Olavo de Carvalho

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FUNÇÃO DA ARTE E DO ARTISTA

A importância do escritor está, sobretudo, na função que ele exerce de tornar a experiência expressável. Porque a linguagem é o único recurso que o ser humano tem para isso. E tudo o que não é verbalizado nos domina. São aqueles estados obscuros que existem dentro de você e você não sabe o que são, aquele lusco-fusco, aquela coisa meio fantasmagórica. Quando você se expressa, tudo se ilumina e cai sob o teu domínio. Então, uma sociedade que não tem um número suficiente de poetas, romancistas, dramaturgos não é capaz de verbalizar a sua experiência verdadeira. Resultado: cria-se um abismo entre a experiência vivida e a fala. A experiência vivida torna-se obscura, opressiva e incompreensível; e a fala só repete estereótipos. Quando você não sabe o que está acontecendo, você fala do que não está acontecendo. Isso é um estado totalmente esquizofrênico e gravíssimo.

Eu me lembro que ainda muito jovem li as memórias de Goethe. Goethe era um sujeito que achava que nós deveríamos cumprir todas as nossas obrigações para com a sociedade. Porque nós temos de ser superiores a ela, não inferiores. Se nós consentimos que a sociedade nos marginalize e nos derrube, então nós seremos seus escravos.

Eu tinha muita amizade com o doutor Juan Alfredo César Müller. Ele era um sujeito goetheano. A ética que ele seguia era a do Goethe, baseada em três coisas: o homem deve ser digno, prestativo e bom. O dr. Müller era a encarnação dessas três coisas, era digno, prestativo e bom. Você não pode fugir das suas obrigações sociais. Claro que, às vezes, você as cumpre imperfeitamente. Mas você não pode fugir delas, porque se você fugir, você se enfraquece. E se você se enfraquece, você torna-se uma vítima inerme da pressão. Você tem de se esforçar, tentar fazer o máximo para que seja mais forte do que a pressão da sociedade, não mais fraco, jamais uma vítima.

Goethe fala de sua ética do trabalho em seu livro de memórias "Poesia e Verdade" e nas "Conversações com Goethe", escrito por seu secretário, que teve a prudência de anotar os diálogos que tinha com Goethe nas conversações do dia-a-dia e que eram jóias.

O comunismo como modelo econômico nunca funcionou, é certo, mas quem disse que o comunismo é um modelo econômico? [...] O comunismo é um MOVIMENTO POLÍTICO MUNDIAL que só aspira a transformar-se em modelo econômico quando tiver conquistado o poder sobre toda a espécie humana, e que até lá se dedica precisamente a conquistar esse poder por todos os meios possíveis e imagináveis, inclusive, quando lhe convém, a prática do capitalismo. Enquanto movimento político, o comunismo não apenas não está falido, mas tem levado à falência todos os seus concorrentes e é hoje -- com exceção do radicalismo islâmico, seu parceiro -- o único que continua prosperando em escala mundial.

O repertório da nossa ignorância faz parte do nosso conhecimento.

Se você analisa as coisas e fatos a partir de um ideal de sociedade ou de algum princípio moral normativo, já começou errado. O único ideal que pode anteceder o conhecimento da realidade é o ideal de conhecer a realidade.

Você não tem que lutar para ser melhor que ninguém, você precisa lutar para ser melhor a cada dia consigo mesmo.

Se você não tem sequer a coragem de enxergar a realidade, como pode ter a pretensão de mudá-la?

O amor começa quando você entendeque o outro é um mistério inabarcável.

O Brasil inventou a categoria do OBVIOSCENO: aquilo que, justamente por ser óbvio, é proibido como obsceno.

Em noventa e nove por cento dos casos, o que os seres humanos buscam sob o nome de “amor” é uma ilusão decepcionante e cruel. É só por uma especial graça divina que esse simulacro adquire vida e se transfigura na realidade do amor, aquele amor louco e sem fim em que os amantes não se separam nem em pensamento, não recusam jamais o perdão e não hesitam em dar a vida um pelo outro. Por meios puramente humanos isso não se realiza jamais.

Inserida por rodkalenninfe

O advento da grande mídia democratizou a ignorância.

Não há nada mais perverso do que a inocência perversa. Quem não enxerga o mal trabalha para ele. TODO inocente útil é útil ao diabo.

Acreditar em certos fatos porque a fonte é confiável é “religião”? Quem fez mais coisas extraordinárias pelo bem da espécie humana do que Nosso Senhor Jesus Cristo? Você conhece alguém mais confiável? Se Ele diz que é o Filho de Deus, quem sou eu para duvidar? Se Ele manda fazer tais ou quais coisas, não devo pelo menos tentar fazê-las, na medida das minhas forças modestíssimas, na esperança de um dia conhecê-Lo e estar com Ele na eternidade, conforme Ele prometeu? Isso é “religião”? Para mim é simples bom senso.

