Boca
Ela estava quebrada, apática
a boca era seca, apenas os olhos se contrastavam, emanando um rio de lágrimas
ela se perguntava quando iriam salvá-la
a resposta era não, não e não.
Um chocolate derretendo no cantinho da boca. Escorrendo devagarinho a deslizar por cada poro como se fora uma criança que passeia pela cidade e desliza suas pequenas e suaves mãos pela vidraça do prédio conforme avança em seus passos despretensiosos; ao avistar a beira, vai desacelerando os passos para que deslize mais um pouco, adiando o momento em que seus dedos se desprendem, quase se despedindo, da última vidraça do prédio.
Assim imagino, o percurso de uma gota de chocolate escorrendo pelo canto esquerdo da minha boca. A sensação de senti-la rastejar de um canto da minha boca para outro, alcançando o queixo querendo se jogar de braços abertos ao abismo, esperando que meus dedos a alcance e a leve-a para meus lábios; me faz pensar em você.
Uma gota de desejo escorrendo por mim, eriçando cada poro em que desliza. Uma gota de desejo que por onde passa tudo vasculariza.
Algo me diz que essa gota precisa jorrar de algum lugar e terminar essa doce e sutil agonia que é, desejar você.
Quem vive reclamando estaciona no problema e perde a direção da promessa. Enquanto a boca se ocupa em murmurar, os pés deixam de avançar. Reclamar é andar em círculos no deserto, é gastar energia falando do que falta em vez de construir com o que já se tem. Quem quer crescer troca a queixa por atitude e a murmuração por fé.
Tem coisas que eu queria te dizer com a boca, mas acho que tua pele entenderia melhor.
Imagina isso: a gente no silêncio de um quarto, e eu encostando a testa na tua, só pra sentir tua respiração se misturando com a minha.
Sem pressa. Sem palavras. Só meu toque traduzindo tudo o que sinto.
Teus olhos fechando devagar, teu corpo reagindo antes mesmo do meu toque descer pelas tuas costas…
É nesse momento que eu me perco em você. E te encontro também.
Porque o que eu quero contigo, Dayana, não é só o agora. É criar lembranças que façam teu corpo estremecer só de lembrar de mim.
Jesus, limpa minha boca e meu coração. Que eu pare de falar o que não edifica e passe a espalhar palavras que curam e constroem.
FACE APAIXONADA
Os olhos significam o amor
O nariz o cheiro de uma flor
A boca é verdade e paixão
Com duas orelhas escuto o seu coração
Eu errei…
Duas palavras pequenas, mas tão pesadas que parecem não caber na boca.
Difícil de dizer… quase impossível de engolir.
Mas talvez, meu maior erro…
Não tenha sido tropeçar,
E sim achar que nunca cairia.
Acreditar — tolo que fui —
Que a razão sempre dormia do meu lado da cama.
Fui ajuntando certezas
Como quem coleciona medalhas de um campeonato que ninguém mais quis jogar.
E nesse desfile de convicções,
Esqueci que o orgulho é sempre o ensaio da queda.
Porque quem pensa estar de pé
Deveria, ao menos, aprender a vigiar.
Há um preço em querer estar sempre certo.
E, às vezes, esse preço é alto demais.
Chama-se solidão.
Na sede de vencer discussões,
Perdi algo que pesava muito mais que qualquer argumento:
As pessoas.
Quantos lares, quantos abraços, quantas amizades…
Despedaçadas, não por grandes pecados,
Mas por pequenas vaidades,
Por muralhas erguidas onde poderiam florescer pontes.
Ah, o orgulho de quem nunca erra!
Ele não grita, mas constrói cárceres,
Isola, afasta, esfria.
E a certeza cega —
Essa danada — sufoca a humildade,
Fecha os olhos para tudo que ainda poderíamos aprender,
Se ao menos ouvíssemos…
Se ao menos calássemos.
No desespero de provar que sei,
Desaprendi a escutar.
Na ânsia de estar sempre certo,
Perdi pedaços de mim —
E já não era inteiro.
Nem toda vitória é vitória.
Às vezes, vencer é saber perder…
Perder o orgulho, para salvar o essencial.
Afinal, a verdade não precisa berrar.
Ela é forte o suficiente para permanecer em pé,
Mesmo quando se cala.
Vencer…
Às vezes é ceder.
Amar…
É aceitar que nem tudo precisa ser provado.
E, no final da história —
Quando os debates forem apenas eco nas paredes vazias —
A pergunta vai soar, simples, brutal e libertadora:
Você quer ter razão? Ou quer ter paz?
Porque no fim…
Não serão as vitórias que contarão.
Mas os vínculos…
Aqueles que resistiram ao fogo,
Aos ventos,
À tempestade,
E continuaram ali — firmes, de mãos dadas,
Escolhendo o amor, sempre.
Falar a verdade exigirá de você muito mais coragem do que vivê-la, pois a sua boca fala do que o seu interior está cheio.
"Quando quiseres me levar"
Ele acordou com um gosto metálico na boca e uma lucidez que parecia milenar.
Sabia. Não era intuição. Era certeza.
