Martyn Lloyd-Jones

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Enfrentem as primeiras movimentações e impulsos do pecado em vocês; combatam-nos logo que aparecerem. Se não fizerem isso, estão arruinados. Vocês cairão, conforme somos ensinados na epístola de Tiago: “Ninguém, ao ser tentado, diga: Sou tentado por Deus; porque Deus não pode ser tentado pelo mal e ele mesmo a ninguém tenta. Ao contrário, cada um é tentado pela sua própria cobiça, quando esta o atrai e seduz. Então, a cobiça, depois de haver concebido, dá à luz o pecado; e o pecado, uma vez consumado, gera a morte”. O primeira moção do pecado é um encantamento, um leve incitação de cobiça e sedução. Esse é o momento em que temos de lidar com o pecado. Se deixarem de enfrentar o pecado nesse estágio, ele os vencerá. Cortem o mal pela raiz. Ataquem-no de imediato. Nunca lhes permitam qualquer avanço. Não o aceitem de maneia alguma. Talvez sintam-se inclinados a dizer: “Bem, não farei tal coisa”; mas, se aceitam a ideia em sua mente e começam a afagá-la e entretê-la em sua imaginação, vocês já estão derrotados. De acordo com o Senhor, vocês já pecaram. Não precisam realmente cometer o ato; nutri-lo no coração já é o suficiente. Permitir isso no coração significa pecar aos olhos de Deus, que conhece tudo a respeito de nós e vê até o que acontece na imaginação e no coração. Portanto, destruam o mal pela raiz, não tenham qualquer relação com ele, parem-no imediatamente, ao primeiro movimento, antes que comece a acontecer esse processo ímpio descrito por Tiago.

Sempre que vocês se defrontarem com uma dificuldade nas Escrituras, com alguma coisa sobre a qual vocês não têm um conhecimento preciso, o princípio que deverão seguir é: partam de algo a cujo respeito vocês estão certos e seguros, e abordem a sua dificuldade desde uma posição já estabelecida. Isso é comparável a dar uma boa corrida, se se quer saltar sobre um obstáculo. Não fiquem muito perto do seu problema, se este é difícil; recuem a certas posições gerais e avancem a partir dali. Vocês poderão vencer o obstáculo ou resolver a sua dificuldade.

se você cair no pecado (e quem não cai?), não restaurem a si mesmos de modo superficial e apressado. Leiam 2 Coríntios 7 e considerem o que Paulo disse sobre a “a tristeza segundo Deus” que produz arrependimento. Outra vez, tragam à luz aquilo que fizeram, contemplem-no, analisem-no, exponham-no, denunciem-no, odeiem-no e denunciem a si mesmos. Mas não façam isso de um modo que os atire nas profundezas da depressão e desânimo! Sempre tendemos a ir aos extremos; ou somos muito superficiais ou muito profundos. Não devemos curar superficialmente a ferida (cf. Jr 6.14), mas tampouco devemos lançar-nos no desespero e melancolia, dizendo que tudo está perdido, que não podemos ser crentes, e retornar ao estado de condenação. Isso é igualmente errado. Temos de evitar ambos os extremos. Façam uma avaliação honesta de si mesmos e do que fizeram, condenando totalmente a si mesmos e seu ato; porém compreendam que, confessando-o a Deus, sem qualquer desculpa, “ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça” (1 Jo 1.9). Se vocês fizerem essa obra de maneira superficial, cairão novamente no pecado. E, se vocês se lançarem em um abismo de depressão, hão de sentir-se tão desesperados que cairão em mais e mais pecado. Uma atmosfera de melancolia e fracasso leva a mais fracasso. Não caiam em nenhum desses erros, mas respondam à obra da maneira como o Espírito sempre nos instrui a fazê-la.

