Carta de uma Futura Mamae
MINHA CASA
Demétrio Sena, Magé - RJ.
Uma casa não tem, seja ela qual for,
a beleza do arbusto e da flor no quintal;
a riqueza das sombras que as árvores dão;
o valor da nascente ou do poço de anéis...
Toda casa precisa do chão ao redor,
passarinhos, lagartas, depois borboletas,
vira-latas, besouros e camaleões;
emoções delicadas e restauradoras...
Meu quintal só tem cerca por identidade,
minha casa modesta pode ver a rua,
da janela sem grade; a porta sempre aberta...
Uma casa tem vida se tiver lá fora
uma rede, um lá fora que nos dê prazer,
umas horas pra ler, pra sonhar e dormir...
ROUPA NOVA PARA UMA ETERNA CANÇÃO
Demétrio Sena, Magé - RJ.
Não sei me comportar
diante do seu rosto
e o seu olhar,
bebendo o seu silêncio
e seu falar,
com toda minha alma,
sentido e coração...
E sinto a pulsação
parar;
não sei conter...
Nem sinto o chão e o ar;
suspendo a própria vida...
Não posso me calar,
ao menos em poesia
eu vou falar,
buscando a melodia
pra cantar
a funda sintonia
da minha vibração...
Eu sinto que viver
é ter um sentimento
pra trocar,
viver essa magia
de me dar
até sem receber!
HIPOCRISIAS
Demétrio Sena, Magé - RJ.
Quando era membro de uma igreja cristã, fui a pessoa mais hipócrita sobre a face da terra. Para mim, o mundo estava completamente nas trevas; ninguém prestava, se não fosse convertido... em outras palavras, se não fosse como eu. Foi assim que aprendi com o meio, naquele tempo e lugar; foi assim que fui orientado a pensar e agir.
Faz muitos anos que não sou membro de qualquer comunidade religiosa. Mesmo assim, continuo sendo a pessoa mais hipócrita sobre a terra. Entre outros motivos, por me julgar melhor do que os convertidos, mesmo sabendo e não desejando fazê-lo. Sobretudo, por cair na tentação de me julgar a pessoa menos hipócrita sobre a terra.
AUTOPERMISSÃO
Demétrio sena, Magé - RJ.
Quero todas as vidas que a vida permite,
cada uma em seu tempo, sua duração,
sua fase, versão, seu desenho do mundo
que me cerca e não posso me desvencilhar...
Ponho todos os mundos que o mundo dispõe,
sob os pés aprendizes de novos caminhos,
entre flores, espinhos, verdades e farsas
e as forças ocultas que chamam meus olhos...
Desde cedo me jogo no abismo do tempo,
jogo todos os jogos que tudo insinua,
minha lua não pode reger meus instintos...
Morrerei de viver, de sonhar e sentir,
permitir a mim mesmo, soltar minha fauna
e deixar o depois para quando não sei...
Demétrio Sena, Magé - RJ.
Há sempre uma desculpa indesculpável pré-fabricada na língua de quem devasta. Mas os benefícios de poupar a natureza são sempre muito maiores do que os incômodos relatados por quem corta uma árvore; assoreia um rio; polui o mar; comete caça ou pesca predatória; mata uma coruja que adentrou a casa ou a cobra que simplesmente atravessava uma rua.
UMA GRANDE BESTEIRA
Demétrio Sena, Magé - RJ.
A morte acaba de convocar o Ermenevaldo Bastos da Figa... ou de uma Figa. Ermenevaldo, pessoa de grande vulto e prestígio, era imortal. Pelo menos estava imortal. Era membro de academia de letras.
É assim mesmo, a vida: somos imortais até que a morte nos desminta. Ou mortais, até que a morte nos imortalize por algum tempo, talvez por algumas gerações, em saudades ou homenagens pontuais. Uma eternidade miúda, passageira, se considerarmos a própria eternidade.
O que aprendi neste mundo, até o momento, é que a vida é besta. Somos todos, bestas... tudo isto não passa de uma grande besteira.
FANATISMO
Demétrio Sena, Magé - RJ.
Sob o pano da voz enfumaçada, uma dignidade pálida... luz de vela nos olhos encardidos. Resvala uma coragem medrosa e garantida pela sombra da cruz... pela certeza incerta e obrigatória de um futuro distante, lá no além, porque o mundo parou ao seu redor.
É um pobre diado a serviço dos céus. Desafia entidades, trevas, não teme as sombras... um herói protegido pelas barras da saia da fé... pela certeza de que os vilões abstratos, inimigos gasosos, intocáveis, não empunham cacetes; navalhas; armas-de-fogo.
