Walther

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Quando a lembrança dos meus pecados, quando a realida­de do inferno, da morte e da condenação me atemorizam; quan­do percebo que Deus está irado comigo e que, estando sob sua ira, fatalmente estou condenado por causa de meus pecados ­então estou experimentando a tristeza segundo Deus, que pode me levar à mesma situação em que se encontrava Lutero antes de ter o conhecimento correto do evangelho. Uma tal tristeza vem de Deus. Quando, por outro lado, um fornicador, um farrista, um beberrão se entristece, porque jogou fora os belos anos de sua juventude, arruinou sua saúde, envelheceu prema­turamente - ele não experimenta outra coisa senão a tristeza deste mundo. Quando uma pessoa orgulhosa se entristece por seus pecados tão-somente porque estes fizeram com que per­desse parte de seu prestígio; quando o ladrão lamenta sua con­duta, porque esta o levou à prisão - eles estão experimentando a tristeza do mundo. Entretanto, quando alguém está aflito por seus pecados, porque vê diante de si o inferno, onde será cas­tigado pelo fato de ter insultado o santo Deus, ele está triste segundo Deus, desde que essa tristeza não tenha sido produzi­da pela imaginação e esforço próprio do indivíduo. A genuína tristeza segundo Deus é obra exclusiva de Deus.

Lutero diz que, depois que ele compreendeu o ver­dadeiro sentido da palavra penitência, nenhuma palavra lhe era mais doce do que esta. Isto porque ele percebeu que seu sentido não era de que ele próprio deveria expiar seus peca­dos, mas, simplesmente, que ele deveria estar alarmado por causa deles e ansiar pela misericórdia de Deus. O termo peni­tência representava, para ele, o próprio evangelho, porque re­conheceu que, no momento em que Deus o tinha levado ao reconhecimento de sua situação de pecador miserável e perdi­do, ele estava em condições de ser objeto da atenção de Jesus e podia aproximar-se dele na certeza de que seria aceito assim como estava, com todos os seus pecados, sua angústia e misé­ria.

Quando o indivíduo passa a ter fome e sede de miseri­córdia, então a contrição alcançou seu objetivo nele.

Ser salvo pela fé significa concordar com o plano da salvação de Deus, simplesmente aceitando-o.

A Palavra de Deus não é aplicada corretamente, quando o evangelho é pregado antes da lei; a santificação antes da justificação; a fé antes do arrependimento; as boas obras antes da graça.

O Evangelho não contém ameaças de espécie algu­ma; apenas palavras de consolo. Sempre que, na Escritura, você se confrontar com uma ameaça, esteja certo de que esta passagem enquadra-se na lei, pois a lei não é outra coisa senão ame­aças.