Martyn Lloyd-Jones
Na Bíblia, quem age é Deus. Temos visto o que o homem faz. O que o homem faz é cair em pecado, e continuar no pecado, produzindo assim degradação, miséria e desespero. O homem é isso. Que é este Livro, a Bíblia? Seria tão-somente ensino moral? Acaso simplesmente nos diz o que precisamos fazer para que juntemos forças e nos safemos do lamaçal em que afundamos? Seria uma exortação? Não! É Evangelho. É um anúncio. Deus! Deus, que veio ao Jardim do Éden e falou com Adão e Eva em seu pecado e em sua vergonha. É Ele que age. É Ele que tem agido através de toda a história humana. Foi Ele que chamou Abraão e fez dele uma nação. Foi Ele que deu reis. Foi Ele que enviou profetas. Foi Ele que deu a lei. É sempre Ele. Foi Ele que, "vindo a plenitude dos tempos... enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei, para remir os que estavam debaixo da lei" (Gálatas 4:4,5). É Ele que ainda o faz; Ele o está fazendo no mundo atual. Toda a evangelização está subordinada a Deus. É Deus que age, e Ele continuará agindo até que tudo esteja finalmente perfeito e completo. O Evangelho é o grande plano e esquema de Deus em operação.
Jesus nunca mudou o Evangelho para adaptá-lo as pessoas, Ele mudou as pessoas para fazê-las caber em Seu Evangelho.
Roubar não se restringe às coisas da esfera material. Roubar significa realmente apossar-se e fazer uso como se fosse sua, de alguma coisa que não pertence a você, apropriar-se de algo que não é seu, para atender aos seus fins pessoais e para a sua satisfação pessoal. Assim refere-se a muitas coisas, além das materiais. Pode-se roubar dinheiro; sim, porém também se pode roubar tempo; pode-se roubar quase tudo, pode-se roubar pensamentos, idéias, o crime que chamamos de plágio, que é tomar as idéias de alguém e publicá-las como se fossem suas próprias. Você pode escrever um artigo, mas usando o que tomou de alguém e você não dá a conhecer o seu reconhecimento - é roubo.
Por mais fraca, ínfima e incompleta que fosse a fé daqueles discípulos naquela ocasião, eles ainda assim possuíam fé suficiente para fazer a coisa certa no final. Eles foram a Jesus. Agitados, perturbados, alarmados e exaustos, eles foram a Ele. Ainda tinham alguma idéia de que Ele poderia fazer alguma coisa, e assim O acordaram, dizendo: “Mestre, não vai fazer alguma coisa?” Isso é uma pobre amostra de fé, alguém diz, uma fé muito frágil, mas é fé, graças a Deus. E até mesmo fé “como um grão de mostarda” é valiosa porque nos leva a Ele. E quando vamos a Ele, isto é o que vamos encontrar. Ele estará desapontado conosco, e não esconderá o fato. Vai repreender-nos, dizendo: “Por que não raciocinaram, por que não aplicaram a sua fé, por que ficaram agitados diante daquela pessoa incrédula, por que se comportaram como se não fossem cristãos, por que não colocaram a sua fé em ação como deveriam ter feito? Eu teria ficado tão feliz se pudesse ter visto vocês firmes como homens em meio do furacão ou da tempestade – por que não fizeram isso?” Ele deixará claro que está desapontado conosco, e nos repreenderá, mas, bendito seja o Seu nome, Ele ainda assim nos receberá. Não nos mandará embora. Ele não mandou embora aqueles discípulos, recebeu-os e nos receberá também. Sim, e não somente nos receberá, mas também nos abençoará e nos dará paz. “Ele repreendeu os ventos e o mar, e fez-se grande bonança”. Ele fez surgir a situação que eles estavam ansiosos por gozar, apesar da sua falta de fé.