Todos nós temos pecado contra Deus. Nunca poderemos livrar-nos da nossa culpabilidade, nunca poderemos remover a mancha. Meu passado permanece e eu não posso apagá-lo; eu falho no presente e falharei no futuro. Como então eu poderia encontrar-me com Deus e ser perdoado? Ah, a resposta para tudo isso é que eu posso recebê-lo como uma dádiva imediata, que tudo têm sido realizado em Cristo, que Cristo morreu pelo meu pecado, e devido Deus ter tratado com o pecado ali, Ele me oferece este dom gratuitamente. Aí está a essência desta questão. Não precisam esperar por coisa alguma: é um dom que tem que ser recebido, assim como você está e onde estiver neste momento.

É triste ver pessoas que recentemente entraram na vida cristã dentro de um curto período de tempo repetindo frases e chavões. Não têm idéia do que significam; estão apenas imitando os outros; estão pegando o linguajar, as expressões e as atividades. E isso continua indefinidamente. Pode-se perceber que elas não estão vivamente conscientes da verdadeira situação.

O que importa não é o que você e eu pensamos, é o que a Bíblia ensina. As pessoas têm suas próprias idéias sobre o que constitui um cristão. Vocês percebem isso quando discutem essas coisas com outras pessoas, e elas dizem: “O que eu afirmo é isto”. E devido eles o terem dito acham que isso deve ser verdadeiro. Contudo, certamente não há um padrão definitivo do que torna um homem em cristão, exceto na Bíblia. O que conhecemos do cristianismo fora da Bíblia? Que direito temos nós de afirmar: “Isso é o que eu penso que torna um homem em cristão”? Certamente, a Bíblia é nossa única regra e autoridade. Nada conhecemos de Jesus Cristo, à parte do que encontramos na Bíblia, e não temos qualquer direito de postular o que é a experiência cristã fora do ensino da Palavra de Deus. Aí, eu digo, está o único teste e o único padrão. Eu diria novamente com Lutero: “Não conheço outro Deus senão Jesus Cristo”. Nada conheço além do que encontro na Bíblia, e o que encontro nela é que eu estou passando por este mundo, que tenho de encontrar-me com Deus face a face, que há um único caminho pelo qual eu posso fazer isso sem medo, horror, estremecimento, alarme e destruição final, e isso é prestar uma pronta obediência ao que Deus me fala em Sua própria Palavra, crer em Seu Filho o Senhor Jesus Cristo, e entregar-me e toda a minha vida a Ele. Se faço isso, se reconheço meu pecado, se percebo minha necessidade de perdão e creio que tenho isso através de Cristo e Sua perfeita obra, se suplico e oro por esse novo nascimento e o recebo, então afirmo que certas coisas me acontecerão.

Não posso imaginar nada mais terrível para um homem do que viver uma longa vida neste mundo presumindo e imaginando que é um cristão, e então descobrir no temível dia do Juízo que ele nunca foi um cristão de verdade. Essas são as sérias palavras do próprio Senhor Jesus Cristo: “Muitos me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não profetizamos nós em teu nome? E em teu nome não expulsamos demônios? E em teu nome não fizemos muitas maravilhas? E então lhes direi abertamente: nunca vos conheci; apartai-vos de mim, vós que praticais a iniqüidade” (Mateus 7:22,23). Para mim (e esse é o motivo pelo qual eu sou um pregador do evangelho) a coisa mais importante para um homem nesta vida e neste mundo é saber com segurança que ele é um cristão.

A graça é o único antagonista contra o pecado, a única antítese do pecado. A Lei nunca foi uma alternativa ao pecado, e nunca foi destinada a ser isso. (...) Assim, nunca se deve colocar a Lei contra o pecado como uma alternativa. Nunca foi seu propósito salvar, e não pode salvar, por causa da nossa fraqueza, porque somos fracos na carne. Nada senão a graça pode ser contraposta ao pecado.

