Sandro Paschoal Nogueira

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⁠Era cedo...
Lavei e perfumei meu corpo...

O vento frio bateu no meu rosto trazendo-me a vontade de um café bem quentinho...

Existe um tempo certo para tudo...

Os amores são como os grãos de café na máquina de moer...

Primeiro um...
Depois outro...
E depois mais outro...

E todos vão para o mesmo destino...

Próximo?

Sandro Paschoal Nogueira

⁠Noite à fora...
Sobre uma navalha...
Ó divina esperança...
Sonho de criança...

O tempo a criar silêncio...
Tornando o sonho poeira dos tempos...
Poço imenso e fundo...
Que engoliu meus desejos...

A ver no mundo seco a seca realidade...

Dos ébrios jogados à sarjeta...
Das matronas em penunbras das ruas da esquerda...
Dos pederastas em gargalhadas...
Disfarçando as lágrimas não jogadas...
Das mocinhas vendendo favores...
Em troca de licores...
Daqueles que só encontram alegrias...
Quando deixam suas garrafas vazias...

A vã loucura a moda é prima-irmã...
Mas quando vem o senso erguer-lhe os densos véus...
Desse desgosto...
Livrai-me Deus...

Salvo o meu desejar...
Teço beleza em tudo...

No hálito podre de um sugismundo...
No idoso porchetta...
Em quem que com qualquer um se deita...

Nessa langorosa magia...
Sob a lua que irradia...
As torpes paixões...

Sigo para meu descanso...
Aguardando, quiçá ...
Outro dia...

Valei- Deus...
Ou quaisquer outros guias...
Fim de noite...
Madrugada fria...

Eu próprio me interrogo:
– Onde estou? Onde estou?
E procuro nas sombras enganosas...
Sob essas horas mortas...
As mesmas coisas repetidas...

Inúteis os sonhos e as amarras
que nos prendem ao cais...
Mas quem sou eu que não escuto meus próprios ais?

Sandro Paschoal Nogueira

⁠Eu menti naquela hora...
E disse que não sabia...
Mas vou-lhe dizer agora...
A ingratidão pesa...
E para chegar não tem hora...

Em meio ao sol e ao riso da manhã...
Tudo isso existe...
Tudo isso é triste...

Nesse engano das horas...
Como alguém que tivesse esquecido...
Que assim sempre tem sido...
Ah ingrato...
Como será seu destino?

A noite, que o pesar...
Ao fim de cada dia...
Irá sempre me lembrar...
Que não sobrou nada...
Apenas cinzas frias...

Quero que saibas...
Se de súbito me esqueceres...
Também não me procures...
Porque já te terei esquecido...
O que outrora tenha sentido...

Minhas raízes sairão
em busca de outra terra...
A noite infinita enfrenta a vida...
Sem temer a ingratidão...

⁠Por vezes quando o tempo passa...
Em horas dentro de mim...
Passa um nada meio acontecido...
Uma saudade que não tem mais fim...

Na penumbra de minha casa...
Escondido sob o luar...
Na artéria estendida do silêncio...
No vão do patamar do tempo...
A procurar...

Pressupondo um olhar para trás...
Por tudo o que eu vi e sei...
No curso veloz da vida...
Corri, subi e voei...

Agora grito...
Para rasgar os risos que me cercam...
Insensatos...
Não me servem de consolo...
Tolos...
Inúteis...
Pueris...

Fartam-me até as coisas que não tive...
Fartam-me com tudo o que sonhei...
Fartam-me o tanto que desejei...

Outrora escalar os céus, imaginei...
Tudo era igual...
E tudo me ruiu...
E entrei abandonado na esperança...
Entreguei -me a ela e ela me possuiu ...

Em combustão secreta...
Ao silêncio me abri...
Hoje entre as pedras procuro...
Aquilo que perdi...

Não paro...
E se necessário volto atrás...
Quantas vezes necessárias forem...
Até reencontrar...
O que nunca esqueci...