Hoje, a Morte viria. E ele, cansado, não a temia.
Ajeitou os papéis sobre a mesa, acendeu um cigarro que não fumava havia dez anos, e pôs uma música quase inaudível no velho toca-fitas. Era Chopin, talvez. Ou só o vento.
Deixou as janelas abertas. Queria que ela entrasse à vontade.
Morte. Senhora. Fera. Fêmea.
Ela que viesse — sem cerimônias.
No papel, começou a escrever, como quem fura o véu do mundo com uma agulha de fogo:
“Quando quiseres me levar, irei sorrindo.
Quando me achares digno daquele banquete onde serei o prato suculento dos vermes, fique à vontade.
Sei que poeta não deve demorar muito por aqui.
Quanto a essa ilusão que puseste no coração do homem, de ser eterno, fica no vácuo, como hiato cósmico.
Como palavra muda, impronunciável.
Que nós, por confusão mental, criamos em delírio: eternidade.”
Fez uma pausa. O silêncio da casa parecia escutar. A xícara de café esfriava devagar. Lá fora, o mundo seguia: os cães latiam, os pneus assobiavam no asfalto, alguém batia panela no apartamento ao lado.
Mas ele já não pertencia a isso.
Levantou-se. Pegou o espelho da infância — aquele que pertencia à mãe — e olhou-se como quem vê um estrangeiro.
“É você mesmo?”, pensou. “Ou o que restou do que chamaram de você?”
Não chorou. Apenas fechou os olhos.
Lembrou de um amor antigo.
De um poema que nunca publicou.
De uma criança que lhe sorriu na rua, semanas atrás.
Cada coisa lhe parecia uma despedida disfarçada.
Às onze e quarenta e cinco da noite, ela veio.
Não como figura. Não como caveira.
Apenas entrou no ar. Como frio.
Como verdade.
Ele sentiu.
Sorriu.
E sem mais palavras, morreu de olhos abertos, como quem enfim compreende — ou perdoa.
Na folha, sua letra deslizava até o rodapé da página.
E ali, como se deixasse ao mundo uma última gargalhada filosófica, escreveu:
"Criamos o infinito com medo do fim.
Chamamos de eternidade o que não suportamos perder."
Aqui, você nasce com pouco cabelo, sem dentes na boca, alguns com dobrinhas nas articulações, são chamados de bonitinhos. Com o passar do tempo, o pequeno cresce engatinhando e aprende a andar. A adolescência é apenas uma fase boa que passa rápido e você nem percebe. A maturidade chega junto com os problemas que nos ensinam que na vida tudo vira experiência, mas o tempo passa insistentemente. A idade nos pesa e é como se fôssemos crianças novamente. Andar é difícil. As forças se esvaem. A fala enfraquece. Os cabelos seguem. Os dentes insistem em cair. A pele bonita um dia murchará. A velhice é a despedida de quem veio nu e não trouxe nada de lá. Agora é hora de voltar para casa.
de onde viemos e não nos lembramos do caminho de volta.
Mas a vida nos guiará. Não podemos levar nada do que conquistamos aqui.
porque de onde viemos, teremos tudo o que merecemos por tudo o que plantamos aqui
É lá que vamos colher...
"Tento escrever o que meu coração sente, mas minha boca não fala. O que penso ou o que digo em poucas palavras, mas sempre com a emoção de transmitir o que penso ou o que deixo de pensar. Amo ser livre de mentira, amo a intensidade de ser eu, mas quem sou eu? Eu também não faço ideia, só sou mais uma no meio de muitos com pensamentos diferentes. Eu poderia só falar de amor, mas o que é o amor de verdade? O amor sou eu, a intensidade sou eu, o que escrevo sou eu ou sou o que querem que eu seja, que também não faço ideia de como seria. Espero que no pensamento dos outros eu consiga ser um alguém interessante."
!!?
Tem gente que te beija com a boca.E tem gente que te beija com o olhar, com o toque, com a respiração entrecortada…E, sem dizer uma palavra, te desperta desejos que você nem sabia que dormiam em você,como se cada gesto dissesse: ‘você é minha tentação favorita’.
O dia já começa errado,quando,
da mente sem Deus
e do coração sem amor,
a boca profana ventos de palavras inúteis,
e num espelho de retorno
se revolta e se volta à quem profanou...
E seguirá assim seu dia,
sempre sem curso, sem direção!
Beijar é encostar o coração na boca do outro, sem prometer nada, mas revelando tudo. É a alma dizendo o que a voz já não alcança, quando o silêncio fala mais do que as palavras.
É o gesto mais terno da coragem:
permitir ser tocado por dentro, sem que nenhuma roupa precise cair.
Porque o beijo sincero não acontece com todos... Só com quem a alma reconhece como verdade.
O resto é ensaio, é desejo, é pele, é banal, é impulso, é imitação do que não se entende, é paixão sem raízes, toque sem fundo, é uma busca por algo que ainda não se encontrou.
Mas o beijo inteiro... ah, esse só vive onde há encontro.
Abençoado é aquele que tem a graça de vivê-lo.
