Jorge Amado

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Não possuímos direito maior e mais inalienável do que o direito ao sonho. O único que nenhum ditador pode reduzir ou exterminar.

Jorge Amado
O menino grapiúna

Milagre de amor não tem explicação, não necessita.

Jorge Amado
A bola e o goleiro

"Se viver não é fácil, conviver é um desafio permanente."

Tenho horror a hospitais, os frios corredores, as salas de espera, ante-salas da morte, mais ainda a cemitérios onde as flores perdem o viço, não há flor bonita em campo santo. Possuo, no entanto, um cemitério meu, pessoal, eu o construí e inaugurei há alguns anos, quando a vida me amadureceu o sentimento. Nele enterro aqueles que matei, ou seja, aqueles que para mim deixaram de existir, morreram: os que um dia tiveram a minha estima e perderam.
Quando um tipo vai além de todas as medidas e de fato me ofende, já com ele não me aborreço, não fico enojado ou furioso, não brigo, não corto relações, não lhe nego o cumprimento. Enterro-o na vala comum de meu cemitério – nele não existe jazigo de família, túmulos individuais, os mortos jazem em cova rasa, na promiscuidade da salafrarice, do mau caráter. Para mim o fulano morreu, foi enterrado, faça o que faça, já não pode me magoar.
Raros enterros – ainda bem! – de um pérfido, de um perjuro, de um desleal, de alguém que faltou à amizade, traiu o amor, foi por demais interesseiro, falso, hipócrita, arrogante – a impostura e a presunção me ofendem fácil. No pequeno e feio cemitério, sem flores, sem lágrimas, sem um pingo de saudade, apodrecem uns tantos sujeitos, umas poucas mulheres, uns e outros varri da memória, retirei da vida.
Encontro na rua um desses fantasmas, paro a conversar, escuto, correspondo às frases, às saudações, aos elogios, aceito o abraço, o beijo fraterno de Judas. Sigo adiante, o tipo pensa que mais uma vez me enganou, mal sabe ele que está morto e enterrado.

⁠Pedro Bala se deitou na areia e mesmo de olhos fechados via Dora. Sentiu quando ela chegou e deitou a seu lado. Disse:
– Tu agora é minha noiva. Um dia a gente se casa.
Continuou de olhos fechados. Ela disse baixinho:
– Tu é meu noivo.
Mesmo não sabendo que era amor, sentiam que era bom.

Jorge Amado
Capitães da areia. São Paulo: Companhia das Letras, 2008.

⁠Por fora água parada, por dentro uma fogueira acesa.

⁠E, no dia em que ele fugiu, em inúmeros lares, na hora pobre do jantar, rostos se iluminaram ao saber da notícia. E, apesar de que lá fora era o terror, qualquer daqueles lares era um lar que se abriria para Pedro Bala, fugitivo da polícia. Porque a revolução é uma pátria e uma família.

Jorge Amado
Capitães da Areia. Rio de Janeiro: Record, 1988.
Inserida por BigJohn

⁠– Quando tu fizer meu retrato… Tu ainda vai fazer?
– Vou, Boa-Vida… (Vontade de dizer palavras carinhosas como a um irmão.)
– Não me faz cheio de bexiga, não…

Jorge Amado
Capitães da Areia. Rio de Janeiro: Record, 1988.
Inserida por BigJohn

⁠Seu vulto desapareceu no areal. Professor ficou com as palavras presas, um nó na garganta. Mas também achava bonito Boa-Vida andar assim para a morte para não contaminar os outros. Os homens assim são os que têm uma estrela no lugar do coração. E quando morrem o coração fica no céu, diz o Querido-de-Deus. Boa-Vida era um menino, não era um homem. Mas já tinha uma estrela no lugar do coração. Já desapareceu o seu vulto. E então a certeza de que não mais verá seu amigo encheu o coração do Professor. A certeza de que o outro ia para a morte.

Jorge Amado
Capitães da Areia. Rio de Janeiro: Record, 1988.

⁠Pedro Bala também só tinha quinze anos, mas há muito tempo conhecia não só o areal e os seus segredos, como os segredos do amor das mulheres. Porque se os homens conhecem esses segredos muito antes que as mulheres, os Capitães da Areia os conheciam muito antes que qualquer homem.

Jorge Amado
Capitães da Areia. Rio de Janeiro: Record, 1988.
Inserida por BigJohn

O fato de não se compreender ou explicar uma coisa não acaba com ela. Nada sei das estrelas, mas as vejo no céu, são a beleza da noite.

Jorge Amado
Gabriela, cravo e canela. São Paulo: Companhia das Letras, 2008.

O amor não se prova, nem se mede. (...) Existe, isso basta.

Jorge Amado
Gabriela, cravo e canela. São Paulo: Companhia das Letras, 2008.

Para que explicar? Nada desejo explicar. Explicar é limitar. É impossível limitar Gabriela, dissecar sua alma.

Jorge Amado
Gabriela, cravo e canela. São Paulo: Companhia das Letras, 2008.
Inserida por pensador

Tem certas flores, você já reparou? que são belas e perfumadas enquanto estão nos galhos, nos jardins. Levadas pros jarros, mesmo jarros de prata, ficam murchas e morrem.

Jorge Amado
Gabriela, cravo e canela. São Paulo: Companhia das Letras, 2008.
Inserida por pensador

Agora sabe que ela brilhará para ele entre mil estrelas no céu sem igual da cidade negra.

Jorge Amado
Capitães da areia. São Paulo: Companhia das Letras, 2008.

Que culpa eles têm? (...) Quem cuida deles? Quem os ensina? Quem os ajuda? Que carinho eles têm? (...) Roubam para comer porque todos estes ricos que têm para botar fora, para dar para as igrejas, não se lembram que existem crianças com fome...

Jorge Amado
Capitães da areia. São Paulo: Companhia das Letras, 2008.

Temos olhos de ver e olhos de não ver, depende do estado do coração de cada um.

Jorge Amado
O gato malhado e a andorinha Sinhá: uma história de amor. Rio de Janeiro: Record, 1976.