Leva um sonho espremido, atado e tenso, e sua paz está sempre numa trincheira... numa bolha... num andor. Tem a beira do abismo sob os pés, e ri à toa; ri sem riso; ri sem razão...
alegria infeliz de fanatismo... de religião.
EX-LAR
Demétrio Sena, Magé - RJ.
Uma treva cavalga sobre as luzes frias
que refletem seu facho na ilusão dos olhos;
nas lacunas vazias que fazem saber
a verdade que ronda os limites da casa...
Belos móveis e quadros, paredes, enfeites,
boas fotos que mostram momentos vividos,
badulaques de vidro, copos de bom gosto
e vinagres; azeites; temperos; aromas...
Mas aquelas pessoas perderam a graça,
não há risos abertos, conversas floridas,
nem há vida nas vidas que jazem ali...
Dias nascem tão velhos das noites insones,
tanto sonho perdido na sombra e no vão;
na magia quebrada sobre o chão da casa...
TRATADO SOBRE A SOLIDARIEDADE
Demétrio Sena, Magé - RJ.
Apresento-lhes uma graça desmedida que restitui o bom do mundo... que nos faz entender o dom da vida e desejá-la com plenitude. Trata-se de uma força que não vem da força bruta. Que não cultua, não valoriza nem quer saber quem vence quem.
A solidariedade não “põe no prego” para cobrar depois. Quem é solidário não vende nem troca o bem que faz. Apenas faz. Tão só se doa. É um agente voluntário do ser gente. Do ser urgente, ou sempre a postos, por quem precisa.
Solidários não fazem conta do que fazem; muitas vezes não sabem o que fazem; nunca sabem por quem. São tão poucos os solidários, e tão modesto é o seu desempenho, que o mundo sempre os explora e depois nem sabe quem eram eles.
É assim mesmo, a solidariedade. Quem a pratica não sofre, porque ama... e porque ama praticá-la. Quanto mais se doa, mais se acumula para doar, e se doer, não importa. A dor que adentra uma fresta, imediatamente sai por outra.
Não me avexo em dizer que solidários famosos não são de fato solidários. Ao divulgarem o que fazem, apresentam promissória para que a sociedade os ressarça em forma de prestígio e favores futuros. Da visibilidade que atrai ascensão.
Ser solidário é não perceber a ingratidão do outro. É amar para ser ou não amado, e continuar amando. Assumir e aceitar, de uma vez por todas, que a sua solidariedade pode ser, para si próprio, sinônimo de solitariedade.
CORAÇÃO ETERNO
Demétrio Sena, Magé - RJ.
Coração desenhado na jaqueira;
uma feira de cenas pra lembrar;
um luar tatuado na saudade
mais intensa; profunda; pessoal...
As lembranças florescem no meu campo
de vivências, amores e caminhos,
tem espinhos que a vida só não tem
para quem se plantou na própria fuga...
Sobre todas as dores te recordo
entre a luz de sorrisos multicores
da paixão desenhada pela idade...
Na jaqueira que assombra meu olhar,
muitas vezes evoco teu fantasma
e me deixo te amar mais uma vez...
PETER PAN
Demétrio Sena, Magé - RJ.
Um menino passado a lutar contra os anos,
uma vida enguiçada em balneário impróprio,
sob as perdas e os danos que o tempo confirma
sem acesso aos apelos do mundo irreal...
A criança que teima num corpo de adulto
é um vulto esquecido numa solitária;
um assombro que brinca de brincar de fato;
um retrato que pensa que pensa e que vive...
Tenho dó do menino que jamais cresceu,
distorceu a passagem do tempo na pele
sobre a gasta estrutura de puro tamanho...
Perguntar não constrange, se faço ao meu fundo;
em que rua do mundo acabou a saída;
a que horas da vida ele vai acordar...
MITOLOGIA DO AMOR PERFEITO
Demétrio Sena, Magé - RJ.
Só é lindo por ser um ideal;
uma imagem distante; uma saudade;
um varal de lembranças no infinito...
Foi um mito que a mão vivenciou,
veio ao corpo, marcou no sentimento,
porém foi; só por isso ainda é lindo...
Quase demos um fim ao romantismo
que se traja do mesmo azul-distância
do lirismo inegável das montanhas...
Não podemos voltar aos nossos olhos,
pois nos vemos melhor quando não vemos;
temos esta ilusão do que não é...