Quais são as conseqüências do arrependimento, da fé no Senhor Jesus Cristo e do novo nascimento? A primeira é a possessão do júbilo e da alegria. Observem como Davi colocou isso: “Faze-me”, ele disse no versículo 8, “ouvir júbilo e alegria; para que gozem os ossos que tu quebraste”. Mas ouçam novamente como ele coloca isso no versículo 12: “Torna a dar-me (restitui-me) a alegria da tua salvação”. Ele tinha conhecimento disso, contudo a havia perdido, e quer tê-la de volta. Afirmo que qualquer homem que tem sentido isso através da experiência da conversão, que nasceu de novo, é alguém que conhece esse júbilo e alegria. Ora, sejamos cuidadosos acerca disso. Há muito mal-entendimento a respeito desta questão de alegria cristã. É muito importante observar que a alegria da qual Davi fala aqui é uma alegria exclusiva, exatamente da mesma maneira que a Bíblia fala dela em toda parte. Ele não está falando sobre uma alegria e júbilo comuns; não está falando de algo temperamental. A alegria da qual ele fala é chamada “a alegria da tua salvação”. É uma alegria especial. Por essa razão me esforço para enfatizar isso. Sou muito inclinado a concordar que temperamentalmente nos diferenciamos tremendamente uns dos outros. Há algumas pessoas que parecem ter nascido com um temperamento mórbido, introspectivo, miserável e infeliz, e há outras pessoas que são naturalmente alegres, otimistas e simpáticas. Se fizermos uma análise da humanidade do ponto de vista psicológico, descobriremos que há todas as variações concebíveis, do tipo introspectivo, totalmente miserável, a esse outro tipo de pessoa que está sempre, como já falamos, jubiloso, feliz e alegre, independente do que esteja acontecendo. Com efeito, a Bíblia é bem ciente de tudo isso, é claro, mas sua grande mensagem para nós — e graças a Deus por isso! — é que a alegria da qual ela fala é totalmente independente de qualquer situação natural. E a alegria da salvação vindo de Deus que é oferecida, e não uma alegria natural qualquer. Isso é importante neste sentido: o ensino bíblico é que todo cristão deve possuir esta alegria, e embora você tenha nascido naturalmente mórbido, ainda pode desfrutar desta alegria específica.

A pergunta que eu faço é esta: conhecemos alguma coisa acerca desta alegria, satisfação e regozijo? Tenho estabelecido que isso é uma conseqüência inevitável da verdadeira experiência evangélica do novo nascimento. Mas, caso que alguém esteja triste sobre isso, deixem-me colocá-lo da seguinte forma, pois é meu desejo ser essencialmente prático: há certas coisas que tendem a se levantar entre as pessoas e a experiência desta alegria e satisfação. Permitam-me mencionar algumas. A primeira, evidentemente, é o pecado. Essa era a essência do problema de Davi. “Restitui-me”, disse Davi, “a alegria da tua salvação.” Por que ele a tinha perdido? Ele a tinha perdido porque era culpado de adultério, assassinato e as outras coisas que já foram mencionadas. Meu querido amigo, não há necessidade de argumentar a respeito disso. Infelizmente, todos nós sabemos algo disso por dolorosa experiência. Se pecamos, quebramos a comunhão e o contato com Deus, e isso sempre nos leva à miséria e tristeza. Sempre há condições vinculadas às bênçãos de Deus. Devemos amar a Deus; Deus nos chama a amá-lO. Sei de muitas pessoas que estão vivendo uma vida cristã miserável porque não se submetem a Deus. A coisa não funciona em direções opostas. Leiam a respeito do apóstolo Paulo novamente, e a maravilhosa alegria que ele conhecia. Leiam as biografias dos santos e de suas vibrantes experiências. Por que todos nós não temos isso? Não é que elas fossem pessoas especiais. Não, Paulo disse que ele era “o principal dos pecadores”. Como então ele conhecia tamanha alegria? A essência do segredo é que ele evitava o pecado, ele vivia a vida para a qual Deus em Cristo o chamara. O pecado sempre rouba a alegria. Sejamos cuidadosos quanto a isso.

