Carta De Amor De Fernando Pessoa

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Sou pessoa de dentro pra fora. Minha beleza está na minha essência e no meu caráter. Quando sonho, sonho alto. Estou aqui é pra viver, cair, aprender, levantar e seguir em frente. Sou isso hoje. Amanhã, já me reinventei. Reinvento-me sempre que a vida pede um pouco mais de mim. Sou complexa, sou mistura, sou mulher com cara de menina... E vice-versa. Me perco, me procuro e me acho. E quando necessário, enlouqueço e deixo rolar... Não me dou pela metade, não sou tua meio amiga nem teu quase amor. Ou sou tudo ou sou nada. Não suporto meio termos. Preciso e gosto de intensidade, e se não for assim, prefiro que não seja!

Thaísa Lima

Nota: Trecho adaptado do livro "Encontros e Desencontros de uma Adolescente".

Nunca precisei fingir que sou uma pessoa boa. Nunca precisei fingir que eu não to nem aí quando eu to mais aí do que aqui. Não faz meu tipo. Me esforço às vezes pra ser romântica, pra acreditar nos planos. Pra acreditar nas pessoas. Nunca chorei pra convencer. Talvez porque não faço questão de convencer. Ou, como você mesmo diz, sou direta. Fria. Seca. É. Nada disso é novidade pra ninguém. É só o meu jeito.

Uma pessoa inteligente aprende com os seus erros, uma pessoa sábia vai além e aprende com os erros dos outros, pois é uma grande observadora. Procure um grande amor na vida e cultive-o. Pois sem amor a vida se torna um rio sem nascente, um mar sem ondas, uma história sem aventuras! Mas em primeiro lugar tenha um caso de amor consigo mesmo.

Para atravessar agosto ter um amor seria importante, mas se você não conseguiu, se a vida não deu, ou ele partiu – sem o menor pudor, invente um. Pode ser Natália Lage, Antonio Banderas, Sharon Stone, Robocop, o carteiro, a caixa do banco, o seu dentista. Remoto ou acessível, que você possa pensar nesse amor nas noites de agosto, viajar por ilhas do Pacífico Sul, Grécia, Cancún ou Miami, ao gosto do freguês. Que se possa sonhar, isso é que conta, com mãos dadas, suspiros, juras, projetos, abraços no convés à lua cheia, brilhos na costa ao longe. E beijos, muitos. Bem molhados.

Caio Fernando Abreu
Pequenas epifanias. Rio de Janeiro: Agir, 2006.

Nota: Trecho da crônica Sugestões para atravessar agosto, publicada originalmente no jornal "O Estado de S. Paulo", em 6 de agosto de 1999.

...Mais

Afastarei você com o gesto mais duro que conseguir, e direi duramente que seu amor não me toca nem me comove, e que sua precisão de mim não passa de fome. Acho que é isso que você não é capaz de compreender, que as pessoas, um dia, passam a não querer mais o que têm. E a gente esquece sabendo que está esquecendo.

Eu só fui perceber que tinha amor quando fiquei longe dele. Assim mesmo, percebi isso vagamente, e voltei também vagamente por causa disso. Eu perdi, eu tenho consciência absoluta de que eu perdi a oportunidade de amor mais viva e profunda que me foi oferecida até hoje. E agora eu não posso fazer mais nada.

Não era amor. Aquilo era solidão e loucura, podridão e morte. Não era um caso de amor. Amor não tem nada a ver com isso. Ela era uma parasita. Ela o matou porque era uma parasita. Porque não conseguia viver sozinha. Ela o sugou como um vampiro, até a última gota, para que pudesse exibir ao mundo aquelas flores roxas e amarelas. Aquelas flores imundas. Aquelas flores nojentas. Amor não mata. Não destrói, não é assim. Aquilo era outra coisa. Aquilo é ódio.