Somos anjos por termos nossos céus
em extremos opostos que nos guardam
sob véus de virtudes surreais...
Nunca mais será lindo, se voltarmos,
resgatarmos a nossa humanidade,
porque toda verdade virá junto...
RETROVISOR
Demétrio Sena, Magé - RJ.
De repente uma vida foi tão pouco;
não pra todos os sonhos ou seus feitos,
pros defeitos, virtudes, erros, tinos,
nem o lúcido e louco no meu ser....
Foi pro quanto não fiz, não consertei,
os perdões que deixei de conseguir,
as emendas frustradas e suturas
de meu ir e meu vir desencontrados...
Uma vida foi pouco pra voltar
dos caminhos escusos que trilhei,
cada vez em que o pé ficou sem chão...
Tanto passo perdido fez a vida
se perder dos meus pingos, dos meus is
e do giz que falhou no quadro negro...
PARAÍSO DE PAI
Demétrio Sena, Magé - RJ.
É temer um futuro que não é mais meu,
construir uma vida que não é pra mim,
rechear o meu fim de alegrias aflitas
e tristezas felizes que me tornem pleno...
Minha força está justo no meu ponto fraco;
sigo a luz que me cega, para para ver melhor;
cato caco por caco de minha vivências
pra forjar uma placa de não corra tanto...
Sou quem sou por quem sei em que momento está,
quero a dor que puder continuar só minha,
pra que só as espinhas sejam seus espinhos...
Paraíso de pai é mentir pra si mesmo;
é fingir que tem dom de adocicar o fel
pra dar céu a quem sabe que pertence ao mundo...
SEM VOCÊS
Demétrio Sena, Magé - RJ.
Sem vocês me sinto fim. Uma espécie de folia sem reis que pede prendas aos grãos de areia do Saara. Uma planta desprovida de folhas, folha desidratada e fila imensa de absolutamente ninguém.
Eu, sem vocês, não passo de pátria sem nação. Caminho sem solo e reta sem ponto... corpo sem ossos. Até com alma, porém sem ossos. Copo desprovido de fundo, pelo qual resvalam conteúdos desperdiçados. Sinto-me ninguém, com sem, sem com. Grito que não soa, cabeça sem mula e lenda sem região. Mitologia sem Grécia. Templo sem igreja.
É assim que sou sem vocês. Um misto imenso de nadas. Isto sem aquilo. Conto de fada sem fada. Conta sem produto... simples assim: eu sem vocês não sou eu... ou sou eu sem mim.
DE BOA FÉ
Demétrio Sena, Magé - RJ.
Prefiro me fazer de bobo, a ter uma consciência maliciosamente permissiva. Dessas que me levariam a fazer o próximo de bobo.
Tenho muitos defeitos. Muitos, mesmo. Tantos, que até sufocam e anulam, não raras vezes, as poucas qualidades que me permito saber que tenho. Que ainda tenho.
Das minhas bem poucas qualidades, creio poder afirmar que sou um homem de boa fé. Ou se você preferir: de boba fé.
EXTRA-QUADRO
Demétrio Sena, Magé - RJ.
Há um ser de quem tudo se fez e sustenta;
uma base, a raiz, a provisão do espaço,
mas não faço menção de saber quem ou quê,
nem me deixo supor que alguém saiba por mim...
Já venci a crendice no Deus previsível
que se rende ao discurso do nosso elogio,
tem um cio implacável de gestos contritos
e de servos entregues à sua vontade...
Seja Deus, outro nome, acredito num ser
sem nenhuma legenda nos livros impostos,
nem a postos pra todos que lhe rendem cultos...
É alguém, talvez algo, muito longe ou perto;
gritará no deserto e na treva total,
qualquer um que pretenda rotular um Deus...
MEU QUINTAL
Demétrio Sena, Magé - RJ.
Uma rede me aguarda no quintal;
numa sombra que a mão até apalpa;
rede não social, por ser só minha,
só aceita o calor de minha pele...
Os calangos procuram meus sinais,
a mangueira não sabe o que dizer,
nem a cobra cipó entre a folhagem
faz menção de saber aonde ando...
Vim ao bairro buscar o que não planto
no meu canto, na terra de arvoredo;
volto logo a compor essa paisagem...
Minha fauna se une à minha flora
nesta hora de ausência inesperada;
meu quintal me requer, pois mora em mim...
ORAÇÃO E FÉ
Demétrio Sena, Magé – RJ.