Dizem todos que é loucura...
Bem isso eu sei...
E muito ouço e muito já ouvi...
Tenho um caminho marcado...
E se agora não encontro...
Vou procurar no passado...
Revolvendo as cinzas...
Até descobrir...

Sandro Paschoal Nogueira

⁠Um dia, talvez, haverá novos sonhos...
Ouvirei com encanto alguém que não conheço...
Para mim será o começo de tudo...
O começo de um novo mundo...

Agora para mim já tão frio e já tão tarde...
E sem fazer nenhum alarde...
A minha alma não descansa...
Não sou nem mesmo uma lembrança...
Uma esquecida sombra que ninguém repara...

Todo o amor é desejar...
Embora se viva às avessas...
Se o tempo troteia...
E pesa como uma estrela...
Quão afortunados são os amantes...
Quão infelizes os ignorantes...

Estranha cousa esta...
A ventura de querer ver-te bem...
Mãos de renúncia...
Mãos de amargor...
Ao perder seu amor...

Semente divina...
Que só n’alma germina...
Exalta o viver...
Em doce tortura...
Ai amor...
Que sorte de quem tem você...

Repara...
Aqui eu sem luz e sem vida...
Quando, alta noite, me reclino e deito...
Clamo por ti...

No vazio do meu leito...
Só o silêncio...

Sandro Paschoal Nogueira

⁠Nada passa mais depressa que os anos...

Quando mais jovem dizia...
Que ao chegar aos vintes livre seria...
Dali pulei para os trinta...
Já aos quarenta e nada sentia...
Cheguei aos cinquenta...
Sem fazer muito esforço...
Quem diria...
Deus me permita chegar aos noventa...
E ainda ter um coração de moço...

Pensava antes que os velhos eram bobos...
E disso eu ria...
Agora bem sei e compreendo...
Os mais jovens é que o são e não se dão conta...
Assim sigo aprendendo...
Poucas coisas me surpreendem...
E outras tantas ainda me amedrontam...

O tempo risca meu rosto...
Isso é fato...
Diante o espelho...
Ocasionalmente me embaraço...

E ainda que o destino seja cruel...
Já não me engana tanto a ilusão desse véu...

Meus cabelos ficarão brancos...
Minha pele perderá o viço...
O corpo, o vigor...
Estranho esse feitiço...
De tamanho rigor...

A sabedoria, quem diria...
Torna-se minha companhia...
Lentamente...
A cada dia...
E a cada noite que se anuncia...

Nem sempre escuto o que as pessoas dizem...
Geralmente não me interessam...
Às vezes me magoam...
Agora prefiro prestar atenção no que fazem...
E não no que apregoam...

O amor nos faz envelhecer antes da hora...
Mas também nos torna jovens quando a juventude passa...
Mas a paz...
Ah a paz...
É tão acolhedora...

Qualquer um pode ser jovem...
Envelhecer é um mérito...
Tudo é questão de espírito...
E de tudo que nos envolvem...

Embora tenha Deus como companheiro...
Que amanhã não seja ainda o dia de estar ao seu lado...
Mas na derradeira hora...
Farei parte desse céu estrelado...
E desde já ao Criador agradeço ...
Envelhecer é aprender a tudo ser muito grato...

Sandro Paschoal Nogueira

⁠No declive do tempo os anos correm...
E o tempo esmaga tudo...
Ai, ai de mim enquanto caminho...

São inúteis as palavras destes versos...
Nada entenderás...

Só quero o que me é devido...
Com licença, quero passar,
Tenho pressa de viver...
Não tenho tempo a perder...

Nesses dias que embranquecem meus cabelos…
Ferido de silêncio duro e violento...
Com um beijo me despeço...

Eu andava à sua procura quando ainda não existias...
Sinto...
Sem planejar nenhum destino...
Que é preciso partir...
Os nossos sonhos uniram-se
talvez muito tarde...