Uma reflexão sobre o amor e a vida

Às vezes as pessoas que amamos nos magoam, e nada podemos fazer senão continuar nossa jornada com nosso coração machucado.
Às vezes nos falta esperança. Às vezes o amor nos machuca profundamente, e vamos nos recuperando muito lentamente dessa ferida tão dolorosa.
Às vezes perdemos nossa fé, então descobrimos que precisamos acreditar, tanto quanto precisamos respirar... é nossa razão de existir.
Às vezes estamos sem rumo, mas alguém entra em nossa vida, e se torna o nosso destino.
Às vezes estamos no meio de centenas de pessoas, e a solidão aperta nosso coração pela falta de uma única pessoa.
Às vezes a dor nos faz chorar, nos faz sofrer, nos faz querer parar de viver, até que algo toque nosso coração, algo simples como a beleza de um pôr do sol, a magnitude de uma noite estrelada, a simplicidade de uma brisa batendo em nosso rosto.
É a força da natureza nos chamando para a vida.
Você descobre que as pessoas que pareciam ser sinceras e receberam sua confiança, te traíram sem qualquer piedade.
Você entende que o que para você era amizade, para outros era apenas conveniência, oportunismo.
Você descobre que algumas pessoas nunca disseram eu te amo, e por isso nunca fizeram amor, apenas transaram...
Descobre também que outras disseram eu te amo uma única vez.
E agora temem dizer novamente, e com razão, mas se o seu sentimento for sincero poderá ajudá-las a reconstruir um coração quebrado.
Assim ao conhecer alguém, preste atenção no caminho que essa pessoa percorreu, são fatoresimportantes: a relação com a família, as condições econômicas nas quais se desenvolveu (dificuldades extremas ou facilidades excessivas formam um caráter), os relacionamentos anteriores e as razões do rompimento, seus sonhos, ideais e objetivos.
Não deixe de acreditar no amor. Mas certifique-se de estar entregando seu coração para alguém que dê valor aos mesmos sentimentos que você dá.
Manifeste suas idéias e planos, para saber se vocês combinam. E certifique-se de que quando estão juntos, aquele abraço vale mais que qualquer palavra.
Esteja aberto a algumas alterações, mas jamais abra mão de tudo, pois se essa pessoa te deixar, então nada irá lhe restar.
Tenha sempre em mente que às vezes tentar salvar um relacionamento, manter um grande amor, pode ter um preço muito alto se esse sentimento não for recíproco.
Pois em algum outro momento essa pessoa irá te deixar e seu sofrimento será ainda mais intenso, do que teria sido no passado.
Pode ser difícil fazer algumas escolhas, mas muitas vezes isso é necessário.
Existe uma diferença muito grande entre conhecer o caminho e percorrê-lo.
A tristeza pode ser intensa, mas jamais será eterna.
A felicidade pode demorar a chegar, mas o importante é que ela venha para ficar e não esteja apenas de passagem...

François de Bitencourt

Nota: Muitas vezes atribuído de forma errônea a Luis Fernando Verissimo.

Quando eu partir, não se lamente.
Pode chorar, mas não desperdice muitas lágrimas.
Guarde nossos sorrisos.
Guarde nossos abraços.
Os momentos que pareceram eternos.
Tente lembrar de algumas brigas.
Mas só daquelas em que nos reconciliamos.
Lembre-se do "eu te amo".
E esqueça do "eu te odeio" dito impensadamente.
Sorria das piadas que fiz.
E esqueça dos palavrões que falei.
Deseje novamente meus carinhos.
Mas esqueça das feridas que abri em você.
Lembre-se dos sorrisos espontâneos.
Mas esqueça dos dias em que me pegou de mau-humor.
Lembre-se que fui humano.
Amei humanamente o quanto pude.
Vivi humanamente enquanto pude.
E errei mais do que gostaria.
Mesmo assim, esse momento não me é doloroso.
Tenho que ir.
Tenho mesmo que ir.
Mas levarei pedaços de você comigo.
Deixarei pedaços meus com você.
E quando quiser me encontrar, olhe pro céu.
Procure Deus entre as nuvens.
Procure-me entre Deus.
Você não O verá.
Mas eu te verei.
O simples fato de você procurar por Ele, fará minh'alma mais feliz.
E se em algum momento uma chuva fina banhar teu semblante, saiba que será Deus atendendo um pedido meu, derramando em você todo o amor de meu coração para sussurrar discretamente:
- Estarei sempre contigo.

