Cartas de Despedida de Clarice Lispector

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Nessa manhã, igual a tantas outras,
vieram-me à lembrança os nossos dias.
Não olhamos mais as mesmas paisagens,
nem nossos caminhos tornarão a se cruzar!
Estás em outra dimensão, porém existes dentro de mim,
mais vivo do que nunca, meu irmão,
nos laços perenes que nos unem.
Cika Parolin

Inserida por CikaParolin

Era uma caixa de madeira envernizada,
com detalhes florais em machetaria.
À menor distração de mamãe, embrenhava-me no seu quarto,
onde, no fundo do guarda-roupas, estava aquela maravilha.
Dentro dela, em séphia, muitas fotos antigas.
Retratavam mulheres, homens e crianças
elegantemente vestidos à moda dos anos vinte, trinta, quarenta...
Coques imensos, sedas, ternos, bebês arrumadinhos.
O sorriso contido das mulheres, como convinha à época!
Homens carrancudos, com bengala e bigode elaborado.
Intrigavam-me especialmente algumas fotos milimetricamente
cortadas que sonegavam, aos meus olhos ávidos de criança,
personagens misteriosos, histórias desconhecidas,
dramas e segredos desbotados.
Ali ficava durante horas a observá-las. Identificando traços familiares, perguntando-me quem eram aquelas pessoas, o que tinham vivido, de onde vieram, o que delas ficara em mim?
Algumas respostas foram dadas, mais tarde. Outras jamais!
Das minhas furtivas incursões ao armário de mamãe,
restou-me a certeza de que o tempo apaga
resquícios de vidas que geraram as nossas.
Preservadas e silenciosas
numa simples caixa de fotografias.
Cika Parolin

Inserida por CikaParolin

Estávamos em um pequeno hotel na periferia de Roma.
Era uma noite tranquila como outra qualquer. Exaustos das andanças do dia, decidimos jantar pão, queijos e vinho, no quarto mesmo. Depois disso nos recostamos na cama para planejarmos onde iríamos no dia seguinte.
De repente notamos que o velho e sujo lustre começara a balançar,
o colchão vibrava; tudo balançava ao redor e, em seguida, o mais assustador e inimaginável som fez-nos pensar que as tropas da cavalaria italiana estavam entrando no ambiente. Ficamos lá segurando as mãos, à espera do pior.
Tão rapidamente quanto chegara, a coisa cessou.
O lustre foi lentamente parando e um silêncio absoluto se instalou. Levantamos em direção a uma pequena sacada e lá fora nenhuma folha se agitava, nenhuma voz, o céu estrelado
e tudo parecia normal como nos outros dias.
Passamos a noite acordados, com o coração aos pulos sob o impacto de algo tão estranho. Cedo, no café da manhã, perguntamos o que tinha sido aquilo. Ao que a dona da estalagem nos disse: "Abalo sismico ad Assissi".
Ficamos horrorizados e jamais poderíamos imaginar que, a praticamente 100 quilômetros de distância, era possível sentir os reflexos do terrível terremoto que acabara de ocorrer em Assis.
Cika Parolin

Inserida por CikaParolin

"Contrariando todas as expectativas"
nos enganamos sim! Somos surpreendidos positivamente
e, com muito mais frequência, negativamente por pessoas
que tínhamos em alta conta. Não vai nisso a menor lamentação,
mas a constatação de que nossa amizade nem sempre encontra eco em todos os corações.
Cika Parolin

Inserida por CikaParolin

Se, por apenas uns minutos,
pensássemos na complexidade dos planetas,
das estrelas, das galáxias...
perceberíamos quanto tempo desperdiçamos
com bobagens! Entenderíamos que diante da grandiosidade
do Universo somos apenas efêmeras partículas de vida
e que não temos o menor motivo para nos sentirmos
melhores, mais capazes que ninguém.
Cika Parolin

Inserida por CikaParolin

Quando mais jovem, eu achava que envelhecer seria uma coisa muito triste! Mas, por mais incrível que possa parecer, à medida que envelheço, descubro que amadurecer é a arte de dar o devido peso aos acontecimentos. O que antes seria motivo de tristeza e rancores passa a ser descartado rapidamente
e em seu lugar entra a sabedoria de ver tudo com mais leveza.
Cika Parolin

Inserida por CikaParolin

Com a maior sinceridade de que sou capaz,
não costumo ficar aprisionada às correntes da mágoa!
Obviamente, eu percebo atitudes que escondem falta de
lealdade e gratidão, mas nem por isso fico ruminando tristezas.
Somente me afasto para ir ao encontro de gente cuja aura
exala bem-querer.
Cika Parolin