Anda a bruma a fazer-me medo...
Não há luar,
Não há estrelas...
Já não sei mais o quero...
Já não sei o que vejo...

Hoje, é que nada espero.
Para quê, esperar?

Sandro Paschoal Nogueira

⁠Nasço, vivo, morro por um destino em que não mando...
Então quem eu sou?

No luto dos meus olhos...
Foi na minh'alma que nasceu a dor...

Quem é leal e quem não nos abandona...
Quem devemos procurar...
E ser dignas de confiança...
Alguém a encontrar?

Já quase desisti...
Da inocência do desconhecido...
E a saudade?
Ainda vive em meu peito...

O que levamos da terra
É o céu que possuímos...
E à morte que damos vida...
Criam-se o sentido...

Vã filosofia...
Turvo clarão de raciocínios tristes...
Nos engana e mente...
Entre sombras nos conduz...

Quem rasteja na Verdade...
Se desencanta...
Do amor escravo...
Vítima sempre serei...

São muitas as provas na vida que servem para testar quem somos...
Seguir adiante, sem descansar...
Afinal ...
Onde tudo vai dar?

No meio da confusão é preciso ver para além do que se pode olhar…

No meio de tudo onde estou eu?...
Que serão os meus sonhos...
O que posso almejar?

Sandro Paschoal Nogueira

⁠Tudo é orgulho e inconstância...
Tudo é querer ser...
Querer poder...
Deixar rastro...
Correr adiante os dias impotentes...
Ardor no coração diante as estações que seguem...
Trêmular sob o tempo que passa e a tudo consome...

Talvez em cada coisa uma coisa oculta more...
E dizem que isso é nossa alma...

Pobre loucura dos homens...
Que julgam conhecer a loucura das estrelas...
Cantam a vida e falam em morrer tremendo de medo...

Toda inocência, toda pureza branca...
É um dom só concedido àqueles que mais amam...
E se em teu coração, desde então, existe ou venha a existir um desejo...
Sonhe...
Para viver...

Sandro Paschoal Nogueira

⁠Em plena angústia aos solavancos do destino...
Sigo e pergunto ao vento e à rua onde anda você...

E por detrás de cada esquina
e por detrás de cada vulto...
O vento traz a voz de um a voz de outro, mas não traz a sua...

Ouço gritos ao longe...
Que a madrugada recolheu as vozes...
Senti dentro de mim o tempo a criar silêncio...
Já não sonho...
Meus sonhos tornaram-se poeira no tempo...

Perdi a vaidade...
Amei sua partida...
Mas agora sofro...
Pela sua ausência...

A ver no mundo seco a dura e seca realidade...
Pensei coisas profundas...
Onde deixaste a marca dos teus pés...

Não quero ser quem sou...
Se não for contigo...
Já sou entrado em anos...
E tanto sinto...

No coração não sinto pesar tanto...
De inda puro sonhar...
Te espero...
Me dê uma e outra vez...
O seu olhar...
Te espero...

Sandro Paschoal Nogueira

⁠Quem poderá domar os ventos?
Quem poderá calar a voz do sino triste?
Nem deuses...
Nem monstros...
Nem tiranos...
Que em cada hora se perde...
A esperança que amarga...
Do que foi dito pelo não dito...
Na voz dos aflitos...
O consolo dos desconsolados...
O cristal foi quebrado...
O tempo perdido...
A lágrima que rola...
Escondendo os gritos...
Outrora prometido...
O que hoje não tem mais sentido...
E no labirinto que se encontra...
Ainda sonha...
Desejando não estar perdido...
Mas os ratos devoram...
Até as hóstias sagradas...
Invadem casas...
Trazem dores e martírios...
A saída é a luta...
Mas com quem lutar?
A luz está difusa...
O fim será se entregar?
Será do látego o carinho que irá receber?
A fome...
A miséria...
A morte...
Mais sofrer...
O destino escolhido...
Pela indecisão...