A palavra de edificação dita pelo cristão sempre deve ser de acordo com as circunstâncias! Portanto, não devemos repetir frases como papagaio e achar que agimos bem e cumprimos o nosso dever. Nada disso! Em vez disso, devemos primeiro descobrir qual a exata situação das outras pessoas. Compete-me falar-lhes de modo tal que as ajude exatamente no ponto em que elas estão; "não deiteis aos porcos as vossas pérolas", diz o nosso Senhor (Mateus 7:6). Não dê um bife, digamos, de boa carne vermelha a um bebê que só pode tomar leite!
Que é que coloca os homens e as mulheres em correta relação com Deus? Seria que eles têm vida moralmente boa? Seria que não fazem certas coisas que outros fazem e, em vez disso, lêem a Bíblia, oram e se empenham na prática de obras filantrópicas? E isso que os coloca em reta relação com Deus, obtém o perdão de Deus e lhes garante que estão indo para o céu? Acaso as pessoas se acertam com Deus tendo boa moral, sendo religiosas, cultivando o espírito de Cristo em seu ser? Seria esse o meio?
Ou será que as pessoas se tornam cristãs, obtêm o perdão dos seus pecados e encontram a salvação pela ação de uma igreja? Receberam elas o perdão e a nova vida em sua infância, quando um ministro aspergiu água sobre elas? Porventura as pessoas são salvas pelos sacramentos ou pelo ato de um sacerdócio que alega que tal ato tem esse poder?
Todas essas perguntas urgentes provêm justamente do problema aqui tratado. Por essa razão Estêvão e outros da Igreja Primitiva eram submetidos a julgamento. E a resposta definitiva é a seguinte: somos justificados pela fé somente; não por obras por nós praticadas, nem por obras de alguma igreja. "Creu Abraão em Deus, e isso lhe foi imputado como justiça". É exatamente o que Estêvão está dizendo.
Mas será que nós entendemos bem o que significam as palavras "justificação pela fé somente"? Lembrem-se de que a sua alma e a sua salvação, o seu destino eterno, dependem do seu entendimento deste ponto. Esta é a verdadeira questão que constitui a linha divisória entre a religião e a verdadeira e viva fé cristã.
Você nunca terá paz verdadeira, enquanto sua mente não for satisfeita. Se você tem apenas alguma experiência emocional ou psicológica, isso poderá mantê-lo tranqüilo e dar-lhe repouso por algum tempo, porém, mais cedo ou mais tarde, surgirá algum problema, alguma situação o confrontará, alguma questão chegará à sua mente, talvez pela leitura de um livro ou numa conversação, e você não será capaz de responder, e assim irá perder a sua paz. Não haverá verdadeira paz com Deus enquanto a mente não tiver assimilado esta doutrina bendita e dela tiver tomado posse, tranqüilizando-se então.
Já pensou se todas as suas ações durante o ano que passou fossem colocadas no papel? E se tivesse mantido um registro de todos os seus pensamentos e desejos, suas ambições e imaginações? Você permitiria que isso fosse publicado sob seu nome? O que você é hoje em comparação com o que foi no passado? Olhe para suas mãos — estão limpas? E os seus lábios — são puros? Olhe para seus pés — onde eles pisaram, que caminho percorreram? Olhe para si mesmo! É realmente você? E então olhe à sua volta, para a sua posição e os seu ambiente. Não fuja! Seja honesto! Do que você está se alimentando? Comida ou bolotas lançadas aos porcos? Em que você tem gastado seu dinheiro? Para que fins você usou dinheiro que talvez devesse ser usado para alimentar sua esposa e filhos, ou vesti-los? Do que você tem se alimentado? Olhe! É alimento próprio para ser humano? Avalie o que você gosta. Enfrente-o com calma. É algo digno de uma criatura criada por Deus, com inteligência e sabedoria? É coisa que pelo menos honra o ser humano — quanto mais a Deus? É alimento de porcos, ou é próprio para ser consumido por um ser humano? Não basta que você apenas lamente a sua sorte ou se sinta miserável. Como acabou em tal estado ou situação? Olhe para os porcos e as bolotas, e compreenda que é tudo devido você ter abandonado a casa do seu pai, agindo deliberadamente contra os ditames da sua própria consciência, deliberadamente zombando da religião e de todos os seus mandamentos e princípios; tudo é resultado exclusivo de suas próprias decisões. A situação em que se encontra hoje é conseqüência de suas próprias escolhas, e de sua próprias ações. Enfrente isso e admita-o. Esse é o primeiro passo essencial no caminho da volta.
