Enide Santos
E esta fome não sacia
Sente não ter direito
Ao menos a lagrimejar
Condenando-se pelos erros
Que em sua vida ousa causar.
Pobre desamparado
Do amor de si mesmo
Agora esmola a sorte
De um instante de sossego
Nas ruas vazias da noite
Busca por sua solidão
Pois em sua cabeça
Sons, ruídos e confusão
Pobre desesperado
Que a muitos magoou
Pelas drogas fora condenado
A desistir de seu amor.
Perdeu tudo que tinha
Vendeu tudo que conquistou
E esta fome não sacia
Tem piedade, senhor!
Enide Santos 04/02/15
Triste
Todo o corpo frio
Apenas na face
O sol se poe
Um pouco por vez
Rouba o brilho do mar
E nesta forma agora
O vento pode levar
Corpo agora vazio
Vestido de tempo
Enroupado de rio
Segue seu curso
Rompe seus muros
Deságua seguro
Enide Santos 05/02/15
Releitura:
O corpo frio de tristeza e em sua face sente o calor como o do sol em forma de lágrima que por sua vez são gotas como as do mar leves para que o vento possa levar.
Sentimento de perda ainda prossegue, mas agora assume uma postura como a do rio, apenas segue
Até onde daria para ir?
Até onde daria para ir
Para arrancar de quem se ama
Um dor que tema em não sair?
Até onde consigo deixar de mim
Para envolver-me na dor
De quem sozinho não consegue seguir?
Até onde é capaz de chegar
Este meu amar
Que no fundo, quer o mundo abracar?
A dor só doe até onde pode doer,
Ah, quem me dera,
Que meu amor a fizesse desvanecer!
Enide Santos 05/002/15
Noite de solidão desejável
Toma-me, ó noite de solidão desejável,
Deita-me em teu solo sagrado
Leva-me onde posso ouvir os teus passos
Desaninhe de mim os meus ascos.
Deixe os lamentos do dia passado
Desprender-se do meu corpo cansado
Ó noite de solidão desejável
De suas horas sinto-me furtado
Pois a claridade já rompe os prados.
Há ainda na sarjeta sonhos empilhado
E minhas dores ainda precisam de emplastro
Ó noite de solidão desejável
Dure mais um pouco
Deixe-me recolher os meus cacos.
Enide Santos 05/02/15
Pena de escrever
Segura de estar contigo
Forte, bem sucedida me sinto
Entre o polegar e o indicador
Esta é a minha sina
Dar poder ao transcritor
Minha silhueta põe-se a bailar
Tendo seu pensar como imutável par
Ao som que faz a vida
Cravejo com meu sangue o ar
Mesmo depois de tua partida
Os teus ecos hã de durar.
Enide Santos 08/02/15
Ah, Bragi tem piedade de mim!
Ah, Bragi tem piedade de mim
arranca-me estas palavras
que tanto me consomem
e que não as consigo exprimir!
Ah,estes ditos!
Que não sei se são bem ou mal ditos.
Sei que estando em mim são sofridos.
Estes versos, verbos ou abscessos.
que se constroem sem expressão
desejando de mim total atenção.
Esta necessidade de gratidão
De ser um lema, um tema uma canção
De entoar na boca as batidas do coração.
Oh, deus da sabedoria!
Pai do encantamento da poesia
Invoca em mim a inspiração
Alivia-me desta sofreguidão.
Enide Santos 03/02/15
Recolhida no silêncio
Esgarçadas já estão às horas
Já ceou o tempo
Já bebeu de meu pensamento
Agora sou como raiz, sem flor.
Já o cheiro do amor se foi
As frescas horas não têm mais suas labaredas
Não há mais manutenção para a ilusão
Resta-me o ranho da alma
O perene som de antigas gargalhadas
Sou fragmento dos outros que fui
Quanta vez o meus olhos sequei
E impregnada de vida, lutei!
Ai de mim...
Que sou apenas volta antes de me ir
Que já manca minha dor e cai ao chão
E no seio da absoluta
Já não mais há luta.
Já me vou, mesmo sem saber ir.
Enide Santos 14/02/15
Alma amputada
Está tão longe de eu poder ser o que você quer.
Sendo assim vejo-te seguir teu caminho e deixando-me aqui.
Já começo ao acordar pela manhã dando-me consciência de que você ainda está presente em meu coração e não mais diante de meus olhos.
Antes mesmo que se vá, eu já me vou para a dor de estar sem você, já amputo a minha alma sem nada dizer.
Antes mesmo que se vá de mim, já choro a dor de sua ausência, já lamento ser passado em sua existência.
Eu também mato momentos bons, jogo fora partes de vida que normalmente não se desperdiça, pois sei o tamanho deste amor em mim, sei da dor que se o perder vou sentir.
