Tere Tavares

⁠Os deuses possuem a mesma e inauferível dimensão que passa invariavelmente pelo desejo, à presença de perpetuarem-se no âmago das consciências e revolverem-se na imperfeição do que nunca morre.

⁠Permaneço no outro como sendo o meu árido exterior refletido numa solução inevitável. Com a beleza de não estar em mim.

⁠Ser suave tem o custo das pronúncias que adormecem como o desespero que tremula nas espáduas da alma.

⁠Hoje avistei os meus pássaros longínquos e ouvi deles a alforria adocicada dos frutos, então, eu soube do silêncio maduro que me tragava, e a ti, presença de suspensão à fala dos olhos.

⁠A vida é dedicar-se a algo, a alguém, a nada, mas é um dedicar-se incondicional.

⁠Há tanto entre nascer e partir. Tu sabes, sentes quando te falam pela segurança da memória e te ignoram no sentido da visão e do sentir, tu sabes desse equilíbrio sóbrio que ronda o teu ventre.

⁠Minhas escolhas nascem do que descubro, do que me fecunda.

⁠Não sou a luz que se esvai, mas a que pousa para que respires.

⁠Sempre há um resquício de vazio: ora mais, ora menos.
Prefiro acreditar nos intervalos.

⁠Existem motivos suficientemente maiores que o fracasso para quem anseia prosseguir.

⁠Escrevo, antes de tudo, por amor, mas também como uma necessidade incansável de ressignificar os pensamentos, a realidade, a vida, o meu estar no mundo.

⁠A ficção nada mais é do que um naufrágio salvador.

⁠Eu creio que as árvores têm sentimentos. Sempre tive essa impressão, talvez porque vivo tão próxima das árvores, sinto-as como extensões de alma, de natureza mesma, embora diversa.Elas me sentem, me compreendem, me energizam e me curam

⁠Torna-te célebre, nunca pelo que dás, sempre pelo que doas.

⁠Repousa. Um estrangeiro acordará tua alegria minuciosa
nas lógicas inusitadas da equidade.

Meiguice. Os teus olhos me dizem que estás perdida
naqueles olhos que ainda não viste, que ainda não te vestem
com olhares de te haverem visto.


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⁠Ainda que te pareçam incisivas as coisas à tua volta e a tua visão se turve escuta o que te sopra a colheita do chá, acalma o desassossego no sono morno como se noite.

⁠O que pretender onde não há nada exceto o desmorrer puro e límpido
de algo cujo fim é findar - como todo homem - um dia?

A grande dúvida humana será sempre nada saber do começo tampouco do fim: ambos coexistem.

⁠Descrer

quero algo que me arrebate dos veios da lucidez
quero algo que me resgate da nascente dos meus olhos
quero algo que me indenize o deslize juvenil
quero perder-me até que eu possa falar diferente
o meu sorrir moribundo.

⁠Saudade

Morte ou metamorfose?
Que sabemos sobre esta outra forma de sonho?

⁠Só os olhos da alma compreendem da suprema beleza que miram.

⁠Homenagem a Drummond
No meio do caminho tinha... meio caminho andado.
Depois de todo um caminho andado, ainda há caminho.

⁠As piores feridas são as invisíveis.

⁠Não seria justo ultrapassar o tempo a nós destinado sem alguma, ainda que mínima, contribuição para nosso próprio aperfeiçoamento e, com alguma sorte e total desapego, estendê-la ao próximo.