Há muitas pessoas que querem ser cristãs, há muitas que dariam o mundo inteiro se tão-somente pudessem ter a alegria de que se lê na Bíblia e nas vidas dos santos. E, no entanto, elas dizem: “Você sabe, parece que nunca sou capaz de apreendê-la. Tenho orado por ela e a almejado. A coisa que eu mais quero é esta grande alegria, e ainda não a tenho; sempre está me iludindo”. Bem, às vezes a razão por isso não passa de pura ignorância ou falta de ensino a respeito do caminho e os meios da salvação. Sem perceber isso, essas pessoas estão ainda confiando em si mesmas e em seus próprios esforços. Elas não perceberam que o evangelho é algo simples, que temos que vir a Deus de mãos vazias, reconhecendo que nada podemos fazer, pois ele é um dom dado por Deus. Elas estão ainda tentando tornar a si mesmas cristãs, e enquanto fizerem isso, jamais conhecerão a alegria da salvação. Deixem-me explicá-lo mais uma vez. É simplesmente isto — e como é simples! Todos nós temos pecado contra Deus. Nunca poderemos livrar-nos da nossa culpabilidade, nunca poderemos remover a mancha. Meu passado permanece e eu não posso apagá-lo; eu falho no presente e falharei no futuro. Como então eu poderia encontrar-me com Deus e ser perdoado? Ah, a resposta para tudo isso é que eu posso recebê-lo como uma dádiva imediata, que tudo têm sido realizado em Cristo, que Cristo morreu pelo meu pecado, e devido Deus ter tratado com o pecado ali, Ele me oferece este dom gratuitamente. Aí está a essência desta questão. Não precisam esperar por coisa alguma: é um dom que tem que ser recebido, assim como você está e onde estiver neste momento.

Espero que ninguém esteja vivendo sem a alegria da salvação, pelo fato de não reconhecer que ela é dada gratuitamente por Deus a qualquer momento. Deus não pede que você faça alguma coisa. Ele pede que você a receba agora, que você creia em Sua palavra. Oh, que tragédia, o fato das pessoas estarem privando a si mesmas dessa alegria, por esse motivo!

Uma terceira razão que explica porque muitos não têm essa alegria da salvação é o simples fato que eles gastam tanto tempo olhando para si mesmos, em vez de olharem para o Senhor. Eles erguem para si mesmos um padrão de perfeição. Lembro-me do triste caso de um homem muito piedoso que eu conheci. Ele tinha duas filhas que eram excelentes mulheres. Ambas já tinham alcançado a meia-idade quando eu as conheci. Elas viviam, em certo sentido, para as coisas de Deus, e mesmo assim, nenhuma delas ainda havia se tornado membro de uma igreja cristã, ou mesmo participado da Ceia do Senhor. Com respeito às suas vidas e conduta, vocês certamente não poderiam conhecer pessoas melhores, contudo, elas nunca haviam se tornado membros de igreja e jamais participaram do pão e do vinho. Por quê? Elas diziam que não sentiam que eram boas o suficiente. Qual era o problema com elas? Elas estavam olhando para si mesmas em vez de olharem para a consumada e perfeita obra de Cristo. Vocês olham para si mesmos e, é claro, serão miseráveis, porque no íntimo há trevas e escuridão. O melhor santo quando olha para si mesmo se torna infeliz; ele vê coisas que não deveriam estar ali, e se nós gastarmos todo o nosso tempo olhando para nós mesmos, permaneceremos na miséria, e perderemos a alegria. Auto-avaliação é coisa boa, mas introspecção é ruim. Vamos mostrar a diferença entre essas duas coisas. Podemos examinar a nós mesmos à luz das Escrituras, e se fizermos isso, estaremos sendo conduzidos a Cristo. Mas com a introspecção, um homem olha para si mesmo e continua fazendo assim, e se recusa a ser feliz até que possa se livrar das imperfeições que ainda estão ali. Oh, como é trágico o fato de ficarmos gastando nossas vidas olhando para nós mesmos em vez de olharmos para Aquele que pode nos fazer livres!

