Carolina Maria de Jesus

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Carolina Maria de Jesus (1914-1977) foi uma escritora, compositora e poetisa brasileira, considerada uma importante percursora entre as autoras negras do país. Periférica, viveu parte da sua vida na favela do Canindé, em São Paulo, período durante o qual escreveu seus diários, publicados na obra "Quarto de Despejo" (1960).

Que efeito surpreendente faz a comida no nosso organismo! Eu que antes de comer via o céu, as árvores, as aves, tudo amarelo, depois que comi, tudo normalizou-se aos meus olhos.

A comida no estômago é como o combustível nas máquinas. Passei a trabalhar mais depressa. O meu corpo deixou de pesar. Comecei a andar mais depressa. Eu tinha a impressão que eu deslizava no espaço. Comecei a sorrir como se estivesse presenciando um lindo espetáculo. E haverá espetáculo mais lindo do que ter o que comer? Parece que eu estava comendo pela primeira vez na minha vida.

Fui ficando triste. O mundo há de ser sempre assim: negro para aqui, negro, para ali. E Deus gosta mais dos brancos do que dos negros. Os brancos têm casas cobertas com telhas. Se Deus não gosta de nós, por que é que nos fez nascer?

Eu estava pagando o sapateiro e conversando com um preto que estava lendo um jornal. Ele estava revoltado com um guarda civil que espancou um preto e amarrou numa árvore. O guarda civil é branco. E há certos brancos que transforma preto em bode expiatório. Quem sabe se guarda civil ignora que já foi extinta a escravidão e ainda estamos no regime da chibata?

Quando eu não tinha nada o que comer, em vez de xingar, eu escrevia. Tem pessoas que, quando estão nervosas, xingam ou pensam na morte como solução. Eu escrevia o meu diário.

⁠Atualmente somos escravos do custo de vida.

⁠Muitas fugiam ao me ver…

Muitas fugiam ao me ver
Pensando que eu não percebia
Outras pediam pra ler
Os versos que eu escrevia

Era papel que eu catava
Para custear o meu viver
E no lixo eu encontrava livros para ler
Quantas coisas eu quiz fazer
Fui tolhida pelo preconceito
Se eu extinguir quero renascer
Num país que predomina o preto

Adeus! Adeus, eu vou morrer!
E deixo esses versos ao meu país
Se é que temos o direito de renascer
Quero um lugar, onde o preto é feliz.

Carolina Maria de Jesus
Antologia pessoal. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 1996.

Eu sou negra, a fome é amarela e dói muito.

Inserida por pensador

No dia 13 de maio de 1958 eu lutava contra a escravatura atual: a fome!

Inserida por pensador

Deixei o leito furiosa. Com vontade de quebrar e destruir tudo. Porque eu tinha só feijão e sal. E amanhã é domingo.

Inserida por pensador

O Estado está presente ali apenas para reprimir.

Inserida por pensador

Os brancos de agora já estão ficando melhor para os pretos. Agora, eles atiram para amedrontá-los, antigamente atiravam para matá-los.

Inserida por pensador

As oito e meia da noite eu já estava na favela respirando o odor dos excrementos que mescla com barro podre. Quando estou na cidade tenho a impressão que estou na sala de visita com seus lustres de cristais, seus tapetes de veludos, almofadas de cetim. E quanto estou na favela tenho a impressão que sou um objeto fora de uso, digno de estar num quarto de despejo.

Inserida por pensador

⁠A unica coisa que não existe na favela é solidariedade.

Inserida por muriloamati

⁠O que eu aviso aos pretendentes a politica, é que o povo não tolera a fome. É preciso conhecer a fome para saber descrevê-la.

Inserida por muriloamati

⁠Fui pedir um pouco de banha a Dona Alice. Ela deu-me a banha e arroz. Era 9 horas da noite quando comemos. E assim no dia 13 de maio de 1958 eu lutava contra a escravatura atual - a fome!

Inserida por muriloamati

⁠O livro é a melhor invenção do homem.

Carolina Maria de Jesus
Quarto de despejo: diário de uma favelada. São Paulo: Ática, 2014.
Inserida por pensador

⁠Todos tem um ideal. O meu é gostar de ler.

Carolina Maria de Jesus
Quarto de despejo: diário de uma favelada. São Paulo: Ática, 2014.
Inserida por pensador

⁠Há tempos que eu pretendia fazer o meu diário. Mas eu pensava que não tinha valor e achei que era perder tempo.

Carolina Maria de Jesus
Quarto de despejo: diário de uma favelada. São Paulo: Ática, 2014.
Inserida por pensador

⁠Nas prisões os negros eram os bodes expiatórios. Mas os brancos agora são mais cultos. E não nos trata com desprezo. Que Deus ilumine os brancos para que os pretos sejam feliz.

Carolina Maria de Jesus
Quarto de despejo: diário de uma favelada. São Paulo: Ática, 2014.
Inserida por pensador

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