Pensador e Poeta Brasileiro Sidarta Martins
Da gratidão e da ingratidão, da paz para a alma
- Nós, os mimados de Deus.
A ingratidão é uma crueldade! Talvez umas das maiores...
Verdade, é sim, mas hoje compreendo que faz parte da cegueira humana, e o cego não pode ser culpado por não ver, ele é cego!
Falei, em meu discurso de posse na ACADIL, que, em meio a tantas mazelas, a tantas ofertas proporcionadas
pelo capitalismo desenfreado, nos esquecemos do humano, nos esquecemos do abraço, nos esquecemos de agradecer, sim, deste ato simples de abraçar e agradecer pela mão presente quando não tínhamos chão...Nos esquecemos de compartilhar as conquistas com nossos semelhantes (o verdadeiro dízimo) e, principalmente, com quem estava lá quando, perdidos em nós mesmos, mais precisávamos.
Nós nos esquecemos!
O que interessa é o imediato, o que interessa é o que nos dá prazer momentâneo. O que foi, esqueça...Foi!
E justificamos a ingratidão com tantas desculpas mal lavadas...Perpetuamos a crueldade de uma forma vil, terrível, causando no próximo um sofrimento quase insuportável.
Sofrer uma ingratidão é quase insuportável!
Até os animais ditos irracionais sentem essa crueldade, o que dizer dos humanos, o que dizer
dos humanos?
Mas, refletindo sobre este tema, me vem algo mais profundo, que torna a ingratidão uma quimera, absolutamente nada, sem qualquer importância.
Penso na extrema, e prazerosa maldade, perpetrada por homens sem alma, e sofrida (no momento que escrevo) por famílias inteiras, crianças e mulheres, na Palestina, na Ucrânia, em Israel, na África, no Rio de Janeiro, nas Aldeias Indígenas, nas ruas de nossas cidades, que não deveriam ser, jamais, morada de milhares e milhares
de irmãos abandonados à própria sorte. Sorte?
Abandonados! Simples assim, abandonados.
Volto minha alma a todos eles, onde quer que estejam, em uma oração de agradecimento pelo que tenho,
pelo que sou, pelo que me foi dado viver, e sentir, em todos esses anos...E a ingratidão não mais conta,
passa a ser algo que diz respeito, única, e exclusivamente, ao ingrato.
A alma precisa de paz, paz, muita paz, para conseguir navegar neste oceano tão hostil, a Humanidade!
Somos uns mimados de Deus!
Nós que temos trabalho, cama, banho, alimento, somos uns mimados de Deus, devemos agradecer, a cada minuto, pela existência, e elevar a alma em uma oração de reconhecimento.
Convocação Geral: Ensarilhar as armas!
Voltemos aos abraços, às cantorias, às expressões de amor!
O Planeta está vivendo um momento delicado, lembrando os períodos anteriores às duas grandes guerras do século passado.
A incompreensão tomou conta da vida dos Seres Humanos, a intolerância se espalhou de tal forma que qualquer coisa que seja dita se torna motivo de discussão, de inimizade.
Amigos deixaram de se falar, irmãos deixaram de se visitar, pais não visitam os filhos e filhos não mais visitam os pais.
Ah, Poeta, mas sempre foi assim!
Não, meus amigos, a segunda metade do Século XX foi de encontros, de distensão, de abraços, de “Pax and Love”, de construção sinérgica.
Na arte, na música, na literatura, no dia a dia, o clima era de festa, de alegria. Beatles, Frank Sinatra, Elvis, Violeta Parra, Mercedes Sosa, Elis, Roberto, Kleiton & Kledir, MPB4, Família Ramil, Chico, Fábio Jr., Sérgio Reis e os Sertanejos, Raul Seixas, todos falando do amor, da paz, da alegria.
O risco é grande!
Há que se repensar nossa forma de ver nossos semelhantes o AMOR precisa voltar a ser o centro de tudo, precisamos visitar mais, encontrar mais, expressar nosso carinho e nosso afeto.
A desunião que tomou conta de nossos corações e de nossas almas nos últimos anos não pode continuar dirigindo nossas vidas.
Não à guerra!
Não à desavença!