Sandro Paschoal Nogueira

⁠👹👹👹
Dizem que se o diabo não pode ir ele manda o secretário...
E o secretário é pior que o patrão...😱
Coloca defeito, dessaruma tudo...
Querendo subir de cargo...
Almejando promoção...

Bem sei isso...
Quando de minha casa abro a porta...
Não entra um...
Não entram dois...
Entra a horda...

A porta que passa o bem...
Também por ela passa o mal...
Tratar com certas pessoas...
É pior que lidar com um animal...

Quem tem paz no coração...
À minha casa seja bem vindo...
Senta-te à minha mesa...
Beba comigo...
E coma do meu pão...

Valei-me todos os santos e anjos...
Que moram no céu...
Que o inimigo não me veja...
Que não me encontrem...
Que me esqueçam...
Não me perturbem...
E que fiquem ao léu...

Que sejam poeira...
Varridas pelo vento...
Com Deus e a Virgem Maria...
Eu me amarro e me prendo...

O pior mal é aquele que se disfarça escondendo a verdade no coração...
Todo mundo sabe...
Que o inferno está cheio de gente com boa intenção...

Sandro Paschoal Nogueira

⁠Tu que dormes à noite na calçada ao relento...
Sem abrigo...
Abraçado à solidão...
Recebendo carinhos do sofrimento...

Tu que estás em casa só...
Dos parentes e amigos esquecidos...
Que verte lágrimas quentes...
Beijadas pelo vento...

Tu que tens o coração...
Corroído pelo ciúmes...
Que resmunga por onde vais...
O látego dos seus queixumes...

Tu que debruçada nas janelas...
Vez ou outra por detrás das cortinas...
De olhar assustado...
Segurando a língua e as intrigas...

Tu que pelas manhãs e noites frias...
Vaga por bares e boemias...
Procurando preencher o vazio...
Daquilo que nem tem mais sentido...

Tu que cultivas a secura...
Sufocando a ternura...
Vês o tempo indo célere...
Dias e dias...
Luar após luar...

Tu que andas nas sombras...
E que a fome da alma conhece...
Que sofre e não esquece...
O mel de um dia, outrora...
Em que foste feliz...
E sem saber como...
Deixou passar a ventura...
O fel tu agora prova...
Porque bem assim quis...

Estava tudo pronto para receber a felicidade,
e tu não fostes...
Sonhaste e não lutaste...
Os amantes foram e se deram...
A vida aconteceu...

Agora tu praquejas...
Blasfema aos céus por erros teus...

Percebes que sois finito?
Pobre espírito...
Desatas a chorar...
Range os dentes sufocando os gritos...
Há mortos inda que vivos, vivem...
Me convenças de que ainda existes...
Não serei como tu...
Que da vida perdeste o encanto...
Que agora em lamentos...
Sofre pelos teus muitos enganos...

Caminho por onde vou querendo...
Já que nem os mortos como tu...
Apontam -me os dedos...

Sandro Paschoal Nogueira

⁠Que ruas escutam vossos passos?
Quais das pedras mudas e inertes testemunham por ti?
Onde anda agora a vossa vida repartida?...
Que outrora foste minha companhia...
E que agora, pelas estradas, tua alma tão sozinha...

Onde um dia fostes rei...
Agora é impuro plebeu...
Já não és importante...
És repudiado pelos teus...

Aos solavancos do destino...
Que embebe o ar de calafrios...
Tudo é orgulho e inconsciência...
E que por isso tanto dói...

Escolhestes o antigo degredo...
Já me tardava este espinho...
Agora tão longe...
Eu cá tão sozinho...

Sandro Paschoal Nogueira

⁠Quanto dura uma paixão?
Uma paixão não dura nada... Apenas dura a eternidade do sorriso que te cativa...
No fim de um dia...
No meio da madrugada...