Acaso não é uma coisa maravilhosa que essa alegria é totalmente possível para criaturas como nós? Não haveria algo quase ousado sobre esta oração de Davi? “Restitui-me a alegria da tua salvação”, disse o adúltero e assassino, o mentiroso, o homem que é responsável por tantos problemas — “restitui-me a alegria da tua salvação”. Como pode um homem como esse ainda ser feliz? Seria possível? Sou grato a Deus porque isso é possível, e é o motivo pelo qual prego este evangelho a vocês. Isso é a glória desta salvação maravilhosa. Ele pode dar essa alegria a um homem que tem descido tão fundo, e pode elevá-lo para as alturas da alegria e satisfação. E faz desta forma: ele pode tornar o pior pecador alegre e feliz pelo fato de dar-lhe uma certeza de perdão e absolvição. O único que pode dar perdão é Deus, e, graças a Deus, Ele o faz! E Deus não apenas perdoa, Ele pode fazer-me ciente de que tem me perdoado. Saber isso é perder aquela sensação miserável de culpa e frustração. Ninguém mais pode fazer isso, mas Deus pode. Então, embora eu tenha afundado na mais baixa profundeza do pecado e degradação, Ele pode fazer-me regozijar em Sua grande salvação. Por conseguinte, Ele me concede isso dando-me uma nova natureza e um senso de um novo início, um novo começo. Nenhum homem pode ser realmente feliz e satisfeito, se ele sente que vai gastar o resto de sua vida exatamente como era antes, porque ele argumenta da seguinte forma: “Eu estou arrependido pelo que fiz, mas sei que vou fazer a mesma coisa novamente. Oh, desventurado homem que eu sou, em que miserável existência eu me encontro!” Todavia aqui é uma oferta de uma nova natureza, um novo início, um novo começo. Esse é o evangelho de Jesus Cristo. Ele propõe nos criar de novo, fazer de nós novos homens com a natureza divina dentro de nós, e assim temos um novo começo de vida. Não apenas isso, mas isso por sua vez faz um homem sentir que libertação é realmente possível. “Eu preciso de Ti todas as horas,” diz o cristão. “Fiques Tu bem junto a mim.” Por quê? “Tentações perdem o seu poder, quando Tu estás por perto.” Eu começo a sentir que Ele está comigo; e Ele é mais poderoso que o maligno. Ele venceu o diabo e pode me capacitar a fazer o mesmo.

Outra maneira pela qual Ele me capacita a alegrar-me e regozijar-me é que o próprio Deus me capacita a esquecer minha miséria e desventura. Essa é uma das coisas mais maravilhosas de todas. Vejam vocês, aqui está um homem como Davi, e ele tem feito todas essas coisas. Ora, se um homem como esse começa a olhar para si mesmo, ele cairá nas profundezas do desespero; mas quando Deus nos faz olhar para Cristo, Ele nos faz olhar para Seu amor, compaixão e misericórdia. Ao fazermos isso, ficamos livres de nós mesmos, esquecemos de nós mesmos — é o único caminho que eu conheço para alguém esquecer de si mesmo. O caminho para ser feliz, conforme o evangelho, é olhar para o Senhor Jesus Cristo. Observem que o Filho de Deus desceu do céu para este mundo, a fim de morrer pelos nossos pecados. Vejam-nO, pela fé, lá na glória, olhando para vocês, desejando derramar Sua grande luz, poder e força sobre as suas vidas. E quando vocês refletirem sobre Seu amor e compaixão, esquecerão de si mesmos e do pecado, e começarão a regozijar-se e a louvar ao Senhor. Vocês terão a alegria de Sua grande salvação. Assim é que acontece. Porventura vocês conhecem a alegria da salvação vindo de Deus? Vocês sabem o que é regozijar-se no Senhor, ser contentes em Cristo?