Compreendam que todos os seus reforços vão falhar, como sempre falharam até aqui. Entendam que a melhora será meramente transitória e temporária. Parem de se enganar a si mesmos. Compreendam como é desesperada a sua situação. E compreendam que existe somente um poder que pode colocar suas vidas no caminho certo — o Poder do Deus Todo-poderoso. Você podem continuar confiando em si mesmos e nos outros, e se esforçando ao máximo. Mas daqui a um ano a sua situação não só será a mesma, e sim muito pior. Somente Deus pode salvá-los.
Não devemos permitir que nenhuma das faculdades do corpo seja posta a serviço do pecado. Não devo permitir que minha força, não devo permitir que minha energia, meus apetites, minha fala, minha mente, meu pensamento, não devo permitir que a minha imaginação ou as minhas emoções - todas estas coisas que fazem parte de mim e que são a expressão da minha personalidade - não devo permitir que nenhuma delas seja jamais usada pelo pecado e seja posta a serviço do pecado.
Parar na justificação não é somente errado quanto ao pensamento; é impossível por esta razão: que é uma obra realizada por Cristo; é Ele que faz isto em nós. Ele Se entregou pela Igreja. Por que? Para poder santificar e purificar a Igreja. Ele é que vai fazer isso. Todo o problema surge do fato de que alguns persistem em considerar a santificação como uma coisa que compete a nós realizar. Isso jamais é ensinado em parte alguma das Escrituras. O ensino das Escrituras é o seguinte: Cristo pôs Seu coração e Seu afeto na Igreja. Lá estava ela, sob condenação, em seu pecado, em seus trapos e em sua baixeza! Ele veio, houve a encarnação, Ele tomou sobre Si a "semelhança da carne do pecado" (Romanos 8:3). Ele tomou os pecados dela sobre Si, e os suportou em Seu próprio corpo no madeiro. Ele sofreu o castigo, Ele morreu, Ele fez a expiação e nos reconciliou com Deus. Assim a Igreja está livre da condenação. Mas isso não O satisfaz. Ele quer que ela seja gloriosa, Ele quer apresentá-la "a si mesmo igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante''. Portanto, Ele começa imediatamente a prepará-la para esse destino. Não pode parar no primeiro passo; Ele vai adiante, para santificá-la. Noutras palavras, Sua morte na cruz por nós e por nossos pecados foi simplesmente o primeiro passo neste grande processo. E Ele não se detém no primeiro passo. Ele tem um propósito completo para a Igreja, e o vai cumprindo passo a passo.
Gostaria de expressar isto vigorosamente. Em última análise, eu e você não temos escolha nesta questão da santificação. É algo que Cristo realiza. Ele morreu por você, e depois, tendo morrido por você, Ele vai lavá-lo, santificá-lo, purificá-lo - e Ele mesmo fará isso. Que ninguém se engane sobre isto. Se Ele morreu por você, levará adiante o processo de santificação em você, e finalmente o tornará perfeito. Há algo de alarmante em torno disto; no entanto, é ensino bíblico essencial. Se eu e você não nos submetermos voluntariamente a este ensino, Ele tem outro meio de purificar-nos; e o usará - "Porque o Senhor corrige a quem ama, e açoita a qualquer que recebe por filho" (Hebreus 12:6). Ele não permitirá que você fique onde estava, em sua imundície e vileza, dizendo: "Está tudo bem comigo, Cristo morreu por mim, eu estou perdoado, sou cristão". Ele não aceitará isso! Ele o amou, você Lhe pertence; e Ele o tornará puro. Se você não vier voluntariamente, e do modo certo, Ele o colocará naquela academia de ginástica sobre a qual lemos em Hebreus.