É, é mesmo assim, é por medo de não resistir tamanha dor morando em mim, que desde já
Abasteço-me de tudo de você.
Quando te beijo, te beijo mesmo com todo o meu ser.
Quando te amo, te amo mesmo com toda minha alma antes de ela ser amputada.
Enide Santos 16/02/15
Acuda-me Senhor
Que tanto imploro
Que tanto chamo
Ajuda-me Senhor!
Que tanto oro
Que tanto rogo
Proteja-me Senhor!
Acalenta-me soberano
Em nome do seu filho
Apazigua esta dor.
Há tremura no meu corpo
Minhas mãos sem ação
O peito em fogo
Acuda-me Senhor.
Minha fé me sustenta
Minha oração me consola
É a certeza de teu amor
Que me apruma agora.
Enide Santos 21/02/15
Ambos somos felizes quando nos amamos
Ambos somos felizes quando nos amamos
Ah, meu amor!
Ah, meu amado!
E assim:
Enxugo os olhos do riso que te dei
Toldo de horas
Com os momentos que cavei
Banho-me na sensação do teu olhar
Dou-me de presente o teu respirar
Ambos somos felizes quando nos amamos
Com o liquido da noite
Com o qual se banham as florestas
Eu me exibo
Eu me testo
O cio lentamente passa
Não para
Atravessa
Exala.
E assim:
Somos igualmente amados
Saciados um do outro
Nesta noite
Neste esboço.
Enide Santos 29/03/15
Minha Paixão
O alimento da felicidade,
Iguaria que mantém a sobriedade.
Manjar da sorte da necessidade.
O sustento da minha imensidade.
Enche-me de melodia
Satura-me de sabedoria
Satisfaz minha alegria.
Me farta de poesia.
Abranda meu enleio
Adormece meu receio
Modera-me o floreio
Sossegando meu anseio.
Minha doce inspiração
Meu amor
Minha paixão
Enide Santos 01/05/15
Desencrava (dor)
Duas únicas letras
Que muito querem dizer
São expressões de dor
Que alivio tenta trazer
Não existe outro dito
Que consiga apaziguar
Este momento insano
De profundo mal-estar
Ai, este desejo de sanar!
Reza, prece, petição
Só a raiz do sofrimento
Justifica a intenção.
Símbolo de dor
Grito de pavor
É o som do fim
Ai, aiai de mim.
Enide Santos 05/05/15
Ser poeta é...
Ser poeta é notar
A intensidade da dor
E com versos reclamar
Que lhe apoie, oh, amor!
Nas noites de insônia
Bordar no papel
Pedaços de infância
Que amenize o fel
Com amor e doçura
O poeta sana a dor
Revigora a escritura
Dá sentido a seu labor.
Ser poeta é cantar
A música do coração
Cada nota entoar
Moldando uma canção.
Ser poeta é doar
Todo tipo de emoção
Para de a vida resgatar
O propósito a razão.
Enide Santos 14/05/2015
Moça bonita
Ah, moça bonita!
Quando tu ainda
Florescias em minha sina
Lambuzava-me de tanto te olhar.
Ah, garota linda,
Que sorrisos sabes dar!
Eu não os pego
Pois não os sei aprisionar.
Mas às lembranças me entrego
Destes teus sorrisos ternos
Que aos poucos me tira o ar.
Ah, moça bonita!
Tua formosura me excita
Teu traquejo me irrita
E de cócoras faz-me ficar.
Jovem donzela
Rouba de mim grande parcela
Compreendes ser a bela
Não se inibi em tripudiar
Rapariga volátil e exibida
Que a mim apenas incita
Saboreando atormentar.
Pequena senhorita
Linda e febril
Ama saber
Que a ela sou servil.
Enide Santos 27/05/15
Ar feminino do fogo
O ar feminino do fogo
Abranda-se em sua formosura
E com seu prazer sensitivo
Lambe a carne das coisas
Com veemência expõe-se
Lançando seu desapego
Interpretando sua composição
Faminto oscila, baila, flama.
Devorando-se como a um grito
Chega ao seu ápice, expurga e fim.
Apenas cinzas fitaram o vento
Apagadas e frias ressaltam...
O ar feminino do fogo jaz sem luz.
Enide Santos 16/06/15
Despida de ti
Agora despida deste amor
Rumino o passado
Como um cão flagelado
Devolva-me a doçura que te dei
Não es digno de abrigar
Nem mesmo de mencionar
As palavras que a te dediquei.
Restitua minha brandura
Com a ausência de tua figura
Afaste-se de mim
Es um abutre indigno e ruim
Distancie-se
Vá daqui
Vá para bem longe
Deixe de existir,
ao menos em mim.
Enide Santos 16/06/15
Embaixo do mundo
Embaixo do mundo
Onde se disfarçam as horas
Para onde se varrem os restos de histórias
De onde se (re) tira os finos e frágeis fios
Que laçam a memória.
