Carlos Drumond de Andrade Contagem do Tempo

O melhor modo de venerar os santos é imitá-los.

Na cidade, a lua:
a jóia branca que bóia
na lama da rua.

As ideias novas são para muita gente como as frutas verdes que travam na boca.

O nosso amor-próprio é muitas vezes contrário aos nossos interesses.

A vitória de uma facção política é ordinariamente o princípio da sua decadência pelos abusos que a acompanham.

A poesia é uma doença cerebral.

O medo faz mais tiranos que a ambição.

Que verdades conhecia o morto?
Quem estrangulou
sua palavra?

A razão prevalece na velhice porque as paixões também envelhecem.

Ser-se livre não é nada fazer, é ser-se o único árbitro daquilo que se faz ou daquilo que se não faz.

O homem de palavra é aquele que menos fala.

Há muita gente boa e feliz, porque não tem suficiente liberdade para se fazer má e desgraçada.

Um homem que acaba de arranjar um emprego já não faz uso do espírito e da razão para regrar a sua conduta e as suas atitudes perante os outros: toma de empréstimo a regra do seu posto e da sua situação; donde o esquecimento, a altivez, a arrogância, a dureza e a ingratidão.

Podemos estrangular os clamores, mas como vingarmo-nos do silêncio?.

A memória dos velhos é menos pronta, porque o seu arquivo é muito extenso.

A dissimulação algumas vezes denota prudência, mas ordinariamente fraqueza.

De todos os sentimentos, o mais difícil de simular é o orgulho.

A familiaridade tira o disfarce e descobre os defeitos.

Ainda é mais fácil avaliar o espírito de um homem pelas suas perguntas do que pelas suas respostas.

O que vulgarmente faz que um pensamento seja grande é dizer-se uma coisa que nos conduz a muitas outras.