Ele aparará as arestas, eliminará a imundície e a vileza; Ele lavará você. Isso pode acontecer por meio de uma enfermidade que Ele fará sobrevir a você. Estes pregadores da "cura divina" que dizem que Deus nunca envia doença, estão simplesmente negando as Escrituras. Como um dos Seus métodos, Ele castiga. As circuns¬tâncias que o cercam podem ser más, você pode perder o emprego, ou uma pessoa que lhe é cara pode morrer. Cristão! Uma vez que você Lhe pertence, uma vez que Cristo morreu por você, Ele o tornará perfeito. Lute contra Ele quanto quiser em sua estultícia, Ele o lançará por terra, Ele o purificará, Ele o aperfeiçoará. Esse é o ensino; é uma coisa que Ele realiza. A santificação não é determinada por mim e por você - "E a si mesmo se entregou por ela, para (a fim de) a santificar, purificando-a com a lavagem da água, pela palavra". O primeiro princípio que devemos entender é que a santificação é primária e essencialmente uma coisa que o Senhor Jesus Cristo faz para nós. Ele tem os Seus meios para fazê-lo. Naturalmente, a santificação inclui obediência da nossa parte. Mas você não precisa colocar aí a sua ênfase principal. A decisão pela santificação não é nossa; É dEle. Foi tomada na eternidade, antes da fundação do mundo. É Sua atividade, Sua operação; e, tendo morrido por você, Ele o fará. Resista a Ele, e o risco será seu. Ele levará cada um dos filhos, que foram chamados, para aquela glória final e sempiterna. Como Hebreus o expressa, se Ele não tratar você deste modo, significará que você é um "bastardo", e não um filho legítimo (Hebreus 12:5-11).
Esse é, pois, o grande princípio que constitui a base deste ensino apostólico. Como Cristo o leva a efeito? Veja-se a resposta na palavra "santificar"; "como também Cristo amou a igreja, e a si mesmo se entregou por ela, para a santificar". Esta palavra "santificar" é empregada de muitas maneiras na Bíblia, mas o seu sentido primário é, "ser separado" ou "separar"; "ser separado para Deus, para Sua posse peculiar e para Seu uso". Você verá em Êxodo 19, por exemplo, que o monte no qual Deus se encontrou com Moisés e lhe deu os Dez Mandamentos, foi "santificado" desse modo. É chamado "monte santo" porque foi separado. Não houve alteração na montanha, mas foi separada para os propósitos de Deus, para o uso de Deus, para ser possessão peculiar de Deus. Os vasos que eram usados no cerimonial do templo eram igualmente santificados ou separados. Não houve mudança material nos copos e nos pratos, todavia como deviam ser utilizados somente no templo e para o serviço de Deus, não podiam ser empregados no uso comum. Ser santificado significa ser separado para Deus e para o Seu uso e propósito especial, como Sua possessão peculiar. Portanto, somos um "povo para Sua possessão pessoal".
Se o diabo não puder apanhar você em sua estrutura física, ele o apanhará em sua mente; se não puder apanhá-lo em sua mente, ele o fará por meio da sua imaginação; se não tiver sucesso aí, tentará apanhá-lo por meio de suas emoções. Não lhe importa quanto tempo demore para pegar alguma parte de você, ou alguma expressão da sua personalidade, e usá-la para seus fins nefandos.