Depois...
A alegria se torna amarga...
Caco de vidro que sob o sol...
Cintila e se apaga...

Agora...
Na superfície da luz procuro a sombra...
Seguirei a estrada...
Não deixarei para depois...

Abrirei as janelas de minha alma...
Para que entrem as estrelas...
Na rua, onde os ventos se cruzam, quem sabe, talvez...
Outra paixão desponte...

Os destinos se decidem...
A vida que tudo arrasta...
Arrasta os amores também...

Veneno absorvido pela ingratidão...
Vieste...
E fora vencida minha solidão...

Mostrate-me o que eu não conhecia...
Mas partistes...
De forma tão fria...

Levando consigo pedaços de meu coração...
A qual brincaste jogando-o no chão...

Vencido o sofrimento...
Da sorte sem piedade...
Sem ti correrá tudo sem ti...
E mais uma vez passarei...
Por essa tempestade...

Sandro Paschoal Nogueira

⁠A maior necessidade do homem é sentir que é necessário...
É estranho...
Estamos continuamente à procura de quem precise de nós...
Assim, nunca conseguiremos repouso...

Um certo significado...
Cavalgada solitária pelos caminhos desertos...
Aperta-me para sempre...
Sob as noites que adormecem-me debaixo dos olhos...

Sentirmos que o tempo corre...
E nada podemos fazer...
Nem contra...
Nem a favor...

Eu fico aqui, a olhar-te a pensar no quanto te quero...
Todo o meu corpo se vem quando estás a chegar...

O amor é uma renúncia...
Amar alguém é desistir de amar outros...

Sandro Paschoal Nogueira

⁠Sonhos estão fora de moda...
Construir castelos sem nos ventos pensar...

Mas não desisto...
E sigo...
Lá vou eu, nas minhas tentativas...
Quero mais é sonhar...

Tiro um arco-íris da cartola...
Abro minhas asas...
Caminho sobre as estrelas...
Vivo com desejo de amar...

Neste mundo de liberdades...
Em que tudo pode, tudo é permitido...
Tudo que se começa...
Já tem hora para acabar...

Sou pessoa de dentro para fora...
Quando sonho, sonho alto... Estou aqui é pra viver, cair, aprender, levantar...

O problema em ser intenso...
É que intensidade assusta, afugenta, oprime...
Quem tem medo de se dar...

Amanhã, já me reinventei...
Não me dou pela metade...
Não desisto de sonhar...

Sandro Paschoal Nogueira

⁠#REENCONTRO

Do ser que tenho a viver...
Sou nesta vida um qualquer...
À ronda dos segredos ninguém conhece no fundo quem realmente eu sou...

O vento às vezes é brusco...
Leva para longe quem queremos perto...
Sem perdão e sem disfarce...
Sem deixar uma pegada...

Mas também traz...
Tirando nosso desassossego...
Que hei-de fazer senão com o retorno sonhar ?...

Esta saudade que não tinha fim...
Tenho o desejo doido de te contar...

Tenho medo...
Com o vento no arvoredo...
Das sombras...
Teimosas ao meu lado...
Do silêncio tão pesado...

Malícia do destino...
Ignorar o que vivemos...
Por dentro pressentindo...
Peço...
Volte...
Já não é tão cedo...

Pergunto por onde anda a minha vida...
Já não sei mais a diferença...
Sem você..
Tudo é ausência...

O medo conta os vinténs...
Fazendo-me seu refém...
Busco a luz e a encontro...
É você...
E ninguém mais...

Sandro Paschoal Nogueira

⁠Todo o passado se dilui...
Também não se acumulam os dias...
Agora as verdades do que outrora foram mentiras...

Aos solavancos do destino...
Cresci e me criei...

Onde andam agora as vossas vozes?
Que horizontes colhem vossos olhares?
De que lhe valestes tanto mal a mim ter feito?
Tantos pesares...