A segunda característica do cristão é sempre esta: uma profunda desconfiança de si e uma dependência do poder de Deus. Ouçam a Davi. Ele já tinha dito: “Cria em mim um coração puro... e renova em mim um espírito reto”. A Versão Revisada coloca da seguinte maneira: “Renova um espírito stedfast (inabalável) dentro em mim”. Observem vocês que ele era consciente de sua própria impureza. Davi pôde muito bem ter sentido assim. Ele foi um homem que havia experimentado a bênção de Deus, e tinha conhecimento da alegria do Senhor; e mesmo assim tinha caído nesses terríveis pecados. Então ele clamou por essa renovação dentro dele e por esse espírito inabalável. Eu ouso dizer que todo cristão sabe o que isso significa. Um cristão não é um homem que confia em si mesmo. Ele é o único que reconhece sua própria debilidade. Precisa ser um cristão para ver a grande negritude do seu coração e a fragilidade de sua própria natureza. Há um tipo de cristão, eu lamento dizer, que se comporta como se pudesse fazer todas as coisas. Ele teve uma experiência de conversão, e agora está pronto para encarar o inferno, o diabo e qualquer coisa. Pobre sujeito, ele não irá muito longe antes de perder esse senso de confiança. “Aquele, pois, que pensa estar em pé,” disse o apóstolo Paulo a tais pessoas, “veja que não caia” (1 Coríntios 10:12). Não, o cristão é um homem que reconhece sua própria fragilidade, e ele teme isso. Então ele ora por um espírito estável, um espírito inabalável. Ele quer ser um homem invulnerável.

“Restitui-me a alegria da tua salvação; e sustém-me.” “Sustém-me — eu não posso sustentar a mim mesmo”, ele disse. “Sustenta-me, eu sou frágil e fraco, e o mundo é sombrio e pecaminoso. Estou cercado pela tentação, insinuações e sugestões de pecado. Tenho medo de cair; sustém-me Senhor.” Esse é o cristão — um homem que reconhece que se Deus não o sustentar, ele certamente cairá.
E a última coisa que ele expressa aqui é: “Restitui-me a alegria da tua salvação; e sustém-me”, diz a Versão Autorizada, “com teu espírito livre.” É convencionado que essa é uma tradução errada; é melhor desta forma : “sustém-me com um espírito voluntário”. Noutras palavras, ele está orando por isto: “Eu peço que Tu me enchas com um espírito voluntário, para que eu esteja sempre disposto a fazer o que Tu pedires de mim. Quero estar disposto para andar no caminho dos Teus mandamentos, então restitui-me essa alegria da Tua salvação e sustém-me com um espírito reto e voluntário”. E é claro que o cristão sabe que tudo isso só é possível de uma maneira — a maneira que Davi já havia expressado nas palavras: “Não me lances fora da tua presença, e não retires de mim o teu Espírito Santo”. Esse era o maior medo que ele tinha, que Deus, por causa do seu pecado, pudesse voltar as costas para ele. “Não faça isso”, clamou Davi; “não me lances da tua presença, não retires de mim o teu Espírito Santo.” Noutras palavras, o cristão reconhece que, como ele precisa de uma firmeza na vida, precisa de ser apoiado, precisa desse espírito voluntário, há uma única resposta, e essa resposta é o dom do Espírito Santo. E, graças a Deus, essa é a resposta do evangelho no Novo Testamento. Deus coloca Seu Espírito em nós; e o Espírito de Deus pode fazer-nos firmes, Ele pode nos sustentar, pode nos dar essa disposição, essa prontidão para andarmos no caminho dos mandamentos de Deus. A confiança do cristão nunca está nele mesmo; ela está no poder do Espírito Santo que Deus em Cristo, e através de Cristo, dá a ele.

