Leminski

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Haja hoje para tanto ontem

tudo dito,
nada feito,
fito e deito

viver é super difícil
o mais fundo
está sempre na superfície

acordei e me olhei no espelho
ainda a tempo de ver
meu sonho virar pesadelo

amar é um elo
entre o azul
e o amarelo

o mar o azul o sábado
liguei pro céu
mas dava sempre ocupado

ameixas
ame-as
ou deixe-as

jardim da minha amiga
todo mundo feliz
até a formiga

a estrela cadente
me caiu ainda quente
na palma da mão

cortinas de seda
o vento entra
sem pedir licença

outubro
no teto passos pássaros
gotas de chuva

nuvens brancas
passam
em brancas nuvens

lá embaixo
vai ter
o que eu acho

AMOR

Amor, então,
também, acaba?
Não, que eu saiba.
O que eu sei
é que se transforma
numa matéria-prima
que a vida se encarrega
de transformar em raiva.
Ou em rima.

Paulo Leminski
Caprichos & Relaxos

Isso de ser exatamente o que se é ainda vai nos levar além.

Paulo Leminski

Nota: Trecho adaptado de poema de Paulo Leminski

Nesta vida,
pode-se aprender três coisas de uma criança:
estar sempre alegre,
nunca ficar inativo
e chorar com força por tudo o que se quer.

A vocês, eu deixo o sono.
O sonho, não!
Este eu mesmo carrego!

INCENSO FOSSE MÚSICA

isso de querer ser
exatamente aquilo
que a gente é
ainda vai
nos levar além

Paulo Leminski
Toda Poesia

Lápide 1
Epitáfio para o corpo

Aqui jaz um grande poeta.
Nada deixou escrito.
Este silêncio, acredito,
são suas obras completas.

Paulo Leminski
Toda Poesia

Ai daqueles
que se amaram sem nenhuma briga
aqueles que deixaram
que a mágoa nova
virasse a chaga antiga

ai daqueles que se amaram
sem saber que amar é pão feito em casa
e que a pedra só não voa
porque não quer
não porque não tem asa

A lua ficou tão triste
com aquela história de amor
que até hoje a lua insiste:
- Amanheça, por favor!

Leite, leitura
letras, literatura,
tudo o que passa,
tudo o que dura
tudo o que duramente passa
tudo o que passageiramente dura
tudo, tudo, tudo
não passa de caricatura
de você, minha amargura
de ver que viver não tem cura.

Abrindo um antigo caderno
foi que eu descobri:
Antigamente eu era eterno.

Dor elegante

Um homem com uma dor
É muito mais elegante
Caminha assim de lado
Como se chegando atrasado
Andasse mais adiante

Carrega o peso da dor
Como se portasse medalhas
Uma coroa, um milhão de dólares
Ou coisa que os valha

Ópios, édens, analgésicos
Não me toquem nessa dor
Ela é tudo o que me sobra
Sofrer vai ser a minha última obra

O destino quis que a gente se achasse, na mesma estrofe e na mesma classe, no mesmo verso e na mesma frase.

Paulo Leminski

Nota: Trecho de poema de Paulo Leminski