Na vida precisamos inovar novos caminhos...
E eu ainda sou um mero aprendiz....

Saudade
O meu coração te grita, mas o seu orgulho te surda, eu lhe envio cartas soletrando um "eu te amo", mas sua vaidade lhe cega, eu quero um abraço seu, mas sou recebida unicamente pela saudade. Eu não desisti, apenas cansei de amar alguém que não anda de mãos dadas com a reciprocidade!

Outro dia eu estava lendo uma matéria sobre amizade numa revista aqui de São Paulo e vi que muita gente já não acredita tanto em amizade verdadeira. E a verdade é que essas pessoas tem seus motivos. Eu próprio vez ou outra penso em pender pra esse lado. Mas tenho um punhado de amigos dos quais eu não conseguiria abrir mão. Pessoas que entraram na minha vida e que eu faço um esforço danado para mantê-los perto de mim, mesmo que nos encontremos separados por alguns quilômetros. Amigos especiais que, mesmo que eu não queira investir em outras amizades daqui pra frente, não conseguiria esquecer nunca. São meus amigos ANJOS, que se aborrecem comigo e com os quais eu também me aborreço de vez em quando. No final, o que sobra desses nossos aborrecimentos é o que, no nosso caso, pode ser chamado de AMIZADE. E amizade é isso! Mas voltemos ao artigo.

Na minha opinião, o que vem desconstruindo o conceito de amizade é a banalização da mesma. As pessoas começaram a delirar que o segurança que elas conheceram na casa de show e pediu para ser adicionado no Facebook é um amigo. Me desculpem se estou jogando água fria na fervura, mas não é amigo não!!!

Nem o segurança da casa de show; nem o cobrador de ônibus; nem o caixa do supermercado; nem o garçom ou garçonete do barzinho; nem o cabeleireiro; nem o açougueiro; nem o colega de trabalho; nem a moça na fila do banco. Não, não são amigos o policial, o gari, o cantor com o qual tiramos uma foto no restaurante, o caminhoneiro que acabamos de conhecer e nos fez dar umas boas risada contando uma piada engraçada lá do sul. Não, essas pessoas não são amigas, são só pessoas que conhecemos no nosso dia-a-dia. A amizade, a verdadeira, não se faz assim, como um cachorro quente numa barraquinha na frente de um estádio de futebol.

Amigo de verdade é aquele que pensa em você, que se preocupa com você. É aquele para o qual você pode correr nos momentos complicados da vida com a certeza de que ele vai te acolher, seja com um abraço acalorado, um conselho, uma palavra de incentivo, de apoio, e até mesmo, acredite, com um puxão de orelha. É isso mesmo, um puxão de orelha! Porque amigo é pra isso: para nos pôr nos trilhos quando nos sentimos descarrilhados.

Amigo não é só aquele que nos fala coisas bonitas, mas também aquele que nos abre os olhos dizendo a verdade, mesmo que ela nos cause um pouquinho de dor. É esse o tipo de amigo que eu valorizo na minha vida, que eu preciso pra minha vida, porque é esse o tipo de amigo que eu tento ser para as pessoas que eu escolho como amigas.

As pessoas que se preocupam com nós, que nos são amigas de verdade, não devem ser colocadas no mesmo pacote onde foi colocada uma pessoa que acabamos de conhecer num baile funk, numa borracharia, ou sei lá onde. Quando fazemos isso, das duas uma: ou não somos amigos daqueles que sabemos ser nossos amigos de verdade ou simplesmente não valorizamos as nossas amizades.

QUE DEUS ILUMINE CADA UM DOS AMIGOS QUE TENHO (E SÃO POUQUÍSSIMOS). E QUE ELES NUNCA ESQUEÇAM QUE PODEM SEMPRE CONTAR COMIGO.

EU, POR VOCÊ, SERIA CAPAZ DE DAR A MINHA VIDA!

Meu anjo, bom dia!
Espero que suas ferias tenham sido povoadas de muita paz, alegria e diversão. Que você tenha beijado e abraçado muito seus heróis e todos da sua familia; e que todos vocês tenham experimentado dias de grande felicidade. Se tudo ocorreu dessa forma, e eu espero sinceramente que sim, tenho certeza que você retornou para Americana muito mais iluminada do que quando partiu.

Eu não sei bem a quanto tempo nos conhecemos, mas confesso que ter te conhecido foi algo maravilhoso. Muito aprendi com você e nada te apagará do meu coração. Você se tornou uma das páginas mais importantes da minha história. Uma página que eu faço questão de ler todos os dias da minha vida, para que você esteja sempre presente nos meus pensamentos.

Minha amiga, como vocé já sabe, o que eu sinto por você não é só amizade. Eu até gostaria que fosse, assim não estaria sofrendo tanto desejando algo que eu não posso ter.

Te peço desculpas por está te abrindo novamente meu coração. Da última vez que resolvi fazer isso, quase te perdi pra sempre. Você havia sido pega de surpresa. Mas acho que agora é um pouco diferente. Acho que nesse meio tempo aprendemos o bastante para não cometermos os mesmos erros bobos do passado.

Da mesma formar que estou escolhendo as palavras com mais responsabilidade, tenho certeza que você é inteligente o suficiente para dar a elas a atenção que elas merecem e interpretá-las da forma mais adequada possível.

Enfim, preciso me afastar um pouco para não sofrer tanto quando finalmente aparecer a pessoa que terá o privilégio de acordar todos os dias ao teu lado. Eu não sei quem será o sortudo, mas confesso que já estou morrendo de inveja dele. Ele vai ter na sua vida a mulher que eu peço a Deus todo os dia que fisesse parte da minha. Só em pensar nisso meu coração se enche de tristeza.

Espero que ele possa te dar pelo menos metade do carinho e do amor que eu sinto por você. Porque eu, por você, seria capaz de dar a minha vida. TE AMO.

São Paulo, 21 de junho de 2015, às 14:28

Sejam vocês mesmas! Estudem cuidadosamente o que há de positivo ou negativo na sua pessoa e tirem partido disso. A mulher inteligente tira partido até dos pontos negativos. Uma boca demasiadamente rasgada, uns olhos pequenos, um nariz não muito correto podem servir para marcar o seu tipo e torná-lo mais atraente.
Desde que seja seu mesmo.

Você já teve aquela sensação de “era isso que eu precisava ouvir hoje”?

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