Hoje eu só queria poder me perder nos teus braços e viajar em um mundo só meu e que
só existe quando estou com você, até seu beijo me trazer de volta e eu me reencontrar no seu olhar.
Essa não é uma carta de amor, e tentarei não ser clichê e nem tão dramático, por mais que isso
faça parte de mim, e acredito que essa não seja uma carta tão comum. Na verdade, nem de
despedida, te escrevo uma carta de até logo. Porque me despedir de você me dói tanto, dói porque
nossas almas estão ligadas. Talvez sempre tenham sido e sempre serão.
Talvez nós tenhamos vivido mil vidas antes desta e em cada uma delas nós nos encontramos,
e talvez a cada uma delas tenhamos sido forçados a nos separar pelos mesmos motivos.
Isso significa que este adeus é, ao mesmo tempo, um adeus pelas últimas dez mil vidas e um prelúdio
do que virá.
E te escrevo porque não tivemos a chance de nos despedir.
Você partiu sem ao menos eu poder dizer tchau, adeus ou um até logo,
mas a vida é isso, temos que fazer nossas escolhas e, como eu sempre te disse:
a vida nos obriga a escolher caminhos que não podemos levar todo mundo, e você não me levou.
E não guardarei mágoa pela sua escolha. É sua vida, é sua felicidade, e não posso
guardar nenhum sentimento que não seja o desejo de que você seja feliz.
Tudo na vida tem os dois lados, posso ficar pensando que perdi o amor da minha vida,
mas também posso me lembrar de que, em um mês, você me fez sentir coisas que eu
não acreditava que poderia sentir de novo, e acredito que isso tem que acontecer hoje,
para dar certo amanhã.
Estou sentindo muito sua falta e sei que isso nunca irá curar por completo, porque completo
eu me senti quando estive ao seu lado. Mas talvez ainda não seja o momento, o nosso tempo.
Bom, queria só te dizer que eu te amo e sempre vou te amar, e que sei que a vida
nos dará outra chance.
Não direi adeus porque não dá para desfazer um laço tão puro e bonito como o nosso e também não direi porque sei que não é, sei que vou te reencontrar e sei que um dia te terei por completa, e que meu pedido para aquela estrela-cadente vai se realizar.

Penso muito sobre tudo o que aconteceu conosco.
E ao mesmo tempo que me vem uma alegria imensa por eu ter vivido algo tão especial,
também me bate uma tristeza enorme de saber que está se acabando, ou já se acabou e eu não quero aceitar isso.
Mas o que estou vendo é você se distanciar aos poucos de mim. Como você disse, está realmente tentando desapegar de mim.
E estou vendo que eu já não tenho espaço na sua vida.
Você fez sua escolha, e eu preciso aceitar e também preciso começar a traçar meu caminho.
E nesse caminho terei que aprender a sonhar sem ter você.
Vou ter que me acostumar a caminhar sozinho de novo, porque mesmo que fosse apenas sonhos e projetos de uma vida, eu projetei momentos com você, imaginei traçar com você qualquer caminho que a vida nos impusesse a percorrer e terei que abandoná-lo na história.
É difícil escrever um quase tchau de uma coisa que nem acabou.
O amor não acabou, o desejo, a saudade, o coração acelerado.
Tudo isso está aqui guardado no peito para quem sabe, um dia, a vida me deixar ser seu.
Hoje não é o momento. Ou até seria, mas somos obrigados a fazer escolhas, não é?
Você nunca me enganou ou me prometeu nada, por isso digo que sempre estarei aqui,
para tudo que você precisar. Se quiser sorrir comigo, se quiser chorar no meu ombro.
Se quiser desabafar ou apenas deitar sobre meu peito, eu estarei aqui.
Serei para sempre seu amigo, mesmo com meu peito gritando para querer ser seu amor.