Inserida por CikaParolin

Um mau momento é apenas um detalhe
entre tantos dias maravilhosos que Deus nos concede.
O ser humano, pessimista por natureza, reclama de tudo
e dá relevância excessivamente grande aos acontecimentos menos felizes. Esquece rapidamente das tantas coisas boas
que lhe acontecem, para acorrentar-se às suas infindáveis lamentações.
Cria dessa forma uma imagem de sofredor, gerando em torno de si uma energia que afasta as pessoas, o que intensifica ainda mais o seu sofrer.
Não falo em fingir não ter problemas, mas em encará-los de forma positiva; em acreditar que aquilo é apenas um momento difícil, porém passageiro.
Cika Parolin

Inserida por CikaParolin

"Envelhecer é um processo inevitável", todos sabemos!
Porém acredito que o envelhecimento da alma acontece de maneira distinta para cada um. Está mais sujeito à maneira como o encaramos,
que ao simples passar do tempo.
Por essa razão encontramos idosos, apesar de suas dificuldades, de espírito jovem e otimista, enquanto outros, sem doenças limitantes e sem grandes atribulações, portam-se como se viver não mais importasse. Pensando nisso procuro seguir a maneira oriental de encará-la isso é, mantendo-me útil aos meus, apaixonada pela vida e o mais importante, fazendo com que minha existência tenha uma "razão de ser".
Digo para mim mesma: "seja o que for, faça! Planeje um novo livro, faça pasteis para os netos, encontre as amigas, veja comédias, ria a valer, cante sozinha, dance se puder!
VIVA cada dia sem pensar em morrer."
Cika Parolin

Inserida por CikaParolin

Quando errar e reconhecer seu erro, não hesite para pedir perdão. Por outro lado jamais o peça pelas coisas que não cometeu. Tampouco busque esclarecer o que não provocou.
Entenda que sempre haverá quem dissemine falatórios sem conhecer os fatos, por deduzir que você é isso ou aquilo...
Unicamente espere com serenidade que o tempo traga todas as respostas.
Cika Parolin

Inserida por CikaParolin

Sou daquelas felizardas cujo marido jamais elevou a voz ou tentou se impor pela força. Nunca abriu minha bolsa ou perguntou com quem eu falava.
Quando vejo tantas mulheres massacradas e mortas por companheiros inseguros e violentos, me permito aconselhar as moças inexperientes a observar melhor os sinais que esses homens dão, desde o início do relacionamento. São atitudes facilmente confundidas com aquele ciúme gostoso que as mulheres a princípio adoram. Frases como: "essa saia está muito curta, suas pernas são lindas e não quero que outros homens as vejam" ou aquele ciúme sem cabimento de um amigo ou de um parente! São diversos sintomas que se ignorados, em pouco tempo, se transformarão em um tormento e, pior ainda, após o casamento, transformam-se em violência.
Meninas! ao primeiro puxão mais forte em seu braço,
à primeira palavra que não soar bem aos seus ouvidos,
reveja sua posição em relação a essa pessoa. Fuja enquanto é tempo! Mostre que tem família, preserve sua integridade.
Talvez nessa primeira reação esteja a sua chance de sair viva de um futuro relacionamento doentio e perverso.
Cika Parolin

Inserida por CikaParolin

Permito-me mudar de ideia, modificar rumos, rever posições, ficar feliz e ficar triste...Não faço parte daqueles que acham que isso é "sintoma de bipolaridade"...Acredito antes que sou humana... Não tenho o menor medo da vida e de me responsabilizar pelas mudanças que eu faça ou não.
Cika Parolin
Registro BN 728.657

Inserida por CikaParolin

Suplício das Ruas

Ouçam os gemidos da rua!
Lá fora pode estar um irmão
que necessita ajuda
e anseia por um pedaço de pão.

Nenhum teto para lhe cobrir a cabeça.
Sua cama? apenas o duro chão!
Vestes escassas e surradas, ele treme de frio
e no breu da noite, ninguém para lhe estender a mão.

Dele se desviam os olhares!
Aos insensíveis, sua presença incomoda.
e seu silêncio implora um gesto de amor, em vão.