Como podemos ser felizes e livres em vista do nosso passado? Mesmo que não cometamos mais certas ações ou um certo pecado, o passado está presente e sempre temos diante de nós o que fizemos. Esse é o problema. Quem pode nos libertar do nosso passado? Quem pode apagar do livro da nossa vida aquilo que já fizemos? Há somente Um! E Ele pode fazê-lo! O mundo tenta me persuadir que não importa, que posso voltar as costas ao passado e esquecê-lo. Mas eu não posso esquecer — ele sempre me volta à lembrança. E me lança em miséria e desespero. Posso tentar de tudo, porém meu passado permanece um fato sólido, terrível, medonho. Há alguma forma de me livrar dele? Algum modo de apagá-lo? Há somente um que pode removê-lo dos meus ombros. Eu só posso ter certeza que meus farrapos e andrajos se foram quando os vejo na Pessoa de Jesus Cristo, o Filho de Deus, que os tomou sobre Si e Se fez maldição em meu lugar. O Pai mandou que Ele tirasse de sobre mim os meus farrapos, e Ele o fez. Ele levou minha iniqüidade, e Se vestiu e cobriu com meu pecado. Ele o tirou, lançando-o no mar do esquecimento de Deus. E quando eu compreendo e creio que Deus em Cristo não só perdoou meu passado, mas também o esqueceu, quem sou eu para procurar por ele e tentar encontrá-lo? Minha única consolação, quando considero o passado, é lembrar que Deus o apagou. Ninguém mais podia fazer isso. Mas Ele o fez. E este é o primeiro passo essencial para um novo começo. O passado precisa ser apagado; e ele é apagado em Cristo e em Sua morte expiatória.
Embora pareçamos muito fortes, embora tenhamos crescido maravilhosamente na graça e tenhamos obtido grandes vitórias, jamais devemos descansar nisso, jamais devemos supor que estamos fora do alcance do inimigo. (...) Ainda que nos sintamos vibrar de poder, sejamos cautelosos! Ele sempre sabe do calcanhar de Aquiles, sabe qual é o nosso ponto fraco.
É Graça no início, Graça no fim. De modo que, no leito de morte. ela seja a única a nos consolar (...).
Aqui está a oportunidade para um começo realmente novo. É o único meio. O próprio Deus o tornou possível, enviando Seu Filho unigênito a este mundo, para viver, morrer, e ressuscitar. Não importa o que você tenha sido no passado, nem o que é no momento. Basta que se volte para Seus, confessando seu pecado contra Ele, lançando-se sobre Sua misericórdia em Cristo Jesus, reconhecendo que somente Ele pode salvar e guardar você, e descobrirá que.
O passado será esquecido
Gozo dado no presente,
Graça futura prometida —
E uma coroa de glória no céu.
Venha! Amém.
Seria sua aspiração conhecer melhor o Senhor Jesus Cristo? É seu anelo amá-Lo mais? Se sua resposta for sim, digo-lhe que o Espírito Santo está em você. Não importa quão fraco seja o seu amor, nem quão fraco o seu desejo. Uma das minhas citações favoritas de Blaise Pascal: "Não Me estarias procurando, se já não Me houveras encontrado". Quem quer ter Cristo tem Cristo. O próprio fato de que você quer tê-Lo é prova de que o Espírito está em você. O não regenerado não quer tê-Lo; ele está "em inimizade contra Deus" e em inimizade contra Cristo.
A lei não pode libertar-nos do pecado. Paulo a expõe nestes termos: "O pecado", diz ele, "não terá domínio sobre vós". Por quê? "Porque não estais mais debaixo da lei." "Se vocês estivessem debaixo da lei", diz ele praticamente, "eu não poderia fazer essa afirmação a respeito de vocês. Se vocês estivessem debaixo da lei, eu lhes diria, e teria que dizer-lhes, que o pecado de fato terá imenso domínio sobre vocês. Mas vocês não estão debaixo da lei, estão debaixo da graça. Portanto, o pecado não terá domínio sobre vocês." A proposição é que a Lei, qualquer espécie de lei, não pode libertar-nos do poder, da tirania e do domínio do pecado.