Se eu tivesse uma fé que me levasse a orar, jamais teria uma oração decorada. Dessas que todo mundo admira por seus termos corretos, a concordância em dia, o rebuscamento e a total ausência de pleonasmos e vícios. Conheço minha emoção à flor da pele, quando trato de assuntos não materiais; quando caio no campo dos afetos; dos sentimentos ou instintos. Do que não se define pela intelectualidade ou a frieza do conhecimento acadêmico.
É por isso que acredito mais nos fiéis religiosos do que nos líderes, com todos os seus conhecimentos adquiridos em seminários, onde o divino ou sobrenatural vira tese. Torna-se objeto sistemático dos mais rebuscados estudos científicos que buscam explicações pela lógica, sendo que nenhuma lógica explica o que deságua no campo da fé. E a fé, como até eu sei, é o fundamento do que não se vê nem está preso ou sujeito a provas, mas ao livre sentimento e aceitação sincera de cada um.
O verdadeiro conhecimento religioso não é exatamente o conhecimento. Por isso é intuitivo e livre. Quem conhece com o coração, conhece de natureza; de sentimento e percepção profundos. Por isso, conhece mais do que aquele que aprendeu o que julga saber nos bancos da formalidade. Por meio de catedráticos que também aprenderam de outros catedráticos que ao longo dos tempos ou das idades do mundo fizeram da fé uma ciência exata.
Além dos simples de formação, conheço gente de formação acadêmica invejável, mas que tem essência e se mantém no patamar de ser humano comum. Que se reconhece notoriamente, não por palavras, mas por postura, um “perfeito” ignorante confesso dos assuntos que não são de nossa alçada. Conhecem a literatura e a história humana segundo a Bíblia, no entanto sabem que nada sabem além das abordagens, pois a Bíblia não é um tratado que dissecou a natureza, o pensamento e a biologia do possível Deus.
Por isso a minha oração, caso eu fosse religioso, perderia todas as arrotações do meu pretenso saber. Pelo menos pretendo crer que assim seria depois do que já observei do nenhum saber humano sobre o que não há como saber. Ouso crer que só é sincera uma oração submissa; que não sai da mente. Ela é o coração gago numa voz sumida e sem convicção de méritos. Oração é coração. Só falta o c.
DE UM GRANDE AFETO IMPROVÁVEL
Demétrio Sena, Magé – RJ.
Quase nunca, mas ocorre uma pessoa ter tanto carinho, amizade – e respeito – por outra, quase sempre de outro gênero, que acabe se permitindo certos desprendimentos e confidências, e com real pureza de propósitos ou intenções. Isso pode ser um problema, se toda essa carga de sentimento e confiança não for correspondida com exatidão pela outra parte. Aí surge aquele pé atrás e vem o distanciamento sem prévio aviso, de quem não está preparado para tanta entrega e tamanha falta de noção resultante da certeza de uma recíproca irrestrita, o que justificaria essa cumplicidade.
Temos que ter freios e filtros, para não sermos tão seguros da igualdade afetiva do outro, pelo menos até que o outro dê sinais relevantes da mesma intensidade; a mesma entrega; os mesmos tons. A coincidência do exato afeto raro na extremidade oposta é ainda mais rara do que o próprio afeto. Poucos indivíduos têm estrutura para viver algo tão delicado, belo e ao mesmo tempo tão fácil de ser confundido na linha tênue que o separa do abuso. É compreensivelmente normal que tanta gente se arme contra sentimentos tão improváveis – e suas manifestações tão peculiares –, pela natureza misteriosa dessa raridade. De fato, muitas pessoas fingem essa pureza de alma e coração, para cometerem dissimuladamente certas improbidades pseudo-afetivas.
Finalmente aprendi que o encontro de duas almas tão similares e alheias a desejos comuns é um grande acontecimento. Mas temos que ter bom senso, muito critério e profunda observação do outro, para termos certeza de que o encontro é incontestável. Não sendo o caso, as nossas demonstrações intensas de amizade extrema podem gerar temor, conflito, aversão e, às vezes, alguma medida radical. Tenhamos inteira consciência da sociedade na qual vivemos, e sendo assim, respeitemos completamente o direito alheio à não recíproca ou à relutância em relação ao caráter de nossa entrega.
Sobretudo, saibamos reconhecer o equívoco de nossas expectativas e identificar a hora de retirar os excessos... tornar comum o que é especial... tirar do plano superior o que nutrimos sozinhos e assumir uma relação como qualquer outra. É inconcebível que o ser humano desperdice comida, tempo e afeto.
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