Márcia Bueno

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Se me beijares, sabes que morro. Que esperas que não me matas?

Inserida por marciabueno01

Não canse
Descanse em meu regaço
Afagá-lo-ei com meu abraço
Com meus amassos
Deixá-lo-ei sem respiração
Criança em colo de mãe
Porque o melhor remédio pra dor
É o amor.

Inserida por marciabueno01

Bom seria ser feita de água
Sem me importar de ser levada
Me moldar onde couber
Ou, então, ser feita de estrada
Ser caminhada, ir e voltar
E se fosse eu feita de ar
Soprar forte, furacão
Ou vento fresco à beira-mar
Melhor seria ser feita de nada
Nenhum peso, nenhuma culpa, nenhum tostão
...epa! isso eu já não tenho mesmo!
°°°

Inserida por marciabueno01

Tapei meus ouvidos para os gritos
Deixei de perceber mesmo os gemidos
Cansei do barulho que é viver
Quero o silêncio dos sepulcros
Onde os lábios frios são sempre mudos
E falar nem tem pra quê
Mas o som dos meus pensamentos
É mais alto que o trovão
Não há quietude onde há vida
Só a ruidosa comiseração

Inserida por marciabueno01

Bastava que as flores falassem
Para que tudo mais se calasse
Bastava que vinho jorrasse
Dos seus lábios tão doces
E eu então me embriagasse
E as tragédias seriam quimeras
Ilusões do anoitecer
E a vida, enfim, seria só alegria
Adeus dor! Até nunca mais ver!

Inserida por marciabueno01

Me sinto tão vazia!
Vazia de mim
Um buraco negro sem fim...

Inserida por marciabueno01

Faça-me sonho
(Tão bom sonhar...)
Noite sem lua
Em chão de estrelas: caminhar
Leve-me para longe, bem longe
E não me deixe NUNCA NUNCA
Jure! Jamais voltar.

Inserida por marciabueno01

O que vê quando fecha os olhos?
O que houve quando não há nada pra se dizer?
O que faz quando não tem ninguém pra ver?
Quem sabe a diferença entre a loucura e a emoção?
Onde termina a insanidade e começa a razão?
O que lhe faria matar ou deixar viver?

Inserida por marciabueno01

Inútil falar das falhas que falas que tens
Importa que tocas e beijas tão bem
E oras, e choras, e imploras amém
E digas que apesar das mandingas
Dos versos sem rimas e outras coisinhas
Tu vens!

Inserida por marciabueno01

Falaremos do tempo, se chove ou se faz sol
Falaremos sobre a impermanência, nascer e morrer
Falaremos da alta dos preços, o fantasma da inflação
Falaremos sobre se é mais gostoso lasanha ou macarrão
Falaremos das doenças que assolam nossa frágil constituição
Falaremos dos artistas da televisão, o filme do momento, aquela superprodução
Mas, por mais que nossa mente grite e nossa alma clame pra falar de nós...disso não falaremos

Inserida por marciabueno01

“FECHE OS OLHOS”

Feche os olhos meu amor
Não diga nada
Deixe-me cuidar de você
Embalá-lo com meu canto
Sinta a pressão das minhas mãos
Voluptuosamente passeando por seu corpo
Santuário dos meus desejos
Não se engane com minha aparente fragilidade
Já provei de muitas dores
De todas as quedas me levantei
Não se preocupe
Se depois tiver que ir embora
Só quero seu corpo
E quero-o agora!

Inserida por marciabueno01

Cair e cair
Até que se chega ao fim
Mas NUNCA se chega!

Inserida por marciabueno01

Oh Deus!
Faça-me forte como a morte
Muda a minha maldita sorte
Tira o sofrer do meu viver
Não quero mais dor
Nem desejo amor
Só quero paz, paz, paz...

Inserida por marciabueno01

Seremos velhinhos alegres e simpáticos
De cabelos ralos, ventre protuberante, rosto enrugado,
Aparelho no ouvido, coluna torta, olhar cansado
E sorriremos felizes e satisfeitos, orgulhosos do dever cumprido
Pois deixamos filhos melhores para o nosso mundo
Que deixarão um mundo melhor para seus filhos.