Leia sobre a vida dos santos e descubra como aqueles homens maravilhosos que tentaram purificar seus corações maus sempre descobriram uma impureza crescente, e no final descobriram que era totalmente inútil. Foi por isso que Davi clamou com estas palavras: “Cria em mim” — somente Deus pode me dar um coração puro, somente Deus pode me dar uma nova natureza. “Minha única esperança”, disse Davi, “é que Ele que criou o mundo do nada e fez o homem do pó da terra e soprou nele o fôlego de vida, criará dentro em mim um coração puro e me dará uma nova natureza.” Esse é o brado do Velho Testamento. Davi viu isso em sua essência, viu que aquilo era sua fundamental necessidade. E a necessidade fundamental de todo homem é uma operação de Deus no centro da vida. Oh, você sabe, meu amigo, que essa é a verdadeira essência do evangelho do Novo Testamento e sua maravilhosa mensagem? Por que o Senhor Jesus Cristo veio a este mundo? Por que Ele viveu, e morreu aquela morte de cruz e ressuscitou? Para que aconteceu tudo aquilo? Porventura foi só para que você e eu pudéssemos ser perdoados e continuássemos no pecado, e então nos arrependêssemos — tendo passado do pecado para o arrependimento e do arrependimento para o pecado — e finalmente pudéssemos ir para o céu, sendo poupados da punição do inferno e suas terríveis conseqüências? Esse é um pensamento blasfemo! Ele fez tudo isso, como Paulo escreveu a Tito, para que ele pudesse “...purificar para si mesmo um povo exclusivamente seu, zeloso de boas obras” (Tito 2:14).
“Cria em mim um coração puro, ó Deus.” Qualquer homem, eu afirmo, que fizer essa oração com sinceridade será sempre atendido. “Vocês precisam nascer do novo”, disse Jesus Cristo; e um homem que reconhece isso e submete-se a Cristo é nascido de novo. Ele tem uma nova vida, a vida de Deus nele; a questão central é ser purificado por Deus, e esse homem encontra dentro de si mesmo uma nova perspectiva, um novo poder, uma nova esperança, uma nova pessoa.
O pecado sempre desestimula o pensamento, sempre desestimula a meditação. O pecado sabe que só tem uma esperança de sucesso, e esta é jogar nos sentimentos e desejos da pessoa. Se a mente começar a funcionar realmente, o pecado estará acabado e, portanto, em sua astúcia, ele joga nos sentimentos e desestimula a mente e o pensamento. Você se irrita simplesmente porque não pensou no que estava fazendo. O pecado o governou e o dominou. Ele nos faz viver só para o momento. Deixamos de pensar além do momento presente, e então ele pega você! Se os homens e as mulheres tão-somente pensassem de antemão, quão diferente seria a vida! Mas não o fazem; o pecado desestimula o pensamento, e isso faz parte de sua estratégia de engano.
Vocês olham para si mesmos e, é claro, serão miseráveis, porque no íntimo há trevas e escuridão. O melhor santo quando olha para si mesmo se torna infeliz; ele vê coisas que não deveriam estar ali, e se nós gastarmos todo o nosso tempo olhando para nós mesmos, permaneceremos na miséria, e perderemos a alegria. Auto-avaliação é coisa boa, mas introspecção é ruim. Vamos mostrar a diferença entre essas duas coisas. Podemos examinar a nós mesmos à luz das Escrituras, e se fizermos isso, estaremos sendo conduzidos a Cristo. Mas com a introspecção, um homem olha para si mesmo e continua fazendo assim, e se recusa a ser feliz até que possa se livrar das imperfeições que ainda estão ali. Oh, como é trágico o fato de ficarmos gastando nossas vidas olhando para nós mesmos em vez de olharmos para Aquele que pode nos fazer livres!