Aderir a uma idéia por simpatia imediata, sem ter idéia das suas fontes e das grandes correntes culturais, políticas, religiosas e ideológicas em que se insere como instrumento, é ser feito de IDIOTA. E, como já expliquei, o idiota útil é sempre idiota demais para saber a quem é útil.
Prestem atenção. Pela MILÉSIMA vez: Não há uma só idéia na sua cabeça que seja da sua própria invenção, que não tenha uma história de séculos ou de milênios e que não seja parte de uma corrente histórico-cultural que talvez não pareça ter nada a ver com ela. A coisa mais importante, para quem começa a estudar filosofia, é rastrear uma a uma as origens das suas idéias mais habituais e queridas e descobrir que deixar de ser um idiota útil É TRABALHO PARA MUITAS DÉCADAS.

Nossas biografias são as cópias de uma cópia. Por trás delas, uma única história se passou: a da vida, paixão e morte de N. S. Jesus Cristo.

Inserida por rodkalenninfe

Nós não somos aquilo que comemos, mas aquilo que o nosso espírito criou. Temos de parar de ter essa concepção intestinal da cultura, e começarmos a ter uma concepção espiritual.

O mal só aparece no mundo quando há a deformidade no exercício do livre-arbítrio dado ao homem por Deus.

É inútil tentar convencer quem acha que já sabe. Sem a humilhação preliminar que quebra a autoconfiança postiça e cria o desejo de saber, nada é possível.

A Palavra de Deus está na Bíblia? Não. A palavra de Deus está na Bíblia e em todo lugar desta terra, céu e mar. Deus não é só o autor de um livro, Ele é o Criador de todas as coisas.

Ser humilde não é outra coisa senão aceitar a realidade.

A mediocridade, no Brasil, é mais do que objeto de adoração, é objeto de culto.

Um segredo fundamental do desenvolvimento da inteligência é reduzir drasticamente o número de assuntos sobre os quais você tem alguma opinião.

A sofisticação opõe-se à inteligência como a frescura se opõe à simplicidade.

Se você faz questão de que os idiotas o julguem esperto, toda a sua esperteza jamais passará de idiotice.

"O jovem, é verdade, rebela-se muitas vezes contra pais e professores, mas é porque sabe que no fundo estão do seu lado e jamais revidarão suas agressões com força total. A luta contra os pais é um teatrinho, um jogo de cartas marcadas no qual um dos contendores luta para vencer e o outro para ajudá-lo a vencer.
Muito diferente é a situação do jovem ante os da sua geração, que não têm para com ele as complacências do paternalismo. Longe de protegê-lo, essa massa barulhenta e cínica recebe o novato com desprezo e hostilidade que lhe mostram, desde logo, a necessidade de obedecer para não sucumbir. É dos companheiros de geração que ele obtém a primeira experiência de um confronto com o poder, sem a mediação daquela diferença de idade que dá direito a descontos e atenuações. [...] Para não ser devolvido, impotente e humilhado, aos braços da mãe, ele tem de ser aprovado num exame que lhe exige menos coragem do que flexibilidade, capacidade de amoldar-se aos caprichos da maioria - a supressão, em suma, da personalidade.
É verdade que ele se submete a isso com prazer, com ânsia de apaixonado que tudo fará em troca de um sorriso condescendente. A massa de companheiros de geração representa, afinal, o mundo, o mundo grande no qual o adolescente, emergindo do pequeno mundo doméstico, pede ingresso. E o ingresso custa caro. [...] Não é de espantar que o rito de ingresso no grupo, custando tão alto investimento psicológico, termine por levar o jovem à completa exasperação impedindo-o, simultaneamente, de despejar seu ressentimento de volta sobre o grupo mesmo, objeto de amor que se sonega e por isto tem o dom de transfigurar cada impulso de rancor em novo investimento amoroso. Para onde, então, se voltará o rancor, senão para a direção menos perigosa? [...] Numa cruel inversão, a culpa de suas humilhações não será atribuída àqueles que se recusam a aceitá-lo como homem, mas àqueles que o aceitam como criança. A família, que tudo lhe deu, pagará pelas maldades da horda que tudo lhe exige.
Eis a que se resume a famosa rebeldia do adolescente: amor ao mais forte que o despreza, desprezo pelo mais fraco que o ama."

Inserida por LEandRO_ALissON