A Criança que Fui Chora na Estrada

A criança que fui chora na estrada.
Deixei-a ali quando vim ser quem sou;
Mas hoje, vendo que o que sou é nada,
Quero ir buscar quem fui onde ficou.

Ah, como hei-de encontrá-lo? Quem errou
A vinda tem a regressão errada.
Já não sei de onde vim nem onde estou.
De o não saber, minha alma está parada.

Se ao menos atingir neste lugar
Um alto monte, de onde possa enfim
O que esqueci, olhando-o, relembrar,

Na ausência, ao menos, saberei de mim,
E, ao ver-me tal qual fui ao longe, achar
Em mim um pouco de quando era assim.

Te exclui da minha vida. Alias, me exclui dos caminhos que me levavam a você. Vai ser difícil tirar você daqui de dentro. Se eu não te tiro, então eu saio. Dá vontade realmente de sair desse corpo e ir morar em outro, como se as emoções e os fatos que aconteceram com essa matéria, ficassem dentro dela e não me perseguissem quando eu fosse outro. Dá vontade de sair daqui. De ir pra bem longe. De nunca mais te ver. Mas dá vontade de te ouvir me chamando la fora numa noite qualquer e pedindo perdão pelas vezes que pensou mais em você do que em mim, que não me entendeu. Pedindo pra eu ficar. Não te abandonar. Dá vontade de ver meu celular vibrar e na tela uma mensagem sua, dizendo que eu fui a melhor coisa que te aconteceu. Eu te amo. Te desejo alegrias. Cartas anônimas de amor. Brisas aos fins de tarde. Amigos. Te desejo desejos! Eu te amo. Me fala se um dia tua saúde estiver fraca, eu mando minhas energias mais positivas pra te ver bem. Eu falo com Deus por você. Dou um ultimato no seu anjo-da-guarda. Eu realmente te amo. Vai se lembrar disso amanhã? Eu espero que sim. Vou lembrar-me de você a minha vida inteira.

Fiquei doido, fiquei tonto...
Meus beijos foram sem conto,
Apertei-a contra mim,
Aconcheguei-a em meus braços,
Embriaguei-me de abraços...
Fiquei tonto e foi assim...

Sua boca sabe a flores,
Bonequinha, meus amores,
Minha boneca que tem
Bracinhos para enlaçar-me,
E tantos beijos p'ra dar-me
Quantos eu lhe dou também.

Ah que tontura e que fogo!
Se estou perto dela, é logo
Uma pressa em meu olhar,
Uma música em minha alma,
Perdida de toda a calma,
E eu sem a querer achar.

Dá-me beijos, dá-me tantos
Que, enleado nos teus encantos,
Preso nos abraços teus,
Eu não sinta a própria vida,
Nem minha alma, ave perdida
No azul-amor dos teus céus.

Não descanso, não projecto
Nada certo, sempre inquieto
Quando te não beijo, amor,
Por te beijar, e se beijo
Por não me encher o desejo
Nem o meu beijo melhor.
(Fernando Pessoa)