Inserida por marciabueno01

É ruim que fique assim, longe de mim
Seu rosto perdido em brumas
Meu coração ferido por dardos
Desfaço-me em lava ardente e veloz
À procura lhe acho
Sou refém da sua presença
Prisioneira de bom grado
Transformo-me em nuvem, poeira
Estrela à noite, vôo como um pássaro
Pra seguir incansavelmente
Perseguindo seu abraço

MEDO

Tenho medo de sofrer o mesmo
Mesma dor, mesma tristeza
O mesmo “tudo em vão”
O conhecido me assusta
Me chama pra luta
E já estou tão cansada de lutar...

"Para quem (ainda) pensa que a saída é se matar"

Quando houver um tempo,
Algum tempo pra juntar todas as cinzas
E pra reparar que aquelas folhas raras,
Verde-claras, modificas, não são flores
E para se perguntar que, se o amor é vida,
Por que faz tantos suicidas?
Quando eu tiver tempo
Pra olhar pr’aquela árvore,
Sempre serena e imponente
Que mesmo com as mais terríveis tempestades
Não se abala, fica até contente
E eu vou perceber, então
E que o melhor mesmo é rir à toa
Dê gargalhadas, a vida ainda é boa
Pra que esse olhar tão triste?

Inserida por marciabueno01

Cansei do enrolado,
do complicado, do erudito
Chega de sofrimento,
de desejar o que está perdido
Nada de paixões avassaladoras,
que me resvalam, sem sentido
Quero a simplicidade da certeza,
nada de extraordinário, só o bonito
Pois o singelo sim é eterno
E o sofisticado, só um caldo ralo
dispensável, que me entontece
inebriando meus sentidos.

Diário de um Defunto

Meu coração parou de bater, o cérebro não recebeu mais sangue. Após 10 segundos cessou toda minha atividade cerebral. Clinicamente já era considerada morta.
A pele ficou acinzentada e rígida, os músculos relaxaram, por causa disso eu não tinha mais controle sobre o esfíncter, a bexiga e os intestinos se esvaziaram. Minha temperatura caiu drasticamente, e continuaria a cair 0,83°C a cada hora. O fígado, por ser o órgão que se mantém quente por mais tempo, seria usado para determinar a hora do óbito.
Após 30 minutos minha pele começou a ficar púrpura e com aspecto de cera. Como a circulação sanguínea cessara, meus lábios e minhas unhas empalideceram pela falta de sangue. Pelo mesmo motivo, nas partes baixas do corpo o sangue ficou parado, formando manchas de cor púrpura escura: a lividez. Minhas mãos e pés ficaram azulados.
Meus olhos começaram a afundar para o dentro do crânio.
Faz 4 horas que morri. Ainda não fui encontrada. Com a minha morte ocorreram modificações na constituição química do meu tecido muscular. Então meus membros endureceram. Agora é impossível que alguém consiga me movimentar. O rigor mortis começou a esticar meus músculos, isso durará pelo menos 24 horas, depois o corpo voltará a seu estado relaxado.
Após 24 horas do meu falecimento meu corpo adquiriu a temperatura do ambiente que o rodeia. Uma cor verde-azulada tomou conta da minha cabeça e do meu pescoço e a mesma cor começa a estender-se por todo meu corpo.
Tem início, neste momento um cheiro forte de carne podre. Minhas feições estão totalmente transformadas, nem mesmo eu me reconheço. Não é algo agradável de se ver. Queria tanto que alguém me achasse…
Três dias se passaram. Os gases dos tecidos corporais, oxigênio e carbônico, formam bolhas debaixo da pele e meu corpo começa a inchar e crescer de forma ridícula, disforme. E eu que pensava que isso só acontecia com os mortos por afogamento. Estou me sentindo um teto cheio de goteira, por todos os orifícios pingam fluídos corporais.
Começo a me conformar com a idéia de que meu corpo irá se decompor aqui mesmo, a céu aberto, comigo assistindo. E depois, para onde irei?
Agora que já se passaram três semanas, já me acostumei com o aspecto grotesco do meu corpo, nem o sinto mais como meu. A aparência de cadáver não serve como espelho. A pele, os cabelos e as unhas estão tão soltas que saem facilmente. Por causa da pressão dos gases internos, a pele está se rachando.
Estou me decompondo e assim continuarei, até que restem somente os ossos. Como o esmalte dental é a substância mais dura do corpo humano, logo só ficarão os dentes. Estou esperando “a passagem”, mas nada de anormal me aconteceu, tirando o fato de estar morta e velando meu próprio corpo.
Acho que me tornei uma alma penada. Será que têm outras? Vou ter que procurar por aí. E eu que achava que depois que morresse ia ser tudo mais fácil…