Embaixo de cada mundo, há um mundo.
E nos sabemos e o absorvemos
E sob o mundo da amizade
Há um mundo de saudade
Um mundo da verdade
Um mundo de amor.
Enide Santos
Hoje pedi perdão a Deus
Hoje pedi perdão a Deus
Pedi que me perdoasse
Por meu coração quase explodir
Sempre quando penso em ti.
Orei ao meu Senhor
Para que sempre de ti cuide
E não te afaste
Deste meu amor.
Pedi que me guie, me instrua
Ajude-me a enveredar
E em teus caminhos
Belezas hei de plantar
Deixei a minha verdade falar
Deixei-a pedir e implorar
Que em nome do Senhor
Não me permita sem ti ficar.
Ah, a humana que sou!
Infinitamente mesquinha
Imensamente sozinha
Dependendo deste teu amor
Hoje pude com clareza me ouvir
E com este som roguei
Lancei-me ao vão
E ao Senhor pedi perdão.
Sê meu rei.
Sê meu rei.
Seja a fonte que nutre meus instintos
Sê meu dono, meu arrimo.
Sê meu amante, meu menino
Seja a força de meu intimo
Sê sereno e continuo.
Sê a fome da minha sede
Seja prazer e jeito de doer
Sê fisionomia do poder
Sê meu discípulo
Seja meu galante curumim
Sê meu macho, meu serafim
Sê meu rei, meu tutor
Seja a jaula de meu pudor
Sê meu homem, meu amor.
Enide Santos 11/07/15
Puro prazer
Teus olhos já não fogem mais de mim
Agora me buscam
Como borboletas a um jardim.
Retorna tua boca
Para encontrar-se com a minha
Assim como a abelha a sua rainha
Tuas mãos conseguem me enxergar
Assim como a terra
Delineia o seu mar.
Ah, a tua pele!
Que seu calor busca me doar
Assim como o sol aquece o ar.
Nada é por obrigação
Apenas por prazer
Amor e paixão.
Enide Santos 20/07/15
Na ponta da língua
Estava na ponta da língua
A palavra que iria te intitular
Mas um pensamento indecente
Apossou-se de mim ferozmente
E a este nome fez mudar.
Estava na ponta da língua
Toda minha fome de beber
Toda minha sede de comer
Mas um pequeno gesto teu
Tudo mudou e todo meu corpo ascendeu
Estava na ponta da língua
O resgate para o desperdício de sabor
Mas já com o corpo fervendo
As palavras foram se perdendo
Apenas entre os dentes a língua ficou.
Enide santos 31/07/15
Oh, My Lord!
Porque te vais embora?
Porque rejeitas meu amor?
Eu posso abrigar os teus medos.
Proteger-te de teus pesadelos
Curar-te de tua fragilidade
E renovar tua virilidade
Ainda não és falecido teu amor por mim
Vejo-te sempre faminto
Por que my Lord, queres te afastar assim?
Já bebestes da fonte
Já cruzastes os montes
Oh, my Lord! Não se vá daqui.
Não deixes tua Milady
Sabes que sou eu o teu deleite
Que de mim não podes partir.
Venha my Lord!
Desvista-se desta rosna
Seja valente, não brinque com a sorte.
Enide Santos 31/07/15
Dor fresca na memória
Talvez eu não deva morrer
Como se morre qualquer ser
Talvez depois de te perder
Eu deva um pouco por vez fenecer
Talvez eu deva mesmo buscar
O maior tempo possível durar
Para que mesmo sofrendo
Tenha mais tempo para te amar
Talvez, apenas talvez.
Tudo isso seja bom
Apenas por agora
Que a dor é fresca em minha memória.
Enide Santos 02/08/15
Só
A palavra que contém em si
Tudo que sou
Tudo que almejo
Tudo que amo e odeio
Verbo que de seu ventre
Verte infindas lágrimas
E com seus risos
Afugenta minhas farpas
Termo clandestino
Sabotador de instintos
Mutila sinas
Não economiza rixas
Só estando só
Que toda a realidade olha pra mim
Descobrindo-me da ilusão
De que já ao nascer sou solidão.
Enide Santos 2608/15
Tem poesia que vem assim
Tem poesia que vem assim
Do engano e da verdade
Do entendido não entendido.
De um descuido da realidade
Do instinto da felicidade
Vem montando substâncias
Articulando
Regendo
Cometendo suicídio
Vezes dinâmica e ininterrupta
Engolindo passado
Ejetando o presente
Danificando o futuro
São frequentes as mudanças
Elaborando degradações
Revelando histórias de dor
Incubando a sede do amor
Dom sem preço
Virtude órfã de decomposição
Ou será
Defeito
Mania
Pecado ou perversão?
Tem poesia que vem assim
Vem se apossa e fim.
Enide Santos 26/08/15