CARTA PARA O HOMEM QUE MORREU E UM POUCO DE VERDADE VIVA

(...)Eu passo quieta por você, você passa quieto por mim, e eu ainda escuto o barulho que a gente faz.
(...)E você já abalou tanto a minha vida. Que pena, agora você morreu.
(...)Não morre, por favor. Seja ele, seja o homem que perde um segundo de ar quando me vê.
Mas você nunca mais me olhou quase chorando, você nunca mais se emocionou, nem a mim.
Você nunca mais pegou na minha mão e me fez sentir segura. Nunca mais falou a coisa mais errada do mundo e fez o mundo valer a pena.
Eu treinei viver sem você, eu treinei porque você sempre achou um absurdo o tanto que eu precisava de você para estar feliz.
De tanto treinar acostumei.
(...)Eu só queria que ele aparecesse, o homem que vai me olhar de um jeito que vai limpar toda a sujeira, o rabisco, o nó.
O homem que vai ser o pai dos meus filhos e não dos meus medos.
O homem com o maior colo do mundo, para dar tempo de eu ser mulher, transar para sempre. Para dar tempo de seu ser criança, chorar para sempre.
Para dar tempo de eu ser para sempre.
Cansei de morrer na vida das pessoas. Por isso matei você.
Antes que eu morresse de amor. Matei você.
Eu sei que sou covarde. Surpreso? Eu não.

Tati Bernardi

Nota: Trecho da crônica "Carta para o homem que morreu e um pouco de verdade viva".

Última Carta:
Querida Holly, Eu não tenho muito tempo, não digo literalmente é que você foi comprar sorvete e vai voltar logo! Mas tenho a impressão de que é a última carta porque só resta uma coisa pra dizer, não é para se lembrar sempre de mim ou comprar um abajur, você pode se cuidar sem a minha ajuda, é para dizer como você mexeu comigo, como você me ajudou me amando, você fez de mim um homen, Holly, e por isso eu sou eternamente grato, literalmente. Se pode me prometer alguma coisa, prometa que sempre que se sentir triste ou insegura ou perder completamente a fé vai tentar olhar para si mesma com meus olhos. Obrigado pela honra de ter você como esposa, eu não tenho o que lamentar, tive muita sorte. Você foi a minha vida Holly, mas eu sou apenas um capítulo da sua, haverá mais eu prometo portanto aqui vai o meu grande conselho: não tenha medo de se apaixonar de novo, fique atenta àquele sinal de que não haverá mais nada igual.
P.S. Eu sempre vou te amar.
(P.S. Eu Te Amo)

CARTA DE UM PAI AO FILHO


Amado Filho,


O dia em que este velho já não for o mesmo, tenha paciência e me compreenda.

Quando eu derramar comida sobre minha camisa e esquecer como amarrar meus sapatos, tenha paciência comigo e se lembre das horas que passei te ensinando a fazer as mesmas coisas.

Se quando conversa comigo, repito e repito as mesmas palavras e sabes de sobra como termina, não me interrompas e me escute. Quando era pequeno, para que dormisse, tive que contar-lhe milhares de vezes a mesma estória até que fechasse os olhinhos.

Quando estivermos reunidos e, sem querer, fizer minhas necessidades, não fique com vergonha e compreenda que não tenho a culpo disto, pois já não as posso controlar. Pensa quantas vezes quando menino te ajudei e estive pacientemente a seu lado esperando que terminasse o que estava fazendo.

Não me reproves porque não queira tomar banho; não me chames a atenção por isto. Lembre-se dos momentos que te persegui e os mil pretextos que tive que inventar para tornar mais agradável o seu banho.

Quando me vejas inútil e ignorante na frente de todas as coisas tecnológicas que já não poderei entender, te suplico que me dê todo o tempo que seja necessário para não me machucar com o seu sorriso sarcástico.
Lembre-se que fui eu quem te ensinou tantas coisas.
Comer, se vestir e como enfrentar a vida tão bem com o faz, são produto de meu esforço e perseverança.

Quando em algum momento, enquanto conversamos, eu chegue a me esquecer do que estávamos falando, me dê todo o tempo que seja necessário até que eu me lembre, e se não posso fazê-lo não fique impaciente; talvez não fosse importante o que falava e a única coisa que queria era estar contigo e que me escutasse nesse momento.