Ouço vozes ao longe...
Que os ventos recolheram...
Olhos de ausência...
Caminho indeciso...
De onde vem?

Fito essa gente...
Que me rodeia e sempre rodeou...
Hoje só me comovem...
Tudo já passou...

Por silêncio e por renúncia...
Me vesti de vaidades...
Das dores que trago dentro do meu peito...
Das tormentas e tempestades...

Mas o que não me cansa...
É o que a brisa me traz...
É estar bem comigo mesmo...
Vivendo em paz...

Sandro Paschoal Nogueira

⁠#ECO

Meu coração arde em coisa fria...
Nem a luz...
Nem o fogo...
Nem a fome entardecida...

Ou a febre da sede dos lábios...
Ai, ai de mim...
Enquanto caminho...
É pelo corpo que nós nos perdemos...

Pertenço a quem amo...
Num profundo arremesso...
Tenho pressa de viver...
Só quero o que me é devido...

Coração diga o que sofri...
Nesses dias que embranquecem os cabelos…
Amores vividos...
Só as fagulhas voam ao vento...

É preciso partir...
Antes que tudo cubra-se de cinzas...
É preciso ficar...
Onde se é benquisto...

Cerca-me a solidão...
Tal como uma pedra escura...
É tão fria e morta...
Eu sem ti...
À sua procura...

Ninguém sabe dizer porque o eco embrulha a voz...
Mas eu sei dizer...
Que sem você...
Não vivo mais...

Sandro Paschoal Nogueira

⁠Obrigado a todos que me desejaram e me desejam o mal...
São vocês o meu alento 🙏

Fugistes à ordem dos caminhos...
Do fundo do tempo implacável...
Domastes as tristezas...
Banhastes nas águas e beijastes os ventos...
Ristes de seus inimigos...
E sentastes à mesa diante deles bebendo vinho...
Erguestes tua casa entre paisagens sem alento...
Na falta daqueles que te amaram tanto...
Espalhastes aos quatros cantos o negro breu...
O grito de revolta preso à garganta...
E clamastes às estrelas presas no firmamento...
As mesmas te responderam...
Tudo passa...
É só um momento...

E hoje...
Em cada grão de areia...
Em cada flor a desabrochar...
Encontraste o ágape do Criador...
Tudo o que existe de grande e puro, veio...
E logo, de audácia em audácia...
Quebraste o círculo mágico...
Encontrando a paz...

Sandro Paschoal Nogueira

⁠É a minha lei viver de amor...
Morrer não quero...
Desfalecer...
Sufocar de prazer...
Até na dor...

Sim...
Amar também dói...
Aperta o coração...
Nos tira o chão...
Faz a gente contar as horas ...
De agonia ...
Não ver o tempo passar...
Também nos tira a sabedoria...

Mas amar é bom...

No encontro das mãos...
Na troca e entender de olhares...
Saudades que não tem fim...
Pensar sempre na pessoa amada...
Em qualquer tempo...
Em todos os lugares...

Não há tempo consumido...
Nem tempo a economizar...
Além do amor, não há nada...
Apenas amar...

Um querer diferente...
Que envolve e doma a gente...
Harmonia suave...
Mas também insensatez deslumbrada...

Buscar sem saber o que busca...
Sem perdão e sem disfarce...
É lume que arde...
Na alma e no peito...
Deixando a gente sem jeito...
Igual a criança tola...
Que acredita no que, às vezes, não vê...

É viver entre a paz e a guerra...
Derrubando as distâncias...
Fazendo manhas...

Fatigado é procurar abrigo...
No seio ondes moras...
Enquanto a vida acontecendo lá fora...
E o antigo vazio...
Sendo preenchido...

Que hei-de fazer senão sonhar...
Não quero morrer de amor...
Quero viver...
Vivendo para te amar...

Sandro Paschoal Nogueira

⁠Era de noite quando eu bati à tua porta...
E na escuridão da rua tu abriste as portas...