Ah! olhemos o drama das ruas!
Mas que transformemos o nosso olhar
na mais nobre e solidária ação.
Cika Parolin

Inserida por CikaParolin

Pai,
Não te posso ver, nem te ouvir!
Talvez as mensagens da tua alma
viajem até a minha, nas asas do sentimento!
Por isso sinto essa brisa tocar-me o rosto
como recado teu, esquecido no tempo.
Sei que estás mais distante do que eu gostaria,
mas conforta-me saber que tua voz
virou afago do vento.
Cika Parolin

Inserida por CikaParolin

"Os homens de boa vontade",
onde estão?
Esqueceram-se de lançar as sementes do amor
no solo das almas famintas por compaixão?

Talvez nesse Natal
os que têm a mesa farta, se sensibilizem
e lembrem de dividir o Pão.

Tantos com tanto e quantos sem nada!
Olhemos em volta,
logo ali na esquina,
padece de fome, um irmão.

É hora de compreendermos, de fato,
o verdadeiro sentido do "Amai-vos uns aos outros",
em toda a sua grandeza e extensão.
Cika Parolin

Inserida por CikaParolin

Ah! não vou fingir que não me importo!
Quero, sim, a via de mão dupla.
Entrego o meu tempo, o meu cuidado, a minha energia...
E não vou negar! Fico atenta ao brilho dos olhos e à apreciação!
Não se trata de querer elogios, trata-se de sentir que meu carinho tocou os corações. Apenas isso.
Cika Parolin

Inserida por CikaParolin

Não permita que ofusquem sua alegria
e que apaguem da sua alma a esperança!
Você é o guardião(a) de ambas e como tal, responsável
por mantê-las sempre vivas e pulsando dentro de si.
Não delegue a outrem o dever de fazê-lo(a) feliz!
A felicidade vem de dentro para fora
e se expande a partir de você.
Que a alegria, a esperança e a fé sejam sua meta
nesse ano que se inicia.
Cika Parolin

Inserida por CikaParolin

Os que moravam longe da cidade
levavam meses para registrar os filhos recém-nascidos
e, igualmente, demoravam para terem seus nomes definidos.
Eu não fugi à regra: Nascida em parto gemelar com Ciro,
o menino ansiosamente esperado, não cogitavam nomes de menina
e muito menos que viessem gêmeos,
visto que já tinham Marli, uma menina de cinco anos.
Como era de praxe queriam nomes que combinassem.
Cogitaram Maria e Mário, João e Joana, Karl e Katia...
mas o nome sonhado para o menino era "Ciro"!
Formou-se o impasse! Que nome dar à menina?
Dessa forma fiquei mais de meio ano sendo mencionada como "a nenê".
Não mais que de repente, Dona Amélia, uma moradora de uma chácara próxima, apareceu, providencialmente à hora do almoço,
para visitar, segundo ela, "os geminhos"!
Entre um pedaço de frango assado e outro, ela faz a pergunta fatal:
"Dona Maria( Marichen), como é o nome dos geminhos"?
Ao que mamãe responde: "O nome do guri é Ciro,
a menina ainda não tem nome".
Como que tendo uma ideia fenomenal dona Amélia grita:
"CIRLEI", Ciro e Cirlei, combina"!
E assim foi, algum tempo depois registraram-nos
e em seguida, o Batismo, realizado num domingo chuvoso,
no Templo Luterano, pelo pastor Fughmann,
recém vindo da Alemanha que num português péssimo disse:
"Kiro e Kirlei eu vos batizo em nome do Pai, do Filho
e do Espírito Santo, amém.
Quanto ao Cika? Fica para uma outra longa história.
Cika Parolin

Inserida por CikaParolin

Quando jovem, ouvia dos antigos a clássica frase: "O tempo voa"! E não é que me peguei dizendo isso dia desses! Não vi os últimos vinte anos passarem e ainda não realizei aquele velho plano de entrar num ônibus caindo aos pedaços qualquer e sair por aí, talvez rumo à Goiás; quem sabe comer doce de leite no interior do interior de Minas; não a viagem de turista, mas o ir ficando onde desse vontade! Passeando por pessoas, hábitos e lugares! A pé, de charrete, de bicicleta ... sem tempo determinado ou programações elaboradas! Apenas fazendo o que o gosto mandasse.
Os sessenta estão passando e já começo a transferir os planos para a próxima década! Logo começarei a desconfiar que não vai dar tempo.
Cika Parolin

Inserida por CikaParolin

Como diz a velha canção:
"A distância, sabe, é como o vento,
Apaga os fogos pequenos
Acende aqueles grandes. Aqueles grandes "
Os velhos grandes amores, que muitas vezes julgamos apagados pela distância,
demandam apenas um pequeno sopro de vento
para reacenderem em grandes labaredas.
Cika Parolin

Inserida por CikaParolin