Marcella Fernanda
Sempre puxam as cobertas, tão rápido que primeiro eu sinto frio e só depois entendo que estou descoberta.
Saber sofrer é um dom que a gente adquire quando alcança um determinado nível de amadurecimento. Saber sofrer é lindo! Eu admiro muito quem admite que não, não tá nada bem, mas vai passar, deixa estar. Sem nenhum tipo de apelação na timeline. Bato palmas pra quem não pinta sua dor de cor-de-rosa e grita, repetidamente, pro mundo todo que tá feliz como nunca esteve em toda a vida. Mentira! Todo mundo vê e sente pena da lágrima pesada que você não deixa cair, enquanto conta vantagens de baladas vazias. São ridículas as fotos divertidas, com legendas provocantes, porque todo mundo tem certeza que a alegria passou longe dali. Todas as mulheres das suas redes sociais especulam sobre seu momento deprê no banheiro da boate e elas acertam, não é? É um papel patético, trash. E eu tenho plena consciência que todos nós nos prestamos a isso, alguma vez na vida. Mas tem gente que não cresce. Tem gente que não aprende a se respeitar. Respeitar seu próprio tempo, seu próprio sentimento, vontades, seu processo de luto. Gente que vive amargurada, porque não sabe deixar passar. Deixar o nó desatar. Moça, a gente sabe que você é maravilhosa, que tudo vai ficar bem e você vai viver coisas muito melhores. Mas a gente também sabe que chorar é a única coisa que te dá algum tipo de alívio, por enquanto. Seja numa festa maravilhosa ou debaixo do cobertor. Então se preocupa menos em provar alguma coisa pro mundo e se concentra em esgotar a dor. Vê se não se ridiculariza, nem banaliza o fim do amor.
Eu odeio não ser correspondida. No abraço, quando eu dou “Bom dia” pra alguém que finge não ter ouvido, quando eu amo, me entrego e não recebo nada ou quase isso. Não suporto e não sei lidar com a falta de reciprocidade. Quando eu considero e não sou considerada, respeito sozinha, quando eu vou falar com alguém, morta de saudade e sou ignorada ou tratada friamente. O que me deixa louca, inconformada, com raiva de mim, não é o pouco ou as coisas ruins que eu recebo em troca. É o desperdício de tudo que eu dou de bom, assim, de bandeja, pro cafajeste convicto, pro trocador mal humorado, pra tanta gente rasa e ingrata. E nada desfaz esse nó na garganta, só porque eu podia ter feito diferente, empatado o jogo e transformado tudo no clássico “chumbo trocado não dói”. Porque é isso e me alivia demais essa coisa de pagar na mesma moeda, receber seis e dar meia dúzia ou menos, só pra não arriscar o prejuízo. Eu volto pra casa com a sensação doce de dever cumprido, justiça. Como se eu tivesse gritado pro mundo “Meu bem, comigo não! Presta atenção.” Mas quando eu vejo, quase sempre e meio que automaticamente, tô dando “Bom dia” pra outro cobrador mal humorado e recomeça o ciclo, como uma bola de neve. Porque, mesmo que sem querer, por impulso, eu sou superior a eles e a isso. De verdade, do jeito mais puro que se pode ser superior, naturalmente, nada planejado. E deixo minhas esmolas de coisas boas por aí, porque não me faz falta, eu tenho de sobra e também tenho a certeza de que eles precisam bem mais do que eu. Podem ficar!
Você devia ter depositado mais fé na gente. Mais fé em mim, principalmente. Você não tem absolutamente nada demais e eu via em você o melhor do mundo. Te valorizava e te tratava como se a Fernanda Lima tivesse azar, coitada, por estar com o Rodrigo Hilbert e não você. Eu era fiel, de todas as maneiras possíveis, porque o meu corpo nem aceitava outra pessoa. Você devia ter se dado conta do quão raro e mágico é isso, principalmente hoje em dia. Fui sua amiga, sua parceira, sua confidente, seu ouvido e seu colo. Fui tudo que eu podia e não podia, fui do avesso e de todos os ângulos possíveis. E a gente poderia ter sido muito mais. Não sei se alguém vai se entregar pra você do jeito que eu me entreguei. Tão pura , tão descobrindo o amor. Acho muito difícil, sabe? Todo mundo anda todo remendado e desacreditado por aí. Difícil achar um coração zerado... o meu era teu e você não foi capaz de enxergar a imensidão disso. Sou grata a você, porque saí de nós pronta pra qualquer coisa. Qualquer dor. Sou grata também por ter me deixado tão solta, mas tão solta, que eu pude voar pra longe e descobrir que existe um mundo apesar de você e que esse mundo é incrível. Incrível a ponto de nem dar pra te enxergar aqui de cima. Parece uma formiguinha. Tá achando engraçado? Eu acho a coisa mais triste que poderia ter te acontecido. E sei que, se não hoje, um dia você vai achar também.