Se alguma vez já não quero comer, não insistas. Sei quando posso e quando não devo.

Também compreenda que, com o tempo, já não tenho dentes para morder, nem gosto para sentir.

Quando minhas pernas falharem por estarem cansadas para andar, dá-me sua mão terna para me apoiar, como eu o fiz quando começou a caminhar com suas fracas perninhas.

Por último, quando algum dia me ouvir dizer que já não quero viver e só quero morrer, não te enfades. Algum dia entenderás que isto não tem a ver com seu carinho ou o quanto te amei.

Trate de compreender que já não vivo, senão que sobrevivo, e isto não é viver.

Sempre quis o melhor para você e preparei os caminhos que deve percorrer.

Então pense que com este passo que me adianto a dar, estarei construindo para você outra rota em outro tempo, porém sempre contigo.

Não se sinta triste, enojado ou impotente por me ver assim. Dá-me seu coração, compreenda-me e me apóie como o fiz quando começaste a viver.

Da mesma maneira que te acompanhei em seu caminho, te peço que me acompanhe para terminar o meu.
Dê-me amor e paciência, que te devolverei gratidão e sorrisos com o imenso amor que tenho por você.

Atenciosamente,

Teu Velho

Apenas mais uma carta

Não acredito em despedidas programadas, em último beijo ou em bilhete de adeus. Quanto menos remoemos a mágoa da separação melhor, cada um no seu canto, cada um com seus argumentos e verdades, sejam eles sinceros ou não. Portanto, essa é mais uma daquelas cartas que escrevo sem a intenção de enviar, uma carta que você nunca vai receber.

Antes de tudo preciso lhe agradecer por tornar nossa despedida muito mais fácil para mim. Se antes você mudava e alegrava o meu dia pelo simples fato de estar por perto, hoje você me perturba com seus rancores, me incomoda com suas loucuras e me entristece com suas tantas verdades omitidas durante todo o tempo em que estivemos lado a lado.

Obrigada por ter me feito acreditar que você era diferente de todos os outros homens, obrigada pelo amor que você me fez crer que sentia por mim. Obrigada pelo tempo em que vivi iludida e feliz, pelos anos em que eu confiei em você e no seu amor sem fim. Mas muito obrigada mesmo por agora me fazer enxergar que nada disso existiu, que eu estive sozinha quando pensei estar com você. Obrigada por me mostrar que eu não perdi nada pelo simples fato de que não posso manter comigo algo que nunca foi meu.

A verdade é que não posso lhe culpar por nenhuma das minhas penas. Se você fez o que quis de mim e mudou o rumo da minha vida foi porque eu permiti. Você nunca me pediu nada e eu sempre lhe dei tudo, já que era o único jeito de ficarmos juntos. E como eu queria viver perto de você.

Uma lástima que eu tenha percebido tarde demais que o amor precisa de dois para acontecer e que sozinha eu acabaria cedo ou tarde ficando pelo caminho, uma pena que eu tenha avistado o fim da estrada apenas quando o alcancei. Se eu tivesse aberto um pouco antes meus olhos talvez o choque fosse menor, talvez agora eu estivesse melhor preparada para lidar com tantas decepções. Talvez.

Dessa minha carta sem destino, só quero que você guarde uma coisa: muito obrigada. Obrigada por me mostrar a cada nova atitude que você não é nada daquilo que imaginei.