Não ao ceticismo!
Não à descrença!
Não à desesperança!
Que espalhemos pelos quatro cantos da Terra a união e o afeto, o amor fraterno, o bem, a compreensão.
Há que haver o REENCONTRO conosco, com a bondade, com nossa essência.
Acreditem, isto é possível!
É hora de deixarmos de lado o individual, o centrismo, a arrogância, para pensarmos no coletivo, no amor que nos une a todos.
É hora de ensarilhar as armas!
Há que se dar meia volta e voltar à razão
O Brasil e o mundo vivem um momento ímpar, e perigoso, muito perigoso, da história da humanidade.
O princípio da autoridade democrática se esvai e valores como dignidade, trabalho, honra, estudo, disciplina, respeito ao semelhante, ao bem público, à propriedade material e intelectual, respeito à criança e ao jovem, direito de ir e vir, gratidão (ah! A gratidão), foram substituídos pelos valores materiais.
Simples assim!
Os interesses menores, que nos voltaram para nossos próprios umbigos, nos tornaram céticos, como diz o Chaplin em seu discurso.
Vou além, nos tornaram amargos! Graças a tanta propaganda, passamos a valorizar a casca, não o interior; passamos a nos deter no contentor, não no conteúdo; passamos a comprar pacotes, não presentes; passamos a dar valor às grandes festas, não às singelas reuniões de amigos; passamos a levar para casa o discurso, não o foco da questão; passamos a comprar o livro pela capa, não pelo escritor ou pelo que escreve; passamos, enfim, a ficar no supérfluo, não nos aprofundando na alma da pessoa que nos fala.
Perdidos nesse emaranhado de ilusões que construímos para nós mesmos, passamos a ver valor nas pessoas “saradas”, homens e mulheres; a ver como companheiro ou companheira ideal, a pessoa que se enquadre no “padrão” que nos foi vendido durante toda uma vida.
Usamos de todas as artimanhas, malhação, emagrecimento, operações das mais diversas, tingimentos e fingimentos, mas não saímos do quadrado!
Assim, “nos enquadramos” em uma Sociedade que se esqueceu como Humana, que se esqueceu como reflexo de um ser maior, bondoso, incrivelmente gentil, incrivelmente amoroso, eterno em sua sabedoria.
O que era para ser complemento passou a ser o principal, e o principal ficou esquecido em um canto de armário, cheio de poeira e teias de aranha, pedindo, clamando, por limpeza e arrumação, voltando, assim, as coisas aos devidos lugares.
Uma vida segura é construída de realidade, de leitura séria, de estudo, de trabalho, de “jogo duro”, de responsabilidade, de honra, de gratidão, não de fantasia!
Perdidos em nós mesmos esquecemos nossas origens, esquecemos que fomos feitos com o que há de melhor no Universo – Espírito, Filosofia, Sentimento e Matéria, um apoiando ao outro na medida certa, e no momento certo.
Esquecemo-nos que Educação não é a imposição de nossos conceitos, não raramente ultrapassados, mas, sim, a arte de se colocar no lugar do outro, de caminhar ao lado, para compreender a fala e as necessi-dades do educando.
Não estamos mais acostumados à bondade, à gentileza, e deveríamos
Não estamos mais acostumados ao “deixa prá lá”, ao perdão, que nos redime e eleva.
Isso é fundamental!
E não estamos mais acostumados à felicidade que, quando alcançada, nos mostra o que é a vida, de fato, nos mostra o que é SER HUMANO.
Esquecemo-nos do que é ser amigo, mas amigo de fato!
E, infelizmente, nos esquecemos dos verdadeiros amigos, nos esquivamos do afeto, nos esquivamos da alegria de uma conversa interminável, de um afago, de um sorriso, de uma dança com a pessoa querida, de uma visita, um almoço com os “velhos”, um convite para um passeio...
Nossos idosos, nossas crianças, nossas mulheres e nossos homens, precisam deste humano.
Nosso país, e nosso mundo, precisam de nosso trabalho, e de nosso grito de alerta, para que as coisas voltem aos devidos lugares.
É preciso, e urgente, que voltem!
Há que se dar meia volta.