Marquês de Maricá

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A ignorância pasma ou espanta-se, mas não admira.

As paixões são como os vidros de graus, que alteram para mais ou para menos a grandeza e volume dos objectos.

A ambição sujeita os homens a maior servilismo do que a fome e a pobreza.

Louvemos a quem nos louva para abonarmos o seu testemunho.

Há certos passatempos e prazeres ilícitos, que censuramos nos outros, mais por inveja do que por virtude.

Condenamos por ignorantes as gerações pretéritas, e a mesma sentença nos espera nas gerações futuras.

Nunca perdemos de vista o nosso interesse, ainda mesmo quando nos inculcamos desinteressados.

Há povos que são felizes em não ter mais que um só tirano.

As virtudes se harmonizam, os vícios discordam sempre entre si.

Todos se queixam, uns dos males que padecem, outros da insuficiência, incerteza, ou limitação dos bens de que gozam.

O espírito vive de ficções, como o corpo se nutre de alimentos.

A vida humana é uma intriga perene, e os homens são recíproca e simultaneamente intrigados e intrigantes.

Os velhos tornam-se nulos e inúteis à força de prudência e circunspecção.

O arrependimento é ineficaz quando as reincidências são consecutivas.

São incalculáveis os benefícios que provêm da noção de incerteza do dia e ano da nossa morte: esta incerteza corresponde a uma espécie de eternidade.

O velho calcula muito, executa pouco: a mocidade é mais executiva que deliberativa.

Adular os tolos é um meio ordinário de os desfrutar; os velhacos empregam-no eficazmente.

Os abusos, como os dentes, nunca se arrancam sem dores.

Perdoamos mais vezes aos nossos inimigos por fraqueza, que por virtude.

O juízo, por mais vulgar, é menos apreciado que o engenho.

Para bem conhecer os homens, é necessário primeiramente vê-los e praticá-los de perto, e depois estudá-los e meditá-los de longe.

Os pequenos inimigos, ainda que menos danosos, são sempre mais incómodos que os grandes.

Dos especuladores em revoluções muitos se perdem, e poucos prosperam por algum tempo.

Os bens que a ambição promete são como os do amor, melhores imaginados que conseguidos.

Os homens geralmente preferem ser enganados com prazer a ser desenganados com dor e desgosto.