Paul Valéry

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Só se pode chamar ciência ao conjunto de receitas que funcionam sempre. Tudo o resto é literatura.

Um fato mal observado é mais pernicioso que um raciocínio errado.

Todos os nossos inimigos são mortais.

O que há de melhor numa coisa nova é aquilo que satisfaz um desejo antigo.

Quem se apressa é porque compreendeu: não devemos demorar as coisas; surpreender-nos-ia que os mais claros discursos fossem feitos de termos obscuros.

Sendo a moda a imitação de quem pretende dar nas vistas àqueles que não o desejam, resulta daqui que ela muda automaticamente. Mas os comerciantes acertam esse relógio.

Os maus pensamentos vêm do coração.

Uma obra dura enquanto é capaz de parecer bem diferente daquilo que o seu autor a fez.

O amor é como a lua: quando cresce diminui.

Em poesia, trata-se, antes de mais nada, de fazer música com a própria dor, a qual diretamente não importa.

O que tem sido acreditado por todos, e sempre, e em toda a parte, tem toda a probabilidade de ser falso.

A mais bela moça do mundo só pode dar o que tem - muitas vezes seria melhor que o guardasse.

Meditar, em filosofia, é encaminharmo-nos do conhecido para o desconhecido, e aqui defrontar o real.

Dizem-nos por vezes - é um fato - inclinai-vos perante os fatos. Ou seja, «acreditai». Acreditai porque aqui o homem não interveio.

Nada na história serve para ensinar aos homens a possibilidade de viverem em paz. É o ensino oposto que dela se destaca – e se faz acreditar.

Todos os sistemas são empreendimentos do sistema contra si mesmo.

O poder sem abuso perde o encanto.

A ignorância oscila entre a extrema ousadia e a extrema timidez.

Pois se o eu é odioso, amar ao próximo como a si mesmo torna-se uma atroz ironia.

Os corações dos nossos amigos são frequentemente mais impenetráveis que os dos nossos inimigos.

O homem sabe frequentemente o que faz, não sabe nunca o que fez.

Um pintor não devia pintar o que vê, mas o que será visto.

Os homens distinguem-se por aquilo que mostram e assemelham-se por aquilo que escondem.

Somos todos campos de batalha, nos quais se digladiam deuses.

Ora penso, ora existo.