CARTA DE UM AMARGURADO CORAÇÃO

Prezado Sentimento
Já há longa data, Vossa Senhoria tem batido sem permissão a minha porta e tirado meu sono, meu sossego. Pior que isto: tens me torturado e dado muito prazer ao mesmo tempo, como uma droga agindo sobre um viciado.Seus representantes - cupidos - já não me deixam em paz e, aliás, parecem ter escolhido a mim como "Vítima" principal, pois estou constantemente dominado pelo seu intrépido vírus.
Desde que começastes a me contaminar com sua volúpia maleficência, minha vida parece ter se transformado em um complexo quebra-cabeça, onde estão faltando as peças principais. E estas peças não se compram, nem se encontram simplesmente na rua. Às vezes, quando acho que as encontrei, percebo que fazem parte de outro jogo, não se encaixam no meu. Estas mesmas peças são seres que "catalisam" a ação de seu vírus. Seres imensuravelmente superiores em sua plenitude e beleza. Incomparáveis em sua forma e maneira de nos cativar e após, dominar completamente.

Enfim, prezado sentimento, chego a finalidade desta e lhe comunico extraordinariamente :
“- Amor, suspenda seus cupidos, guarde suas flechas: estou de férias por tempo indeterminado. Tempo suficiente para me recuperar e preparar-me para a próxima”.
Assim espero e não aguardo deferimento "
Amorosamente, Coração Desafortunado da Vida !

CARTA DO AUSENTE

Meus amigos, se durante meu recesso virem por acaso
passar a minha amada peçam silêncio geral.
Depois apontem para o infinito.
Ela deve ir como uma sonâmbula, envolta numa
aura de tristeza, pois seus olhos só verão a minha
ausência.
Ela deve estar cega de tudo o que seja o meu
amor (esse indizível amor que vive trancado em mim num
cárcere mirando empós seu rastro).
Se for a tarde, comprem e desfolhem rosas à
sua melancólica passagem, e se puderem entoem
cantus-primus.
Que cesse totalmente o tráfego e silencie as
buzinas de modo que se ouça longamente o ruído de seus
passos.
Ah, meus amigos, ponham as mãos em prece e
roguem, não importa a que ser ou divindade por que bem
haja a minha grande amada durante o meu recesso, pois
sua vida é minha vida, sua morte a minha morte.
Sendo possível soltem pombas brancas em
quantidade suficiente para que se faça em torno a
suave penumbra que lhe apraz.
Se houver por perto um hi-fi, coloquem o
"Noturno em sí bemol" de Chopin.
E se porventura ela se puser a chorar, oh
recolham-lhe as lágrimas em pequenos frascos de
opalina a me serem mandados regularmente pela mala
diplomática.
Meus amigos, meus irmãos (e todos os que
amam a minha poesia), se por acaso virem passar a
minha amada salmodiem versos meus.
Ela estará sobre uma nuvem envolta numa aura
de tristeza o coração em luz transverberado.
Ela é aquela que eu não pensava mais
possível, nascida do meu desespero de não encontrá-la.

Ela é aquela por quem caminham as minhas
pernas e para quem foram feitos os meus braços, ela é
aquela que eu amo no meu tempo e que amarei na minha
eternidade - a amada una e impretérita.
Por isso procedam com discrição mas
eficiência: que ela não sinta o seu caminho, e que
este, ademais ofereça a maior segurança.
Seria sem dúvida de grande acerto não se
locomovesse ela de todo, de maneira a evitar os
perigos inerentes às leis da gravidade e do momentum
dos corpos, e principalmente aquele devidos à
falibilidade dos reflexos humanos.
Sim, seria extremamente preferível se
mantivesse ela reclusa em andar térreo e intramuros
num ambiente azul de paz e música.
Oh, que ela evite sobretudo dirigir à noite
e estar sujeita aos imprevistos da loucura dos tempos.

Que ela se proteja, a minha amada contra os
males terríveis desta ausência com música e equanil.
Que ela pense, agora e sempre em mim, que
longe dela ando vagando pelos jardins noturnos da
paixão e da melancolia.
Que ela se defenda, a minha amiga, contra
tudo que anda, voa, corre e nada; e que se lembre que
devemos nos encontrar, e para tanto é preciso que
estejamos íntegros, e acontece que os perigos são
máximos, e o amor de repente de tão grande tornou tudo
frágil, extremamente, extremamente frágil.