Por que assim me deixas
Com alegrias e até tristezas
Rodeando-me de incertezas?

Que a tua boca me diga...
Segredos em pé de ouvido...
Quando tua mão me toca...
Despertando em mim os mais loucos desejos...

Ah como agora os dias são curtos...
E a noite chega sem demora...
Não existe mais tempo para o meu torpor desta hora…

Sensações sem nexo...
Entre o corpo e a alma é a personalidade que tenho…
Se guardo algum tesouro não o prendo...

Quem é que abraça o meu corpo na penumbra do leito?
Quem é que me tira o fôlego e me deixa assim sem jeito?

És tu ...
Senhor de meus olhos...
Só pertencemos...
A quem nós amamos...

Sandro Paschoal Nogueira

⁠Esta noite eu durmo de tristeza...
Um balão apagado...
Um caixão à cova...
A dor conhecida e não tão nova...
Vil despojo da triste alma...
De uma estrela morta...

Ainda terei alento diante o pranto?
Teu nada em um jardim de pedras...
A pá de cal como promessa...

Por dentro do que pensamos...
Sou espírito sonâmbulo...
Ser que passa no mundo, sem o ver...
Ainda correm lágrimas pelos olhos...
Doem mais as do coração...

É tão tarde para dizer as palavras necessárias...
É dia...
Mas no peito a noite já é bem escura...
Despertam-me um desejo absurdo de sofrer...

Partistes...
Não haverá retorno...
Vestiu-se para um baile que não há...
Só existem saudades e fotografias...
A vida tornar-se-a agora tão fria...
Resta-me apenas crer...
Em um dia te encontrar se eu puder...
E fazer de nossa eternidade...
Outra história a contar...

In memoriam...

Sandro Paschoal Nogueira

⁠Entram noites...
Entram dias...
O pó e a rotina...
As coisas repetidas...

O café requentado...
O pão amassado...
O dia que começa...
O galo cacareja...

Varrer o quintal...
Tirar as folhas mortas...
A justiça no fio da espada...
Pátria mal-amada...
Com a corrupção amasiada...

Ah essas ruas...
De pedras mudas...
Cães velhos e doentes...
As mesmas pessoas...
Dia a pós dia...

Um desejo de não sei o quê...
Quando a lua toca-me o rosto...
Na noite escura e fria...

Lembrando de um dia ter sido amado...
Tão distante o passado...
Os amores foram poucos...
Morreram sem cuidados...

O tempo apagando...
A marca dos meus passos...
Os dias embraquecendo meus cabelos...
Agora já tão escassos...

Não passa o tempo da saudade...
Passa um nada meio acontecido...

Vivemos e morremos feridos de silêncio duro e violento...
Insistindo em dizer...
Que tudo é belo...

O ano passa, e breves são os anos...
Poucos a vida dura...
Dar sem ter...
E ter sem tirar...
Fazer por merecer já que a ruína compreende tudo...
E eu conheço bem pouco desse mundo...

Demoro demais...
Ao óbvio perceber...
Vês aqui alguma figura? Ninguém vê...

Minhas tardes envenenadas...
De um vazio por dentro...
Único a me encher o tédio...
O meu cão...
Abanando o rabo...

Construí um labirinto...
E nele me perdi...
E também nem sei...
Se dele quero sair...

Ontem eu era o mesmo...
Amanhã também serei...
Não mudo...
E nada mudarei...

Meto-me para dentro...
Fecho a janela...
Apago as luzes...
Ascendo uma vela...

Rezo pedindo uma graça...
Que amanhã seja melhor e diferente...
Mas se não for...
Saúde já me basta...

E sem pensar em mais nada...
Como e vou dormir...
Minha alma...
De tudo está cansada...

Entram noites...
Entram dias...
O pó e a rotina...
As coisas repetidas...

Sandro Paschoal Nogueira