Meu amigo, eu já disse, e afirmo novamente, a questão mais importante no mundo é simplesmente esta: você é um cristão? Você conhece algo dessa alegria? Você conhece algo dessa suprema confiança no poder do Espírito Santo? Você sente que tem alguma coisa que gostaria que outros também tivessem? Esses são alguns dos testes mais simples. Se você tem essa bênção, que Deus continue abençoando-o. Se não a possui, se sente que essas simples questões têm condenado você, e sente que realmente não é um cristão, então tudo que eu tenho a dizer é: vá e confesse isso a Deus. Não perca tempo. Diga a Ele que você tem enganado a si mesmo, que reconhece que não é um cristão. Diga a Ele que você quer ser cristão, peça a Ele que pelo Seu Espírito Santo ilumine você. É tão simples quanto isso — confesse seu pecado, reconheça sua transgressão e peça a Ele por esse perdão em Cristo; e você irá recebê-lo. Então agradeça a Deus, e vá falar a respeito dEle a outros que estão em trevas e na mesma miséria. Amém.

A verdade deve ser apresentada de maneira espiritualmente atrativa, não de maneira carnalmente atrativa, não como entretenimento.

O real problema com a pessoa insensata, néscia, é que ela só vê uma coisa de cada vez. E essa monopoliza a sua atenção. É cego para todas as outras coisas. Há homens que só vêem uma doutrina, esquecendo-se tudo o mais. As outras estão lá, nada obstante. Mas, devido a concentração num só elemento, o conjunto fica desequilibrado. Sempre falta equilíbrio ao néscio.

Já não estamos debaixo da Lei no sentido de que a nossa salvação dependa da nossa guarda e observância da Lei; não mais estamos debaixo da Lei como um sistema que diz: "Faze isto, e viverás". Essa é a situação de quem não é cristão; esta pessoa está "debaixo da lei". Ela afirma que pode justificar-se por suas obras, e a Lei vem ao seu encontro e lhe diz: "Muito bem, se você fizer isso, viverá". Assim a Lei dá os seus preceitos e mandamentos. Diz o apóstolo que não estamos mais debaixo dessa Lei, que não mais estamos na situação em que a nossa salvação seria determinada por nossas ações e por nossas boas obras. A nossa salvação é inteiramente de graça e pela graça.

Conhecer é uma grande responsabilidade porque, se conhecemos e não o aplicamos, teremos que responder por isso. O nosso Senhor ensina isso com toda clareza, quando fala sobre o senhor que voltou e investigou a conduta dos seus servos durante a sua ausência. Diz Ele que alguns receberão muitos açoites, e alguns receberão poucos. E os servos que receberão muitos açoites são aqueles a quem muito foi dado!

A pessoa que verdadeiramente acredita na santidade de Deus, e que reconhece sua própria pecaminosidade, bem como a negridão do seu próprio coração, o homem que acredita no julgamento divino e na possibilidade do inferno e tormento, a pessoa que realmente acredita que ela mesma é tão vil e impotente que coisa nenhuma jamais poderia salvá-la e reconciliá-la com Deus, salvo a intervenção do Filho de Deus, que veio dos céus à terra, a fim de passar pela amarga experiência da vergonha, da agonia e da crueldade da cruz - tal indivíduo acaba por demonstrar tudo o que existe na sua personalidade. Esse é o indivíduo que se inclina por dar a impressão de ser manso, que se inclina por mostrar-se humilde.

Todos nós temos a tendência de pensar que, se sabemos o que é certo, de um modo ou de outro o estamos fazendo. Mas não é assim. O nosso conhecimento, o mero interesse religioso que os outros não têm, não nos serve de nada. No mundo atual há pessoas que não reconhecem a categoria moralidade, entretanto, o mero fato de que a reconhecemos não nos faz pessoas dignamente morais.

Temos que aprender a parar de preocupar-nos conosco e com a opinião que temos de nós mesmos, como também da de outras pessoas. O ego alimenta o ego, e a maneira pela qual o faz é sumamente sutil e engenhosa; ele externa os seus cumprimentos e nos elogia, e responde às críticas. É-nos essencial chegar ao estágio final em que o ego deixa de alimentar a si próprio - "nem eu tão pouco a mim mesmo me julgo". E o único jeito de fazê-lo é o indicado pelo apóstolo. É tratar de entender que nada importa, senão o julgamento, a avaliação e a opinião do Senhor.