Inserida por marciabueno01

“Pobres olhos”

Primeiro os olhos ardem
Depois ficam inundados
Aí desaguam
Vazante das mazelas da vida
Rio caudaloso de águas salgadas
Aspergindo uma existência árida
Solo arenoso, impróprio pra vida
Drenado de suas substâncias vivificantes
Alma encarcerada em um corpo amortalhado
Sequiosa de libertar-se dessa servidão letárgica
Que a obriga a uma jornada patética
Num mundo habitado por hipócritas
Gentis e sorridentes
Que só enxergam o próprio umbigo
Pobres olhos!
Sentenciados a testemunhar
Atuações dantescas de atores corruptíveis
Nesse mundo mendicante de sinceridade
Um verdadeiro teatro de marionetes
Manipuladas por narcisistas presunçosos
Esquecidos de sua pequenez
Perante a grandeza do universo
Olhos encharcados
Com as águas amargas da indiferença
Quem secará seu pranto?

Inserida por marciabueno01

OCASO

São os fados
Fatos natos
De quem grita
Clama, chora
Pois por descaso
Algum relapso
Mero lapso de memória
Soltou cobras e lagartos
Presos em caixas de Pandora
E o que antes era estanque
Ficou volúvel, virou pó
O que foi doce e aprazível
Feito mel de ambrosia
Virou amargo, vasto, asco
Sorvível cálice de jiló
E passa o vento
Leva o tempo
Num descuido mui profundo
Chega o fim do ciclo, o ocaso
De uma vida inteira só

Inserida por marciabueno01

As palavras quase nunca ditas! Até falei da saudade, mas pouco. Quase nunca contei da dor, da angústia, do quase (sempre) desespero. Nem tinha mesmo a quem falar... E se eu, porventura, falasse quem entenderia? Entenderiam que às vezes sorrio às gargalhadas, mas o sofrimento é meu estado natural? E não se sofre somente quando as expressões denotam tristeza ou as lágrimas escorrem, nessas ocasiões o que ocorre é o alívio. Sofro mais quando pareço até contente, e minha garganta parece estrangulada pelo ar asfixiante da angústia que me cerca. E dói, dói, dói, tanto que a morte parece certa. Estou errada. Não se morre dessa dor. É só uma tortura sem fim. Desfaleço e recomeço. Visto a máscara do “tá tudo bem” e a estrada da sobrevida se escancara a minha frente. A vida prossegue.

Inserida por marciabueno01

Quanto mais eu vivo mais me pergunto: o que faço neste mundo?

Inserida por marciabueno01

Ninguém notava, mas ela sabia, era outra. As mesmas feições, o mesmo físico, mas a alma transformada. Via tudo diferente, como se até aquele momento fosse míope e passasse a usar lentes corretivas. Sem dúvida a verdade lhe fora revelada, mas era muito tarde, como tudo em sua vida. Olhou o céu. Felizes os pássaros que podem voar. De repente ficou muito triste, nunca andara de avião. A sua frente o cemitério, a última morada (teve alguma?). Não trazia flores - sempre esquecia dos detalhes. O cheiro de velas acesas inundava o ambiente. Chegou ao túmulo. Ali jaz o amor, para sempre enterrado. Como tudo em sua vida, era muito tarde.

Inserida por marciabueno01

Não faz muito tempo, era claro pra mim, o certo e o errado. Eu concordava com as distinções do que é reconhecidamente moral e o que não é. Mas eu conhecia ainda menos do que conheço agora. Como conversamos com o Felício, uma das características que denunciam nossa maturidade é saber que não sabemos. A verdade, além de ser cultural, como tenho aprendido com os sábios frenquentadores do café filosófico, é também relativa, subjetiva e, principalmente, para mim, ilusória. Estou órfã de crenças e carente de referenciais. Meu instinto de sobrevivência grita Cazuza: "IDEOLOGIA! EU QUERO UMA PRA VIVEEEERRRR...!!!"

Inserida por marciabueno01